Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Julho de 2015 - Vol.20 - Nº 7 Psicologia Clínica EMERGÊNCIA PSIQUIÁTRICA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Sérgio Noll Louzada Trabalho
apresentado da XII Jornada CELPCYRO sobre Saúde Mental 26 e 27 de junho de 2015. SUS “A saúde é
direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem a redução do risco de
enfermidades e outros agravos e o acesso universal e igualitário as ações e
serviços para sua promoção, proteção e recuperação” Sistema
Único de Saúde – SUS 1. O SUS foi criado pela Constituição
Federal de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica da Saúde de número 8.080/90,
e pela Lei 8142/90, que dentre outros, trata da participação
comunitária na gestão do Sistema. 2. A participação da sociedade na
definição das políticas públicas, no planejamento e no controle da execução das
ações e serviços de saúde, se dá por meio dos Conselhos
de Saúde, existentes nos três níveis de gestão. SUS:
Princípios éticos / doutrinários. Universalidade.
Equidade. Regionalização e Hierarquização. Integralidade. Descentralização.
Resolubilidade. Controle Social. Participação complementar do Setor Privado Emergência
Psiquiátrica Qualquer situação de natureza psiquiátrica
em que existe um risco significativo (de morte ou injúria grave) para o
paciente ou para outros, necessitando de uma intervenção terapêutica. Histórico
da Saúde mental no Brasil desde 1988. 1.
1988 - é promulgada a Constituição cidadã que cria o SUS. 2.
1989 – Começa a tramitar um Projeto de Lei apresentado pelo
Deputado Paulo Delgado (OT/MG) que propõe a regulamentação dos direitos da
pessoa com transtornos mentais e a
extinção progressiva dos “manicômios” no país. Este projeto de lei que foi
denominado Paulo Delgado, foi rejeitado na Câmara por 23 votos contrários e 4 a
favor. ( a rejeição ocorreu, possivelmente, por embasar-se mais em substratos
ideológicos que técnicos. 3.
Posteriormente surge o substitutivo do Senador Sebastião Rocha que
doze anos depois foi aprovado gerando a Lei 10.216 que em essência determina: a)
“dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos psíquicos”. b)
Redireciona o modelo assistencial em saúde mental para a
intervenção menos restritiva possível junto a comunidade. c)
E faculta a internação em instituições que não tenham
características asilares. 4.
Apesar de ser a Lei 10.216 que direciona os rumos da assistência
em saúde mental no país, parece que, em alguns momentos de sua implementação, esta foi deturpada em sua essência por
atitudes, documentos, relatórios e inclusive por portarias contrárias a Lei. *Na Lei 10.216... Não existe o termo manicômio.
Não existe o termo Reforma Psiquiátrica. Não fala em fechamento de Leitos. Existe sim uma Reforma do Modelo de Assistência
em Saúde Mental. Os gestores de Saúde Mental do Ministério da
Saúde implementaram uma política de extinção de leitos
psiquiátricos colocando todos os hospitais na mesma categoria de asilos e o que
chamam de “manicômios”. No portal do MS (http://portal.saude.gov.br/portl/arquivos/pdfRelatorio15%20anos%Caracas.pdf) Trata especificamente de
Reforma Psiquiátrica. Numa manobra de cunho político passaram a seguir
o projeto de lei Paulo Delgado como se lei fosse. No próprio Ministério da
Saúde o projeto é citado desta forma “É somente no ano de 2001, após 12 anos de
tramitação no congresso nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país.A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do
projeto”. Qual a mudança que a lei 2016 propiciou:
Abandona-se o Modelo Hospitalocêntrico, passa-se a um Modelo Comunitário
através do CAPS. CAPS -Instituições
destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua
integração social e familiar, apoiá-lo em suas iniciativas de busca de
autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. -característica
principal: buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado
como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana
de usuários e familiares. -constituem
a principal estratégia da chamada reforma psiquiátrica. -Foram
criados para ser substitutivos às internações psiquiátricas em hospitais
psiquiátricos. Entretanto,
é a Rede Básica de saúde o lugar privilegiado de construção de uma nova lógica
de atendimento e de relação com os transtornos mentais. Diretrizes
da Política Nacional de Saúde Mental 1. Reestruturação da assistência
psiquiátrica hospitalar -
Desinstitucionalização. - programa de redução planificada de leitos/ PNASH-Psiquiatria. - programa “De volta para Casa”. - expansão dos serviços residenciais terapêuticos. - reorientação dos manicômios judiciários. - leitos em Hospitais Gerais. 2. Expansão e consolidação da rede de Atenção
Psicossocial (CAPS I,II,II i e AD, ambulatórios,
centros de convivência etc. 3. Inclusão das ações de saúde mental na Atenção
Básica 4. Atenção integral a usuários de álcool e
outras drogas. 5. Programa Permanente de Formação de
profissionais para a Reforma Psiquiátrica. 6. Inclusão social e empoderamento:
geração de renda e trabalho, intervenções na cultura, mobilização de usuários e
familiares. Componentes
da Rede de Atenção Psicossocial (segundo o Ministério da Saúde)
Propõe
alternativa para as propostas do Ministério da Saúde Mitos
Vigentes Emergência
Psiquiátrica seria igual a Emergência em Saúde Mental a nomenclatura Saúde Mental pode ter
duas interpretações: 1 – como
sendo uma “especialidade”, onde vários técnicos (psiquiatras, psicólogos,
enfermeiros, etc.) trabalham em conjunto; 2
– exclusão do psiquiatra e da sua especialidade. Na verdade a
Emergência Psiquiátrica contempla uma equipe multidisciplinar onde o Psiquiatra
é mais um trabalhador em Saúde Mental (como enfermeiro, Psicólogo, assistente
social e outros). Na visão anti-psiquiátrica há a Visão demoníaca do Psiquiatra. Seria
um profissional que classifica (não conversa), medica e interna. As políticas
do Ministério da Saúde adota uma linha anti-psiquiátrica
e anti-psiquiatra que em suas linhas gerais são as seguintes: - Opõe-se ao
psicodiagnóstico e à psicoterapia - Opõe-se às
teorias que limitam a origem da psicose a causas somáticas. - Acreditam
que é necessário prestar mais atenção às influências nocivas que a sociedade e
a família exercem sobre o doente. - As causas
da esquizofrenia se encontram nas relações familiares deterioradas. - Negação da
doença mental (passa a ser um constructo social e o paciente o
“bode-expiatório”) e principalmente da psiquiatria como especialidade médica
encarregada do tratamento. - Movimento anti-manicomial: entendimento de que todo hospital
psiquiátrico é uma cárcere. Diretrizes
da chamada “reforma psiquiátrica”. -não apenas
tratar tecnicamente de maneira mais adequada o portador de sofrimento mental,
ma, sobretudo, construir um espaço social onde a loucura encontre algum cabimento. -o
acompanhamento dos pacientes “psiquiatrizados” e outros que não apresentam
transtornos psíquicos graves deve ser assumido pela
Equipe do PSF, através das seguintes medidas, dentre outras: -vinculação, escuta e responsabilização de
cuidados. -promoção da redução do uso de psicofármacos por estes pacientes. Construção de atividades de trabalho,
cultura, educação. Papel do Emergencista Ao médico
psiquiatra que trabalha nas emergências cabe: Diagnóstico
da Situação. Encaminhamento -alta -internação -atendimento
ambulatorial nos CAPS – ESM – Rede
Básica. Se o médico
da Emergência indicar a Internação começam os problemas; Redução
Progressiva dos Leitos em Hospitais Psiquiátricos. Poucos leitos em alas psiquiátricas em hospitais gerias. Os pacientes
permanecem na Emergência – Há Superlotação (riscos aumentados para pacientes e
trabalhadores. Se o médico
da Emergência indicar Tratamento Ambulatorial ocorrem outros problemas: -Os poucos CAPS
não funcionam 24 horas. -Número
insuficiente de CAPS. -Distritos
onde não há atendimento especializado. -Poucos
serviços disponíveis. Isso leva a
liberação sem garantia de atendimento ou manter na emergência. Plantão de
Emergência Funciona
como termômetro da eficiência do Sistema de Saúde. Permite
identificar os pontos no sistema onde há ineficiência ou desregulação. Outros
Questionamentos: Rede Básica como Ordenador do Sistema: -Clínicos sem preparo e
sem interesse (em serem psiquiatras). Sem suporte – matriciamento(?).
Pacientes
sem acesso ao atendimento. Podemos
colocar tudo num quadro ilustrativo. Na verdade, aumento da demanda, diminuição dos leitos e rede
básica insuficiente ocasionam superlotação na
emergência Reflexos
na Emergência Psiquiátrica -Tempo
de Permanência aumenta. Deveria ser de 24h,permanece
dias, como se fosse uma internação. Dificuldades
para encaminhar: internação ou atendimento ambulatorial, especialmente para crianças
e adolescentes; idosos; psicóticos e Dependência Química (associação de psicose com
dependência química); gestantes. Consequências
de uma Política de Saúde mental como a proposta pelo Ministério da Saúde -
Negligência e Abandono. -Superlotação
das Emergências Psiquiátricas. -Sucateamento
do Hospital Psiquiátrico. -Pacientes
Acorrentados. -Crackolândias. Soluções
Propostas para as Emergências. -Criação
da Especialidade -Centros
de Formação/Residência – critérios. -Valorização
do emergencista (para que não seja apenas um bico). -Valorização
da Equipe Multidisciplinar. -Revisão
dos objetivos da chamada “Reforma Psiquiátrica” adotada pelo Ministério da
Saúde. -Diretrizes
para padronização de condutas. -Definição
do número de atendimentos/ pacientes (N pacientes). Concluindo,
esperamos que a Emergência Psiquiátrica volte a
cumprir seu papel fundamental de evitar internações e dar solução a angustia da
população: maior qualidade do atendimento; maior satisfação dos pacientes;
maior valorização dos profissionais e menor custo para o SUS. *Sérgio
Louzada (Médico
Psiquiatra concursado da PMPA/RS. Coordenador do Plantão de emergência em Saúde
Mental do PACS – Prefeitura Municipal de Porto Alegre – RS. Membro da Câmara
Técnica das Emergências do CREMERS.)
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