Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Março de 2017 - Vol.22 - Nº 3 História da Psiquiatria MESMER, MESMERISMO E HISTÓRIA DA PSICOTERAPIA Walmor João Piccinini Pesquisando sobre Psicoterapia chegamos a
alguns nomes considerados precursores da mesma entre eles o de Franz Anton
Mesmer (1734-1814 ) médico vienense que se tornou
famoso com sua teoria do Magnetismo Animal. Deduzimos de trechos sobre sua vida
que se tratava de um homem rico, dono de uma mansão em Viena onde recebia a
sociedade em saraus musicais. Acabou transformando sua casa numa espécie de
clínica onde internou vários pacientes, na maioria jovens mulheres com
características histéricas. Mesmo tendo demonstrado seriedade de propósitos foi
acusado de práticas menos nobres na arte da medicina. Terminou sendo acusado de
visionário, mentiroso e charlatão. Ele viveu numa época de transição entre
crenças medievais e o Iluminismo. Passados alguns anos descobrimos que suas
idéias influenciaram pelo menos três áreas que vão do hipnotismo, a
psicoterapia e o espiritismo. Entre seus admiradores estava Allan Kardec. (Para os interessados sugiro o artigo de
Jader Sampaio, Mesmerismo e Espiritismo http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/mesmerismo-e-espiritismo.html). É de
Sampaio uma observação que concordo “As opiniões sobre Franz Anton Mesmer
(1734/1814) são controvertidas ainda hoje. Alguns o consideram charlatão,
outros místico e biógrafos como Zweig são entusiastas
em defender sua erudição e espírito científico, que afirma terem sido
sub-valorizados pelas instituições acadêmicas de sua época.Sua
formação intelectual foi ampla. Possuiu títulos acadêmicos em teologia,
filosofia, direito e medicina. Prosseguiu estudando geologia, física, química,
matemática, filosofia abstrata e música”. O trabalho de Mesmer ou algumas idéias do mesmo podem ser vislumbradas na psicoterapia e psicanálise. Alguém o
comparou a Cristóvão Colombo que ao chegar no
continente americano não tinha idéia do que estava descobrindo. Registro o
fervor com que defendia suas idéias e a constante recusa do meio científico da
época em reconhecer algum mérito no seu trabalho. Uma comissão científica composta por Lavoisier, Bailly, Jussieu, Guilhotin e Benjamim Franklin, pelo rei Luís, para
pesquisar o fenômeno chegou a conclusão que seu
trabalho era fruto da imaginação e não tinha valor científico. Mesmer poderia estar certo ao dizer que tinha feito uma grande
descoberta, mas ele não tinha noção que estava descortinando o capítulo do
tratamento psicológico. Ele defendia conceitos mágicos e astrológicos de uma
era passada. Ele não chegou a entender o que estava descobrindo. Consegui
um documento pouco conhecido, pelo menos por mim, nunca vi publicado em língua
portuguesa, mas eventualmente pode existir. Trata-se da Tese de Mesmer sobre o
Magnetismo Animal. Animei-me a traduzi-la e deixar que os leitores da Psychiatry Online Brasil tirem suas conclusões. DISSERTAÇÃO SOBRE A DESCOBERTA DO MAGNETISMO ANIMAL .
Por Franz Anton Mesmer. (Publicada
em Paris em 1779. Foi traduzida por V.R.Myers. Editada por Gilbert Frankau em
1948. Reproduzida na História da Psicoterapia cujo editor foi Jan Ehrenvald.) Pode ser ... afirmado entre opiniões
vulgares opiniões de todas as idades, cujos princípios não tem raízes no
coração humano, que existam uns poucos que, podem parecer ridículos e
extravagantes, não podem ser lembrados como resquícios de uma verdade
originalmente reconhecida. Tais são
minhas reflexões ...
sobre o destino da doutrina da influência de
corpos celestiais no planeta que habitamos. Estas reflexões me induziram a
procurar, entre as ruínas de tal ciência, mantida tão baixa pela ignorância, o
que ela pudesse conter algo que fosse útil e verdadeiro. De acordo
com minhas idéias sobre o assunto, eu publiquei em Viena em 1766 uma tese sobre
a influência dos planetas no corpo humano. De acordo com os princípios
conhecidos da atração universal, confirmada por observações que nos ensinam
como os planetas afetam uns aos outros em suas órbitas, como o sol e a lua causam
e controlam as ondas oceânicas no nosso globo e na atmosfera, eu afirmei que
tais esferas também exercem uma ação direta em todas as partes que formam o
corpo humano, em particular no sistema nervoso, por um fluído penetrante. Eu
registrei esta ação pela Intensificação e a Remissão das propriedades da
matéria e corpos orgânicos, como a gravidade, coesão, elasticidade,
irritabilidade, eletricidade. Eu mantenho
isto da mesma forma que efeitos alternados, com respeito à gravidade, produzem
no oceano o apreciável fenômeno de fluxo ou refluxo, assim a Intensificação e
Remissão das ditas propriedades, sendo sujeitas aos mesmos princípios, causando
nos corpos animados efeitos alternados
similar aqueles mantidos pelo oceano. Com estas considerações eu estabeleci que
o corpo animal, sendo submetido à mesma ação, da mesma forma sofre o mesmo
fluxo e refluxo. Eu apoiei esta teoria com diferentes exemplos de revoluções
periódicas. Eu nomeei a propriedade do corpo
animal que o torna afinado com os corpos celestiais e da terra como Magnetismo
Animal. Eu expliquei por este magnetismo as mudanças periódicas que observamos
no sexo, e de uma forma geral aqueles fenômenos que médicos de todas as idades
e em todos países observaram durante doenças.
Meu objetivo então foi apenas despertar o interesse nos médicos; mas
longe de ter sucesso, logo percebi que eu estava sendo tratado como excêntrico,
que eu passei a ser tratado como um homem com um sistema e que minha tendência
a me afastar o caminho normal da Medicina era considerado crime. Eu nunca escondi minha maneira de
pensar a este respeito, não tendo a habilidade de me convencer que eu tenha
feito progresso do qual eu propagandeava na arte de curar. Na verdade, tive que quanto mais avançamos em nosso
conhecimento do mecanismo e da economia do corpo animal, quanto mais nos fomos
obrigados a admitir nossa insuficiência. O conhecimento que obtive atualmente sobre a
natureza e ação dos nervos, imperfeita como seja não nos deixa dúvidas a este
respeito. Nós sabemos que eles são os agentes principais da sensação e
movimento, mas não conseguimos restaurá-los na sua ordem natural quando esta
sofreu interferência.. Tenho que confessá-lo para minha vergonha. A ignorância
secular a este respeito protegeu os médicos. A confiança supersticiosa que eles
tem e na qual se inspiramos seus específicos e
fórmulas os tornam despóticos e presunçosos. Eu tenho
o maior respeito pela Natureza para me convencer que a conservação individual
do HOMEM tenha sido deixada a mera chance da descoberta e para as observações
vagas que foram feitas ao longo dos séculos, tenham se tornada
o domínio de poucos. A Natureza
proporcionou tudo para a existência do indivíduo. A propagação toma lugar sem
“sistema” e sem truques. Por que a preservação seria privada da mesma vantagem?
A preservação dos animais proporciona a prova que o contrário é o caso. Uma agulha não magnetizada, quando em movimento,
somente toma determinada direção por acaso, enquanto uma agulha magnetizada,
tendo recebido o mesmo impulso, após várias oscilações proporcionais ao impulso
e magnetismo recebido, obterá sua posição inicial e ficará nela. Então, a
harmônio dos corpos orgânicos, quando uma vez interferidas, vai pelas
incertezas da minha primeira hipótese, a menos que seja trazida de volta e
determinada pelo Agente Geral, cuja existência eu reconheço: ela sozinha pode
restaurar a harmonia no estado natural. Desta forma nós vemos, em todas as idades, que as
enfermidades podem piorar ou ficam curadas com ou sem ajuda da MEDICINA, de
acordo com diferentes sistemas e pelos métodos mais conflictivos. Estas
considerações removeram toda dúvida da minha mente que existe na Natureza um
princípio ativo universal que, independentemente de nós mesmos opera com o que
vagamente se atribui a Arte e Natureza. Estas reflexões causaram meu afastamento
imperceptível do caminho habitual. Eu submeti minhas idéias para experiência
durante doze anos, aos quais devotei as observações mais acuradas sobre todo
tipo de doenças, e eu tive a satisfação de ver as máximas que e previ nasceram
e suas previsões serem corroboradas continuamente. Foi por volta dos anos de 1773 e 1774 que eu recebi
em minha casa para tratamento uma jovem senhora de 29 anos que se chamava
Oesterline, que há vários anos sofria de uma doença convulsiva, cujo sintoma
mais preocupante era quando o fluxo sanguíneo ia para sua cabeça e lá
desencadeava os mais cruéis sintomas de dor de dente. Dor de ouvido, seguidos
por “delirium”, raiva, vômitos e síncope. Para mim foi uma ocasião altamente
favorável para observar acuradamente o tipo de fluxo e refluxo que O Magnetismo
Animal afeta o corpo humano. A paciente, muitas vezes,
tinha uma crise benéfica, seguida de marcado alívio; entretanto, a alegria era
sempre momentânea e imperfeita. O deseja d
entender a causa desta imperfeição e minhas observações ininterruptas me trazia
todo tempo ao ponto de reconhecimento do trabalho da Natureza e penetrá-lo
suficientemente para prever e afirmar com segurança os diferentes estágios da
doença. Encorajado por este primeiro sucesso, eu não tive mais dúvidas sobre a
possibilidade de aperfeiçoá-la se eu tivesse a habilidade de descobrir entre as
substâncias que constituíam nosso globo terrestre, de uma ação que fosse
recíproca e similar ao dos corpos celestiais, pelo meio dos quais eu poderia
iniciar artificialmente a periódica revolução do fluxo e refluxo já referida. Eu
possuía o conhecimento usual sobre o magneto; sua ação de ferro, a capacidade
dos nossos fluidos corporais de receber tal mineral. Os vários testes
executados na França, Alemanha e Inglaterra para dor de estômago, dor de dente
me eram conhecidos. Estes foram os motivos, junto com a analogia entre as
propriedades desta substância e o sistema geral, me induziram a escolhê-lo como
o mais adequado para este tipo de teste. Para assegurar o sucesso deste teste
no intervalo dos ataques, eu preparei a paciente com o uso contínuo de líquido
com sais minerais. Meu
relacionamento com o Padre Hell, Jesuíta e Professor de Astronomia em Viena,
propiciou-me a oportunidade de solicitar que seu artesão confeccionasse certo
número de peças magnetizadas de forma conveniente para sua aplicação. Ele
gentilmente aquiesceu e me deu as peças. Em 28 de
julho de 1774, após a paciente ter uma recaída dos seus ataques usuais, eu
apliquei três peças magnetizadas no estômago e nas pernas. Pouco tempo depois
isto era acompanhado por sensações extraordinárias; ela sentiu dentro de si a
corrente de um leve fluído que, após várias tentativas de se direcionar, achou
o caminho para as partes mais baixas e fez com que cessassem os ataques por
seis horas. No dia seguinte, as condições da paciente exigiram que eu fizesse
novo teste e eu obtive o mesmo sucesso com ele. Minhas
observações destes efeitos, associados com minhas idéias do sistema geral, me
forneceram novas informações. Enquanto confirmava minhas idéias prévias acerca
da influência de um Agente Geral, ela me ensinou-me outro princípio que causava
a ação do magneto, o magneto por si mesmo sendo incapaz de tais ações nos
nervos, e eu vi que eu tinha um atalho para chegar a Teoria Imitativa, que
formou o objeto da minha pesquisa. Alguns
dias depois, tendo encontrado o Padre Hell, eu mencionei a ele no curso da
conversação que a paciente estava em melhor estado de saúde, também dos efeitos
do meu processo e a esperança que eu tinha na força desta operação e que cedo
eu chegaria à cura dos doentes dos nervos. Eu
descobri depois, pelo público e pela imprensa, que este homem religioso,
utilizando sua fama com astrônomo e o desejo de se apropriar desta descoberta,
cuja natureza e benefícios ele era totalmente ignorante, chamou para si a
publicidade do fato de que através de algumas peças magnéticas, para as quais
ele atribuía virtudes específicas dependentes da sua forma, ele tinha obtido
meios de curar as mais graves doenças dos nervos. Para emprestar veracidade as
suas afirmações ele enviou a várias academias um conjunto de peças magnetizas
de vários formatos mencionando os aspectos essenciais e sua analogia com as
diferentes doenças. Assim ele
se expressou: “Eu descobri nestas formas, que estão de conformidade com o
vortex magnético, uma perfeição da qual dependem sua virtude específica em
casos de doenças; e se deve a falta desta perfeição que os testes realizados na
Inglaterra e na França não alcançaram o sucesso”. E para aumentar a confusão
sobre as peças magnetizadas com a descoberta que eu mencionei a ele, terminou
dizendo: “que ele tinha comunicado tudo aos médicos, e particularmente para
mim, e continuará avalizar seus testes”. Os
escritos repetidos do Padre Hell sobre o assunto inspirou o público que sempre
espera algo específico contra os transtornos nervosos, com a débil opinião que
a descoberta em questão consiste no mero uso do magneto. Eu por minha vez
escrevi para refutar este erro, publicando sobre a existência do Magnetismo
Animal, essencialmente distinto do Magneto; entretanto, como o público recebeu
esta informação de um homem de alta reputação, permaneceu neste erro. Eu
continuei meus experimentos em diferentes transtornos de forma a generalizar
meus conhecimentos a aperfeiçoar a aplicação posterior. Eu
conheci bastante bem o Barão de Stoerck, Presidente da Faculdade de Medicina de
Viena e médico chefe da Rainha. Foi natural para ele estar o par da natureza da
minha descoberta e seu propósito. Conseqüentemente eu coloquei na sua frente os
detalhes circunstanciais das minhas atividades, particularmente as referentes às
informações referentes ao assunto do magnetismo animal e o convidei para
verificar por si mesmo, colocando que era minha intenção de relatar para ele no
futuro todos os progressos que eu poderia atingir com a nova ciência. Para
demonstrar minha boa fé eu o coloquei sem reservas a par dos meus métodos e
experiências. A natural
timidez deste médico, sem dúvida baseado em motivos que não é minha intenção
penetrar, induziu-o a responder que não queria nada a haver com aquilo sobe o
qual eu lhe contara e me implorou que não comprometesse a Faculdade tornando
pública uma informação deste tipo. A opinião
pública desfavorável e a incerteza sobre a natureza do meu método me levou a
publicar em 5 de janeiro de 1775, Uma Letter to a Foreign Physician a exata
natureza da minha teoria, o sucesso que obtive até agora e o sucesso que tenho razões para esperar
me deram esperança. Eu pus em andamento a natureza e ação do Magnetismo Animal
e a analogia entre suas propriedades e aquelas do magneto e eletricidade. Eu
acrescentei “todos os corpos era,, como o magneto, capazes de comunicar este
princípio magnético; que este fluido penetrava tudo e poderia ser guardado e
concentrado, como o
fluido elétrico: que operava a distância; que os corpos animados eram divididos
em duas classes, uma que era suscetível a este magnetismo e outras com uma
qualidade oposta que suprime esta ação., “Finalmente, eu registrei as várias
sensações e baseei estas afirmativas com experimentos que me permitem levá-los
adiante”. Alguns
dias antes da publicação desta Letter (Carta), eu ouvi que Mr. Ingenhousze,
membro da Real Academia de Londres e Inoculador em Viena, por entreter a
nobreza e distinguidos personagens com experimento em eletricidade, e pelas
habilidades pelas quais ele variava os efeitos do magneto, adquiriu a reputação
de ser um médico. Eu ouvi como já disse que este indivíduo aprendeu das minhas
operações, ele as tratou como vãs imaginações, indo tão longe como poder dizer
que somente o gênio inglês seria capaz de tal descoberta, isso se ela pudesse
ser feita.Ele veio me ver, não para obter informações,
mas com a única intenção de me persuadir que eu estava mentindo para mim mesmo,
aberto ao erro e que deveria suprimir toda publicidade como uma maneira de evitar o inevitável
ridículo. Eu
retruquei que ele não tinha o suficiente talento para me dar este conselho, e
que eu de outra forma, teria prazer em convencê-lo na primeira oportunidade.
Esta se apresentou dois dias após. A
Senhorita Oesterline levou um susto e contraiu um resfriado, ocasionando uma
súbita parada, e ela caiu nas suas costumeiras convulsões. Eu convidei o senhor
Ingenhousze para atendê-la. Ele veio acompanhado por um jovem médico. Paciente se apresentava desmaiada e com
convulsões. Eu lhe disse que esta era a mais favorável das oportunidades para
convencê-lo do princípio que eu anunciara e a propriedade que ele tinha para se
comunicar... Disse-lhe para se aproximar da paciente, enquanto eu me afastava
dela, dei-lhe instrução para tocá-la. Ela não fez nenhum movimento. Ela não fez
nenhum movimento. Eu o chamei para mim e comuniquei o magnetismo animal tomando
suas mãos. Eu então solicitei que se aproximasse da paciente uma vez mais,
enquanto eu mantinha distância, pedindo que a tocasse pela segunda vez. Isto
resultou em movimentos convulsivos. Eu o fiz repetir este processo de toques,
repetidas vezes, o que ele fez com a ponta do seu dedo, mudando de direção cada
vez. Novamente, para sua atônita expressão ele provocou convulsão na parte
tocada. Quando
esta operação terminou, ele me disse estar convencido, e eu sugeri uma segunda
visita. Afastamos-nos da paciente de maneira a não sermos percebidos, mesmo que
estivesse consciente. Eu ofereci ao Sr. Ingenhousze seis xícaras de chá e lhe
pedi qual delas ele escolhia para que eu comunicasse a qualidade magnética. Eu
toquei aquela que ele escolheu e então apliquei as seis xícaras na mão da
paciente sucessivamente; ao alcançar a xícara que eu tocara, a mão fez um
movimento e deu sinais de dor. O Sr. Ingerhousze obteve o mesmo resultado
quando foi à vez dele de aplicar as seis xícaras. Eu então devolvi as seis
xícaras para o lugar de onde vieram, e após algum tempo, segurando0por uma mão,
eu solicitei que tocasse com a outra qualquer xícara que escolhesse; ele o fez,
as xícaras foram trazidas para a paciente, como antes, e com o mesmo resultado. A
comunicabilidade do princípio foi agora bem estabelecida aos olhos do Sr.
Ingerhousze e eu sugeri um terceiro experimento para mostrar sua ação a distância
e sua qualidade de penetração.: Apontei meu dedo para
a paciente a uma distância de oito passos: no instante seguinte, seu corpo
estava em convulsão ao ponto de elevá-la do leito com toda a aparência de dor.
Eu continuei na mesma posição apontando meu dedo para a paciente, colocando o
Sr. Igerhousze entre mim e ela. Ela apresentou a mesma sensação. Tendo
repetido estes testes para satisfação do Sr. Ingerhousze, eu perguntei se ele
estava convencido a respeito das maravilhosas propriedades acerca das quais lhe
falara, oferecendo para repetir os procedimentos se ele não estivesse
convencido. Sua resposta foi que não precisava nada mais e que foi convencido;
mas pedindo devido a sua amizade comigo que eu não fizesse nenhuma declaração
pública sobre o assunto devido à incredulidade pública. Separamo-nos e eu
retornei ao paciente para continuar o tratamento que foi bem sucedido. No mesmo
dia eu procurei retomar o curso natural da natureza, colocando, desta forma, um
final ao problema causado pela parada. Dois dias
depois eu fiquei atônito ao ouvir que o Sr. Ingerhousze estava fazendo
declarações públicas completamente contrárias ao enunciado em minha casa, e
negava o sucesso dos diferentes experimentos que ele testemunhou. Ele
efetivamente confundiu o Magnetismo Animal com o magneto e fez um discurso para
prejudicar minha reputação disseminando um relatório que com um número de peças
magnetizado que ele trouxera com ele, tinha obtido sucesso em me desmascarar
provando que eu era nada mais do que uma ridícula fraude
pré-arranjado. Eu devo confessar que tais palavras num primeiro
momento pareciam inacreditáveis, e eu tive alguma dificuldade em considerar o
Sr. Ingerhousze como seu autor. Entretanto, sua associação com o Jesuíta Hell,
e seu apoio a tais odiosas insinuações, com o objetivo de arruinar minha Letter
de 5 de janeiro de 1775, removendo da minha mente toda dúvida que o Sr.
Ingerhousze era a parte culpada. Eu refutei o Padre Hell e estava pronto para
processá-lo quando a Senhorita Oesterline, que havia sido informada da conduta
do Sr. Ingerhousze que a deixara tão comprometida que recaiu no seu estado
anterior e ainda agravado por uma febre nervosa. A pior da Senhorita Oesterline exigiu toda a minha
atenção. Nestas circunstâncias, continuando minha pesquisa, eu consegui
ultrapassar as dificuldades postas no meu caminho e dando a minha teoria o
desejado aperfeiçoamento. A cura desta jovem representou o primeiro fruto do
meu sucesso, e eu tinha a satisfação de vê-la em excelente forma. Ela casou e
teve filhos. Foi
durante 14 dias que, determinado a justificar minha conduta e para dar ao
público a idéia correta das minhas habilidades desmascarando a conduta do Sr.
Ingerhousze, eu informei o Senhor De Stoerck, requisitando a ele para obter
ordens da Corte para a Comissão da Faculdade para tomar conhecimentos dos
fatos, assim poderiam verificar e torná-lo conhecido para o público. Este passo
agradou ao veterano médico; ele parecia compartilhar meu ponto de vista e
prometeu agir de acordo, remarcando, entretanto que ele não poderia estar na
Comissão. Eu sugeri várias vezes que ele poderia vir e ver a
Senhorita Oesterline e satisfazer a si mesmo sobre o sucesso do meu tratamento.
Suas respostas sobre o assunto eram sempre vagas e incertas. Eu expliquei a ele
como isso iria beneficiar a humanidade se meu método fosse adotado pelos
hospitais, e pedi a ele para que pudesse demonstrar sua utilidade no Hospital
Espanhol. Ele concordou com isto e deu as necessárias instruções ao Sr.
Reinlein, médico no hospital. Este
tinha sido testemunha dos efeitos e da utilidade das minhas visitas durante um
período de oito dias. Em várias ocasiões ele demonstrou surpresa e relatou ao Senhor
De Soerck. Entretanto, muito cedo me dei conta que diferentes impressões tinham
sido dadas ao eminente médico. Eu o encontrei quase todos os dias e insisti no
meu pedido para a Comissão, lembrando-o sobre a importante matéria que eu lhe
comunicara, mas não vi nada mais do que indiferença, frieza e reserva na sua
atitude sempre que o tópico era abordado. Não
consegui nenhuma satisfação, e como o Senhor. Reinlein parou de me relatar (eu
mais adiante descobri que esta mudança havia sido resultado de passos tomados
pelo Sr. Ingerhousze), eu descobri minha inabilidade em fazer frente à intriga
e busquei consolação no silêncio. Animado
com o sucesso do seu plano, o Sr. Ingerhousze adquiriu novo vigor; gabava-se da
sua incredulidade e pouco tempo depois ele passou a descrever os que não
compartilhavam do seu julgamento de loucos. Logo compreendi que tudo isto era
suficiente para alienar o povo e passei a ser visto como um visionário,
especialmente pelo fato que a indiferença da Faculdade parecia dar apoio a tal
opinião. O que me
pareceu mais estranho é que a mesma opinião foi compartilhada no ano seguinte
pelo Sr. Klinkosch, Professor de Medicina em Praga, que, sem me conhecer e sem
a menor idéia do verdadeiro estado da matéria, foi suficientemente
tolo (para não utilizar termos mais fortes), de publicar nas Revistas detalhes
curiosos das imposturas a mim atribuídas pelo Sr. Ingerhousze.
Independente do que a opinião pública pudesse ser,
eu achei que a verdade não poderia ter melhor apoio do que nos fatos. Eu retomei
o tratamento de vários transtornos, incluindo a hemiplegia, o resultado da
apoplexia; paralisias, cuspidas de sangue e oftalmia normal. O Sr. Bauer,
Professor de Matemática em Viena e um homem de grande mérito, sofreu esta última doença. Meu trabalho foi coroado pelo
melhor sucesso possível, e o próprio Sr. Bauer foi suficientemente honesto de tornar público um detalhado relato de sua cura.
Entretanto o preconceito tinha a maior força. Apesar de tudo, eu tive a
satisfação de ser conhecido por um grande Ministro, um Conselheiro Privado e um
Conselheiro Áulico, amigos da humanidade, que muitas vezes reconheceram a
verdade por si mesma, a respeitaram e protegeram. Eles,
além disto, fizeram várias tentativas de colocar luz nas sombras que me
envolviam. Entretanto, seu sucesso foi limitado, pois eram contraditados pela
idéia que somente os médicos poderiam decidir, o que
limitava sua boa vontade que se limitava à suas ofertas de necessária
publicidade aos meus escritos em terras estrangeiras. Foi
através deste canal que minha Letter explicativa de 5 de janeiro de 1775 foi
transmitida para a maioria das instituições científicas e para alguns
cientistas. Somente a Academia de Berlim, no dia 24 de março daquele ano,
escreveu uma resposta na qual confundia as propriedades do Magnetismo Animal
que ia além do magneto, que eu apenas disse ser um condutor, ele incorria em
vários erros na opinião de que eu era vítima de uma ilusão. Esta
Academia não a única a cometer o erro de confundir Magnetismo Animal com o magnetismo
mineral, embora eu tenha sempre expressado nos meus escritos que o uso do
magneto, embora conveniente, era sempre imperfeito sem a assistência da Teoria
do Magnetismo Animal. Os médicos e doutores com os quais eu mantinha
correspondência ou que tenham se interessado para descobrir meus métodos com a
intenção de usurpar esta descoberta, tomaram a si espalhar que, fosse à idéia
que o magneto era a única forma ou ainda que eu utilizasse a eletricidade,
porque era bem conhecido que eu trabalhara com ambos. A maioria deles foi
desmascarada pela própria experiência, mas em vez de aceitarem a verdade dos
fatos que eu expunha, concluíram a partir dos seus fracassos com o uso destes
dois agentes de que as curas por mim anunciadas eram imaginarias e que minha teoria
era uma ilusão. O desejo
de refutar tais erros de uma vez por todas, e para que a verdade triunfasse me
determinei a não utilizar mais a eletricidade ou o magneto a partir de 1776. A pobre
receptividade sobre minha descoberta e a fraca esperança a mim reservada no
futuro me fizeram não comunicar nada de natureza pública em Viena e me fizeram
viajar para a Suábia e para a Suíça e acrescentá-la à minha experiência. Sem
dúvida eu tive a satisfação de realizar algumas importantes curas na Swabia, e
operando diante dos olhos de doutores de Berna e Zurich. Eles não ficaram com
nenhuma dúvida da existência do Magnetismo Animal e a utilidade da minha
teoria, corrigindo o erro a que eles foram levados por meus oponentes. Entre os
anos de 1774 e 1775, um religioso, homem de boa fé, mas com zelo excessivo,
vinha operando na diocese de Ratisbon em vários transtornos de natureza
nervosa, utilizando meios que pareciam super naturais aos menos informados
naquele distrito. Sua reputação se estendia até Viena onde a sociedade se
dividia em dois segmentos, um considerando seus métodos como impostura e
fraude, enquanto outros consideravam seus métodos com milagres realizados pela
força divina. Ambos, no entanto, estavam errados e minha experiência me dizia
que o homem em questão não era nada mais do que uma ferramenta da Natureza. Isto
se devia porque sua profissão assistida pelo destino lhe deu certos talentos
naturais permitindo que descobrisse os sintomas periódicos das doenças sem
conhecer sua causa. O final de tais paroxismos impedia que tivessem uma cura
completa, o público não seria enganado todo o tempo.
Retornando para Viena lá pelo final de 1775, eu passei por Munich, onde
Sua Alteza o Elector da Bavária foi gentil ao ponto de me consultar sobre o
assunto, perguntando se eu poderia confirmar estes pretensos milagres. Eu
realizei na frente dos seus olhos alguns experimentos que removeram qualquer
preconceito que tinha e o deixaram sem dúvida sobre a verdade do que eu
anunciava. Pouco tempo depois a Instituição Científica daquela cidade me deu a
honra de me admitir como membro. Tornei a
visitar a Bavária em 1776 e alcancei sucesso semelhante com doenças de
diferentes espécies. Em particular, eu efetuei a cura de uma imperfeita
amaurosis, acompanhada de paralisia das pernas que afligia o senhor d´Osterwald. Diretor do Instituto
científico de Berlim; ele foi muito gentil em tornar público este fato e outros
resultados que ele testemunhara. Após o
retorno a Viena, eu continuei até o fim daquele ano sem assumir nenhum
trabalho; por nada alteraria minha mente se não fosse por meus amigos
contraditarem a minha decisão. Sua insistência, junto com minha vontade de ver
a verdade prevalecendo, aumentou em mim à esperança de atingir estes objetivos
com novos sucessos, particularmente com curas marcantes. Com este objetivo em
vista eu iniciei o tratamento da Senhorita Paradis, com a idade de 18 anos,
cujos pais eram bem conhecidos; ela mesma era conhecida por Sua Majestade a
Rainha (Queen-Empress), de cujo patrimônio recebia pensão, desde os quatro anos
ela era praticamente cega. Era uma perfeita amaurosis, com convulsões nos
olhos. Alem disso sofria de melancolia, acompanhada por paralisias no fígado e
baço, que muitas vezes resultava em delirium e raiva que a deixavam convencida
que estava louca. Eu também
tomei em tratamento uma Zwelferine, uma jovem de 19 anos de idade que era cega
desde os dois anos devido à amaurosis acompanhada por uma ferrugem com atrofia
do globo ocular. (wrinkled
albugo with atrophy of the Ball); ela também cuspia sangue. Eu encontrei esta jovem num orfanato em Viena e sua cegueira foi
atestada pelos administradores. Ao mesmo
tempo eu também tratei à senhorita Ossine, com 18 anos de idade, que recebia
uma pensão de sua Majestade, por ser filha de um oficial do Exército. Sua
doença consistia em Pitíase purulenta e melancolia irritável acompanhada por
momentos de raiva, vômitos cuspe de sangue e desmaios. Estas três pacientes e
outras foram acomodadas na minha casa permitindo que eu continuasse o
tratamento sem interrupções. Eu tive a felicidade de curar as três. O pai e a
mãe da Senhorita Paradis, que testemunharam sua cura e o progresso que estava
fazendo no uso da sua visão, tornaram este fato conhecido e mostrado o quanto
estavam felizes. Multidões correram para minha casa para verem por si mesmo e
cada um, após colocarem as pacientes sob algum teste, saíram grandemente espantados
e com os melhores elogios para mim mesmo. Os dois
presidentes da Faculdade, e o chefe dos administradores vieram me visitar por
insistência do Senhor Paradis; e, após examinarem a jovem senhora,
acrescentaram seus elogios em público. o Senhor De Sporck, um destes cavalheiros, que conhecia esta jovem
particularmente bem, pois a tratara por dez anos sem o mínimo sinal de melhora,
me expressou sua satisfação a cura tão interessante e que para seu lamento
tinha por tanto tempo não aceitado a importância da minha descoberta. Certo
número de médicos, seguindo o exemplo dos seus líderes, também pagou tributos à
verdade. Após tão
autêntico reconhecimento, o Senhor Paradis foi gentil o suficiente em expressar
sua gratidão em seus escritos, que se espalharam pela Europa. E foi ele que
publicou interessante detalhes da cura de sua filha nos jornais e revistas. Entre os
médicos que vieram me ver para satisfazer sua curiosidade estava o Senhor
Barth, professor de anatomia das doenças do olho, e especialista em catarata;
ele admitiu em duas ocasiões que a Srta Paradis estava em condições de usar
seus olhos. Apesar disto, a inveja deste homem o fez declara publicamente que a
jovem senhorita não conseguia ver, e que ele a testara e chegara a esta
conclusão. Ele baseou sua afirmativa no fato que ela não conhecia ou confundia
os objetos a ela mostrados. Ele foi respondido por todos os lados que ele
estava confundindo a inabilidade dos cegos ao nascer ou desde a tenra idade com
o conhecimento adquirido por uma pessoa cega após cirurgia de catarata. Como? Ele foi perguntado, que um homem na sua
profissão pode ser culpado por erro tão primário? Sua imprudência, entretanto,
encontrou uma resposta para tudo afirmando o contrário. Foi em vão que o
público repetidamente lhe afirmou que milhares de testemunhas lhe deram de
evidências de cura; ele sozinho mantinha uma visão oposta na qual ele recebeu
apoio do Senhor Ingerhousze o Inoculador sobre quem já conversamos. Estes dois
indivíduos, que de início eram vistos como fanáticos pelo povo honesto e
sensível, tiveram sucesso um plano para retirar a Senhorita Paradis dos meus
cuidados, apesar dos seus olhos ainda estarem num estado imperfeito e tornaram
impossível apresentá-la para Sua Majestade, se este fosse o caso. Isto
inevitavelmente aumentou o crédito às suas afirmativas de impostura. Para isto
eles trabalharam o Senhor Paradis, que ficou com medo que a pensão de sua filha
e várias outras vantagens poderiam parar. Ele, em conseqüência, solicitou a
devolução de sua filha. Esta, com apoio da mãe não concordavam e tinham medo
que a cura fosse imperfeita. O pai insistiu e esta disputa acrescentou tensão e
ela sofreu uma desafortunada recaída. Entretanto, isto não teve nenhum reflexo
nos seus olhos e ela seguiu melhorando na sua utilização. Quando seu pai viu que
ela estava melhor, estando ainda ligado aos conspiradores, ele retornou à
carga. Ele demandou sua filha com algum calor e compeliu a mãe do mesmo jeito. A moça
resistiu pelas mesmas razões de antes. Sua mãe, que até então lhe dera suporte
e que pedira desculpas pelos problemas criados por seu marido, veio no dia 29
de abril de 1977 dizer-me que desejava remover sua filha imediatamente. Eu
retruquei que ela estava livre para fazer isto, mas que, se certos acidentes
ocorressem ela não podia contar com minha ajuda. Estas
palavras acabaram sendo ouvidas pela jovem que ficou fora de si e entrou em
crise. Sua mãe que a ouviu chorando,
deixou-me abruptamente e tirou sua filha dos braços da pessoa que a estava
assistindo e disse menina miserável, tu também estás unha e carne com as
pessoas desta casa! E a jogou contra a parede, com a cabeça em destaque.
Imediatamente todos os problemas daquela infeliz moça recomeçaram. Eu
fui prontamente a sua direção para lhe dar assistência, mas sua mãe ainda
lívida com raiva se atirou na minha direção para impedir que eu o fizesse,
enquanto me dirigia impropérios.. Eu fiz com que removessem a mãe e fui
assistir a moça. Enquanto eu estava envolvido eu ouvi mais gritos e tentativas
de arrombamento da porta do quarto onde eu estava. Era o Senhor Paradis que,
avisado por servos da sua esposa, agora invadia minha casa de espada em punho e
com a intenção de entrar no quarto onde eu estava, enquanto meus servos
tentavam removê-lo e guardando a porta. O maluco foi finalmente desarmado e se
afastou da minha casa gritando imprecações contra mim e minha casa. Enquanto
isto sua esposa desmaiara. Dei a ela a atenção necessária e ela se afastou
algumas horas depois. Mas a infeliz mocinha estava sofrendo de ataques de
vômitos, crises raivosas com qualquer ruído, especialmente acentuados pelo som
de sinos. Ela ainda recaiu ao seu estado prévio de cegueira devido à violência
do golpe dado por sua mãe e eu fiquei com algum temor pelo estado do seu
cérebro.
Aquilo era para minha paciente e para
mim. Os efeitos sinistros daquela cena dolorosa. Teria sido fácil para eu levar
o assunto para a Justiça com o testemunho do Conde Pelegrini e oito pessoas que
estavam comigo ale de outros vizinhos que poderia agir como testemunhas, mas eu
estava somente preocupado em salvar a senhorita Paradis, se possível, e me
contive de me proteger legalmente. Meus amigos insistiram em vão apontando a
ingratidão exibida por sua família e o perdido esforço do meu trabalho. Eu
aderi a minha primeira decisão ficaria contente em ultrapassar os inimigos da
verdade e minha paz mental por boas ações.
No dia seguinte eu ouvi que o Sr. Paradis, numa ação para encobrir seus
excessos, estava espalhando as mais perversas insinuações sobre mim, sempre com
o objetivo de remover sua filha provando, por sua condição, a perigosa natureza
dos meus métodos. Eu recebi através do Sr. Ost, Médico da Justiça uma ordem
escrita do Senhor de Stoerck, na sua capacidade de médico chefe, datada em
Schoenbrum, segundo dia de maio de 1777, me exortando “por um fim na impostura”
(sua própria expressão) e “devolver a Senhorita Paradis para sua família se
isto pudesse ser feito sem riscos”.
Quem acreditaria que o senhor de Stoerck, estando tão bem informado pelo
mesmo médico, de tudo que tinha ocorrido na minha casa e, após sua primeira
visita, tendo comparecido duas vezes para se convencer dos progressos da
paciente e do sucesso dos meus métodos, possa ter usado uma linguagem tão
ofensiva e desdenhosa sobre mim? Eu tinha, sem dúvida, razões para esperar o
oposto, porque ele tinha condições de reconhecer a verdade e ser seu defensor. Eu
iria ainda mais longe dizendo que, ele sendo depositário da confiança de Sua
Majestade, um dos seus primeiros deveres nestas circunstancias deveria ser o de
defender um membro da Faculdade que ele sabia que não tinha culpa, e a quem ele
reiteradamente deu mostras de afeição e estima. Eu respondi a esta ordem
irresponsável que o paciente não estava em posição de ser removida devido a
risco de vida.
A condição crítica da Senhorita Paradis sem dúvida causou uma impressão
em seu pai e motivo-o a refletir. Através da intermediação de duas pessoas
reputadas, ele me pediu que seguisse atendendo sua filha. E lhe disse que o
faria com a condição que nem ele ou sua esposa tornassem a aparecer em minha
casa. Meu tratamento excedeu minhas esperanças, e nove dias foram suficientes
para acalmar a crise e pôs um ponto final nos transtornos. A sua cegueira, no
entanto, permanecia.
Quinze dias de tratamento curaram sua cegueira e restauraram o olho à
sua condição de antes do incidente. A este período acrescentei mais 15 dias de
atenção para melhorar e restaurar sua saúde. O público veio então para obter
provas da sua melhora, e todos me deram, alguns por escrito, evidências de
satisfação. O senhor Paradis, assegurado do estado positivo da saúde da sua
filha, através do senhor Ost, quem a seu pedido e com minha permissão,
acompanhava o progresso do tratamento, escreveu uma carta para minha esposa em
que agradecia seus cuidados maternais.
Ele também me escreveu se desculpando pelo passado; ele finalizou me
pedindo que mandasse de volta sua filha desta forma ela poderia desfruta o
benefício do ar do campo. Ele disse que a mandaria de volta para mim sempre que
achasse necessário, para continuar o tratamento e esperava que eu a atendesse.
Eu acreditei nele de boa fé e devolvi sua filha para ele no dia 8 de junho.
No dia seguinte eu ouço que a família afirmou que ela estava ainda cega
e sujeita a ataques. Eles a mostraram e a compeliram a imitar ataques e
cegueira. Esta noticia evocaram algumas contradições por pessoas que estavam
convencidas do contrário, mas isto foi superado e creditado aos intrigantes
costumeiros que utilizavam o senhor Paradis como sua ferramenta, e eu não tinha
condições de acompanhar sua difusão em testemunhas das grandes esferas, tais
como o Sr. Spielmann, Aulic Councillor of Their Majesties and Director of The
State Chancellery; Their Majesties Councillors, Messrs Molitor e de Umlauer,
médico para Their Majesties; o Boulanger, o Heufeld e Barão de Colnbach e o
Senhor de weber, quem, independentemente de várias pessoas acompanhou
diariamente por si mesmo, meus processos e resultados.
Por isto, a despeito da minha perseverança e meu trabalho, eu pouco a
pouco me vi relegado à posição de uma conjectura, ou pelo menos a uma
incerteza, a verdade que foi provada autenticamente.
É fácil imaginar como eu fui afetado pela incessante ação dos meus
inimigos em me prejudicar e pela ingratidão de uma família para a qual eu
mostrara gentileza. Apesar disto, durante o final de 1777 eu continuei com a
cura da Srta Ossine e a antes mencionada Zwelferine cujos olhos, como estão
lembrados, estavam ainda em piores condições que os da Senhorita Paradis. Eu
também perseverei com sucesso com o tratamento dos meus demais pacientes, em
particular a Senhorita Wipior, com nove anos de idade, que tinha num dos olhos
um crescimento de córnea, conhecido pelo nome de staphyloma; esta excrescência
cartilaginosa, de três ou quatro linhas, a impediam de
ver com tal olho. Eu obtive sucesso removendo a excrescência de tal forma que
ela podia Le de lado. Restou um pequeno albugo no centro da córnea e eu tenho
certeza que o faria desaparecer completamente se as circunstâncias me
permitissem continuar o tratamento. Entretanto, investido pelo meu trabalho
durante 12 anos consecutivos e ainda mais pela contínua animosidade dos meus
adversários, sem ter colhido pelas minhas pesquisas e esforços nenhuma
satisfação outra do qual nenhuma adversidade pode privar-me, eu senti que tinha
cumprido meu dever com meus concidadãos,
Com a convicção que um dia a justiça me seria feita, eu decidi viajar
com o único propósito de relaxamento que eu muito necessitava. Entretanto, para
me proteger contra prejuízo e insinuações tanto quanto fosse possível, eu
arrumei meus assuntos de modo a deixar na minha casa durante minha ausência a
senhorita Ossine e a menina Zwelferine. A seguir tive a precaução de anunciar
ao público as razões para este arranjo, declarando que estas pessoas estavam na
minha casa e de modo que suas condições pudessem ser verificadas a qualquer
momento dando apoio a verdade. Elas lá permaneceram por oito meses após minha
partida de Viena de onde sai sob ordens de uma alta autoridade. Chegando
a Paris em fevereiro de 1778 eu comecei a usufruir as delícias de lá repousar
com a interessante companhia de cientistas e médicos daquela capital.
Entretanto, aceitando seus pedidos e para pagar a gentileza que mostraram para
mim, eu decidi satisfazer sua curiosidade falando sobre o meu sistema. Eles
ficaram espantados sobre sua natureza e resultados e me solicitaram por uma
explicação. Dei-lhes minha concisa explicação em 19 artigos. Eles pareceram
para eles não ter relação com o conhecimento estabelecido. Eu senti sem dúvida
como era difícil apenas pelo raciocínio argumentativo provar a existência do
princípio pelo qual as pessoas não tinham a mínima idéia. Tendo este fato em
mente, mesmo assim me abstive aos pedidos de mostrar a realidade e a utilidade
da minha teoria para o tratamento de algumas doenças graves. Certo
número de pacientes colocou sua confiança em mim. A maioria estava num estado
tão desesperador que estimularam meu desejo de ser útil e atendê-los. No
entanto, eu curei uma melancolia vaporosa com vômitos espasmódicos, um número
grande de paradas no baço, fígado e mesentério, uma amaurosis imperfeita, com a
extensão de impedir o paciente de se movimentar sozinho e uma paralisia geral
com tremores que dava ao paciente (com 40 anos) a aparência de velhice e
bebedeira. Esta doença era o resultado de “mordida da geada”; ela foi agravada
pelos efeitos de uma febre pútrida e maligna que o paciente contraiu na
América. Eu ainda
obtive o mesmo sucesso num caso de paralisia total das pernas, com atrofia; um
de vômito crônico que reduziu o paciente a um estado de progressiva emaciação;
um de debilidade escrofulosa; e finalmente um caso de decadência dos órgãos da
perspiração. Estes
pacientes, cuja condição era conhecida e verificada pelos médicos da Faculdade
de Paris onde sua condição era objeto de crises e evacuação, a par da natureza
dos seus sofrimentos, sem o uso de qualquer medicamento. Depois de completar
seu tratamento, eles me deram uma declaração detalhada. Isto
teria sido mais do que necessário para provar sem dúvida as vantagens do meu
método. Eu tenho razão de me orgulhar e que ao reconhecimento viria.
Entretanto, as pessoas que me induziram a realizar os tratamentos não se
consideraram capazes de ver seus efeitos, utilizando considerações e razões que
ficaria fora de lugar enumerar nesta dissertação. O
resultado foi que as curas, contrárias a minha expectativa, não foram
comunicadas aos canais competentes onde poderia despertar a atenção, só
imperfeitamente preencheram a tarefa que eu toinha colocado para mim mesmo e
pela qual eu me louvava. Isto me
induziu a fazer um novo esforço hoje pela causa da verdade, dado espaço a
verdade e mais objetivo e publicidade que faltou na minha asserção original. Proposições Afirmadas 1.
Há uma influência mútua entre os
corpos celestiais, a terra e os Corpos Animados. 2.
Um fluído contínuo universalmente
distribuído, que é sem vácuo e de um incomparável rarefeita natureza, e que por
sua natureza é capaz de receber, propagar e comunicar toda a impressão de
movimento, no meio da sua influência. 3.
Esta ação recíproca está subordinada
a leis mecânicas que até o momento ainda não são conhecidas. 4.
Esta ação resulta num efeito
alternado que pode ser visto como Fluxo e Refluxo. 5.
5. Este Fluxo e Refluxo são mais ou
menos geral, mais ou menos particular, mais ou menos composto de acordo com as
causas que os determinam. 6.
6. E por esta operação (a mais
universal delas apresentada pela Natureza) e que seu raio de ação são estabelecidas entre os corpos celestiais, a terra e suas
partes componentes. 7.
As propriedades da Matéria e o Corpo
Orgânico dependem desta operação. 8.
O corpo animal sustenta os efeitos
alternados deste agente, o qual se insinuando na substância dos nervos, os
afeta imediatamente. 9.
Está particularmente manifesto no
corpo humano que o agente tem propriedades similares ao magneto; pólos
diferentes e opostos podem ser da mesma forma ser diferenciados, o que pode ser
mudado, comunicado, destruído e reforçado, até mesmo o fenômeno do mergulho é
observado. 10.
Esta propriedade do corpo animal que
o coloca sob a influência dos corpos Celestiais e a influência dos que os
cercam, como é demonstrado pela analogia com o Magneto, me induziu ao termo
Magnetismo Animal. 11.
11. A ação e propriedades do
Magnetismo Animal, então definido, podem ser comunicadas a outros seres
animados e corpos inanimados. Ambos são mais ou menos suscetíveis a ele. 12.
Esta ação e propriedades podem ser
reforçadas e propagadas pelos mesmos corpos. 13.
Experimentos mostram a passagem de
uma substância cuja natureza rarefeita permite que penetre em todos os corpos
sem apreciável perda de atividade. 14.
14. Sua ação é exercida a uma
distância, sem a ajuda de um corpo intermediário. 15.
Ele é intensificado e refletido por
espelhos, como a luz. 16.
Ele é comunicado, propagado e
intensificado pelo som. 17.
Esta propriedade magnética pode ser
estocada, concentrada e transportada. 18.
Eu disse que todos os corpos animados
não são igualmente suscetíveis; há alguns, embora poucos, cujas propriedades
são tão opostas que sua simples presença destrói todos os efeitos do magnetismo
em outros corpos. 19.
Estas
propriedades opostas também penetra
todos os corpos; ele pode desta forma ser comunicado, propagado, estocados,
concentrado e transportado refletido nos espelhos e propagados pelo som; isto
constitui não meramente a ausência do magnetismo, mas uma positiva propriedade
oposta. 20.
O Magneto, tanto o Natural e o Artificial,
juntos com outras substâncias, é suscetível ao Magnetismo Animal, e ainda para
a propriedade opositora, sem seu efeito no ferro e na agulha passando por nenhuma
alteração em ambos os casos; isto prova que o princípio do Magnetismo Animal
difere essencialmente daquele no magnetismo mineral. 21.
Este sistema fornece explanações
novas como à natureza do Fogo e Luz, como bem a teoria da atração, Fluxo e
Refluxo, p magneto e eletricidade. 22.
Ele tornará conhecido que o magneto e
a eletricidade artificial onde tem, em relação às doenças, propriedades
que eles compartilham com vários outros agentes vindos da Natureza, e que seus
efeitos úteis derivam do uso deste último se deve ao Magnetismo Animal. 23.
Será visto pelos fatos, de acordo com
regras práticas que eu desenharei, que este princípio cura transtornos nervosos
diretamente e outros transtornos indiretamente. 24.
Com sua ajuda, o médico é guiado no
uso de medicamentos; ele aperfeiçoa sua ação, traz e controla as crises
benéficas de uma maneira a liderá-los. 25.
Tornando o meu método conhecido, eu
demonstrarei com uma nova teoria das doenças a universal utilidade do princípio
que eu trouxe para suportá-la. 26.
Com este conhecimento, o médico
determinará confiantemente a origem, natureza e progresso das doenças, mesmo a
mais complicada; ele prevenirá que ganhem terreno e terá sucesso em curá-la sem
expor o paciente aos perigosos efeitos ou as das afortunadas conseqüências, qualquer que seja sua
idade, temperamento e sexo. Mulheres mesmo na gravidez ou no parto gozarão da
mesma vantagem. 27.
Em conclusão, esta doutrina
habilitará ao médico a determinar o estado de saúde de cada indivíduo e
protegê-lo das doenças que de outra forma estaria sujeito. A arte de curar
atingiria então seu estágio final de perfeição. Embora nenhuma destas proposições tendo em conta
minha constante observação durante um período de 12 anos não me deixa nenhuma
incerteza, eu entendo que comparadas com velhos e estabelecidos princípios e
conhecimentos, meu sistema aparenta conter tantas ilusões como verdades. Eu devo, entretanto perguntar os esclarecidos
para descartar seus prejuízos e ao menos suspender julgamento, até que as
circunstâncias me permitam fornecer à necessária evidencia dos meus princípios.
Consideração para aqueles que sofrem em dor e infelicidade pela muito
inadequação de métodos conhecidos é bem calculada para inspirar o desejo e
esperança de métodos úteis. Os
médicos sendo depositários da confiança pública por tudo conectado com a
preservação e felicidade da espécie humana, estão sozinhos habilitados, pelo
conhecimento da sua profissão, para julgar da importância da descoberta que eu
anunciei e tenham idéia das suas implicações. Numa palavra, eles sozinhos estão
qualificados em praticá-la. Como tenho o privilegio de compartilhar a dignidade
de sua profissão, eu sou sem dúvida qualquer que eles se apressam a adotar e
disseminar os princípios destinados a aliviar o sofrimento da humanidade, tão
logo eles perceberem a importância desta dissertação, basicamente escritos para
eles, na verdadeira concepção do Magnetismo Animal.
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