Psyquiatry online Brazil
polbr
Volume 22 - Novembro de 2017
Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello

Março de 2017 - Vol.22 - Nº 3

História da Psiquiatria

MESMER, MESMERISMO E HISTÓRIA DA PSICOTERAPIA

Walmor João Piccinini


    Pesquisando sobre Psicoterapia chegamos a alguns nomes considerados precursores da mesma entre eles o de Franz Anton Mesmer (1734-1814 ) médico vienense que se tornou famoso com sua teoria do Magnetismo Animal. Deduzimos de trechos sobre sua vida que se tratava de um homem rico, dono de uma mansão em Viena onde recebia a sociedade em saraus musicais. Acabou transformando sua casa numa espécie de clínica onde internou vários pacientes, na maioria jovens mulheres com características histéricas. Mesmo tendo demonstrado seriedade de propósitos foi acusado de práticas menos nobres na arte da medicina. Terminou sendo acusado de visionário, mentiroso e charlatão. Ele viveu numa época de transição entre crenças medievais e o Iluminismo. Passados alguns anos descobrimos que suas idéias influenciaram pelo menos três áreas que vão do hipnotismo, a psicoterapia e o espiritismo. Entre seus admiradores estava Allan Kardec.  (Para os interessados sugiro o artigo de Jader Sampaio, Mesmerismo e Espiritismo http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/mesmerismo-e-espiritismo.html). É de Sampaio uma observação que concordo “As opiniões sobre Franz Anton Mesmer (1734/1814) são controvertidas ainda hoje. Alguns o consideram charlatão, outros místico e biógrafos como Zweig são entusiastas em defender sua erudição e espírito científico, que afirma terem sido sub-valorizados pelas instituições acadêmicas de sua época.Sua formação intelectual foi ampla. Possuiu títulos acadêmicos em teologia, filosofia, direito e medicina. Prosseguiu estudando geologia, física, química, matemática, filosofia abstrata e música”.

O trabalho de Mesmer ou algumas idéias do mesmo podem ser vislumbradas na psicoterapia e psicanálise. Alguém o comparou a Cristóvão Colombo que ao chegar no continente americano não tinha idéia do que estava descobrindo. Registro o fervor com que defendia suas idéias e a constante recusa do meio científico da época em reconhecer algum mérito no seu trabalho.

Uma comissão científica composta por Lavoisier, Bailly, Jussieu, Guilhotin e Benjamim Franklin, pelo rei Luís, para pesquisar o fenômeno chegou a conclusão que seu trabalho era fruto da imaginação e não tinha valor científico.

 Mesmer poderia estar certo ao dizer que tinha feito uma grande descoberta, mas ele não tinha noção que estava descortinando o capítulo do tratamento psicológico. Ele defendia conceitos mágicos e astrológicos de uma era passada. Ele não chegou a entender o que estava descobrindo.

    Consegui um documento pouco conhecido, pelo menos por mim, nunca vi publicado em língua portuguesa, mas eventualmente pode existir. Trata-se da Tese de Mesmer sobre o Magnetismo Animal. Animei-me a traduzi-la e deixar que os leitores da Psychiatry Online Brasil tirem suas conclusões.


DISSERTAÇÃO SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL

.

                                                                                                 Por Franz Anton Mesmer.

(Publicada em Paris em 1779. Foi traduzida por V.R.Myers. Editada por Gilbert Frankau em 1948. Reproduzida na História da Psicoterapia cujo editor foi Jan Ehrenvald.)

 

Pode ser ... afirmado entre opiniões vulgares opiniões de todas as idades, cujos princípios não tem raízes no coração humano, que existam uns poucos que, podem parecer ridículos e extravagantes, não podem ser lembrados como resquícios de uma verdade originalmente reconhecida.

Tais são minhas reflexões ...  sobre o destino da doutrina da influência de corpos celestiais no planeta que habitamos. Estas reflexões me induziram a procurar, entre as ruínas de tal ciência, mantida tão baixa pela ignorância, o que ela pudesse conter algo que fosse útil e verdadeiro.

De acordo com minhas idéias sobre o assunto, eu publiquei em Viena em 1766 uma tese sobre a influência dos planetas no corpo humano. De acordo com os princípios conhecidos da atração universal, confirmada por observações que nos ensinam como os planetas afetam uns aos outros em suas órbitas, como o sol e a lua causam e controlam as ondas oceânicas no nosso globo e na atmosfera, eu afirmei que tais esferas também exercem uma ação direta em todas as partes que formam o corpo humano, em particular no sistema nervoso, por um fluído penetrante. Eu registrei esta ação pela Intensificação e a Remissão das propriedades da matéria e corpos orgânicos, como a gravidade, coesão, elasticidade, irritabilidade, eletricidade.

Eu mantenho isto da mesma forma que efeitos alternados, com respeito à gravidade, produzem no oceano o apreciável fenômeno de fluxo ou refluxo, assim a Intensificação e Remissão das ditas propriedades, sendo sujeitas aos mesmos princípios, causando nos corpos animados efeitos alternados similar aqueles mantidos pelo oceano. Com estas considerações eu estabeleci que o corpo animal, sendo submetido à mesma ação, da mesma forma sofre o mesmo fluxo e refluxo. Eu apoiei esta teoria com diferentes exemplos de revoluções periódicas.

Eu nomeei a propriedade do corpo animal que o torna afinado com os corpos celestiais e da terra como Magnetismo Animal. Eu expliquei por este magnetismo as mudanças periódicas que observamos no sexo, e de uma forma geral aqueles fenômenos que médicos de todas as idades e em todos países observaram durante doenças.

   Meu objetivo então foi apenas despertar o interesse nos médicos; mas longe de ter sucesso, logo percebi que eu estava sendo tratado como excêntrico, que eu passei a ser tratado como um homem com um sistema e que minha tendência a me afastar o caminho normal da Medicina era considerado crime.

Eu nunca escondi minha maneira de pensar a este respeito, não tendo a habilidade de me convencer que eu tenha feito progresso do qual eu propagandeava na arte de curar.

Na verdade, tive que quanto mais avançamos em nosso conhecimento do mecanismo e da economia do corpo animal, quanto mais nos fomos obrigados a admitir nossa insuficiência.

O conhecimento que obtive atualmente sobre a natureza e ação dos nervos, imperfeita como seja não nos deixa dúvidas a este respeito. Nós sabemos que eles são os agentes principais da sensação e movimento, mas não conseguimos restaurá-los na sua ordem natural quando esta sofreu interferência.. Tenho que confessá-lo para minha vergonha. A ignorância secular a este respeito protegeu os médicos. A confiança supersticiosa que eles tem e na qual se inspiramos seus específicos e fórmulas os tornam despóticos e presunçosos.

    Eu tenho o maior respeito pela Natureza para me convencer que a conservação individual do HOMEM tenha sido deixada a mera chance da descoberta e para as observações vagas que foram feitas ao longo dos séculos, tenham se tornada o domínio de poucos.

    A Natureza proporcionou tudo para a existência do indivíduo. A propagação toma lugar sem “sistema” e sem truques. Por que a preservação seria privada da mesma vantagem? A preservação dos animais proporciona a prova que o contrário é o caso.

Uma agulha não magnetizada, quando em movimento, somente toma determinada direção por acaso, enquanto uma agulha magnetizada, tendo recebido o mesmo impulso, após várias oscilações proporcionais ao impulso e magnetismo recebido, obterá sua posição inicial e ficará nela. Então, a harmônio dos corpos orgânicos, quando uma vez interferidas, vai pelas incertezas da minha primeira hipótese, a menos que seja trazida de volta e determinada pelo Agente Geral, cuja existência eu reconheço: ela sozinha pode restaurar a harmonia no estado natural.

Desta forma nós vemos, em todas as idades, que as enfermidades podem piorar ou ficam curadas com ou sem ajuda da MEDICINA, de acordo com diferentes sistemas e pelos métodos mais conflictivos. Estas considerações removeram toda dúvida da minha mente que existe na Natureza um princípio ativo universal que, independentemente de nós mesmos opera com o que vagamente se atribui a Arte e Natureza.

Estas reflexões causaram meu afastamento imperceptível do caminho habitual. Eu submeti minhas idéias para experiência durante doze anos, aos quais devotei as observações mais acuradas sobre todo tipo de doenças, e eu tive a satisfação de ver as máximas que e previ nasceram e suas previsões serem corroboradas continuamente.

Foi por volta dos anos de 1773 e 1774 que eu recebi em minha casa para tratamento uma jovem senhora de 29 anos que se chamava Oesterline, que há vários anos sofria de uma doença convulsiva, cujo sintoma mais preocupante era quando o fluxo sanguíneo ia para sua cabeça e lá desencadeava os mais cruéis sintomas de dor de dente. Dor de ouvido, seguidos por “delirium”, raiva, vômitos e síncope. Para mim foi uma ocasião altamente favorável para observar acuradamente o tipo de fluxo e refluxo que O Magnetismo Animal afeta o corpo humano. A paciente, muitas vezes, tinha uma crise benéfica, seguida de marcado alívio; entretanto, a alegria era sempre momentânea e imperfeita.

   O deseja d entender a causa desta imperfeição e minhas observações ininterruptas me trazia todo tempo ao ponto de reconhecimento do trabalho da Natureza e penetrá-lo suficientemente para prever e afirmar com segurança os diferentes estágios da doença. Encorajado por este primeiro sucesso, eu não tive mais dúvidas sobre a possibilidade de aperfeiçoá-la se eu tivesse a habilidade de descobrir entre as substâncias que constituíam nosso globo terrestre, de uma ação que fosse recíproca e similar ao dos corpos celestiais, pelo meio dos quais eu poderia iniciar artificialmente a periódica revolução do fluxo e refluxo já referida.

    Eu possuía o conhecimento usual sobre o magneto; sua ação de ferro, a capacidade dos nossos fluidos corporais de receber tal mineral. Os vários testes executados na França, Alemanha e Inglaterra para dor de estômago, dor de dente me eram conhecidos. Estes foram os motivos, junto com a analogia entre as propriedades desta substância e o sistema geral, me induziram a escolhê-lo como o mais adequado para este tipo de teste. Para assegurar o sucesso deste teste no intervalo dos ataques, eu preparei a paciente com o uso contínuo de líquido com sais minerais.

    Meu relacionamento com o Padre Hell, Jesuíta e Professor de Astronomia em Viena, propiciou-me a oportunidade de solicitar que seu artesão confeccionasse certo número de peças magnetizadas de forma conveniente para sua aplicação. Ele gentilmente aquiesceu e me deu as peças.

    Em 28 de julho de 1774, após a paciente ter uma recaída dos seus ataques usuais, eu apliquei três peças magnetizadas no estômago e nas pernas. Pouco tempo depois isto era acompanhado por sensações extraordinárias; ela sentiu dentro de si a corrente de um leve fluído que, após várias tentativas de se direcionar, achou o caminho para as partes mais baixas e fez com que cessassem os ataques por seis horas. No dia seguinte, as condições da paciente exigiram que eu fizesse novo teste e eu obtive o mesmo sucesso com ele.

    Minhas observações destes efeitos, associados com minhas idéias do sistema geral, me forneceram novas informações. Enquanto confirmava minhas idéias prévias acerca da influência de um Agente Geral, ela me ensinou-me outro princípio que causava a ação do magneto, o magneto por si mesmo sendo incapaz de tais ações nos nervos, e eu vi que eu tinha um atalho para chegar a Teoria Imitativa, que formou o objeto da minha pesquisa.

    Alguns dias depois, tendo encontrado o Padre Hell, eu mencionei a ele no curso da conversação que a paciente estava em melhor estado de saúde, também dos efeitos do meu processo e a esperança que eu tinha na força desta operação e que cedo eu chegaria à cura dos doentes dos nervos.

   Eu descobri depois, pelo público e pela imprensa, que este homem religioso, utilizando sua fama com astrônomo e o desejo de se apropriar desta descoberta, cuja natureza e benefícios ele era totalmente ignorante, chamou para si a publicidade do fato de que através de algumas peças magnéticas, para as quais ele atribuía virtudes específicas dependentes da sua forma, ele tinha obtido meios de curar as mais graves doenças dos nervos. Para emprestar veracidade as suas afirmações ele enviou a várias academias um conjunto de peças magnetizas de vários formatos mencionando os aspectos essenciais e sua analogia com as diferentes doenças.

    Assim ele se expressou: “Eu descobri nestas formas, que estão de conformidade com o vortex magnético, uma perfeição da qual dependem sua virtude específica em casos de doenças; e se deve a falta desta perfeição que os testes realizados na Inglaterra e na França não alcançaram o sucesso”. E para aumentar a confusão sobre as peças magnetizadas com a descoberta que eu mencionei a ele, terminou dizendo: “que ele tinha comunicado tudo aos médicos, e particularmente para mim, e continuará avalizar seus testes”.

    Os escritos repetidos do Padre Hell sobre o assunto inspirou o público que sempre espera algo específico contra os transtornos nervosos, com a débil opinião que a descoberta em questão consiste no mero uso do magneto. Eu por minha vez escrevi para refutar este erro, publicando sobre a existência do Magnetismo Animal, essencialmente distinto do Magneto; entretanto, como o público recebeu esta informação de um homem de alta reputação, permaneceu neste erro.

    Eu continuei meus experimentos em diferentes transtornos de forma a generalizar meus conhecimentos a aperfeiçoar a aplicação posterior.

    Eu conheci bastante bem o Barão de Stoerck, Presidente da Faculdade de Medicina de Viena e médico chefe da Rainha. Foi natural para ele estar o par da natureza da minha descoberta e seu propósito. Conseqüentemente eu coloquei na sua frente os detalhes circunstanciais das minhas atividades, particularmente as referentes às informações referentes ao assunto do magnetismo animal e o convidei para verificar por si mesmo, colocando que era minha intenção de relatar para ele no futuro todos os progressos que eu poderia atingir com a nova ciência. Para demonstrar minha boa fé eu o coloquei sem reservas a par dos meus métodos e experiências.

   A natural timidez deste médico, sem dúvida baseado em motivos que não é minha intenção penetrar, induziu-o a responder que não queria nada a haver com aquilo sobe o qual eu lhe contara e me implorou que não comprometesse a Faculdade tornando pública uma informação deste tipo.

    A opinião pública desfavorável e a incerteza sobre a natureza do meu método me levou a publicar em 5 de janeiro de 1775, Uma Letter to a Foreign Physician a exata natureza da minha teoria, o sucesso que obtive até agora  e o sucesso que tenho razões para esperar me deram esperança. Eu pus em andamento a natureza e ação do Magnetismo Animal e a analogia entre suas propriedades e aquelas do magneto e eletricidade. Eu acrescentei “todos os corpos era,, como o magneto, capazes de comunicar este princípio magnético; que este fluido penetrava tudo e poderia ser guardado e concentrado, como  o fluido elétrico: que operava a distância; que os corpos animados eram divididos em duas classes, uma que era suscetível a este magnetismo e outras com uma qualidade oposta que suprime esta ação., “Finalmente, eu registrei as várias sensações e baseei estas afirmativas com experimentos que me permitem levá-los adiante”.

   Alguns dias antes da publicação desta Letter (Carta), eu ouvi que Mr. Ingenhousze, membro da Real Academia de Londres e Inoculador em Viena, por entreter a nobreza e distinguidos personagens com experimento em eletricidade, e pelas habilidades pelas quais ele variava os efeitos do magneto, adquiriu a reputação de ser um médico. Eu ouvi como já disse que este indivíduo aprendeu das minhas operações, ele as tratou como vãs imaginações, indo tão longe como poder dizer que somente o gênio inglês seria capaz de tal descoberta, isso se ela pudesse ser feita.Ele veio me ver, não para obter informações, mas com a única intenção de me persuadir que eu estava mentindo para mim mesmo, aberto ao erro e que deveria suprimir toda publicidade  como uma maneira de evitar o inevitável ridículo.

   Eu retruquei que ele não tinha o suficiente talento para me dar este conselho, e que eu de outra forma, teria prazer em convencê-lo na primeira oportunidade. Esta se apresentou dois dias após.

    A Senhorita Oesterline levou um susto e contraiu um resfriado, ocasionando uma súbita parada, e ela caiu nas suas costumeiras convulsões. Eu convidei o senhor Ingenhousze para atendê-la. Ele veio acompanhado por um jovem médico.  Paciente se apresentava desmaiada e com convulsões. Eu lhe disse que esta era a mais favorável das oportunidades para convencê-lo do princípio que eu anunciara e a propriedade que ele tinha para se comunicar... Disse-lhe para se aproximar da paciente, enquanto eu me afastava dela, dei-lhe instrução para tocá-la. Ela não fez nenhum movimento. Ela não fez nenhum movimento. Eu o chamei para mim e comuniquei o magnetismo animal tomando suas mãos. Eu então solicitei que se aproximasse da paciente uma vez mais, enquanto eu mantinha distância, pedindo que a tocasse pela segunda vez. Isto resultou em movimentos convulsivos. Eu o fiz repetir este processo de toques, repetidas vezes, o que ele fez com a ponta do seu dedo, mudando de direção cada vez. Novamente, para sua atônita expressão ele provocou convulsão na parte tocada.

    Quando esta operação terminou, ele me disse estar convencido, e eu sugeri uma segunda visita. Afastamos-nos da paciente de maneira a não sermos percebidos, mesmo que estivesse consciente. Eu ofereci ao Sr. Ingenhousze seis xícaras de chá e lhe pedi qual delas ele escolhia para que eu comunicasse a qualidade magnética. Eu toquei aquela que ele escolheu e então apliquei as seis xícaras na mão da paciente sucessivamente; ao alcançar a xícara que eu tocara, a mão fez um movimento e deu sinais de dor. O Sr. Ingerhousze obteve o mesmo resultado quando foi à vez dele de aplicar as seis xícaras. Eu então devolvi as seis xícaras para o lugar de onde vieram, e após algum tempo, segurando0por uma mão, eu solicitei que tocasse com a outra qualquer xícara que escolhesse; ele o fez, as xícaras foram trazidas para a paciente, como antes, e com o mesmo resultado.

    A comunicabilidade do princípio foi agora bem estabelecida aos olhos do Sr. Ingerhousze e eu sugeri um terceiro experimento para mostrar sua ação a distância e sua qualidade de penetração.: Apontei meu dedo para a paciente a uma distância de oito passos: no instante seguinte, seu corpo estava em convulsão ao ponto de elevá-la do leito com toda a aparência de dor. Eu continuei na mesma posição apontando meu dedo para a paciente, colocando o Sr. Igerhousze entre mim e ela. Ela apresentou a mesma sensação.

   Tendo repetido estes testes para satisfação do Sr. Ingerhousze, eu perguntei se ele estava convencido a respeito das maravilhosas propriedades acerca das quais lhe falara, oferecendo para repetir os procedimentos se ele não estivesse convencido. Sua resposta foi que não precisava nada mais e que foi convencido; mas pedindo devido a sua amizade comigo que eu não fizesse nenhuma declaração pública sobre o assunto devido à incredulidade pública. Separamo-nos e eu retornei ao paciente para continuar o tratamento que foi bem sucedido. No mesmo dia eu procurei retomar o curso natural da natureza, colocando, desta forma, um final ao problema causado pela parada.

    Dois dias depois eu fiquei atônito ao ouvir que o Sr. Ingerhousze estava fazendo declarações públicas completamente contrárias ao enunciado em minha casa, e negava o sucesso dos diferentes experimentos que ele testemunhou. Ele efetivamente confundiu o Magnetismo Animal com o magneto e fez um discurso para prejudicar minha reputação disseminando um relatório que com um número de peças magnetizado que ele trouxera com ele, tinha obtido sucesso em me desmascarar provando que eu era nada mais do que uma ridícula fraude pré-arranjado.

Eu devo confessar que tais palavras num primeiro momento pareciam inacreditáveis, e eu tive alguma dificuldade em considerar o Sr. Ingerhousze como seu autor. Entretanto, sua associação com o Jesuíta Hell, e seu apoio a tais odiosas insinuações, com o objetivo de arruinar minha Letter de 5 de janeiro de 1775, removendo da minha mente toda dúvida que o Sr. Ingerhousze era a parte culpada. Eu refutei o Padre Hell e estava pronto para processá-lo quando a Senhorita Oesterline, que havia sido informada da conduta do Sr. Ingerhousze que a deixara tão comprometida que recaiu no seu estado anterior e ainda agravado por uma febre nervosa.

A pior da Senhorita Oesterline exigiu toda a minha atenção. Nestas circunstâncias, continuando minha pesquisa, eu consegui ultrapassar as dificuldades postas no meu caminho e dando a minha teoria o desejado aperfeiçoamento. A cura desta jovem representou o primeiro fruto do meu sucesso, e eu tinha a satisfação de vê-la em excelente forma. Ela casou e teve filhos.

    Foi durante 14 dias que, determinado a justificar minha conduta e para dar ao público a idéia correta das minhas habilidades desmascarando a conduta do Sr. Ingerhousze, eu informei o Senhor De Stoerck, requisitando a ele para obter ordens da Corte para a Comissão da Faculdade para tomar conhecimentos dos fatos, assim poderiam verificar e torná-lo conhecido para o público. Este passo agradou ao veterano médico; ele parecia compartilhar meu ponto de vista e prometeu agir de acordo, remarcando, entretanto que ele não poderia estar na Comissão.

Eu sugeri várias vezes que ele poderia vir e ver a Senhorita Oesterline e satisfazer a si mesmo sobre o sucesso do meu tratamento. Suas respostas sobre o assunto eram sempre vagas e incertas. Eu expliquei a ele como isso iria beneficiar a humanidade se meu método fosse adotado pelos hospitais, e pedi a ele para que pudesse demonstrar sua utilidade no Hospital Espanhol. Ele concordou com isto e deu as necessárias instruções ao Sr. Reinlein, médico no hospital.

    Este tinha sido testemunha dos efeitos e da utilidade das minhas visitas durante um período de oito dias. Em várias ocasiões ele demonstrou surpresa e relatou ao Senhor De Soerck. Entretanto, muito cedo me dei conta que diferentes impressões tinham sido dadas ao eminente médico. Eu o encontrei quase todos os dias e insisti no meu pedido para a Comissão, lembrando-o sobre a importante matéria que eu lhe comunicara, mas não vi nada mais do que indiferença, frieza e reserva na sua atitude sempre que o tópico era abordado.

   Não consegui nenhuma satisfação, e como o Senhor. Reinlein parou de me relatar (eu mais adiante descobri que esta mudança havia sido resultado de passos tomados pelo Sr. Ingerhousze), eu descobri minha inabilidade em fazer frente à intriga e busquei consolação no silêncio.

    Animado com o sucesso do seu plano, o Sr. Ingerhousze adquiriu novo vigor; gabava-se da sua incredulidade e pouco tempo depois ele passou a descrever os que não compartilhavam do seu julgamento de loucos. Logo compreendi que tudo isto era suficiente para alienar o povo e passei a ser visto como um visionário, especialmente pelo fato que a indiferença da Faculdade parecia dar apoio a tal opinião.

    O que me pareceu mais estranho é que a mesma opinião foi compartilhada no ano seguinte pelo Sr. Klinkosch, Professor de Medicina em Praga, que, sem me conhecer e sem a menor idéia do verdadeiro estado da matéria, foi suficientemente tolo (para não utilizar termos mais fortes), de publicar nas Revistas detalhes curiosos das imposturas a mim atribuídas pelo Sr. Ingerhousze.

    Independente do que a opinião pública pudesse ser, eu achei que a verdade não poderia ter melhor apoio do que nos fatos. Eu retomei o tratamento de vários transtornos, incluindo a hemiplegia, o resultado da apoplexia; paralisias, cuspidas de sangue e oftalmia normal. O Sr. Bauer, Professor de Matemática em Viena e um homem de grande mérito, sofreu esta última doença. Meu trabalho foi coroado pelo melhor sucesso possível, e o próprio Sr. Bauer foi suficientemente honesto de tornar público um detalhado relato de sua cura. Entretanto o preconceito tinha a maior força. Apesar de tudo, eu tive a satisfação de ser conhecido por um grande Ministro, um Conselheiro Privado e um Conselheiro Áulico, amigos da humanidade, que muitas vezes reconheceram a verdade por si mesma, a respeitaram e protegeram. Eles, além disto, fizeram várias tentativas  de colocar luz nas sombras que me envolviam. Entretanto, seu sucesso foi limitado, pois eram contraditados pela idéia que somente os médicos poderiam decidir, o que limitava sua boa vontade que se limitava à suas ofertas de necessária publicidade aos meus escritos em terras estrangeiras.

   Foi através deste canal que minha Letter explicativa de 5 de janeiro de 1775 foi transmitida para a maioria das instituições científicas e para alguns cientistas. Somente a Academia de Berlim, no dia 24 de março daquele ano, escreveu uma resposta na qual confundia as propriedades do Magnetismo Animal que ia além do magneto, que eu apenas disse ser um condutor, ele incorria em vários erros na opinião de que eu era vítima de uma ilusão.

    Esta Academia não a única a cometer o erro de confundir Magnetismo Animal com o magnetismo mineral, embora eu tenha sempre expressado nos meus escritos que o uso do magneto, embora conveniente, era sempre imperfeito sem a assistência da Teoria do Magnetismo Animal. Os médicos e doutores com os quais eu mantinha correspondência ou que tenham se interessado para descobrir meus métodos com a intenção de usurpar esta descoberta, tomaram a si espalhar que, fosse à idéia que o magneto era a única forma ou ainda que eu utilizasse a eletricidade, porque era bem conhecido que eu trabalhara com ambos. A maioria deles foi desmascarada pela própria experiência, mas em vez de aceitarem a verdade dos fatos que eu expunha, concluíram a partir dos seus fracassos com o uso destes dois agentes de que as curas por mim anunciadas eram imaginarias e que minha teoria era uma ilusão.

    O desejo de refutar tais erros de uma vez por todas, e para que a verdade triunfasse me determinei a não utilizar mais a eletricidade ou o magneto a partir de 1776.

    A pobre receptividade sobre minha descoberta e a fraca esperança a mim reservada no futuro me fizeram não comunicar nada de natureza pública em Viena e me fizeram viajar para a Suábia e para a Suíça e acrescentá-la à minha experiência. Sem dúvida eu tive a satisfação de realizar algumas importantes curas na Swabia, e operando diante dos olhos de doutores de Berna e Zurich. Eles não ficaram com nenhuma dúvida da existência do Magnetismo Animal e a utilidade da minha teoria, corrigindo o erro a que eles foram levados por meus oponentes.

    Entre os anos de 1774 e 1775, um religioso, homem de boa fé, mas com zelo excessivo, vinha operando na diocese de Ratisbon em vários transtornos de natureza nervosa, utilizando meios que pareciam super naturais aos menos informados naquele distrito. Sua reputação se estendia até Viena onde a sociedade se dividia em dois segmentos, um considerando seus métodos como impostura e fraude, enquanto outros consideravam seus métodos com milagres realizados pela força divina. Ambos, no entanto, estavam errados e minha experiência me dizia que o homem em questão não era nada mais do que uma ferramenta da Natureza. Isto se devia porque sua profissão assistida pelo destino lhe deu certos talentos naturais permitindo que descobrisse os sintomas periódicos das doenças sem conhecer sua causa. O final de tais paroxismos impedia que tivessem uma cura completa, o público não seria enganado todo o tempo.

    Retornando para Viena lá pelo final de 1775, eu passei por Munich, onde Sua Alteza o Elector da Bavária foi gentil ao ponto de me consultar sobre o assunto, perguntando se eu poderia confirmar estes pretensos milagres. Eu realizei na frente dos seus olhos alguns experimentos que removeram qualquer preconceito que tinha e o deixaram sem dúvida sobre a verdade do que eu anunciava. Pouco tempo depois a Instituição Científica daquela cidade me deu a honra de me admitir como membro.

   Tornei a visitar a Bavária em 1776 e alcancei sucesso semelhante com doenças de diferentes espécies. Em particular, eu efetuei a cura de uma imperfeita amaurosis, acompanhada de paralisia das pernas que afligia o senhor d´Osterwald. Diretor do Instituto científico de Berlim; ele foi muito gentil em tornar público este fato e outros resultados que ele testemunhara.

    Após o retorno a Viena, eu continuei até o fim daquele ano sem assumir nenhum trabalho; por nada alteraria minha mente se não fosse por meus amigos contraditarem a minha decisão. Sua insistência, junto com minha vontade de ver a verdade prevalecendo, aumentou em mim à esperança de atingir estes objetivos com novos sucessos, particularmente com curas marcantes. Com este objetivo em vista eu iniciei o tratamento da Senhorita Paradis, com a idade de 18 anos, cujos pais eram bem conhecidos; ela mesma era conhecida por Sua Majestade a Rainha (Queen-Empress), de cujo patrimônio recebia pensão, desde os quatro anos ela era praticamente cega. Era uma perfeita amaurosis, com convulsões nos olhos. Alem disso sofria de melancolia, acompanhada por paralisias no fígado e baço, que muitas vezes resultava em delirium e raiva que a deixavam convencida que estava louca.

   Eu também tomei em tratamento uma Zwelferine, uma jovem de 19 anos de idade que era cega desde os dois anos devido à amaurosis acompanhada por uma ferrugem com atrofia do globo ocular. (wrinkled albugo with atrophy of the Ball); ela também cuspia sangue. Eu encontrei esta jovem num orfanato em Viena e sua cegueira foi atestada pelos administradores.

    Ao mesmo tempo eu também tratei à senhorita Ossine, com 18 anos de idade, que recebia uma pensão de sua Majestade, por ser filha de um oficial do Exército. Sua doença consistia em Pitíase purulenta e melancolia irritável acompanhada por momentos de raiva, vômitos cuspe de sangue e desmaios. Estas três pacientes e outras foram acomodadas na minha casa permitindo que eu continuasse o tratamento sem interrupções. Eu tive a felicidade de curar as três.

    O pai e a mãe da Senhorita Paradis, que testemunharam sua cura e o progresso que estava fazendo no uso da sua visão, tornaram este fato conhecido e mostrado o quanto estavam felizes. Multidões correram para minha casa para verem por si mesmo e cada um, após colocarem as pacientes sob algum teste, saíram grandemente espantados e com os melhores elogios para mim mesmo.

    Os dois presidentes da Faculdade, e o chefe dos administradores vieram me visitar por insistência do Senhor Paradis; e, após examinarem a jovem senhora, acrescentaram seus elogios em público. o Senhor De Sporck, um destes cavalheiros, que conhecia esta jovem particularmente bem, pois a tratara por dez anos sem o mínimo sinal de melhora, me expressou sua satisfação a cura tão interessante e que para seu lamento tinha por tanto tempo não aceitado a importância da minha descoberta. Certo número de médicos, seguindo o exemplo dos seus líderes, também pagou tributos à verdade.

    Após tão autêntico reconhecimento, o Senhor Paradis foi gentil o suficiente em expressar sua gratidão em seus escritos, que se espalharam pela Europa. E foi ele que publicou interessante detalhes da cura de sua filha nos jornais e revistas.

    Entre os médicos que vieram me ver para satisfazer sua curiosidade estava o Senhor Barth, professor de anatomia das doenças do olho, e especialista em catarata; ele admitiu em duas ocasiões que a Srta Paradis estava em condições de usar seus olhos. Apesar disto, a inveja deste homem o fez declara publicamente que a jovem senhorita não conseguia ver, e que ele a testara e chegara a esta conclusão. Ele baseou sua afirmativa no fato que ela não conhecia ou confundia os objetos a ela mostrados. Ele foi respondido por todos os lados que ele estava confundindo a inabilidade dos cegos ao nascer ou desde a tenra idade com o conhecimento adquirido por uma pessoa cega após cirurgia de catarata.  Como? Ele foi perguntado, que um homem na sua profissão pode ser culpado por erro tão primário? Sua imprudência, entretanto, encontrou uma resposta para tudo afirmando o contrário. Foi em vão que o público repetidamente lhe afirmou que milhares de testemunhas lhe deram de evidências de cura; ele sozinho mantinha uma visão oposta na qual ele recebeu apoio do Senhor Ingerhousze o Inoculador sobre quem já conversamos.

   Estes dois indivíduos, que de início eram vistos como fanáticos pelo povo honesto e sensível, tiveram sucesso um plano para retirar a Senhorita Paradis dos meus cuidados, apesar dos seus olhos ainda estarem num estado imperfeito e tornaram impossível apresentá-la para Sua Majestade, se este fosse o caso. Isto inevitavelmente aumentou o crédito às suas afirmativas de impostura. Para isto eles trabalharam o Senhor Paradis, que ficou com medo que a pensão de sua filha e várias outras vantagens poderiam parar. Ele, em conseqüência, solicitou a devolução de sua filha. Esta, com apoio da mãe não concordavam e tinham medo que a cura fosse imperfeita. O pai insistiu e esta disputa acrescentou tensão e ela sofreu uma desafortunada recaída. Entretanto, isto não teve nenhum reflexo nos seus olhos e ela seguiu melhorando na sua utilização. Quando seu pai viu que ela estava melhor, estando ainda ligado aos conspiradores, ele retornou à carga. Ele demandou sua filha com algum calor e compeliu a mãe do mesmo jeito.

    A moça resistiu pelas mesmas razões de antes. Sua mãe, que até então lhe dera suporte e que pedira desculpas pelos problemas criados por seu marido, veio no dia 29 de abril de 1977 dizer-me que desejava remover sua filha imediatamente. Eu retruquei que ela estava livre para fazer isto, mas que, se certos acidentes ocorressem ela não podia contar com minha ajuda.

    Estas palavras acabaram sendo ouvidas pela jovem que ficou fora de si e entrou em crise.  Sua mãe que a ouviu chorando, deixou-me abruptamente e tirou sua filha dos braços da pessoa que a estava assistindo e disse menina miserável, tu também estás unha e carne com as pessoas desta casa! E a jogou contra a parede, com a cabeça em destaque.

    Imediatamente todos os problemas daquela infeliz moça recomeçaram. Eu fui prontamente a sua direção para lhe dar assistência, mas sua mãe ainda lívida com raiva se atirou na minha direção para impedir que eu o fizesse, enquanto me dirigia impropérios.. Eu fiz com que removessem a mãe e fui assistir a moça. Enquanto eu estava envolvido eu ouvi mais gritos e tentativas de arrombamento da porta do quarto onde eu estava. Era o Senhor Paradis que, avisado por servos da sua esposa, agora invadia minha casa de espada em punho e com a intenção de entrar no quarto onde eu estava, enquanto meus servos tentavam removê-lo e guardando a porta. O maluco foi finalmente desarmado e se afastou da minha casa gritando imprecações contra mim e minha casa. Enquanto isto sua esposa desmaiara. Dei a ela a atenção necessária e ela se afastou algumas horas depois. Mas a infeliz mocinha estava sofrendo de ataques de vômitos, crises raivosas com qualquer ruído, especialmente acentuados pelo som de sinos. Ela ainda recaiu ao seu estado prévio de cegueira devido à violência do golpe dado por sua mãe e eu fiquei com algum temor pelo estado do seu cérebro.

    Aquilo era para minha paciente e para mim. Os efeitos sinistros daquela cena dolorosa. Teria sido fácil para eu levar o assunto para a Justiça com o testemunho do Conde Pelegrini e oito pessoas que estavam comigo ale de outros vizinhos que poderia agir como testemunhas, mas eu estava somente preocupado em salvar a senhorita Paradis, se possível, e me contive de me proteger legalmente. Meus amigos insistiram em vão apontando a ingratidão exibida por sua família e o perdido esforço do meu trabalho. Eu aderi a minha primeira decisão ficaria contente em ultrapassar os inimigos da verdade e minha paz mental por boas ações.

    No dia seguinte eu ouvi que o Sr. Paradis, numa ação para encobrir seus excessos, estava espalhando as mais perversas insinuações sobre mim, sempre com o objetivo de remover sua filha provando, por sua condição, a perigosa natureza dos meus métodos. Eu recebi através do Sr. Ost, Médico da Justiça uma ordem escrita do Senhor de Stoerck, na sua capacidade de médico chefe, datada em Schoenbrum, segundo dia de maio de 1777, me exortando “por um fim na impostura” (sua própria expressão) e “devolver a Senhorita Paradis para sua família se isto pudesse ser feito sem riscos”.

    Quem acreditaria que o senhor de Stoerck, estando tão bem informado pelo mesmo médico, de tudo que tinha ocorrido na minha casa e, após sua primeira visita, tendo comparecido duas vezes para se convencer dos progressos da paciente e do sucesso dos meus métodos, possa ter usado uma linguagem tão ofensiva e desdenhosa sobre mim? Eu tinha, sem dúvida, razões para esperar o oposto, porque ele tinha condições de reconhecer a verdade e ser seu defensor. Eu iria ainda mais longe dizendo que, ele sendo depositário da confiança de Sua Majestade, um dos seus primeiros deveres nestas circunstancias deveria ser o de defender um membro da Faculdade que ele sabia que não tinha culpa, e a quem ele reiteradamente deu mostras de afeição e estima. Eu respondi a esta ordem irresponsável que o paciente não estava em posição de ser removida devido a risco de vida.

   A condição crítica da Senhorita Paradis sem dúvida causou uma impressão em seu pai e motivo-o a refletir. Através da intermediação de duas pessoas reputadas, ele me pediu que seguisse atendendo sua filha. E lhe disse que o faria com a condição que nem ele ou sua esposa tornassem a aparecer em minha casa. Meu tratamento excedeu minhas esperanças, e nove dias foram suficientes para acalmar a crise e pôs um ponto final nos transtornos. A sua cegueira, no entanto, permanecia.

    Quinze dias de tratamento curaram sua cegueira e restauraram o olho à sua condição de antes do incidente. A este período acrescentei mais 15 dias de atenção para melhorar e restaurar sua saúde. O público veio então para obter provas da sua melhora, e todos me deram, alguns por escrito, evidências de satisfação. O senhor Paradis, assegurado do estado positivo da saúde da sua filha, através do senhor Ost, quem a seu pedido e com minha permissão, acompanhava o progresso do tratamento, escreveu uma carta para minha esposa em que agradecia seus cuidados maternais.

    Ele também me escreveu se desculpando pelo passado; ele finalizou me pedindo que mandasse de volta sua filha desta forma ela poderia desfruta o benefício do ar do campo. Ele disse que a mandaria de volta para mim sempre que achasse necessário, para continuar o tratamento e esperava que eu a atendesse. Eu acreditei nele de boa fé e devolvi sua filha para ele no dia 8 de junho.

    No dia seguinte eu ouço que a família afirmou que ela estava ainda cega e sujeita a ataques. Eles a mostraram e a compeliram a imitar ataques e cegueira. Esta noticia evocaram algumas contradições por pessoas que estavam convencidas do contrário, mas isto foi superado e creditado aos intrigantes costumeiros que utilizavam o senhor Paradis como sua ferramenta, e eu não tinha condições de acompanhar sua difusão em testemunhas das grandes esferas, tais como o Sr. Spielmann, Aulic Councillor of Their Majesties and Director of The State Chancellery; Their Majesties Councillors, Messrs Molitor e de Umlauer, médico para Their Majesties; o Boulanger, o Heufeld e Barão de Colnbach e o Senhor de weber, quem, independentemente de várias pessoas acompanhou diariamente por si mesmo, meus processos e resultados.

    Por isto, a despeito da minha perseverança e meu trabalho, eu pouco a pouco me vi relegado à posição de uma conjectura, ou pelo menos a uma incerteza, a verdade que foi provada autenticamente.

    É fácil imaginar como eu fui afetado pela incessante ação dos meus inimigos em me prejudicar e pela ingratidão de uma família para a qual eu mostrara gentileza. Apesar disto, durante o final de 1777 eu continuei com a cura da Srta Ossine e a antes mencionada Zwelferine cujos olhos, como estão lembrados, estavam ainda em piores condições que os da Senhorita Paradis. Eu também perseverei com sucesso com o tratamento dos meus demais pacientes, em particular a Senhorita Wipior, com nove anos de idade, que tinha num dos olhos um crescimento de córnea, conhecido pelo nome de staphyloma; esta excrescência cartilaginosa, de três ou quatro linhas, a impediam de ver com tal olho. Eu obtive sucesso removendo a excrescência de tal forma que ela podia Le de lado. Restou um pequeno albugo no centro da córnea e eu tenho certeza que o faria desaparecer completamente se as circunstâncias me permitissem continuar o tratamento. Entretanto, investido pelo meu trabalho durante 12 anos consecutivos e ainda mais pela contínua animosidade dos meus adversários, sem ter colhido pelas minhas pesquisas e esforços nenhuma satisfação outra do qual nenhuma adversidade pode privar-me, eu senti que tinha cumprido meu dever com meus concidadãos,

    Com a convicção que um dia a justiça me seria feita, eu decidi viajar com o único propósito de relaxamento que eu muito necessitava. Entretanto, para me proteger contra prejuízo e insinuações tanto quanto fosse possível, eu arrumei meus assuntos de modo a deixar na minha casa durante minha ausência a senhorita Ossine e a menina Zwelferine. A seguir tive a precaução de anunciar ao público as razões para este arranjo, declarando que estas pessoas estavam na minha casa e de modo que suas condições pudessem ser verificadas a qualquer momento dando apoio a verdade. Elas lá permaneceram por oito meses após minha partida de Viena de onde sai sob ordens de uma alta autoridade.

    Chegando a Paris em fevereiro de 1778 eu comecei a usufruir as delícias de lá repousar com a interessante companhia de cientistas e médicos daquela capital. Entretanto, aceitando seus pedidos e para pagar a gentileza que mostraram para mim, eu decidi satisfazer sua curiosidade falando sobre o meu sistema. Eles ficaram espantados sobre sua natureza e resultados e me solicitaram por uma explicação. Dei-lhes minha concisa explicação em 19 artigos. Eles pareceram para eles não ter relação com o conhecimento estabelecido. Eu senti sem dúvida como era difícil apenas pelo raciocínio argumentativo provar a existência do princípio pelo qual as pessoas não tinham a mínima idéia. Tendo este fato em mente, mesmo assim me abstive aos pedidos de mostrar a realidade e a utilidade da minha teoria para o tratamento de algumas doenças graves.

    Certo número de pacientes colocou sua confiança em mim. A maioria estava num estado tão desesperador que estimularam meu desejo de ser útil e atendê-los. No entanto, eu curei uma melancolia vaporosa com vômitos espasmódicos, um número grande de paradas no baço, fígado e mesentério, uma amaurosis imperfeita, com a extensão de impedir o paciente de se movimentar sozinho e uma paralisia geral com tremores que dava ao paciente (com 40 anos) a aparência de velhice e bebedeira. Esta doença era o resultado de “mordida da geada”; ela foi agravada pelos efeitos de uma febre pútrida e maligna que o paciente contraiu na América.

    Eu ainda obtive o mesmo sucesso num caso de paralisia total das pernas, com atrofia; um de vômito crônico que reduziu o paciente a um estado de progressiva emaciação; um de debilidade escrofulosa; e finalmente um caso de decadência dos órgãos da perspiração.

    Estes pacientes, cuja condição era conhecida e verificada pelos médicos da Faculdade de Paris onde sua condição era objeto de crises e evacuação, a par da natureza dos seus sofrimentos, sem o uso de qualquer medicamento. Depois de completar seu tratamento, eles me deram uma declaração detalhada.

    Isto teria sido mais do que necessário para provar sem dúvida as vantagens do meu método. Eu tenho razão de me orgulhar e que ao reconhecimento viria. Entretanto, as pessoas que me induziram a realizar os tratamentos não se consideraram capazes de ver seus efeitos, utilizando considerações e razões que ficaria fora de lugar enumerar nesta dissertação.

    O resultado foi que as curas, contrárias a minha expectativa, não foram comunicadas aos canais competentes onde poderia despertar a atenção, só imperfeitamente preencheram a tarefa que eu toinha colocado para mim mesmo e pela qual eu me louvava.

    Isto me induziu a fazer um novo esforço hoje pela causa da verdade, dado espaço a verdade e mais objetivo e publicidade que faltou na minha asserção original.

Proposições Afirmadas

1.      Há uma influência mútua entre os corpos celestiais, a terra e os Corpos Animados.

2.      Um fluído contínuo universalmente distribuído, que é sem vácuo e de um incomparável rarefeita natureza, e que por sua natureza é capaz de receber, propagar e comunicar toda a impressão de movimento, no meio da sua influência.

3.      Esta ação recíproca está subordinada a leis mecânicas que até o momento ainda não são conhecidas.

4.      Esta ação resulta num efeito alternado que pode ser visto como Fluxo e Refluxo.

5.      5. Este Fluxo e Refluxo são mais ou menos geral, mais ou menos particular, mais ou menos composto de acordo com as causas que os determinam.

6.      6. E por esta operação (a mais universal delas apresentada pela Natureza) e que seu raio de ação são estabelecidas entre os corpos celestiais, a terra e suas partes componentes.

7.      As propriedades da Matéria e o Corpo Orgânico dependem desta operação.

8.      O corpo animal sustenta os efeitos alternados deste agente, o qual se insinuando na substância dos nervos, os afeta imediatamente.

9.      Está particularmente manifesto no corpo humano que o agente tem propriedades similares ao magneto; pólos diferentes e opostos podem ser da mesma forma ser diferenciados, o que pode ser mudado, comunicado, destruído e reforçado, até mesmo o fenômeno do mergulho é observado.

10.  Esta propriedade do corpo animal que o coloca sob a influência dos corpos Celestiais e a influência dos que os cercam, como é demonstrado pela analogia com o Magneto, me induziu ao termo Magnetismo Animal.

11.  11. A ação e propriedades do Magnetismo Animal, então definido, podem ser comunicadas a outros seres animados e corpos inanimados. Ambos são mais ou menos suscetíveis a ele.

12.  Esta ação e propriedades podem ser reforçadas e propagadas pelos mesmos corpos.

13.  Experimentos mostram a passagem de uma substância cuja natureza rarefeita permite que penetre em todos os corpos sem apreciável perda de atividade.

14.  14. Sua ação é exercida a uma distância, sem a ajuda de um corpo intermediário.

15.  Ele é intensificado e refletido por espelhos, como a luz.

16.  Ele é comunicado, propagado e intensificado pelo som.

17.  Esta propriedade magnética pode ser estocada, concentrada e transportada.

18.  Eu disse que todos os corpos animados não são igualmente suscetíveis; há alguns, embora poucos, cujas propriedades são tão opostas que sua simples presença destrói todos os efeitos do magnetismo em outros corpos.

19.  Estas propriedades opostas também penetra todos os corpos; ele pode desta forma ser comunicado, propagado, estocados, concentrado e transportado refletido nos espelhos e propagados pelo som; isto constitui não meramente a ausência do magnetismo, mas uma positiva propriedade oposta.

20.   O Magneto, tanto o Natural e o Artificial, juntos com outras substâncias, é suscetível ao Magnetismo Animal, e ainda para a propriedade opositora, sem seu efeito no ferro e na agulha passando por nenhuma alteração em ambos os casos; isto prova que o princípio do Magnetismo Animal difere essencialmente daquele no magnetismo mineral.

21.  Este sistema fornece explanações novas como à natureza do Fogo e Luz, como bem a teoria da atração, Fluxo e Refluxo, p magneto e eletricidade.

22.  Ele tornará conhecido que o magneto e a eletricidade artificial onde tem, em relação às doenças, propriedades que eles compartilham com vários outros agentes vindos da Natureza, e que seus efeitos úteis derivam do uso deste último se deve ao Magnetismo Animal.

23.  Será visto pelos fatos, de acordo com regras práticas que eu desenharei, que este princípio cura transtornos nervosos diretamente e outros transtornos indiretamente.

24.  Com sua ajuda, o médico é guiado no uso de medicamentos; ele aperfeiçoa sua ação, traz e controla as crises benéficas de uma maneira a liderá-los.

25.  Tornando o meu método conhecido, eu demonstrarei com uma nova teoria das doenças a universal utilidade do princípio que eu trouxe para suportá-la.

26.  Com este conhecimento, o médico determinará confiantemente a origem, natureza e progresso das doenças, mesmo a mais complicada; ele prevenirá que ganhem terreno e terá sucesso em curá-la sem expor o paciente aos perigosos efeitos ou as das afortunadas  conseqüências, qualquer que seja sua idade, temperamento e sexo. Mulheres mesmo na gravidez ou no parto gozarão da mesma vantagem.

27.  Em conclusão, esta doutrina habilitará ao médico a determinar o estado de saúde de cada indivíduo e protegê-lo das doenças que de outra forma estaria sujeito. A arte de curar atingiria então seu estágio final de perfeição.

Embora nenhuma destas proposições tendo em conta minha constante observação durante um período de 12 anos não me deixa nenhuma incerteza, eu entendo que comparadas com velhos e estabelecidos princípios e conhecimentos, meu sistema aparenta conter tantas ilusões como verdades.  Eu devo, entretanto perguntar os esclarecidos para descartar seus prejuízos e ao menos suspender julgamento, até que as circunstâncias me permitam fornecer à necessária evidencia dos meus princípios. Consideração para aqueles que sofrem em dor e infelicidade pela muito inadequação de métodos conhecidos é bem calculada para inspirar o desejo e esperança de métodos úteis.

    Os médicos sendo depositários da confiança pública por tudo conectado com a preservação e felicidade da espécie humana, estão sozinhos habilitados, pelo conhecimento da sua profissão, para julgar da importância da descoberta que eu anunciei e tenham idéia das suas implicações. Numa palavra, eles sozinhos estão qualificados em praticá-la.    

Como tenho o privilegio de compartilhar a dignidade de sua profissão, eu sou sem dúvida qualquer que eles se apressam a adotar e disseminar os princípios destinados a aliviar o sofrimento da humanidade, tão logo eles perceberem a importância desta dissertação, basicamente escritos para eles, na verdadeira concepção do Magnetismo Animal.


TOP