Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Junho de 2017 - Vol.22 - Nº 6 História da Psiquiatria JOÃO ROMILDO FANUCCI BUENO (1938-) Walmor João Piccinini Há muito
tempo namorava a idéia de escrever sobre um dos psiquiatras mais importantes da
segunda metade do século XX e que segue no século XXI marcando a psiquiatria
brasileira com seu entusiasmo, sua rebeldia e seu constante desafio ao
estabelecido. Acompanho sua trajetória
desde os anos sessenta quando surgiu como o “psicofarmacologista”, “menino do
Leme Lopes.” Não pensem que eram elogios. Num ambiente dominado pela visão
psicanalítica ele funcionava como um rebelde a falar em tratamentos outros que
não o psicanalítico. Para não repetir muito do que já escrevi, sugiro que leiam
alguns artigos meus sobre a psiquiatria dos anos 60. (http://www.polbr.med.br/ano01/wal1001.php). Na época eu comparava o que era escrito nas revistas
psiquiátricas brasileiras com os Archives e com o American Journal of Psychiatry. Em 1960 se dizia que a mudança para
Brasília iria extinguir a corrupção na política brasileira e que o Rio de
Janeiro iria ser um simples balneário. Passados sessenta anos se constata que o
Rio continua lindo, continua com políticos corruptos, mas a grande corrupção
mudou-se para Brasília. Bela Brasília, sem culpa do que transplantamos para lá. Nosso personagem, mineiro de Cambuí, viveu
sua juventude numa Rio de Janeiro mágica, tudo ali
acontecia. Naquela vida louca dos anos sessenta é admirável que tenha
conseguido estudar medicina e se destacar entre seus pares. Nós aqui na periferia
vivíamos a Legalidade do Brizola e a certeza que a psicanálise iria resolver
todos os males da sociedade. Imbuídos do fervor psicanalítico líamos e em
certas ocasiões ouvimos vozes que falavam uma língua diferente, Leme Lopes, João
Romildo e alguns outros.
Resolvi republicar uma “auto-avaliação” do próprio João Romildo Bueno quando escreveu sobre sua
vida para a Seção Orgulho de Ser Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria
(http://www.abp.org.br/portal/orgulho-de-ser-psiquiatra-8/) Eu, João Romildo Bueno, mineiro de
Cambuí no sul de Minas Gerais, 75 anos apenas vividos, pai de três filhos
e avô de três netos jamais pensei ser psiquiatra, melhor seria aviador ou
diplomata, algo que me permitisse andar pelos mundos sem ser percebido. Sem me notar ou ser notado comecei
como bancário, auxiliar de escritório, faturista, office-boy, cobrador de praça,
revisor de jornal, tradutor de livros de bolso conhecidos como “policiais”. A medicina, uma forma de exercer uma
profissão digna e de ascender socialmente, chegou de mansinho, sem me dar tempo
para fugir. Graduei-me como médico pela Faculdade Nacional de Medicina da
Universidade do Brasil em dezembro de 1964, mas a partir do primeiro semestre
do terceiro ano fui “agraciado” com bolsa do CNPq e passei a trabalhar com
Lauro Sollero em farmacologia. A
seguir, no segundo semestre do quinto ano ingressei no IPUB – Instituto de
Psiquiatria – e quase sem saber por que, no ano seguinte, o professor Leme
Lopes me colocou como chefe de Residência, mais ou menos um “síndico” do
Pavilhão Maurício de Medeiros -PMM- onde os então interno-residentes deveriam
morar com direito à chave, é claro. Era complicado: manhãs no IPUB e
tardes na Farmacologia e com a obrigação de publicar trabalhos científicos para
não perder a bolsa do CNPq. Os primeiros trabalhos saíram nos Anais da Academia
Brasileira de Ciências e “pari passu” nos Archives Internationales de Pharmacodynamie, no British
Jornal of Pharmacology,
sempre incentivado por Sollero e Paulo de Carvalho.
Meu primeiro concurso na Universidade do Brasil foi em abril de 1965 e em julho
do mesmo ano, com bolsa do CNPq e casado, encontrava-me no ISPI – Illinois State Psychiatric Institute, aí fiz outro concurso para o cargo de Medical Research Associate IV do Galesburg State Research Hospital onde trabalhei com Harold E. Himwich por dois anos e repetindo a mesma batida: pelas
manhãs chefiava a enfermaria de pesquisa com 32 leitos e de tarde trocava o
jaleco de médico pela roupa verde de pesquisador. Ah! para
este exercício fiz a “State Board”
para psiquiatria em Chicago e a repeti mais tarde em Nova York quando o Fieve convidou-me para participar de uma pesquisa no New York Psychiatric Institute da Columbia. Voltei ao Brasil para fazer outro
concurso, o de professor assistente, três anos após a docência e o doutoramento
em medicina. Convidado por Leme Lopes e encorajado por Cincinato
Magalhães Freitas acabei editor-chefe do Jornal Brasileiro de Psiquiatria, na
época com um pequeno atraso de três anos. Editar uma publicação atrasada, mas
renomada, provocou que muitos dos então “colegas” torcessem o nariz por não me
julgarem “psiquiatra”. Não passava de um “simples psicofarmacologista” ou
quando partia para a agressão, um reles farmacêutico, como se nota “me fiz
psiquiatra”. Não sei a quantidade de artigos que
publiquei nem guardei o número de cursos que ministrei ou menos ainda, quantos trabalhos apresentei em congressos aqui e ali.
Editei e fui da comissão editorial de um número razoável de publicações aqui,
nos EE.UU, na França ou na Argentina. Cheguei a pensar
que para o “Orgulho de ser Psiquiatra” organizaria o currículo, atualizaria a
foto, mas nada fiz. Meu maior orgulho é o de ter contribuído
para o crescimento da ABP e o de hoje é o de sorrateiramente entrar em
grandes auditórios para ver e ouvir ex-alunos meus pontificando em sapiências e
me ensinando algo novo, ainda que me esqueça de pegar o certificado de
participação nos congressos para “provar” que lá estive. O melhor é o
que virá, ainda não aconteceu… Por estar estudando no exterior o Dr.
João Romildo não esteve presente na fundação da ABP. Retornando ao Brasil logo
começou a participar e esteve presente nas grandes transformações desta
Associação nos seus cinqüenta anos de vida. A partir do seu “curriculum” Lattes construímos sua “genealogia” psiquiátrica. João
Romildo Bueno formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, em 1964. Seu doutorado foi concluído em 1970. No mesmo ano defendeu
livre-docência. Antes mesmo de se formar, já publicara alguns (4) trabalhos em
psicofarmacologia. Fez residência no IPUB e logo foi convidado para ser
professor naquela instituição. Sua presença em congressos, desde muito jovem,
era apreciada e era visto como discípulo dileto de Leme Lopes. Com a fundação
da Associação Brasileira de Psiquiatria em 1966 e tendo como primeiro
presidente o Professor José Leme Lopes, João Romildo Bueno tornou-se figura
importante da nova entidade e chegou à presidência na gestão 1983-86. Na
pós-graduação orientou alunos de mestrado e doutorado e dessa atuação criamos a
seguinte genealogia: 1. JOÃO
ROMILDO BUENO completou seu doutorado em 1970, no mesmo ano defendeu a Livre-docência. 1967
- 1970 Doutorado em Medicina Psiquiatria. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Brasil. Título:
substâncias anti-depressoras: possíveis mecanismos de
ação, Ano de Obtenção: 1970. Orientador:
Não mencionado. Temos
registro de 96 artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Livros
publicados/organizados ou edições. 1. BUENO, J. R. (Org.);
Nardi,A.E. (Org.).
Diagnóstico e tratamento em Psiquiatria. 01. ed. Rio
de Janeiro: Editora Médica e Científica Ltda-MEDSI,
2000. v. 01. 462
p. 2. BUENO, J. R. Psiquiatria e Saúde Mental. Rio de
Janeiro: Atheneu, 1996. Capítulos
de livros publicados. 1. BUENO, J. R. Ansiedade e Depressão, em Ansiedade e
Transtornos de Ansiedade. In: L.A.B. & Graeff, F. G. Editores. (Org.).
Ansiedade e Transtornos de Ansiedade. Rio de Janeiro: Editora Científica
Nacional, 1997, v. p. 389-399. 2. BUENO, J. R. Long-term
treatment with anxiolytic drugs. In: Priest,R.G.;Vianna,U.;Amrein,R;Skreta,M..
(Org.). Benzodiazepines-Today and
Tomorrow. London: MTP Press Ltd., 1980, v. , p.
209-211. 3. BUENO, J. R. Psychot.N,N -dymethylated indoleamines. In: Joseph Wortis. (Org.). Recent Adv. in Biol.Psychiatry. NYORK:
Plenum Press, 1968, v. 10, p. 06-15. JRomildo Orientou um grupo de doutores que
depois formaram novos doutores e mestrandos. Doutores
formados sob orientação de João Romildo Bueno na UFRJ: 1.1. MARCIO VALADARES VERSIANI2 CALDEIRA,
1980. Foi aluno de mestrado e doutorado do
JRBueno e tem no seu currículo 248 trabalhos publicados. Um
livro e 45 capítulos de livros. * mestrados e 7 doutorados concluídos. Dentro
da minha “genealogia”, Antonio Egídio Nardi (581
trabalhos publicados, 25 mestrados e 25 doutorados), Leonardo Fontenele e outros são “netos” de João Romildo Bueno.
1.2. CARLOS EDSON DUARTE, 1986. Falecido em 2004 Deixou 10 mestrados e dois doutorados
concluídos.
1.3. ROBERTO AIRTHON MARQUES PIEDADE, 1987.
1.4. JOÃO FERREIRA DA SILVA FILHO, 1989. Falecido em 2008. Deixou
12 mestrados e 10 doutorados concluídos Saúde
Mental e Trabalho - Contribuição à Compreensão e Crítica das Relações entre
Organização do Trabalho e Distúrbios Mentais. 1989. 0 f. Tese (Doutorado em
Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, . Orientador: João Romildo Bueno.
1.5. MARCO ANTONIO ALVES BRASIL, 1995. Tese: Pacientes com queixas difusas - um estudo nosológico de pacientes apresentando queixas somáticas múltiplas e vagas. 1995. Tese (Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: João Romildo Bueno. MABrasil, tem 32 artigos publicados, 5 livros e 17 capítulos de livros. Três mestrados concluídos e 4 doutorados.
1.6. ALEXANDRE KEUSEN, 1997. Tese: KEUSEN, Alexandre. Colônia Juliano Moreira: do Asilo ao Complexo Assistencial. 1997. Tese (Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: João Romildo Bueno. Não seguiu carreira acadêmica.
1.7. LETICIA MARIA FURLANETTO, 1998. Tem 35 artigos publicados, vários capítulos de livros. 1.8. JUAREZ OLIVEIRA CASTRO, 2000. Tese: Estudo da atividade dopaminérgica na Esquizofrenia através do teste da apomorfina. 2000. Tese (Doutorado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno. Alunos do Mestrado de João
Romildo Bueno: 1. ANA CRISTINA DOMINGUES GUIMARÃES, 1975.
Hipóteses Relacionadas às Aminas na Depressão e na Mania: Uma Avaliação. 1975. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
2. MARCIO VALADARES VERSIANI CALDEIRA, 1976.
A Classificação das Desordens Afetivas. 1976. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
3. JORGE ADELINO RODRIGUES DA SILVA, b. 1976. 4. ROBERTO AIRTHON MARQUES PIEDADE, 1977. Anti-Depressivos Tricíclicos - Uma Revisão. 1977. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, . Orientador: João Romildo Bueno.
5. AILTON VICENTE ROCHA, 1977.
Psicoses Epilépticas - Considerações sobre sua Autonomia Clínica. 1977. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
6. LEOPOLDO HUGO FROTA, 1979.
Modalidades de Avaliação de Programas de Serviços de Saúde Mental. 1979. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, . Orientador: João Romildo Bueno.
7. CERES EL-JAICK ANDRADE., b. 1980.
Mudanças na Evolução da Esquizofrenia e influência dos Neurolépticos. 1980. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, . Orientador: João Romildo Bueno.
8. FERNANDO DINIZ MUNDIM GUIMARÃES, 1980.
O Diagnóstico Psiquiátrico: Problemas e Perspectivas. 1980. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, . Orientador: João Romildo Bueno.
9. JERSON LAKS, b. 1983. 10. MARIA COELI NUNES DIAS DE BARROS PINTO. 1985.
A Dimensão Biológica do Aparelho Mental. 1985. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, . Orientador: João Romildo Bueno.
11. JOSÉ CARLOS CAVALHEIRO DA SILVEIRA, b. 1985.
A transmissão gaba-érgica na ansiedade. 1985. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: João Romildo Bueno.
12. L R MALLAT TOSTES, b. 1990.
Tratamento Farmacológico da Depressão Refratária. 1990. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
13. IVAN FIGUEIRA, b. 1990.
Transtorno de Pânico, Dor Toráxica e Clinica Cardiológica. 1990. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Co-Orientador: João Romildo Bueno.
14. PAULO EDUARDO LUIZ DE MATTOS, b. 1990.
Os Distúrbios Mentais Orgânicos e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. 1990. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
15. JOSÉ CARLOS DIAS APPOLINÁRIO, b. 1991.
O Emprego do Verapamil no Transtorno Bipolar do Humor, Episódio Maníaco. 1991. 0 f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
16. JOSÉ R. RODRIGUEZ ARRAS LOPEZ, b. 1994.
Os sintomas esquizofrênicos e o diagnóstico da mania. 1994. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientador: João Romildo Bueno.
17. LETÍCIA MARIA FURLANETTO, b. 1995.
Depressão em pacientes internados em hospital geral. 1995. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Orientador: João Romildo Bueno.
18. CARLA A D. SOUZA, b. 1997. Um trabalho mais extenso sobre a Genealogia na UFRJ já foi publicado por mim http://www.polbr.med.br/ano07/wal0407.php e estou trabalhando na sua atualização. Este trabalho que envolve o Professor João Romildo Fanucci Bueno serve para dar uma idéia da sua profícua carreira universitária. Sua atuação na esfera política da psiquiatria é muito expressiva. Nos primórdios da ABP era um faz tudo, ocupou inúmeros cargos e chegou a ser presidente. Afastou-se durante algum tempo e retornou com força junto com um grupo que se denominou “abpdemocrática”. A
Associação Brasileira de Psiquiatria comemorou 50 anos de fundação em 2016 e
formamos uma comissão para historiar a ABP.
A idéia foi contar a história oficial sem maiores polêmicas e destacando
o papel de inúmeras pessoas que colaboraram com o crescimento do nossa associação. O professor J.Romildo
fez parte da comissão e mais do que isto, resolveu escrever suas memórias. Ele
imaginava que receberia a colaboração dos demais membros da comissão, mas seu
texto era arrasador e extremamente gostoso de ser lido, mas ser publicado era
outra história. Ainda vou descobrir uma maneira de colocar a disposição do
grande público as suas memórias. Como aperitivo selecionei alguns trechos que,
se não dão idéia real do que escreveu, serve de aperitivo para nossos leitores
e dão uma pequena idéia da verve deste culto, bem humorado e agridoce amigo. “Newton Sucupira, secretário de
Ensino Superior do MEC e membro do Conselho Federal de Educação lança as bases
do ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO no Brasil. Na área médica, a regulamentação se dá
pelo parecer 67/69 elaborado por Raymundo Moniz de
Aragão, ex-ministro de Educação do governo Castello Branco”. “A área de atuação da ABP não deve se
restringir ao ensino de graduação, ao de pós-graduação ou à residência médica;
nosso maior propósito é o da educação continuada”. “Desta vez, de forma traumática a ABP
entendeu que não podia ser caudatária da "psiquiatria oficial" sob
pena de se auto-extinguir. E, não pensem que se dramatiza a situação: o
movimento da luta anti-manicomial continua visando as
carótidas da especialidade médica conhecida como psiquiatria e, para isto,
conta com todo o apoio da "psiquiatria oficial" agora apresentada sob
a denominação de CORSAM”. “OS ANOS OITENTA - Enquanto a ABP se firma o PSIQUIATRIA
HOJE - primorosamente impresso - segue sua trajetória, mas o órgão oficial da
ABP: a RBP continua navegando em águas turvas com a carga do nome ABP-APAL ...
um "carma" sem fim : autores brasileiros publicam "lá fora"
ou no JBP-IPUB, os hermanos, muy amigos tentam reanimar a Revista de
APAL e, nós, com o fim do milagre brasileiro e em pré hiper-inflação
vamos tocando... O "governo Sarney" cria o "plano
cruzado", mais três zeros são retirados de nossa "moeda", há um
intervalo para se tomar fôlego: o CBP de Curitiba é o primeiro a ultrapassar a
barreira dos três mil inscritos ... sobra
algum dinheiro para as "publicações da ABP"... A RBP, com o nome "Revista
ABP", liberada da canga representada pelo peso APAL, respira ... surgem planos para
torná-la "regular" e, em um vôo mais alto, publicar artigos em
inglês, o idioma dos "imperialistas-exploradores"
... coisa impensável dentro da "dialética-marxista" que permeava a psiquiatria
tupiniquim... A Revista da ABP. Qual fênix
ressurge, mas o PSIQUIATRIA HOJE agoniza, sem patrocínio nem fiadores ... e teria desaparecido
não fora a abnegação de William Dunninghan que o
transfere para Salvador, reduz o formato e diminui a qualidade do papel, mas o
mantém vivo: episódio pouco conhecido - e reconhecido - na história das
publicações periódicas da ABP...” “Não falarei da década de noventa ...
nem menos dos dois mil ... Recuperamos o nome
"oficial"; REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA, entre 90 e
2000 admitimos os dois idiomas, caminhamos para
conseguir as indexações e o fator de impacto... Nesta trajetória há que se louvar a
proposta de Del Porto: revista publicada em inglês e... eventualmente
com artigos em português ... para compensar: dois
suplementos anuais, "temáticos" e totalmente em português e o
trabalho incansável de Jair Mari que, a partir de
1999 muda os rumos da RBP ... afinal, amigos podem,
e devem divergir de minha posição política” “Participo de congressos de Psiquiatria desde 1966, para meu
desânimo atual lá estive em Madrid com Harold Himwich
que apresentou nossos resultados sobre inibição de MAO e aumento de taxas
cerebrais de serotonina e... de noradrenalina
... entretempos já participara em mesas redondas nos congressos da APA
em Washington, Atlantic City e Chicago, falando ao
lado de pessoas pouco conhecidas como Nathan Kline,
Cole, Schildkraut, Bunney, Fieve, Mogens Schou,
Thor Magnussen, Arvid Carlsson, Kjel
Fuxe, Klerman, Lehmann ... até aí tudo bem, a platéia era selecionada,
falávamos todos a mesma língua : neuroquímica e psicofarmacoterapia...
sentia-me em casa, apesar de ser o caçula...” “Em 1969 algo ocorre: Leme Lopes
convida-me - e me adverte - para participar em congresso brasileiro de
psiquiatria e lá reproduzir a palestra que fizera antes na Academia
Nacional de Medicina sobre alterações neuroquímicas e suas relações com a
esquizofrenia e a psicose maníaco-depressiva, um resumo dos trabalhos que
publicara com Himwich, Tanimukai,
Pscheidt, Takeo ... coisa simples. Em uma chuvosa e sombria tarde de
"inverno carioca" lá vou eu... A Mesa-redonda,
presidida pelo Leme Lopes, realizada em horário nobre no salão maior do
Copacabana Palace contava com três psico-analistas - ou psicodinâmicos - e eu
- um psico-estático - sob a presidência
do "professor", figura maior e inconteste da psiquiatria
tupiniquim... Primeiro choque: falaria por último e
agüentei uma cantilena psicodinâmica em uníssono e
orquestrada por uma seqüência de slides projetados pelo
"carrossel" da Kodak, "tecnologia" que estava em voga... gelei-me ... Chega a minha vez, retiro
dramaticamente a capa de chuva preta com forro vermelho e qual moderno
"Drácula" me atenho a apenas dois slides: um
com a novidade de desvio de metabolismo da serotonina
pela via do ácido quinurênico e outro sobre nossos
resultados neuroquímicos... um fracasso para aquele
que acabara de chegar de tão longe... A mesa-redonda - que era retangular -
se estende... após uma hora "extra" de
perguntas, Leme Lopes intervém: "por favor, dirijam perguntas aos outros
participantes da mesa, o Romildo já se cansou de tanto "dar
respostas" ... ai, um participante da mesa levanta o dedo e me fuzila ;
"...pelo que o colega diz, a psiquiatria se resumirá a um exame de excretas"
... Pano rápido, Leme Lopes encerra a mesa-redonda... ... e eu não
conhecia a ignorância dos outros, sempre fui tímido .. e,
prazer maior do congresso da SBNPHM, o ter conhecido mais de perto o Busnello, o Salvador, o Marcos, o Othon,
o Gari, e tantos outros que eram ou estudantes ou recém graduados como o
William , o Bertolote ... creio
que estavas por aqui Walmor.
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