Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Giovanni Torello |
Maio de 2012 - Vol.17 - Nº 5 História da Psiquiatria FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA MÁRIO MARTINS – 25 ANOS Walmor J. Piccinini A Fundação Universitária Mário Martins é um centro de formação em Psiquiatria e Psicoterapia que começou suas atividades como um Centro de Estudos em 26 de setembro de 1987. Dois anos depois mudou sua denominação para Instituto Mário Martins (29.07.1989), depois se tornou Fundação Instituto Mário Martins (17.07.1993) e por fim, em 20 de julho de 1995 recebeu sua denominação atual Fundação Universitária Mário Martins. Sua Sede é em Porto Alegre - RS. A estrutura da Fundação consiste num Conselho Diretor, numa Assembleia Geral, Conselho Fiscal e Diretoria. O atual conselho diretor está composto pelos seguintes membros: Gley P. Costa, Gildo Katz, José Facundo Passos de Oliveira, Lucia Porto, José Ricardo Pinto de Abreu, Nelson Langer dos Santos, Matias Kronfeld, Roberto Soibelman Procianoy, Flávio Roithmann e Silvia Stifelman Katz. A Diretoria eleita em 1º. de março de 2012 está assim composta: Presidente Dr. Nelson Asnis Diretora de Atividades Meio: Dra. Alice Aita Cacilhas Diretora de Atividade Fim: Dra. Silvia Stifelman Katz Diretor de Atividade de Extensão: Dr. Rafael Trierweiler Klein O Conselho Fiscal é composto por três membros: Walmor J. Piccinini, Cibele Fagundes Milagres e Rogério Gottert Cardoso. A Fundação Universitária Mário Martins promove seminários, palestras e simpósios no intuito de enriquecer e aprimorar o conhecimento de seu corpo clínico, professores, alunos e sócios, além de realizar atividades abertas à comunidade. A Jornada Paulo Guedes é um encontro científico anual que reúne alunos professores e convidados. No próximo mês de setembro deverá ocorrer a XXIII Jornada.
Visão Valores A escolha do nome Mário Martins, é uma homenagem ao psiquiatra e psicanalista com formação em Buenos Aires e que introduziu e participou do desenvolvimento da psicanálise em Porto Alegre. Sua atividade analítica formou direta e indiretamente várias das figuras relevantes na constituição da Fundação que leva seu nome. Histórico Uma importante fonte de informação para construir a história da Fundação Universitária Mário Martins (FUMM) foram os depoimentos dos fundadores coletados pela Psicóloga Janete Sachet. Segundo ela, foi um trabalho realizado com muito amor e gratidão, assim foi construída a Memória da FUMM. O relato que faço a seguir procura ser fiel aos fatos, mas muitas vezes são visões pessoais e por isso, se ocorrerem algumas informações que nem todos concordam, debitem para mim eventuais discrepâncias. Tudo começou com o Professor David Zimmermann (1917-1998) (http://www.polbr.med.br/ano04/wal0804.php)- A trajetória do Professor David Zimmermann foi brilhante, tanto na psiquiatria como na psicanálise. Na psiquiatria foi presidente do Centro de Estudos Luiz Guedes, presidente da Sociedade de Neurologia e Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Associação Brasileira de Psiquiatria (1975-1976) e presidiu três dezenas de congressos da especialidade. Como psicanalista foi fundador e mais tarde presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Presidente do Conselho das Organizações Psicanalíticas da América Latina e duas vezes vice-presidente da Associação Psicanalítica Internacional. Quando estudante David foi editor da Revista Científica do Centro Acadêmico Sarmento Leite da UFRGS. Participou da fundação da Revista Psiquiatria do Centro de Estudos Luiz Guedes, participou da Revista Psiquiatria Dinâmica e foi fundamental na reativação da Revista da ABP. Na Fundação Mário Martins criou os Arquivos de Psiquiatria e Psicoterapia. Essa, talvez, tenha sido a grande marca desse formador de homens. A utilização dos recursos psicanalíticos na psiquiatria, o ensino psicodinâmico, o desenvolvimento da psicoterapia analítica de grupo e a preocupação em divulgar no meio científico através de documentos escritos. Toda essa atividade fez com que a Câmara de Vereadores lhe concedesse, em 1993, o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. A linha de pesquisa desenvolvida pelo Professor David Zimmermann estava voltada para a prática psicoterápica, a psicoterapia analítica de grupo e no ensino. Muitos dos seus trabalhos eram apresentados em conferências e participações em congressos. Os títulos são expressivos: ”Planejamento em Psicoterapia”, “Deslizamento da Psicanálise para a Psicoterapia”; “Objetivos da Psicoterapia Dinâmica”; “Interrupção da Psicoterapia” entre outros. Em 1995, por ocasião do lançamento da primeira edição de seu livro Estudos de Psicoterapia. Zimmermann declarou sentir-se um homem feliz e realizado por tudo o que havia feito, principalmente, pelo que conseguira construir nos últimos dez anos. Referia-se à Fundação Universitária Mario Martins (FUMM) e à Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA), cuja criação e crescimento tiveram o maiúsculo apoio de sua experiência e de seu consagrado e indispensável prestígio. Na FUMM, ele deu continuidade ao seu Curso de Especialização em Psiquiatria, nos moldes do que havia criado na UFRGS, em 1957, o qual, atualmente, tem o merecido nome de Curso de Especialização em Psiquiatria Prof. David Zimmermann. Na SBP de PA, entidade que lhe concedeu os títulos de Membro Fundador, Membro Titular e Membro Honorário, retomou suas discussões sobre Psicanálise, iniciadas em 1963, na Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, que ajudou a fundar e da qual foi analista didata por duas décadas. (Gley Costa). Quem conviveu mais intimamente com Zimmermann, nos últimos anos, durante os quais refletiu sobre diversos acontecimentos marcantes de sua atividade como psiquiatra, psicanalista e, principalmente, professor, é testemunha de que procurava analisar as situações em seu conjunto, evitando ataques pessoais e deixando transparecer em seus comentários o genuíno desejo de que, um dia, todos pudessem estar juntos. De certa forma, este desejo foi satisfeito no dia 13 de marco de 1999, na Homenagem Póstuma que lhe foi prestada pela Fundação Universitária Mario Martins, em conjunto com as entidades psiquiátricas e psicanalíticas filiadas à Associação Brasileira de Psiquiatria e à Associação Brasileira de Psicanálise, e que contou com a presença de um grande número de alunos, representando várias gerações de psiquiatras e psicanalistas gaúchos. Era o encontro que ele almejava realizar, movido pela generosidade dos mestres que, além de ensinar, amam os alunos como se fossem seus filhos. (Gley Costa). O Professor David, o Davizão, formou-se relativamente tarde, tinha 29 anos no ano de 1946. No ano seguinte Mário Martins começava a analisar seus primeiros pacientes em Porto Alegre. Em 1948 David inicia sua análise pessoal. Em 1953 é admitido como professor de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Em 1957 começa, junto com o Professor Paulo Luiz Vianna Guedes, o primeiro curso de psiquiatria dinâmica do Brasil. O Professor Paulo Guedes (1916-1969) (http://www.polbr.med.br/ano02/wal0102.php) morreu muito cedo e o professor David continuou o trabalho com novos colaboradores. O tempo passou, centenas de psiquiatras foram formados. Próximo a sua jubilação acadêmica sofre uma grande decepção. O Departamento de Psiquiatria da UFRGS já não necessitava dos seus préstimos e ele foi convidado a se afastar. O acontecimento foi traumático por ter sido feito por ex-alunos e por ter sido descoberto quando o Professor David foi apresentar o plano de ensino para renovar a licença de funcionamento do curso de especialização recebeu a notícia que tinha sido nomeada outra comissão de ensino e que o novo curso estava aprovado. Os professores mais jovens do departamento de psiquiatria tinham decidido afastar o velho professor. O Professor David Zimmermann, muito magoado, pediu aposentadoria de um local em que trabalhava desde 1953. Sua saída foi acompanhada por vários professores intimamente a ele ligados, Aida Zimmermann, Antonio Luiz Bento Mostardeiro (http://www.polbr.med.br/ano09/wal0309.php), Odon Cavalcanti e Irene Abuchaim. Da mágoa a indignação e com ela um renovado espírito de luta e o desejo de seguir trabalhando na formação de psiquiatras. Não foi fácil, pois muitas portas se fecharam inclusive a do Hospital Psiquiátrico São Pedro que negou espaço para o novo Curso. Isso não esmoreceu aos amigos e nem ao grupo que acompanhou o professor na saída da Faculdade de Medicina. Fechados os espaços em Porto Alegre, graças ao seu prestígio e a amigos leais, como os professores Portela Nunes e Adolpho Hoirisch do Rio de Janeiro O professor David Zimmermann tornou-se Professor Titular do Instituto de Graduação Médica Carlos Chagas e com isso a licença de abrir um curso com o patrocínio daquela Instituição. Na sua nomeação, feita na Academia Nacional de Medicina estiveram presentes os professores Mostardeiro, Odon Cavalcanti e Darci Abuchaim.
Em 1985 foram selecionados os alunos para a primeira turma e em 1986 começou o curso. A parte prática era no Hospital Porto Alegre e as aulas teóricas em casa. Em 1987 começou a seleção para a segunda turma. Ainda em 1987, numa histórica reunião na casa do Dr. Mostardeiro, Gley, Gildo e Facundo juntaram-se ao grupo inicial e mais os alunos da primeira turma representados por Celso Halperin, concordaram em fundar o Centro de Estudos Psiquiátricos Mário Martins (26.09.1987). A primeira diretoria foi constituída com um Presidente, o Dr. Gley P. Costa, um secretário, o Dr. Gildo Katz e uma tesoureira, a Dra. Lucia Porto. Foram tempos heroicos, a casa na rua D. Laura 221 foi alugada, doações foram feitas para organizar um ambulatório que ficou a cargo do Dr. José R.P.Abreu. Segundo depoimento dos Drs. Abreu e Gley, 4 a 5 meses depois o ambulatório era autossuficiente. Para isso colaborou a vontade de ajudar de muitos ex-alunos do David que não se conformavam com a forma que ocorreu sua saída da Faculdade de Medicina. Havia uma corrente de colaboração e envolvimento afetivo que continua até os dias atuais. Todos concordam que a figura do Professor David era de um pai admirado, ninguém ouvia dele uma queixa, apenas trabalhava. Como bem disse o Dr. Facundo, um bom pai faz com que todos os filhos se considerem o predileto. O Centro de Estudos tornou-se uma Fundação e hoje atende cerca de 3.500 pacientes/mês. Tem 22 alunos cursistas e cinco residentes em psiquiatria. Lá se vão os tempos de penúria. Como as condições do ambulatório no Hospital eram muito acanhadas, a procura de um lugar para acomodar o curso foi intensa e amadorística. O professor David e Ainda sua esposa saiam a caminhar pelo bairro a procura de uma casa para alugar, com a casa da Dona Laura, suas buscas tiveram um final feliz. David e Odon foram os fiadores da nova casa e com doações a colocaram em funcionamento. Amigos, alunos, ex-alunos, professores, todos davam sua parcela de colaboração. Foram criados, de início seis salas, uma biblioteca que levou o nome de Moisés Roitman e um pequeno anfiteatro que recebeu o nome de Darci Abuchaim. Nos dias atuais a Fundação, como as demais fundações, é fiscalizada pelo Ministério Público, suas contas tem sido regularmente aprovadas, suas finanças estão em boa situação e planeja retomar a construção de uma nova sede. http://www.mariomartins.org.br/ Na página da Fundação encontramos um breve relato das suas atuais funções:
|