Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Giovanni Torello |
Julho de 2014 - Vol.19 - Nº 7 História da Psiquiatria DAVID EPELBAUM ZIMERMAN (1930-2014) Walmor J.Piccinini Ex-presidente da Associação de Psiquiatria do Rio
Grande do Sul. Depoimento em http://aprs.org.br/museu/historias-interessantes/dr-david-zimerman/ Introdução O Doutor David Epelbaum
Zimerman foi psiquiatra, psicanalista, conferencista
e prolífico escritor de textos psicanalíticos. Seu falecimento no dia 3 de julho pp. Foi lamentado por seus
inúmeros amigos, colegas, alunos e pacientes.
Deixa a sua querida Guilhermina, mais conhecida como Guite,
especialista e pioneira no trato com idosos. O David teve três filhos, o
Leandro,cardiologista, a Idete, psiquiatra e
psicanalista e o mais jovem Alexandre, falecido precocemente em 1991. David formou-se pela Faculdade de Medicina de
Porto Alegre em 1954. Especializou-se em Psiquiatria na Clínica Pinel de Porto
Alegre onde foi diretor clínico por vários anos. Psicanalista da SPPA da qual tornou-se Membro Associado em 1976, Efetivo em 1987. Desde
1990 é Analista Didata. Uma biografia informal Já
escrevi inúmeras biografias para a Psiquiatria Online Brasil, alguns
biografados conheci pessoalmente, outros de ouvir depoimentos e ler suas
publicações. O David é especial, convivi com ele desde meus 18 anos quando fui
bater às portas da Clínica Pinel de Porto Alegre procurando emprego para me
manter como estudante de medicina. A Clínica Pinel iniciou em 28 de março de
1960 e eu fui admitido em junho do mesmo ano e lá estava o David Zimerman que depois colocou o E de Epelbaum
para não ser confundido com o Professor David Zimmermann. A Clínica Pinel
começou com três casas alugadas na Avenida João Pessoa em Porto Alegre. Em
frente tinha uma parada de bonde e o pessoal ficava intrigado com as atividades
da casa, inclusive animados bailes. Desde
meu primeiro dia convivi com o David que ao longo do tempo foi tendo muitos
papeis na minha vida, professor, orientador, mentor, padrinho, supervisor,
amigo na melhor conotação que esta palavra pode ter. Ele foi capitão médico da
Polícia Militar (Brigada Militar) do Estado do Rio Grande do Sul. Lá pelo ano
de 1963 me indicou para ser interno no hospital da corporação, depois ele
resolveu sair e, mesmo sendo estudante, fui convidado
a substituí-lo. Ao me formar fui convidado a ser médico da corporação e lá
fiquei algum tempo. Durante um bom tempo o David morou na própria clínica e
mantinha um uniforme da PM em seu armário, eventualmente tinha que vesti-lo e
ia enfrentar sua condição de capitão. Numa dessas, por ocasião da “Batalha da
Legalidade”, teve que se deslocar com a tropa para a fronteira do Rio Grande do
Sul com Santa Catarina, mais precisamente para Tôrres. Contava ele que lá
chegando, se dirigiu ao Hotel Farol, na ocasião, o melhor e, talvez, o único
hotel da cidade. Por azar encontrou o Comandante da tropa que, rispidamente lhe
perguntou o que fazia no hotel. Diante da sua resposta que iria se alojar por
ali, foi mandado para o acampamento da tropa para dormir com os soldados. O
argumento era de que oficial tinha que dar exemplo. A espera de um possível
bombardeio da FAB, seu treino como psiquiatra foi útil para acalmar os
soldados. Num curto período foi professor da psicopatologia
no Curso de Psicologia da PUCRS. A falta de tempo obrigou-o a interromper uma
tarefa que adorava, ensinar. Novamente fui por ele
indicado e permaneci por dez anos como professor de
psicopatologia naquele curso. O Roteiro para conecer
David Zimerman será o seguinte: 1. Família 2. Os começos na Pinel por ele mesmo. 3. Atividades Psiquiátricas. 4. O Escritor e a Psicanálise 5. A homenagem de Luiz Ilafont
Coronel por ocasião da entrega do Diploma ao Mérito Cyro Martins. 6. Sua experiência como Terapeuta de Grupo com
vários livros publicados: Fundamentos Básicos das Grupoterapias.
Ed. Artes Médicas. Várias edições. 7. Resenha dos seus livros. 1. Família. David foi o quarto filho de
Jacob e Paulina. Jacob Zimerman começou como
fotógrafo, fazia quadros de casais, emoldurava e distribuía por Porto Alegre e
interior. Tempos depois começou a fabricar bonés e com isso criou os filhos.
Num ambiente tranquilo, David foi criado e nunca teve problemas nos estudos. Formou-se me Medicina em 1954. No ano de 1958 começou a
namorar a Guilhermina (guite) Iochpe
que descendia de uma família abonada. Nunca esqueci uma história do namoro dos
dois. O pai da Guite era formal, vestia-se com apuro.
A primeira saida do David com os futuros sogros foi
para ir ao teatro e fez questão de ir com seu Vanguard,
carro inglês dos anos 50. No meio do caminho furou o pneu. O pai da Guite, não querendo desapontar o futuro genro, desceu do
carro com seu terno de linho branco e dispô-se a
trocar o pneu. Ao que David argumentou que não tinha macaco, diante da
disposição do sogro de pedir um macado emprestado, o
David confessou, não tinha stepe. Foram ao teatro com
o pneu furado e o carro se arrastando.Este incidente
mostra o jeitão do David, despreocupado com as coisas mundanas. O namoro
seguiu e em 1963 casou-se com a Guite e vieram os
filhos. O mais velho nasceu em 1964, o Leandro Zimerman
que fez Medicina e é um reconhecido cardiologista de Porto Alegre. Depois veio
a Idete Zimerman, também
médica, mas seguiu os rumos do pai, é psiquiatrra e
analista em formação. O terceiro foi o Alexandre que veio a falecer cedo em
1991. Varíos netos e dois estudando medicina. David
teve um tumor de mandíbula e depois de um período difícil veio a falecer em 3
de julho pp. 2. Os começos na Pinel por ele mesmo. Foi num cair de tarde de um dia primaveril
de1960 que, num encontro casual com Marcelo Blaya,
tomei conhecimento de que ele, recém chegado da Clínica Menninger,
onde passara cerca de quatro anos fazendo uma importante formação em
psiquiatria, criara e fundara a "Clínica Pinel", sediada em Porto
alegre, na Rua João Pessoa, numa casa especialmente adaptada para a finalidade
de funcionar como uma moderna Clínica Psiquiátrica. “Marcelo e eu tínhamos sido colegas na turma que concluiu a formação
médica pela faculdade de medicina da UFRGS em 1954 e, igualmente, fomos colegas
como plantonistas do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre. Assim, no
referido encontro, sabedor da forma como eu costumava encarar o ato médico, no
que se referia ao relacionamento com o paciente, Marcelo me perguntou se eu
ainda mantinha acesso o meu namoro com a psiquiatria. Em resposta, esclareci
que estava fazendo um treinamento em pediatria no Hospital da Criança Santo
Antonio, que vinha praticando clínica geral privada em consultórios alugados
(junto a farmácias em Canoas e Porto Alegre), e que estava pensando na
possibilidade de fazer residência na medicina interna em São Paulo; mas que,
sim, embora tudo isso, eu continuava com firme namoro platônico coma
psiquiatria. Marcelo, então, me fez o convite para eu conhecer a Pinel,
com vistas à possibilidade de me contratar, e foi realmente o que acabou
acontecendo”. Esta mesma
história pode ser contada de maneira menos romântica. Decidido a iniciar uma Clínica
Psiquiátrica, Marcelo Blaya se deparou com um grande
problema, não existiam psiquiatras para trabalhar com ele. Os que existiam eram
poucos e mais interessados na psicanálise do que no atendimento psiquiátrico.
Na Av. Oswaldo Aranha existia o Bar do João, que reunia médicos do Pronto
Socorro e era ponto de encontro de amigos do Bairro Bom Fim. Foi lá que Marcelo
encontrou seus primeiros discípulos. Um deles foi o Davizinho,
depois veio o Bernardo Brunstein, e a seguir o Isac Sprinz, cujo irmão tinha uma
farmácia nas proximidades. Continua
o depoimento do David: “Naquele início de
existência da Pinel, éramos três médicos: Marcelo, eu e Nelson Lemos que, após
um breve tempo, desligou-se; de sorte que, juntamente com Marcelo, em dias
alternados, nós dois nos revezávamos nos plantões, comumente muito
movimentados, o que me fez tomar a decisão de adotar a Clínica como minha nova
moradia. Assim, despertava cedo para dar início a insulinoterapia
e, eventuais aplicações de eletroconvulsoterapia,
mantínhamos uma movimentada atividade de praxiterapia
para os pacientes, consultas diárias com cada um deles, com um estreito
acompanhamento dos familiares; e, sobretudo, investíamos a maior parte do nosso
tempo e afeto para o incremento em ambientoterapia,
nossa menina dos olhos. De fato, a ambientoterapia, ou
seja, o próprio ambiente hospitalar funcionando como um dos mais importantes
dos fatores terapêuticos, tomou um incremento
extraordinário na Pinel, através de atividades de salão, jogos
recreativos, esporte, sempre levando em conta o estímulo para um convívio
comunitário. Já na época aplicávamos o hoje tão badalado “orçamento
participativo”, no que se refere a tomada de decisões
referente a vida na nossa comunidade hospitalar. Para o êxito da ambientoterapia, a
condição fundamental era de termos uma equipe de atendimento, em todos os
níveis e escalões, suficientemente bem preparada. Para
tanto, o recurso mais utilizado consistia no sistemático procedimento de
reuniões de grupo. Assim, além das reuniões de “reflexão
grupal” realizadas com os “atendentes” para treiná-los a uma melhor compreensão
da dinâmica dos transtornos mentais dos pacientes, logo, de um manejo mais
humanitário e fraternal, também mantínhamos “ assembleias gerais”, isto
é, toda a comunidade – pacientes, atendentes, estagiários, pessoal da
administração, paxiterapeuta, psicólogos, enfermeira,
médicos, etc – debatia conjuntamente as melhores
fórmulas de um convívio sadio, com os necessários direitos, limites e respeito
recíproco de cada um e de toda a comunidade. A essa altura, aumentava o número de pacientes, tanto dos que
estavam em regime de internação integral, quanto os do hospital-dia e
hospital-noite. Impunha-se a necessidade de preenchermos a vaga deixada pelo
Dr. Lemos, tarefa que na época não era nada facial,
porque a especialidade na área da psiquiatria não despertava nos médicos algum
atrativo especial. Só restava a alternativa de sair a
busca de alguém que nos parecesse bom. Encontrei o Dr. Isaac Sprinz que, na ocasião estava batalhando por um lugar onde
pudesse especializar-se em neurologia. Não foi difícil convencê-lo de que a
neurologia e a psiquiatria eram irmãs-primas...e,
assim, ganhamos um excelente colega, como pessoa, psiquiatra e com um notório
talento administrativo. “No início do ano seguinte, foi instituída oficialmente a
residência em Psiquiatria, com um substancioso programa de ensino-aprendizagem,
teórico, prático, e de pesquisa, essencialmente voltado para a psiquiatria
dinâmica. Inicialmente, com uma nítida influência norte-americana, que em
muitos aspectos, era novidade na época. Além da formação de psiquiatras,
abrimos cursos de atualização para médicos em geral,
psicólogos e assistente sociais. A cada ano, entravam novos médicos,
candidatos a formação, numa sucessão que, nos primeiros tempos, exigia uma
busca ativa e algo sedutora de nossa parte; porém, aos poucos, a Pinel foi
gradativamente sendo reconhecida em todo o território nacional, de modo que
possamos utilizar critérios de seleção mais exigentes. Assim, o pioneiro corpo psiquiátrico da Pinel foi enriquecido
com brilhantes figuras do nosso meio gaúcho (Porto Alegre, Pelotas, Santa
Maria, etc) como podem ser mencionados, numa ordem
seqüencial, e com inevitáveis omissões involuntárias, os nomes de Bernardo Brustem, Flávio R. Correa, Carlos
Gari Faria, Milton Shansis, Hans J. Schreen, Harri Graeff, Eufrides Silveira, Paulo Juchen, Valter Daudt, Walmor Piccininni, Carmem Dametto (esses
dois últimos, enquanto estudantes de medicina, tinham sido nossos atendentes) e
muitos, muitos outros se seguiram. Dentre os colegas que vieram, especialmente os de outros
estados, do Sul, Centro, Norte e Nordeste, cabe recordar, unicamente a título
de ilustração, os nomes de Marlene Araújo, Carmem Tuma ,
Fernando Rocha, Onildo Contel,
Eduardo Afonso Junior...” “Dois fatores tiveram expressivo peso neste laudatório
reconhecimento pelo Brasil todo: um, é a publicação “Arquivos da Clínica
Pinel”, revista trimestral, criado por Marcelo Blaya,
que publicava não só traduções de artigos de importantes
autores internacionais, como também abria as portas para artigos
modestos de residentes que estavam recém começando, como eu, ao que sempre
serei grato, porque me representou um decisivo incentivo e gosto pelo estudo,
criação e escrita dos conhecimentos adquiridos e de novas ideias. O segundo fator relevante para a construção
sólida da imagem da Pinel consistiu na participação de muitos nós, da Pinel,
entre outros psiquiatras gaúchos, em um Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no
início da década de 60, em Fortaleza-Ceará (a grande maioria de nós não
tínhamos condições econômicas, mas a influência de um colega, Manuel
Albuquerque, possibilitou um vôo gratuito num avião da FAB), que congregava a
nata da psiquiatria brasileira e um grande contingente de jovens ávidos por
aprender algo que contivesse uma proposta nova de entender e praticar a
psiquiatria hospitalar. A bancada gaúcha plantou as sementes desta
nova mentalidade de hospital psiquiátrico comunitário com ambientoterapia,
no lugar de hospital-asilo, que virtualmente vigia até então. Assim, a família da Pinel ia crescendo cada vez mais e
tivemos que ampliar o número de casas alugadas para comportar a expressiva
demanda de pacientes, até que Marcelo Blaya deu o
grande e ousado passo da construção de um prédio próprio, que é justamente o da
“Rua Santana”, onde funciona na atualidade a Clínica Pinel, passados mais de 40
anos. Usei a expressa “Família Pinel” de modo deliberado, por
quanto nos tempos pioneiros não só passávamos o tempo todo, de todos os dias
úteis da semana, integralmente dedicados a Clínica, num convívio harmônico
entre nós e os pacientes (almoçávamos e jantávamos nas mesmas mesas, sem
distinção, ao que se seguia o ping-pong
coletivo, o futebol de mesa...), como também nas tarde de sábado ou manhãs
de domingo, ou em noites comemorativas, os familiares, cônjuges e filhos
pequenos ( brilhavam as graciosas meninas Anete,
Monica e Beatriz) nos acompanhavam e participavam dos jogos de vôlei,
caçador, brincadeiras, teatro, saraus, cantorias (“serenôoo
da madrugada”...), etc. Era uma família unida, a da Pinel, que, embora os naturais e
inevitáveis desgastes que o tempo promove, constitui-se como uma árvore
frondosa, produzido intermináveis frutos e continuadas ramificações. Redigi o presente texto com o título “evocações”; mas, a medida que ia escrevendo senti que o nome mais apropriado
é o de “recordações”, levando em conta a etimologia desta palavra que deriva
dos etmos latinos “re” (de novo, mais uma vez) + “cor,cordis”
( coração), por quanto tudo que aqui sumarizei provei, de forma muito saudosa e
grata do fundo do meu coração.(Dr. David E. Zimermann Porto
Alegre, julho de 2000.” As Atividades Psiquiátricas e Psicanalíticas A vida profissional de David E Zimerman pode ser divididas em
etapas: A primeira
foi a de formação na Clínica Pinel onde foi o primeiro residente, diretor
clínico, supervisor. Nesta etapa escreveu alguns artigos entre os quais
destacamos: Nossa Experiência no Tratamento Hospitalar de Jovens . Rev. Arq. Clin. Pinel.
1962; 2(4):149-152. O Atendente Psiquiátrico como fator Terapêutico
Hospitalar Rev.Arq. Clin. Pinel. 1961; 1(3):123-126. Zimerman, David E. and Sprinz,
Isaac . Organização e estrutura dinâmica de um Hospital Psiquiátrico.
Rev. Neurobiologia, Recife. 1965; 28(3):263-268. Zimerman, David E. et al. Relações Familiar-Hospital . Rev.De
Psiquiat. Dinâmica . 1967; 7(4):105-108. A segunda
foi na Divisão Pinel de Hospital Psiquiátrico São Pedro para onde levou a sua experiência hospitalar e trabalhou para implantar sua experiência como psiquiatra de orientação
dinâmica. Um dos trabalhos sobre este período foi o
seguinte: Araújo,
Marlene S.; Cheffe, Ely A.; Faria,
Carlos G.; Rotta, Carmen T.; Santos, Moacir G., and Zimerman, David E.
Atendimento a uma grande área populacional: reformulação e considerações
gerais. J.Bras.Psiquiat. 1970; 19(1-2):23-32. A terceira
foi no ambulatório da Vila São José do Murialdo onde trabalhou em psiquiatria comunitária. Alguns dos trabalhos
estão publicados: 1.-Busnello, Ellis A. D.; Thomaz, Theobaldo;
Zimerman, David E.; Gerchman,
S.; Cunha, Jurema A.; Averbuck, Clarice A.; Freitas,
Carmen Có; Prado, L. C.; Silva, Antônio Carlos V., and Cristóvão, Paulo. A Psiquiatria Comunitária no Centro
Médico Social São José de Murialdo. J.Bras.Psiquiat. 1975; 24(4):443-478. 2. Busnello, Ellis A. D.; Zimerman, David E., and Rodrigues
Neto, Fernando. A Equipe do Serviço Psiquiátrico de Comunidade
: a equipe do ambulatório psiquiátrico. Rev.AMRIGS.
1973; 17(2):131-136 A quarta
foi na AMRIGS num programa de educação continuada para clínicos. Correa, Flávio R. and Zimerman, David E.
Participação do Psiquiatra num programa de educação medica continuada. VII
Jornada De Psiquiat. Dinâmica-Pelotas-RS. 1974. Junto com sua atividade psiquiátrica iniciou sua
formação analítica. Seu primeiro analista foi Paulo Luis Viana
Guedes que faleceu em 1967, seguiu sua análise com Roberto Pinto
Ribeiro. Tornou-se membro associado em 1976 e Efetivo em
1987 e desde 1990 tornou-se Analista Didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Após 1991 começou a escrever livros que o
tornaram conhecido no resto do país. Acrescentamos uma quinta atividade na vida de David Zimerman,
palestrante e/ou conferencista. Nos últimos vinte anos atendeu
pedidos de palestras do Brasil e no exterior. Não
importava a distância, ou o meio de transporte. No seu livro Fundamentos Psicanalíticos: Teoria,
Técnica e Clínica, uma abordagem didática. Editado pela Artmed em 1998, o prefácio foi escrito por Flávio Rotta Corrêa que começa
com uma nota pessoal sobre seu encontro com David E. Zimerman: “Em meados
de 1961 doutorando da Faculdade de Medicina da UFRGS, tomei conhecimento de um
curso, organizado pelo Livre-Docente Marcelo Blaya
sobre Medicina e aspectos emocionais para médicos. Aceita minha solicitação de
inscrição, no desenvolvimento do curso travei conhecimento com David E. Zimerman, na época iniciando sua formação psiquiátrica
depois de uma passagem pela Clínica Médica. Passagem que certamente já
demonstra sua capacidade profissional, pois fez parte de um seleto e
reconhecido grupo médico da época que trabalhava e ensinava na Enfermaria 2 da
Santa Casa, sede da cadeira de Clinica Médica do Professor Thomaz Mariante. No
ano seguinte, iniciei residência na Clínica Pinel, retornando ao contato com o
David, que então foi meu professor e supervisor, junto com o diretor da
residência, Marcelo Blaya. Desenvolveu-se então uma
amizade dentro do trabalho da Clínica, onde ele foi, durante vários anos,
Diretor Clínico, e eu exercia funções clínicas e de ensino. Desde os primeiros
contatos, fui capaz de perceber um dos aspectos que considero fundamental na
personalidade do ?David e que tem papel significativo
na sua carreira profissional. Refiro-me à sua capacidade de estimular o debate,
o livre pensar e a criatividade dos que com ele convivem, trabalham e estudam.
Alguns anos depois, já em formação analítica, tivemos oportunidade de trabalhar
juntos novamente numa experiência pioneira em nosso estado, e talvez no Brasil,
que foi o Programa de Educação Continuada da Associação Médica do Rio Grande do
Sul. Novamente sua característica maneira de trabalhar e de relacionar-se com
os demais participantes da tarefa – no caso os professores e alunos do Programa
– foi de capital importância para o desenvolvimento e sucesso da ideia
inovadora, como forma de ensino e estudo da prática médica.” Maria dos
Prazeres de Azevedo Albuquerque é membro do Instituto da
Sociedade Psicanalítica do Recife/Núcleo Psicanalítico de Maceió. Assim
escreveu sobre David. http://febrapsi.org.br/biografias/david-e-zimerman/ "Pensador original e estudioso sem
preconceitos, David E. Zimerman foi capaz de
desenvolver uma sólida cultura psicanalítica que lhe conferiu uma posição
pluralista, com base em distintas vertentes teóricas e técnicas, abertas, mas
sempre dentro dos conceitos fundamentais da psicanálise. Comunicou suas
experiências através de trabalhos que estão publicados em revistas e livros. A
forma peculiar com que ele expõe suas idéias, com profundidade, mas sem excluir
um modo didático, simples, de falar e escrever, estabelece
uma intimidade com o leitor, que sente a curiosidade estimulada. Ele nos
convida a refletir, dá dicas, transmite com emoção sua rica experiência
profissional e de vida, que como ele diz, alcança mais de 40 anos, tanto de
prática clínica quanto de ensino e supervisão." Bibliografia 1. Araújo,
Marlene S.; Cheffe, Ely A.; Faria,
Carlos G.; Rotta, Carmen T.; Santos, Moacir G., and Zimerman, David E.
Atendimento a uma grande área populacional: reformulação e considerações
gerais. J.Bras.Psiquiat. 1970; 19(1-2):23-32. 2. Busnello, Ellis A. D.; Thomaz, Theobaldo; Zimerman, David E.; Gerchman, S.;
Cunha, Jurema A.; Averbuck, Clarice A.; Freitas,
Carmen Có; Prado, L. C.; Silva, Antônio Carlos V., and Cristóvão, Paulo. A Psiquiatria Comunitária no Centro
Médico Social São José de Murialdo. J.Bras.Psiquiat. 1975; 24(4):443-478. 3. Busnello, Ellis A. D.; Zimerman, David E., and Rodrigues Neto, Fernando. A Equipe do Serviço
Psiquiátrico de Comunidade : a equipe do ambulatório
psiquiátrico. Rev.AMRIGS. 1973; 17(2):131-136. 4. Correa,
Flávio R. and Zimerman, David E. Participação do Psiquiatra num programa
de educação medica continuada. VII Jornada De Psiquiat. Dinâmica-Pelotas-RS.
1974. 5. Faria, Carlos G.; Zimerman, David E.; Correa,
Flávio R.; Sprinz, Isaac,
and Blaya
Marcelo. Organização e Funcionamento Hospitalar como Fator Terapêutico . Rev. De Psiquiat. Dinâmica. 1967; 7(4):67-80. 6. Pechansky, Isaac; Santos, Moacir G.; Zimerman,
David E.; Pellanda, Luiz E.,
and Cheffe, Ely A.
Reformulação de Atendimento e Estruturação de uma Grande Área Populacional do
Hospital Psiquiátrico São Pedro . Rev. De Psiquiat. Dinâmica
. 1966; 6(4):151-164. 7. Pechansky, Isaac; Santos, Moacir G.; Zimerman,
David E., and Vieira, Eurilice E. A experiência com Tioridazida
num Serviço de Agudos. Rev. O Hospital. 1967; 71 (3). 8. Zimerman, David E. Aspectos Psiquiátricos na Pratica
Medica. R. Psiquiatr.RS. 1981; III(1):36-40. 9. Zimerman, David E. Atendente Psiquiátrico: Elemento Básico
no Tratamento Hospitalar . Rev. De Psiquiat.Do
CELG. 1961; 1(1,2,3):39-40. 10. Zimerman, David E. Bion - Da Teoria a Prática. Porto Alegre, Edit .Artemed. 1995. Notes: 2a Ed.
2003. 350 pág. 11. Zimerman, David E.
Consultoria Psiquiatrica. Rev. AMRIGS. 1983; 27(2):271-274. 12. Zimerman, David E.
"Desenvolvimentos atuais da teoria psicanalítica"-Contribuições da
escola francesa de psicanálise. R.Psiquiatr.RS. 1996;
18(Supl.)(Supl.):79-82. 13. Zimerman,
David E. Estado atual das grupoterapias.
Rev. Bras. Psicoterapia. 1999; 1(2). 14. Zimerman, David E.
Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica, uma abordagem didática.
Apresentação na R.
Psiquiatr. RS. 1998; 20(1):55-57. 15. Zimerman, David E. Grupoterapias: uma atualização. R.Psiquiatr.RS.
1992; 14(3):149-154. 16. Zimerman, David E.
Manual de Técnica Psicanalítica: uma Re-Visão. Porto Alegre. Edit. Artmed.
2003:1-472. 17. Zimerman, David E.
Nossa Experiência com Esquizofrênicos Crônicos. Rev. De Psiquiat.Do
CELG. 1962; 2(3,4):31-35. 18. Zimerman, David E.
Nossa Experiência no Tratamento Hospitalar de Jovens .
Rev. Arq. Clin. Pinel. 1962; 2(4):149-152. 19. Zimerman, David E. O
Atendente Psiquiátrico
como fator Terapêutico Hospitalar . Rev.Arq. Clin. Pinel. 1961; 1(3):123-126. 20. Zimerman, David E. A
viabilidade de aplicação de grupoterapia num caso
clínico. Rev. Bras. Psicoterapia. 2007; 9(2). 21. Zimerman, David E. Vocabulário
Contemporaneo de Psicanálise. Porto Alegre. Edit. Artmed. 2001:1-464. 22. Zimerman, David E.; Faria, Carlos
G.; Rocha, Fernando J. B.; Mylius, Ruth, and Groisman, Themis. Grupo Operativo. Rev. De Psiquiat. Dinâmica.
1967; 7(4):100-104. 23. Zimerman, David E. and Sprinz,
Isaac . Organização e estrutura dinâmica de um Hospital Psiquiátrico.
Rev. Neurobiologia, Recife. 1965; 28(3):263-268. 24. Zimerman, David E. et al. Relações Familiar-Hospital . Rev.De
Psiquiat. Dinâmica . 1967; 7(4):105-108. Do site do Grupo A (Artmed) encontramos os
seguintes livros, impressos ou em ebook. Vivências de um
Psicanalista Autor: David E. Zimerman Editora: Artmed Este
é um livro ímpar, no qual o leitor irá se deparar com as vivências de um dos
principais nomes da psicanálise brasileira. Poucos autores têm a consistência
teórica, a larga experiência clínica e a respeitabilidade de David E. Zimerman, que o permitem encarar o desafio de compartilhar
sua história de vida e de formação como médico, psiquiatra e psicanalista com
seus leitores. Psicanálise em Perguntas e Respostas: Verdades, mitos e tabus Autor: David E. Zimerman Editora: Artmed Escrito de forma clara, direta e envolvente, trata-se de uma
fonte singular de informação, atualização e compreensão da psicanálise, tanto
para o público leigo como para profissionais. Manual de Técnica Psicanalítica: uma re-visão Autor: David E. Zimerman Editora:
Artmed Além de revisar os conceitos clássicos e os avanços
contemporâneos referentes à técnica analítica, relaciona-os com as experiências
e vivências emocionais e técnicas desse autor amplamente reconhecido no país. Bion da Teoria à Prática: Uma leitura didática 2ª Edição Autor:
David
E. Zimerman Editora: Artmed Este livro
aborda os sete elementos de psicanálise, os vínculos e suas configurações, o
período religioso-místico, a função de continente e os subcontinentes, além de
trazer um glossário e um roteiro de leitura das obras de Bion. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise Autor: David E. Zimerman Editora: Artmed O autor reúne cerca de 900 verbetes sobre teoria, técnica, além
de biografias sumarizadas dos principais autores psicanalíticos. Os Quatro Vínculos Amor, Ódio, Conhecimento e Reconhecimento na Psicanálise e em
Nossas Vidas Autor: David E. Zimerman Editora: Artmed O autor, um dos principais nomes da psicanálise brasileira e
reconhecido internacionalmente, desvenda os quatro vínculos que permeiam nossas
vidas do ponto de vista da psicanálise, criando um espaço potencial no qual o
leitor pode emergir como pensador em seus referenciais teóricos despertados pelo conteúdo
e pelos movimentos do fio condutor da escrita. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática Autor: David E. Zimerman Editora: Artmed O propósito deste livro é o de sintetizar os princípios
fundamentais do método psicanalítico – teoria, psicopatologia, técnica e
prática clínica – com uma abordagem didática sem, no entanto, perder uma
necessária simplicidade e acessibilidade. Contratransferência: Teoria e prática clínica Autor: Jacó Zaslavsky; Manuel J. P. dos Santos; Colaboradores Editora: Artmed Este livro é uma contribuição significativa ao estudo da Contratransferência, que nos dias de
hoje é um conceito cuja compreensão tornou-se fundamental para o entendimento
de toda relação que implique, em maior ou menor medida, o envolvimento entre
paciente e terapeuta. Os autores, terapeutas experientes, orientam seus colegas
a fazer do afeto uma ferramenta terapêutica da mais alta importância, que
proporcionará aos psicanalistas, psicoterapeutas, psiquiatras, psicólogos e
estudantes em formação o conhecimento necessário para enfrentar seus próprios
sentimentos e o enriquecimento da compreensão da mente humana. Pela Editora Millenium participou de um livro sobre Aspectos
Psicológicos nas Práticas Jurícias que está na sua
terceira edição: Contribuições
à prática jurídica que traz como subtítulo “Aspectos psicológicos gerais” e
“Algumas reflexões”, o livro Aspectos Psicológicos na Prática Jurídica, 2002,
organizado por David E. Zimerman, Antônio Carlos
Mathias Coltro e colaboradores, tem como pretensão
solidificar uma integração humanista da atividade jurídica com o encontro de
uma visão psicológica e psicanalítica.Juntos,
respaldados pelo incentivo de pessoas interessadas, decidem enfrentar o desafio
de atender a uma demanda por conhecimentos da influência psicológica na
atividade jurídica cotidiana. Sistematizam e ampliam o tema, reunindo um expressivo
conjunto de estudos altamente pertinentes à prática jurídica, conservando o
enfoque que vêm a abordar e privilegiam os fatores da psicologia individual e
grupal, notadamente aquela que emana de mandamentos provindos do inconsciente
do psiquismo de cada um ou de todos.(Albuquerque,M.) Resenha por Margot Aguzzolli e Luciana Saraiva Schmal
http://febrapsi.org.br/biografias/david-e-zimerman/ RESENHAS DOS LIVROS DE DAVID ZIMERMAN Fundamentos
Psicanalíticos (Poa, Artmed,
1999) Esta publicação reúne em uma única
obra as quatro principais áreas de interesse da psicanálise: teoria, técnica,
psicopatologia e clínica, permitindo ao leitor percorrer os diferentes e
complexos temas da ciência psicanalítica de forma simples e abrangente. Sempre
partindo de Freud, o autor nos apresenta sua forma de articular os conceitos
dos vários autores e escolas de psicanálise (Freud, Klein, Bion,
Winnicott, Kohut, Lacan…). Os temas apresentados ao longo dos
42 capítulos são estudados em íntima conexão com a prática clínica. E o texto
inclui ainda, o que podemos chamar de marca registrada de David Zimerman, que é apresentar a procedência etimológica de
vários termos psicanalíticos. Fundamentos
Básicos das Grupoterapias – 2ª edição (Poa, Artmed, 2000) Este livro é resultado do
interesse do autor pelo assunto, embasado em mais de quatro décadas de
experiência clínica e de supervisões com grupos. O texto tem o propósito pedagógico
de oportunizar uma grande exploração dos temas e das diversas possibilidades de
intervenções grupais. No entanto, o grande diferencial que encontramos nesta
obra é a ênfase na grupoterapia psicanalítica. Para
David, o entendimento e trabalho com grupos dentro de bases analíticas torna-se
um multiplicador de saúde mental. Vocabulário
Contemporâneo de Psicanálise (Poa,
Artmed, 2001) O Vocabulário é um guia que
estimula e facilita a pesquisa para leituras mais aprofundadas. Em função de
sua abordagem didática, pode ser usado tanto por analistas experientes, que
queiram revisitar conceitos ou esclarecer temas, quanto por jovens leitores que
estão iniciando sua formação. Além dos comentários pessoais
sobre os clássicos e os atuais conceitos psicanalíticos, o livro apresenta uma
série de verbetes com concepções originais do autor como: “Contra Ego”,
”Estados Psíquicos de Desistência”, “Prazer sem Nome”, “Objeto Tantalizador”, que traduzem a forma do David pensar e
integrar as diversas teorias com a clínica psicanalítica. Aspectos
Psicológicos na Prática Jurídica (Campinas, Millenium, 2002) David Zimerman
e Antônio Carlos Mathias Coltro (Juiz de Direito
Criminal de SP) são os organizadores deste inédito livro que trata da
interlocução entre o direito e a psicologia. A obra é composta de 42 capítulos divididos
em cinco partes que abordam e privilegiam a influência dos fatores da
psicologia individual e grupal, que emanam de mandamentos provindos do
inconsciente e que necessitam ser conhecidas, pensadas e refletidas no trabalho
diário do direito. Manual de
Técnica Psicanalítica – uma revisão (Poa,
Artmed, 2004) Nesta obra, além de retomar e
ampliar temas já apresentados em outras publicações, David Zimerman
brinda os leitores com uma série de trabalhos inéditos. O fio condutor do texto é a ampla
experiência clínica e a formação pluralista e integradora do autor. Percebe-se
que ao longo de sua trajetória profissional, foi transitando por distintas
vertentes teóricas e técnicas e selecionando criteriosamente os conhecimentos
que efetiva e afetivamente contribuem com seu jeito autêntico de ser e com o
trabalho da dupla analista-paciente. Para exemplificar, basta lembrar que os
textos apresentam não só os aspectos transferenciais
e contratransferenciais, mas incluem a pessoa real do
analista. De modo sugestivo e instigante as
palavras finais apresentam uma “Carta íntima para os leitores que estão se
iniciando como terapeutas psicanalíticos”. Bion da teoria à
prática – uma leitura didática (2ª Ed. Poa,
Artes Médicas, 2004) David Zimerman
destaca-se e é reconhecido no cenário psicanalítico brasileiro como um
estudioso, conhecedor e divulgador da obra de Bion.
Este livro nos apresenta de forma sumária, didática e descomplicada o texto bioniano. É uma leitura capaz de estimular reflexões e
relações com a prática clínica, além de capturar o desejo do leitor pelos
textos originais. Em um dos muitos acréscimos desta
segunda edição, o autor propõe uma aproximação entre a moderna psicanálise e
muitas das posições espirituais encontradas no Zen-Budismo, que tem como um de seus
princípios norteadores “Conhecer o passado é ficar seguro no presente e saber onde ir no futuro”. Psicanálise
em Perguntas e Respostas (Poa, Artmed,
2005) É um livro-roteiro que
virtualmente sintetiza quase toda a psicanálise, tornando-se assim uma obra dirigida tanto ao público leigo e intelectualmente sofisticado, que
tenha interesse pelos conhecimentos do inconsciente, como aos
psicanalistas. O autor utiliza como recurso o diálogo com o interlocutor,
apresentando com cientificidade as generalidades teóricas, técnicas e da
prática psicanalítica. As vinhetas são sempre seguidas de reflexões, onde David
mostra como entende e maneja psicanaliticamente as situações narradas. Nesta
obra, mais uma vez nos deparamos com marcas registradas do autor, que são a
sensibilidade clínica e o compromisso em melhorar a qualidade de vida dos
pacientes. Pode-se dizer que é uma obra que ajuda o leitor a conhecer os
sofrimentos neuróticos e/ou traumáticos, pelo qual todo ser humano transita e ,assim, refletir sobre seus próprios conflitos, inibições,
relacionamentos que estabelece etc. Vivências de
um Psicanalista (Poa, Artmed,
2008) Os ingredientes motivacionais
desta publicação são os desejos do autor de compartilhar com os leitores sua
longa experiência clínica, aliado à necessidade de desmistificação da imagem e
da prática da psicanálise. Dificilmente encontramos outro
autor psicanalítico que compartilhe com o público, de maneira tão direta e
sensível, sua longa experiência clínica entremeada de aspectos pessoais. Nesta leitura,
pode-se conhecer a trajetória deste conhecido psicanalista, como estudante,
médico, psiquiatra, psicanalista, supervisor e professor. Através de relatos parciais das
situações clínicas mais comuns, é possível desvendar a intimidade das
psicoterapias analíticas. Estes relatos incluem algumas situações amenas e
outras muito dolorosas. Os resultados positivos com profundas transformações na
estrutura psíquica e os fracassos terapêuticos também são abordados. Margot Aguzzolli
é psicanalista em formação pelo Instituto da Sociedade Psicanalítica de Porto
Alegre e Luciana Saraiva Schmal é psicanalista em
formação pelo Instituto da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. Outros livros com resumo do autor.: FundamentosHYPERLINK "http://worldcat.org/oclc/034358991"bá sicos das grupoterapias por David Epelbaum Zimerman Aplicacao da dinamica de grupo a escola por David Epelbaum Zimerman Manejo tecnico do paciente de dificil acesso por David Epelbaum Zimerman ( ) Novas ideias acerca da analisabilidade por David Epelbaum Zimerman ( ) Grupoterapias: uma atualização por David Epelbaum Zimerman 5. A homenagem de Luiz Ilafont Coronel DIPLOMA
AO MÉRITO CYRO MARTINS Reconhecimento
da Ciência e Cultura Homenageado:
David Epelbaum Zimerman
(RS) Orador:
Luiz Carlos Illafont Coronel (RS) INTRODUÇÃO: “Leio um
artigo de um escritor de teatro, Arkadi Rajkin, publicado numa revista de Moscou. O Poder
Burocrático, diz o Autor, faz com que os atos, as palavras e os pensamentos
jamais se encontrem: Os atos ficam no local de trabalho, as palavras nas
reuniões e os pensamentos no travesseiro”. (Celebração das Bodas entre a Palavras e o Ato – Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços, L&PM, 2011) 1. Boa parte da força de D. E. Z. , penso, essa misteriosa energia que vai muito além de sua
pessoa e obra, vem de um fato muito simples: Ele é um raro exemplo dos que
dizem o que pensam e fazem o que dizem. A obra
completa de D. E. Z. cobre praticamente, os grandes
campos da teoria, da técnica e da Clínica Psicanalítica. Irrigando de modo
generoso e fecundo a chamada Psiquiatria Dinâmica, as Psicoterapias, os
Tratamentos Integrados, as Grupoterapias, a Aplicação
das Técnicas Grupais no ensino, na formação Humanista do Médico, no Trabalho em Instituições e
Comunidades. Outra
característica marcante de seu trabalho, além da extensão antes mencionada, é a
autoria “solo”, evidentemente, da maior parte de seus livros, pois existem
aqueles aos quais emprestou seu nome e capacidade para ser um dos organizadores
ou ser co-autor. Em vários
de seus livros insiste que este fato não significa a inexistência de autores
outros capazes, e, até muito capazes para desenvolver tal ou qual tema, mas,
simples e definitivamente, a busca quase obsessiva da coerência conceitual, da
honestidade intelectual e da boa ética de suas convicções – Max Weber – em
respeito ao Outro, seja leitor, aluno, paciente, ou simplesmente amigo. A
consideração e respeito ao Outro tinge, indelevelmente, seu discurso e seus
desenvolvimentos teóricos, técnicos e clínicos. Assim
“procura traduzir em linguagem simples e acessível a
complexidade do significado dos termos e conceitos psicanalíticos evitando a
linguagem, incompreensível para grande
parte dos leitores da língua portuguesa.”. “O
trabalho de David Zimerman está alicerçado no mérito
da divulgação da psicanálise, através de seus livros, artigos publicados,
conferências, participação ativa em congressos, atividade didática e da prática
clínica. Sempre procurou transmitir os conhecimentos psicanalíticos de forma a
desmistificar a psicanálise, apresentando-a como uma ciência que trata da alma
humana e não como um conjunto de seitas, em busca de adeptos.”. “...uma clara tendência para priorizar uma abordagem
didática, sistemática e de integração, de sorte a contemplar tanto os analistas
veteranos e experientes que necessitam uma rápida consulta para relembrar ou
esclarecer algum determinado termo, quanto para os leitores que estão iniciando
sua formação...”. (Bernardo Brunstein, prefácio do
Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise, Artmed,
2009). 2. Revolução
Pacífica: D E Z realiza em sua já longa obra de ensino, e publicações e,
especialmente, de exemplos militantes, uma verdadeira revolução pacífica no
amplo campo da Psicanálise, Psiquiatria e Saúde Mental. Este conceito refere-se
à experiência melhor sucedida de reforma da atenção psiquiátrica que foi aquela
que aconteceu no Canadá. Houve uma profunda alteração no Sistema Público de
Assistência ao Doente Mental e seus familiares. As mudanças foram no sentido da
ampliação e qualificação do atendimento especializado, ao contrário, do resto
do mundo onde prevaleceu a desestruturação dos insuficientes recursos
existentes (“Hospitalocêntrico”) e a não construção
da chamada Rede Alternativa de Atenção (“CAPScêntrica)
em termos quantitativos e qualitativos. A
nosso juízo D E Z produz uma mudança sem alardes nem “espetacularização”
quando desloca de modo sutil e profundo alguns dos Paradigmas – científicos e
outros – nos quais estávamos todos imersos e por assim dizer, muitas vezes,
“engessados”, ou como prefiro, “manietados”. Vejamos a
seguir dois deles: 1º - Educar ao invés de Ensinar: “Sabe
deixar espaço para que aflore o conhecimento nascente do supervisionado (do Outro), não impondo aprioristicamente, seus pontos de vista, e, - talvez sua
característica mais marcadamente pessoal – sempre extraindo algo de positivo do
mais caótico e inadequado de nossos procedimentos”. (Luiz C. Osório, prefácio
Fundamentos Básicos das Grupoterapias, ARTMED 1993). Neste
componente básico de sua atitude – como pessoa e autor – revela-se o extremo
cuidado e respeito ao Outro (paciente, aluno, grupo, instituição, etc...), assim como, uma valorização de capacidades e
habilidades, muitas e muitas vezes não identificadas nem valorizadas. Boa
parte, certamente, de seu êxito deve-se a esta característica. Este
aspecto é desenvolvido em sua vida e obra como já dissemos sem espalhafatos nem
arroubos narcísicos, fazendo eco a uma cultura – pós moderna – que exige “If it bleeds,
it leeds” (Se sangra, acontece). Qualquer notícia,
evento, científico ou cultural, sofre esta pressão, se quer “acontecer”. Nem
vou mencionar que a única coisa de importância que falta à obra de D E Z é que
seja escrita em Inglês para que tenha presença “global”. Senão será limitada a
região lingüística portuguesa. Como
ele próprio diz: “... sou eclético, porém faço questão de ressaltar que não cabe
confundir, como muitos fazem, ecletismo com ecleticismo. O primeiro alude ao fato de o Analista ter uma
formação pluralista, com base em distintas vertentes teóricas e técnicas, sem
obedecer cegamente a qualquer uma delas, por mais consagrado que seja o nome do
autor, e, tampouco, sem rechaçar imediatamente, antes de fazer uma reflexão
crítica, de forma a poder selecionar e adotar aquilo que, efetivamente, “fecha”
com o seu jeito autêntico de ser e com a sua experiência clínica pessoal. Ao
mesmo tempo, dá-se o direito de dispensar leituras que não lhe tocam, de modo
que gradativamente vai criando o seu autêntico sentimento de identidade de
terapeuta psicanalítico, com uma liberdade de assumir o seu estilo pessoal de
trabalhar” (DEZ, prefácio Manual de Técnica Psicanalítica, ARTMED 2004). Então
é um trabalho sem concessão no essencial à cultura contemporânea. E, em
consideração definidora do vínculo ao Outro. Não precisamos destacar que em
nosso campo – Psi – desgraçadamente, ainda é muito
forte a Psiquiatria de Autoridade (Russler, Psiq.
Suíço). Centrada, predominantemente, no que a Autoridade pensa e não na
necessidade e demanda do outro. 2º - “Onde está a Verdade?” D E Z desenvolve largamente, e, enfaticamente, a idéia de que
a importância teórica e clínica para
compreender os meandros da alma humana está “... no todo que resulta da forma
de combinação e dos arranjos das diversas partes constituintes da totalidade,
cada uma delas desempenhando algum tipo de função”. Este
posicionamento epistemológico permite uma visão total dos fenômenos humanos, individuais e grupais. Fornece elementos decisivos para a
superação e entendimentos parciais, dissociados, e, não raramente,
desumanizadores. Privando o sujeito humano de seus vínculos constituintes e
determinantes. Devido
a esta atitude, pode integrar e criar conceitos oriundos de
variadas linhagens científicas. Advêm deste fato a riqueza de seu
pensamento e o descortino de novas vias de acesso terapêuticas, aulas,
problemas emocionais da atualidade, tão difíceis quanto complexos em sua
abordagem. Penso,
entre tantas inovações conceituais – teóricas, técnicas e clínicas – que uma se
destaca, sei que estou correndo o risco de que esteja equivocado, e este é o
Vínculo do Reconhecimento. Pena que não tenhamos tempo para desenvolver os
argumentos confirmatórios deste posicionamento. Fica para outra ocasião. André
Green já afirmava, na década de 80, que o principal na chamada Escola das
Relações Objetais, era a Relação e não os objetos. Além de uma intuição, sobre
o rumo que assumia o entendimento da mente humana, era um “aponte”, um
indicativo de região a ser desbravada e conhecida. Se pudesse em uma frase
sintetizar o mais relevante da obra Davidiana, diria
que ela nos dá a bússola e o mapeamento das principais componentes das Relações
Intrapsíquicas, Interpessoais e Transpessoais. 3. Conclusão: “Para
concluir este misto de recordações e pensamentos, citarei uma passagem que o
“Dr. Cyro” escreveu por ocasião de uma homenagem póstuma ao seu colega e amigo
Mário Martins, que representa muito de seu sentimento em estar presente neste
livro como uma homenagem muito especial de seus autores: “Certa
vez – faz isso muitos anos, vinte e cinco talvez – estávamos ainda no Edifício
Godoy, conversávamos, Mario, Laura Pichard,
visitante, e eu. Foi um entardecer, pós-tarefa. A conversa abordava o futuro de
nossas Sociedades, a de Porto Alegre e a de Montevideo.
Como soe acontecer nessas conversas vadias, fomos ladeando os problemas
institucionais e chegamos às nossas pessoas. Por certo, outros nos
substituiriam. E os nossos retratos – disse eu – iriam um dia encher o vazio
das nossas paredes do auditório. ‘Ele está muito otimista’ – atalhou Mario,
dirigindo-se a Laura. Não, eu
estava dentro do meu ‘realismo esperançoso de sempre’. Prova-o
o retrato e a placa que inauguramos hoje, festivamente...”. (Cláudio
Martins, prefácio de “Como trabalhamos com Grupos”, Artmed
1997). Meu caro
David considere esta homenagem “um retrato e placa” festejando sua vida e obra
porque tal como o “Dr. Cyro” és um incorrigível realista esperançoso e por isto
mesmo não me ocorre outro pensamento que não seja aquele do Bertold
Brecht: “Há homens que lutam por um dia e são bons. Há outros que lutam por um
ano e são melhores. Há os que lutam por muitos anos e são muito bons. Mas há os
que lutam toda vida e
estes são imprescindíveis.”. És imprescindível David
por isto não tenhas dúvida a que se destina esta salva de palmas: é para ti. Nota final: Em Porto Alegre-RS viveram dois Davids, o Davizão e o Davizinho, não era
levada em conta a altura dos dois, o Davizinho era
bem mais alto que o outro. Os dois foram formados pela Faculdade de Medicina da
UFRGS, o Davizão em 1947 e o Davizinho
em 1954. Ambos se dedicaram à psiquiatria e a psicanálise. Sobre o primeiro
publicamos em Psiquiatria Online (http://www.polbr.med.br/anophp 04 /wal 0804 .). O Professor David Zimmermann (1917-1998) foi
professor da UFRGS, criou o Curso de Formação em Psiquiatria, fundou a Fundação
Mário Martins e foi presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria entre
outras atividades. Foi casado com a Ainda e teve três filhos, Sérgio, Jaques e
Heloisa. Mesmo tendo o mesmo nome, com grafia
diferente, os dois se destacaram na psiquiatria e psicanálise do Brasil.
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