Março de 2013 - Vol.18 - Nº 3 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Março de 2013 - Vol.18 - Nº 3 COLUNA PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA O ERRO MÉDICO EM FOCO Fernando Portela Câmara Tem
sido frequente as notícias sobre erros médicos nos jornais, e o assunto também
é objeto de queixa entre as pessoas no seu dia a dia. Isso não quer dizer que a
qualidade dos serviços médicos caiu, mas que a sociedade está mais atenta e
mais exigente, não mais aceita submeter-se à autoridade médica e procura as
vias judiciais para decidir sobre vitimizações causadas por supostos desvios do
ato médico. Um
estudo recente do Ministério da Saúde apontou uma taxa de aproximadamente 10%
de erros médicos no país, um percentual bastante preocupante, até porque o erro
no ato médico pode resultar em prejuízos graves e mesmo óbito. Esse mesmo
estudo, conduzido pela Fiocruz, mostrou que 67% desses erros poderiam ser
evitados com medidas simples como a checagem de equipamentos cirúrgicos antes de cirurgias,
esterilização adequada de instrumentos, higienização do ambiente e das mãos dos
atendentes, etc. Agora o ministro da Saúde e o diretor-presidente da
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançaram o Programa Nacional
de Segurança do Paciente, que compreende seis protocolos de segurança, focalizando
os problemas mais frequentes nos serviços de saúde das redes pública e privada.
Entre os problemas mais comuns estão erros em procedimentos cirúrgicos, queda
do paciente, infecções e administração incorreta de medicamentos. A portaria do MS torna obrigatória a criação de
Núcleos de Segurança do Paciente (NSP), e com isso, pretende-se reduzir a
incidência de erros no atendimento de pacientes. O objetivo dos NSP é o monitoramento
constante das práticas médicas, a notificação mensal obrigatória de eventos
adversos com pacientes, e a padronização de procedimentos em todo o país. O hospital
que não instalar seu NSP poderá perder seu alvará de funcionamento. Esse foi um passo importante, já longamente
esperado, e sem dúvida será muito importante para a melhoria da qualidade da
assistência médica. Entretanto, necessitamos compreender mais profundamente a
origem do erro médico para melhor combatê-lo. Como isso é um assunto que me
interessa, tenha observado que o erro mais freqüente se dá por negligencia, e esse
erro se origina de três causas: A primeira, e a mais importante em minha opinião, é
a contratransferência por parte do médico. Isso pode levar a negligência no
diagnostico e no tratamento. Alguns médicos ainda acham – e isto pode ser um
defeito de formação ou um traço de personalidade – que o paciente deve ser
passivo, não questioná-lo e aceitar incondicionalmente o que ele determina. Outros
não aceitam que o tratamento prescrito não tenha tido efeito no paciente, e
então o responsabilizam pelo fracasso, o que pode seguir-se de reprovações
humilhantes. Isto é uma das causas de muitos processos contra médicos e queixas
aos CRMs. De fato, na maioria dos processos, a
verdadeira causa escondida sob as queixas contra médicos é a péssima relação
médico-paciente, uma arte que todo médico deveria cultivar e que é um dos
pontos mais essenciais da doutrina hipocrática e do sucesso do tratamento. A segunda causa de negligencia é o cansaço. O
médico deve estar atento a isso, pois o cansaço gera estresse e prejudica a
cognição, comprometendo o julgamento e o raciocínio. Mesmo o médico que ama a
sua atividade e se dedica a ele com afinco deve saber que o cansaço é uma
exigência de repouso do cérebro, que precisa remover toxinas, reparar suas
reservas de neurotransmissores e regular seu metabolismo. A terceira causa de erro, menos comum, mas muito
importante, será comentada em um próximo artigo.
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