Março de 2013 - Vol.18 - Nº 3 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Março de 2013 - Vol.18 - Nº 3 Artigo do mês
ALTERAÇÕES ELETROENCEFALOGRÁFICAS EM CRIANÇAS COM TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO: REVISÃO DE PRONTUÁRIO
Mirella Lins Mattos* Resumo Introdução: A prevalência da epilepsia nos transtornos do espectro do autismo
(TEA) atinge até 42% dos casos. As alterações mais encontradas em crianças
autistas são o aumento de paroxismo epileptiforme com frequência de 15 a 64%,
principalmente com localização fronto-temporal e temporal. Outras alterações no
EEG são lentificação focal e difusa e assimetria de amplitude e de frequência.
É possível que alguns EEGs apresentem anormalidades nos elementos fisiológicos
do sono: fuso do sono, onda aguda do vértex e complexo k. Metodologia: Estudo de série de casos com coleta retrospectiva através de revisão
de prontuário, buscando identificar as anormalidades mais frequentes nos EEGs
de crianças autistas, identificando paroxismo epileptiforme e outras alterações
eletroencefalográficas. A população de referência são alunos matriculados em
escola especializada na cidade de Salvador, Bahia, Brasil, que já realizaram um
EEG e com diagnóstico prévio de Transtorno Autista pelo DSM-IV. Amostra de 85
crianças, cujos genitores foram contactados pela instituição solicitando
participação na pesquisa e entrega do EEG na secretária da escola. Dos 73
contactados, 15 EEGs foram entregues, dos quais nove foram incluídos. Resultados: A maioria, 88,9% foi do sexo masculino, com idade média na ocasião da
realização do EEG de 5,8 ± 4,32 anos. A análise dos EEGs evidenciou que 11,1%
apresentava paroxismo epileptiforme quase contínuo com localização
fronto-temporal esquerda com repercussão para o lado direito. Em 44,4% dos EEGs houve redução dos elementos
fisiológicos do sono; 11,1% apresentava alteração em todos os elementos do
sono; 11,1% complexo k diminuído; 11,1% fuso do sono de curta duração e 11,1%
raras ondas agudas do vértex. Discussão: Na amostra deste
estudo houve baixa frequência de paroxismo epileptiforme (11,1%), em comparação
com estudos prévios, mas uma prevalência significativamente maior do que em
crianças normais. Esses resultados associados a redução dos elementos do sono
(44%) sugerem comprometimento de estruturas do sistema nervoso central,
particularmente o córtex cerebral e o tálamo. A amostra reduzida compromete a
generalização dos achados desse estudo, que deve ser considerado como
exploratório. Palavras-chaves: Autismo. Epilepsia. Eletroencefalograma. Paroxismo Epileptiforme. Sono. Introdução Sob a epígrafe de Transtornos
Invasivos do Desenvolvimento (TID) são incluídos os seguintes transtornos:
Autismo, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, Transtorno desintegrativo da
infância e TID não especificado (APA, 2002). O transtorno autista é caracterizado por anormalidades significativas
nas áreas de interação social, comunicação e comportamento. As atividades e os
interesses são restritos, repetitivos e estereotipados, além da presença de
maneirismos motores, preocupação com partes de objetos, rituais e perturbações
relacionadas a mudanças do ambiente (BALDAÇARA et al., 2006). Normalmente,
encontram-se respostas incomuns a estímulos sensoriais, como elevada
resistência à dor, reações exageradas a odores e hipersensibilidade ao toque.
As alterações devem ter início antes de três anos de idade (APA, 2002). Ainda em desenvolvimento, o DSM-V
caracteriza o Transtorno Autista de forma mais condensada. Eliminará o
diagnóstico de Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e
Transtorno invasivo do desenvolvimento - não especificado, incluindo-os na
categoria de Transtorno do Espectro Autista leve, moderado ou grave (APA,
2012). Os critérios necessários são a presença de déficits de reciprocidade
sócio-emocional, déficits no desenvolvimento e na manutenção de relacionamentos
e déficits de comportamentos comunicativos não-verbais utilizados para a
interação social. Outra diferença entre o DSM-V e o DSM-IV é que o primeiro
indica que os sintomas devem estar presentes na primeira infância, mas não
necessariamente se manifestarão plenamente nela. Esses sintomas juntos
limitarão e comprometerão o funcionamento diário do autista (APA, 2012). Crianças autistas comumente
apresentam sintomas associados como agressividade, ansiedade e sintomas
obsessivos (ROBERTS et al., 2008). Há forte relação entre o autismo e a
Epilepsia (GADIA et al., 2004), o retardo mental (RIBEIRO, 2002; SPENCE & SCHNEIDER,
2009), o Transtorno de Défict de Atenção e Hipertatividade (SEGENREICH & MATTOS,
2007; PONDÉ et al., 2010). Em menor prevalência há associação com distúrbios
intestinais, distúrbios do sono, esquizofrenia, doenças metabólicas como
Diabetes Mielitus tipo I (KOHANE et al., 2012), Transtorno Bipolar do Humor,
Síndrome de Tourette e Transtorno Obsessivo Compulsivo (SILVA & MULICK,
2009), doenças cromossômicas como Síndrome de Down (SILVA & MULICK, 2009; KOHANE
et al., 2012), Síndrome do X Frágil (CARVALHEIRA et al., 2004; SOUZA et al.,
2008; KOHANE et al., 2012), além de deficiências auditivas e visuais (SILVA
& MULICK, 2009), infecções congênitas, anóxia neonatal e lesões pré-natais
(RIBEIRO, 2002; SPENCE & SCHNEIDER, 2009). Epilepsia refere-se a um grupo de
condições neurológicas crônicas caracterizadas por crises epilépticas
recorrentes, que ocorrem devido à anormalidade neurológica subjacente ou uma
suspeita de disfunção neural. Crises epilépticas são manifestações clínicas
(sinais e sintomas) da excessiva atividade anormal dos neurônios e/ou da sua
hipersincronização no cérebro (ENGEL et al., 2005). De acordo com SPENCE &
SCHNEIDER (2009), a epilepsia ocorre em 1/3 dos indivíduos com transtornos
invasivos do desenvolvimento. Porém, há grande variação de prevalência na
literatura entre 5 a 39% (KIM et al., 2006; SOUZA et al., 2008; SPENCE & SCHNEIDER,
2009) chegando até 42% dos autistas (MAIA FILHO et al., 2006), sendo 7% em pré
escolares e 20 a 35% em idade adulta (COSTA & NUNESMANIA, 1998; AKSHOOMOFF
et al., 2007; LEVISOHN, 2007; SOUZA et al., 2008). Para melhor compreender quais são as
alterações eletroencefalográficas mais comuns em crianças autistas, descartar
possíveis doenças neurológicas e/ou comorbidades associadas (SPENCE & SCHNEIDER,
2009) como epilepsia ou acompanhar seu tratamento, propõe-se a realização do
eletroencefalograma (EEG). Trata-se de um método não-invasivo e complementar de
registros elétricos na superfície do cérebro, que demonstra uma contínua
atividade elétrica cerebral, traduzida por flutuações de potenciais e
registradas sob a forma de ondas cerebrais (GUYTON & HALL, 2006; GODMAN
& AUSIELLO, 2009). O EEG se relaciona diretamente com a atividade
pós-sináptica dinâmica no neocórtex (ação oscilatória e ação transitória) (MURIAS
et al., 2007; ROBERTS et al., 2008), a partir da diferença de potencial entre
dois eletrodos, avaliando a maturação cerebral, as flutuações dos níveis de
vigilância, fisiológicas (sono) ou patológicas, e a detecção e análise de
eventos paroxísticos (FONSECA et al., 2011). As alterações mais encontradas em
crianças autistas são o aumento de paroxismo epileptiforme - potenciais
elétricos anormais, produzidos na intimidade do córtex cerebral, em decorrência
de despolarizações hipersincrônicas dos neurônios envolvidos no
circuito elétrico hiper-excitável que caracteriza um foco epiléptico (ENGEL et
al., 2005). Esse paroxismo epileptiforme pode ser multifocal ou unifocal,
unilateral ou bilateral difuso ou generalizado. A prevalência de paroxismo
epileptiforme em crianças autistas é de 15 a 64% (KIM et al., 2006; AKSHOOMOFF
et al., 2007; LEVISOHN, 2007) com localização fronto-temporal (MURIAS et al.,
2007), temporal direita (CHEZ et al., 2006) ou frontal (HASHIMOTO et al.,
2001). Eles são encontrados em muitos autistas com ou sem retardo mental, mas
sem nenhum padrão consistente. Existe uma correlação entre a ocorrência de
paroxismo epileptiforme interictal no EEG e a predisposição para crises
epilépticas (ENGEL et al., 2005). Por isso, esse paroxismo pode ser um
biomarcador de disfunção cortical nesta população ou ter uma relação na
fisiopatologia subjacente do TID, indicando o aumento do risco de epilepsia (AKSHOOMOFF et al., 2007; SOUZA et al., 2008; SPENCE
& SCHNEIDER, 2009). É frequente a presença de paroxismo
epileptiforme em crianças com TEA, mesmo sem manifestação clínica de crise
epiléptica (confusão mental, abalos musculares, crise de ausência) (HASHIMOTO
et al., 2001; KIM et al., 2006; AKSHOOMOFF
et al., 2007; SPENCE & SCHNEIDER, 2009; HARTLEY & WEINSTOCK,
2010). Isso sugere que o paroxismo epileptiforme pode ser um fator etiológico
para as alterações comportamentais, cognitivas e de linguagem em crianças
autistas (HARTLEY & WEINSTOCK, 2010) e não apenas comorbidade (LEVISOHN et
al., 2007; SOUZA et al., 2008; SPENCE & SCHNEIDER, 2009). A literatura
sugere que a fisiopatologia do autismo aumente o risco de epilepsia e esta
agrave os sintomas autistas, talvez pela evidência de paroxismo epileptiforme
em pacientes autistas com epilepsia ativa, mas são raros relatos (1- 4%) em
crianças saudáveis (SPENCE & SCHNEIDER, 2009; HARTLEY & WEINSTOCK,
2010). Outras alterações
eletroencefalográficas são lentificação focal, lentificação difusa, assimetria
de amplitude e assimetria de frequência. A lentificação focal sugere uma
disfunção localizada no parênquima cerebral e é comum em transtornos
convulsivos focais, tumores cerebrais, processos inflamatórios e malformações
vasculares (MERRITt, 2007; SPENCE & SCHNEIDER, 2009; FONSECA et al., 2011).
Já lentificação difusa é muito comum em condições tóxicas, infecciosas,
metabólicas, degenerativas além de anormalidades múltiplas (AKSHOOMOFF et al.,
2007; MERRIT, 2007; FONSECA et al., 2011). A assimetria interhemisférica indica
lesão cerebral subjacente, mas sem especificação de qual seja. É possível que alguns EEGs
apresentem alterações nos elementos do sono: fuso do sono, onda aguda do vértex
e complexo k. Essas alterações indicam disfunção cerebral, ocasionando em
redução da qualidade do sono, o que proporciona comprometimento na
sintomatologia do autismo. Os fusos do sono são ondas com frequência entre 12 a
15Hz, principalmente 14Hz. A partir de dois anos de idade, os fusos do sono são
máximos nas regiões central e parietal, com diferenças assimétricas e
apresentam, normalmente, componente negativo acentuado e o positivo menos
proeminente (SCHOMER & SILVA, 2011).
Os fusos do sono são originados no tálamo, mas o desencadeamento e a
sincronização talâmica sofre ação do córtex. Sendo assim, os fusos exercem
controle sobre a excitabilidade dendrítica das células piramidais neocorticais,
inibem as aferências sensoriais por meio do sistema talâmico (TUFIK, 2008),
além de inibir oscilações lentas (BRUNI et al., 2007). A diminuição dos fusos
do sono pode ocasionar modificações clínicas decorrentes do comprometimento de
estruturas do sistema nervoso central, particularmente do tálamo (TUFIK, 2008).
O complexo K é definido por
componente agudo inicial, seguida de uma fase lenta que se funde com um rápido
componente sobrepondo-se e normalmente se associam ao fuso de sono. São comuns
no estágio 2 do sono e a partir de cinco a seis meses de vida. Apresenta
amplitude máxima ao longo do vértice, mas também sobre a linha média frontal (SCHOMER
& SILVA, 2011). Estímulos corticais ou talâmicos ou estímulos espontâneos
podem desencadear um complexo K, sendo uma expressão de fenômenos espontâneos
decorrentes de oscilações lentas geradas no córtex (TUFIK, 2008). A Onda Aguda do Vértex se refere a
ondas detectadas no vértice cerebral com potenciais máximos, que surgem aos
cinco meses. Elas indicam um estado alterado da responsividade cerebral através
de potencias evocados de diversas modalidades, principalmente auditivas, que
convergem para as regiões corticais subjacentes ao eletrodo do vértice. É
caracterizada por uma descarga de pequeno pico de polaridade positiva precedida
por grande componente negativo, que é quase sempre a característica mais
proeminente dessa onda. É mais comum em região frontal, mas pode se estender
para as regiões frontais laterais. Podem indicar assimetrias que são comuns em
crianças (TUFIK, 2008). Elementos fisiológicos do sono
modificados diminuem a qualidade de sono (PEREIRA et al., 2011). De acordo com
KOHANE et al. (2012), a prevalência de distúrbios do sono varia de 1,1% até 25%
da população com TEA. Em crianças autistas se
observa o tempo total de sono reduzido e aumento de latência no sono inicial (LIMOGES et al., 2005; BRUNI et al., 2007; KOHANE et al., 2012), mais despertares noturnos, sono menos eficaz, maior
duração do estágio 1 do sono, diminuição dos estágios 3 e 4 do sono, diminuição
de sono não REM e menos movimentos oculares rápidos no sono REM (LIMOGES et al., 2005). O sono é dividido em
não REM (sem a presença de movimentos rápidos dos olhos) e REM (com movimentos rápidos dos
olhos), funcionando como um ciclo que se repete várias vezes à noite. A fase do
sono NREM contém três estágios (N1, N2, N3) iniciando no estágio 1 até 3, sendo
que essa última fase engloba a antiga fase 4 (SCHOMER & SILVA, 2011). A
duração é cerca de cem a cento e oitenta minutos, somente depois atinge a fase
REM com curta duração, até cinco minutos. Ao EEG, o estágio 1 é a fase de
transição de vigília com presença de ondas alfa (8 a 13Hz) e presença de onda
aguda do vértex (MONTENEGRO et al., 2011). Já o estágio 2 possui baixa
voltagem, com frequências mistas e marcado pela presença de fuso do sono e
complexo K. O estágio 3 possui ondas lentas no EEG com baixa frequência e alta
amplitude. Ao EEG, a fase REM caracteriza-se por atividade dessincronizada
(ondas teta e alfa) com atonia muscular e presença de sonhos (HARVEY et al.,
2006). É importante considerar a presença
de alteração de laudos nos EEGs. Segundo SPENCE & SCHNEIDER (2009), a
descrição de paroxismo epileptiforme e outras alterações no EEG é influenciada
pelo tipo de EEG realizado e se há estados de sono durante a realização do mesmo.
A presença de sono aumenta significamente o rendimento de anormalidades no EEG,
destacando as análises dos estágios 1 e 2 do sono- mais informativos e
importantes na investigação de epilepsias e outras anormalidades (LIMOGES et
al., 2005). Sendo assim, a alta prevalência de
anormalidades epileptiformes no EEG e/ou de epilepsia em crianças com TID pode
ser uma importante pista que aponte para a existência de uma alteração
neurológica subjacente ao autismo. No entanto,
a dúvida que ainda persiste é se essas anormalidades são epifenômenos da
disfunção neural subjacente no autismo, ou se há uma relação de causalidade. Não
há dados definitivos que ajudem a prever quais crianças desenvolverão essas
anormalidades e em que grau a cognição, o comportamento e a interação social
são afetados (SPENCE & SCHNEIDER, 2009).
Metodologia Seleção da Amostra Estudo de série de casos com coleta
retrospectiva através de revisão de prontuário, buscando identificar as
alterações mais frequentes nos EEGs de crianças autistas, identificando
anormalidades epileptiformes e não específicas. A população de referência são
alunos matriculados em escola especializada em Salvador, Bahia, Brasil, que já
realizaram um EEG (eletroencefalograma), com diagnóstico prévio de Transtorno
Autista pelo DSM-IV. Foram identificadas 85 crianças inscritas nos arquivos da
escola com diagnóstico de autismo confirmado por psiquiatra segundo os
critérios do DSM-IV. Os genitores foram contatados pela instituição solicitando
participação na pesquisa e em caso de aceitação foi solicitado que deixassem os
EEG na secretária na escola e que assinassem o termo de consentimento. Foi
possível contatar 73 pais, a maioria mães ou cuidadoras, que detinham a
informação da realização do EEG ou não. Desses 11 entregaram os exames e
assinaram o termo de consentimento. A partir da disponibilidade dos EEGs
foram analisados os prontuários dessas crianças para obtenção de dados
sócio-demográficos, presença de comorbidades, medicação em uso e o diagnóstico
pelo DSM-IV. Instrumentos Foram realizados dois questionários:
a) Questionário de dados sócio demográficos para obter informações sobre a
renda familiar, a idade da mãe e do pai ou responsável além da escolaridade
deles. b) Questionário Clínico dividido em duas partes: Dados sócio
demográficos: Abordou informações sobre nome, data de nascimento, idade,
naturalidade, sexo, raça/cor, escolaridade, doenças/comorbidades, medicação em
uso, o diagnóstico pelo DSM-IV (APA, 2002) e a pontuação pela escala CARS (PEREIRA
et al., 2008). 2. Dados eletroencefalográficos: A análise dos EEGs foi
realizada pela neuropediatra Dra. Sabrina Calmon sob orientação do
neurofisiologista e neuropediatra Dr. Francisco Monteiro Meneses. A partir de
uma amostragem de 11 pais contactados, foram disponibilizados 15
eletroencefalogramas, com 3 crianças apresentando dois exames realizados. Um
exame foi excluído porque foi entregue o laudo e não o traçado; dois exames
foram excluídos pela péssima qualidade de descrição de parâmetros e um pelo
excesso de artefato secundário a suor no local do eletrodo e pelo mau
posicionamento do mesmo. Em relação ao parâmetro sono x vigília foi preciso
estabelecer um parâmetro de análise, escolhendo-se o sono pela característica
da amostra (maior quantidade) e não por escolha científica, de modo que dois
EEGs foram excluídos pelo fato das crianças estarem em vigília durante o exame.
Dos 9 restantes, 3 foram sono espontâneo, 5 foram induzidos por hidrato de
cloral e 1 por pimetixeno. Foram analisados a presença de
paroxismo epileptiforme e outras alterações eletroencefalográficas,
identificando sua distribuição topográfica (localizada ou generalizada), sua
persistência temporal (intermitente ou contínua) e sua característica de onda.
Além disso, foi analisado a presença de simetria entre hemisférios e alterações
dos elementos fisiológicos do sono. Resultados Nove crianças foram incluídas nesse
estudo, o que corresponde a 10,58% da amostra de 85 crianças matriculadas na
escola e com prontuário contendo diagnóstico de Transtorno do Espectro do
Autismo, através do DSM-IV. Oito crianças foram do sexo masculino e uma do sexo
feminino. Sete eram naturais de Salvador, uma do interior do estado e uma de
naturalidade espanhola. Quanto à raça cinco eram pardas e quatro negras. Em relação
à idade das crianças na realização do EEG variou de 5,8 ± 4,32 anos, com idade
atual de 9,69 ± 3,69. Com relação ao uso
de medicações seis crianças usavam antipsicóticos (Risperidona ou Periciazina),
duas crianças utilizando Valproato de Sódio, associado à benzodiazepínico em
uma e duas crianças sem uso de medicação. Quanto à análise dos EEGs,
diferentemente do que se esperava, nos nove EEGs analisados somente um (11,1%)
apresentava paroxismo epileptiforme quase contínuo. Sua localização foi
fronto-temporal esquerda com repercussão para o lado direito. Característica de
onda espiculada seguida de onda lenta de médio e alto potencial e de frequência
contínua. Em quatro exames
eletroencefagráficos (44,4%) houve alterações dos elementos normais do sono. O sono
apresenta três elementos normais: o fuso do sono, ondas agudas do vértex e
presença de complexo K. Nesses quatro EEGs, um apresentou alteração em todos os
elementos do sono (11,1%), um possuíam poucas ondas agudas do vértex e
alteração de complexo k (11,1%), um outro continha fuso do sono de curta
duração (11,1%), um apresentava somente raras ondas agudas do vértex (11,1%).
Nesse estudo, a maioria das crianças (55,6%) tiveram sono induzido por hidrato
de cloral, assim como na maioria dos estudos (CARVALHEIRA et al., 2004), 33,3%
com sono espontâneo e 11,1% com sono induzido por pimetixeno. Discussão Na amostra deste estudo houve baixa
frequência de paroxismo epileptiforme (11,1%), em comparação com estudos
prévios que indicam prevalência de 15 a 64% (KIM et al., 2006; MURIAS et al.,
2007; GODMAN & AUSIELLO, 2009), mas uma prevalência significativamente
maior do que os 2,4% a 3,5% em crianças normais (KIM et al., 2006). Esses
resultados associados a redução dos elementos do sono (44%) sugerem comprometimento
de estruturas do sistema nervoso central, particularmente o córtex cerebral e o
tálamo (TUFIK, 2008). A localização fronto-temporal
esquerda é compatível com MURIAS et al. (2007), mas difere de CHEZ et al.
(2006) que evidenciou maior prevalência em lobo temporal direito e
de HASHIMOTO et al. (2001), em lobo frontal. Isso sugere que não há um consenso
sobre a localização mais comum da atividade epileptiforme. Segundo TUCHMAN et al. (1997), 75% das
crianças com autismo tinham epilepsia e paroxismo epileptiforme, contra apenas
8% das pessoas sem epilepsia. De acordo com KIM et al. (2006), fatores clínicos
como défict congnitivo e outros distúrbios neurológicos como agnosia verbal
influenciam na ocorrência de paroxismo epileptiforme em crianças autistas. Durante o presente estudo,
observou-se alterações dos elementos do sono em crianças autistas. Essas
alterações nos elementos do sono se resumem à redução de fusos do sono e dos
complexos K e encurtamento de ondas agudas do vértex. De acordo com GODBOUT et
al. (2000) há diminuição dos fusos do sono em crianças com TEA (destaque para
Síndrome de Asperger), mas complexos k normais. Limitações A amostra
reduzida compromete a generalização dos achados desse estudo, que deve ser
considerado como exploratório. Os EEGs analisados não eram
contínuos, somente continham algumas páginas e não houve um padrão para duração
dos exames. É possível que isso influencie na descrição dos elementos
fisiológicos do sono, já que estes dependem da fase do sono e talvez não tenha
atingido tais fases. Embora os resultados parecem estar de acordo com outros
dados na literatura, eles devem ser interpretados com cautela até que sejam
confirmadas por estudos adicionais. Referências AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e estatístico
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