Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Abril de 2008 - Vol.13 - Nº 4 História da Psiquiatria ANIBAL SILVEIRA (1902- 1979) MD. Walmor J. Piccinini A Biografia de Anibal
Cipriano Silveira Santos poderia ser sintetizada com algumas palavras:
Paulista, Positivista, Psiquiatra, Pesquisador, Professor e Pai intelectual de
um grande número de jovens psiquiatras. Sua vida esteve na maior parte centrada
no seu trabalho no Hospital de Juqueri, no Departamento de Psiquiatria da APM.
na Sociedade Rorschach de São Paulo e no Instituto de Psicologia da USP. Algumas observações são
deduções de quem escreve, outras são dos seus pares, e muitas são do próprio
Anibal Silveira, contidas no seu Memorial e nas suas publicações. 0s rumos da psiquiatria, de
São Paulo, na primeira metade do Século XX, foi marcada por uma disputa pela
cátedra de psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP no ano de 1934. De um
lado o Dr. Durval B. Marcondes, pioneiro da psicanálise Homenagens a Anibal Silveira depois do seu
falecimento. Anibal Silveira morreu com 77
anos de idade, na cidade de São Paulo, vitimado por complicações
cardiovasculares. Registramos as homenagens pelo centenário do seu nascimento,
pelos dez anos e pelos 20 anos de sua morte. 1. HOMENAGEM
A ANÍBAL SILVEIRA NOS 10 ANOS DE SUA MORTE
Rubens de Campos Filho (http://www.usp.br/revistausp/04/rubensfilho.php).
Extraímos alguns trechos do artigo que pode ser lido na íntegra seguindo o
link. Teoria de personalidadePara Aníbal Silveira a teoria da personalidade, sistêmica, é a base em torno da qual se estrutura toda a ciência e toda a prática em saúde mental. A personalidade é composta de um conjunto de funções psíquicas reunidas em três esferas, que mantêm entre si relações próprias e hierarquizadas. Ligações de duas ou mais funções simples formam sistemas. No plano cerebral, tais esferas e sistemas psíquicos são correspondentes a regiões e sistemas cerebrais, por sua vez constituídos de dois ou mais órgãos interligados. Toda função, sistema e esfera psíquica correspondem, de igual forma, a um órgão, um sistema e uma região cerebral determinada. As funções mais básicas são as mais energéticas e independentes, o que permite uma hierarquia entre as esferas e os sistemas. As funções mais diferenciadas são mais dependentes, menos energéticas, e regem as mais básicas. O conjunto em sua totalidade funciona harmônica e continuamente e é responsável pela adaptação do organismo aos ambientes físicos e social (Ver Epilepsia e personalidade, Lúcia Coelho). Os órgãos correlatos às funções são duplos e distribuem-se em ambos os hemisférios cerebrais, possibilitando tanto a alternância funcional, quanto à suplência, em caso de lesão. As esferas que compõem a personalidade são três: afetividade, conação e inteligência. A afetividade, a mais básica, engloba dois grupos de funções: a individualidade e a sociabilidade. A conação trabalha com o estímulo, inibição e manutenção da ação e do trabalho intelectual. Já a esfera intelectual, mais dependente e menos energética que as anteriores, dirigem a captação dos estímulos, pelos órgãos sensoriais, sua elaboração e comunicação através da linguagem. E também regula a esfera conativa, orientando a ação no ambiente exterior, além de estabelecer conexão com a esfera afetiva, da qual recebe estímulo. O processo emocional é configurado pela circularidade "estímulo afetivo - repercussão intelectual" ("Psicologia fisiológica", Aníbal Silveira). 2. Homenagem a Aníbal Silveira 20 anos depois do seu falecimento. Arquivos de Neuro-Psiquiatria vol.57 n.4 São Paulo Dec. 1999. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1999000600027) Luiz Barreto de Souza Sua formação enciclopédica o impeliu a
construir, muitas vezes penosamente e solitário, como quando viveu com seus
familiares quase vinte anos nas instalações do Hospital de Juqueri, ou então
como quando ficou dois anos em Chicago, junto a McCulloch, Fulton, Von Bonin e
Alexander. Aliás, foi o primeiro brasileiro a aí estagiar e trabalhar,
produzindo notáveis trabalhos científicos na década de 40, publicados na mais
conceituada literatura americana e européia científica da época. Não há dúvida quanto ao caráter inovador de
sua obra. Ela foi apresentada em mais de 450 comunicações a congressos
científicos nacionais e internacionais. Escreveu: 60 trabalhos sobre higiene
mental, eugenia e genética humana; 38 sobre patologia cerebral e sistemas
cerebrais; 125 sobre psiquiatria clínica; 50 sobre psicologia e antropologia;
30 sobre fisiologia cerebral e eletroencefalografia; 115 sobre o
psicodiagnóstico de Rorschach; 10 sobre leucotomia cerebral; 20 sobre
organização hospitalar; mais de 200 textos de ensino da psiquiatria; suas duas
Teses, defendidas na Escola Paulista de Medicina e na Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo, nos tempos de A. C. Pacheco e Silva. Não é de estranhar que sua
fundamentação na epistemologia positivista postulou a anterioridade dos
componentes históricos e sociais da personalidade sobre aqueles estruturais e
biológicos, além de fixar a íntima solidariedade entre as expressões simbólicas
e emocionais do homem e as condições estruturais e dinâmicas do cérebro. A
fecundidade científica a partir de tais premissas, levou-o a exaustivas
pesquisas nos campos da psicopatologia e da patologia cerebral, indo muito além
dos discípulos de Kleist, na sua concepção organológica da psiquiatria, não
localizatória, no sentido organicista. Desde 1934 mostrou como era anacrônica
tal concepção, encarando tais "localizações" quanto a órgãos
cerebrais, não quanto a funções, e procurou sempre mostrá-los como integrando
sistemas funcionais cujo dinamismo é paralelo ao das funções psíquicas. Foi
muito mais reconhecido no Exterior do que no Brasil, como vários de nossos
cientistas, tendo sido citado e apreciado pelo que de mais significativo e
sério a ciência ocidental produziu. Para seus fundamentos, o Dr.
Anibal Silveira se apoiou na obra de Augusto Comte, quando fundou a Moral como
Ciência da natureza humana. NOTA EDITORIAL nos Arquivos
de Neuro-Psiquiatria: Quando o Professor Anibal Silveira faleceu, este
periódico publicou um apanhado sobre sua vida e suas contribuições científicas
(Arq Neuropsiquiatr. 1979; 37: 454-457). Decorridos vinte anos de sua morte,
suas contribuições permanecem atuais. Plenamente endossando a opinião de seus
discípulos, expressa pelo colega Luiz Barreto de Souza, em homenagem
republicamos neste número (pg. 1046) uma de suas contribuições mais preciosas,
e por ele mesmo revista em dezembro de 1974 (Silveira A. Cerebral System in the
pathogenesis of endogenous psychoses. Arq Neuropsiquiatr 1962; 20: 263-278). 3. Centenário
de Nascimento de Aníbal Silveira.
Artigo do Dr. Guido Palomba, publicado no suplemento cultural do Jornal da
Associação Paulista de Medicina. http://www.psiquiatriageral.com.br/saudecultura/anibal.htm.
Há cem anos, mais precisamente, em 17 de março de
1902, nascia “Magro, baixo, óculos de lentes grossas,
muito simpático, tomava o trenzinho, na Estação da Luz, para Juqueri, todas as
manhãs, sempre no terceiro vagão, a contar de trás para frente. Os recém
formados procuravam sentar perto do grande mestre, para beber a sua sabedoria...
e as discussões acadêmicas, de tão acirradas, quase faziam com que perdêssemos
a Estação Franco da Rocha, rumo ao "santuário" da Psiquiatria
nacional, com seus treze mil internados!” Quem conviveu com Anibal Silveira pôde sentir
a força de sua grandeza, da complexidade de sua sabedoria, da simplicidade
estóica de sua maneira de ser e da sua afeição pelos familiares, amigos, alunos
e pacientes. Morreu aos 16 de agosto de 1979, de ataque cardíaco, deixando
vasta obra para nós e para gerações que hão de vir. 4. Homenagem da
Sociedade Rorschach de São Paulo (Fundada por Aníbal Silveira em 24 de julho de
1952). (http://www.rorschach.com.br/anibal.htm). “Em 1964 apresentou sua contribuição definitiva
do Psicodiagnóstico, com sua magistral tese de livre docência, defendida na
Faculdade Paulista de Medicina". A publicação de sua tese, em 1ª edição,
foi rapidamente esgotada, uma nova edição ampliada foi publicada em 1985 As
inovações teóricas relacionadas aos dados empíricos introduzidos neste trabalho
e a sua extensa gama de aplicações abrangem aos diversos campos de estudo do
comportamento humano normal e patológico. Na década de 70, após organizar diversos
serviços de psiquiatria no interior do Estado de São Paulo (Botucatu, Itapira,
Campinas, Jundiaí), Anibal Silveira retoma o ensino no Hospital do Juqueri,
vinculando-o à Faculdade de Medicina de Jundiaí. Poucos meses antes de sua
morte Anibal Silveira dedica-se mais intensamente à revisão e ampliação do
texto de sua livre docência, mas apenas seis anos após sua morte foi publicada.
Faleceu em 16 de agosto de 1979. 5. Psiquiatria Geral: (http://www.psiquiatriageral.com.br/saudecultura/anibal.htm),
site organizado pelo Dr, Paulo Fernando M. Nicolau, além de várias aulas do
Professor Aníbal Silveira, publica o texto de Guido Palomba de 2002, quando era
coordenador cultural da Associação Paulista de Medicina, onde Aníbal Silveira é
homenageado pela data relativa ao seu centenário de nascimento. 6. Entrevista do Dr. Ryad Simon:
(http://www.psicologianocotidiano.com.br/entrevista/entrevista2.php) Anibal Cipriano da Silveira
Santos nasceu 7. Subsídios
para a História da Psicologia no Brasil.
Arrigo Leonardo
Angelini (http://www.bvs-psi.org.br/ArrigoAngelini.pdf) Academia Paulista de Psicologia. Na USP, aquele curso de três anos de duração, que formava o chamado
Bacharel – em Psicologia na então FFCL, adaptando-se à nova Lei, passou a
formar o Psicólogo, em Cinco anos, com a inclusão de novas disciplinas de
caráter profissional. Foram então contratados novos professores, principalmente
nas áreas da psicologia clínica, da psicologia experimental, e novos ambientes
de trabalho, inclusive biotérios e laboratórios, foram instalados. Para a área
da clínica foram admitidos os psiquiatras Cícero Cristiano de Souza, na
disciplina de Psicopatologia, Durval Bellegarde Marcondes para Psicanálise e
Aníbal Cipriano Silveira, especialista no Teste de Rorschach. Cícero Cristiano
de Souza viria a, ocupar nesta Academia a Cadeira nº. 3; Durval Marcondes
ocupou a Cad. Nº.1 e Aníbal Silveira foi escolhido Patrono da Cad. Nº. 14. 8. Sobre Instinto - Análise de Teorias Contemporâneas Baseadas na Concepção
de Aníbal Silveira Data: 10/10/84 Autor: Ruy Benedicto Mendes
Filho Orientadora: Profa. Dra.
Lúcia Maria Sálvia Coelho 9. (http://www.funjor.org.br/msg/anibal_silveira.htm)
Nesse site encontramos um bilhete de Aníbal Silveira onde podemos observar uma
letra bonita e uma maneira afetuosa de se expressar. Dados Biográficos A vida de Anibal Cipriano da
Silveira Santos foi uma permanente busca por conhecimento através de
autodidatismo. Seu pai foi Sr. Joaquim da Silveira Santos e sua mãe, D. Amélia
da Silveira Santos. Seu pai foi um dos fundadores do Centro Positivista de São
Paulo em 1924 e era um ativo divulgador das idéias do filósofo Auguste Compte.
Anibal nasceu na cidade de São Roque, São Paulo, no dia 17 de março de
1902. Começou a estudar na cidade natal
e depois se mudou para Piracicaba onde cursou a Escola Normal Oficial, de No final do Curso de
Medicina, em 1930, ingressou com interno acadêmico do Hospital de Juqueri. Em
março de 1931 foi nomeado médico anatomopatologista em tempo integral, em
substituição ao titular do cargo. Essa melhora na situação econômica permitiu
que se casasse em 17 de março de 1932. Sua esposa, Thais Pinto era de Piracicaba
e naquela cidade aconteceu o casamento. Tiveram três filhos, Hume Anibal,
Marina Amélia e Cid Vinio. Trabalhou como
anatomopatologista do Hospital de Juqueri até o retorno do titular da anatomia
patológica, depois passou a exercer o cargo de alienista. A partir de 1932
trabalhou sempre como psiquiatra na Assistência aos Psicopatas os nomes é que
variaram; médico alienista em 1933; médico interno-residente em tempo integral,
em 1935; em 1938, médico psiquiatra em tempo parcial. Foi responsável por vários
pavilhões do Hospital de Juqueri até dar um grande salto em sua vida, no
período de outubro de 1941 até 4 de março de 1943 foi para os Estados Unidos
com uma bolsa de estudo da Fundação Guggeheim. Antes da viagem aos EUA, ainda
em 1941, obteve o título de Docente Livre da Cadeira de Clínica Psiquiátrica da
Faculdade de Medicina de São Paulo. Defendeu a Tese “O Método de Meduna Durante o Curso de Medicina
(1925-1931), Anibal Silveira publicou vários trabalhos sobre Higiene Mental,
Eugenia e um livro sobre Educação Física. No período de 1.
Psicologia e
Provas Psicológicas (152 páginas) 2.
Higiene mental e
Genética Humana (164 páginas) 3.
Esquizofrenia
(168 páginas) 4.
Psiquiatria
Clínica Geral (170 páginas) 5.
Fisiologia
Cerebral (172 páginas) 6.
Psiquiatria e
dinamismos psicopatológicos (180 páginas). Durante sua vida deu muitos
Cursos para Especialistas, 37 ao todo. Além desses dava aulas regulares no
Instituto de Psicologia. No seu memorial refere 435
publicações, mas na verdade foram bem menos, pois o Professor Anibal colocou
como publicações, material de aula. Publicações chegam a 53 artigos. Seus
trabalhos foram publicados em 23 revistas, sendo 15 nacionais, 8 estrangeiras.
Isso o torna o autor brasileiro que mais publicou no exterior em sua época. Foi
citado em 38 livros, 21 publicados no exterior (um em português, três em
alemão, nove em espanhol, um em francês e sete em inglês). Entre suas aulas encontramos
palestras sobre positivismo. Na verdade, nada melhor que o próprio Compte para
nos dizer o que é positivismo: “Em um dos seus mais famosos escritos, conhecido
como Opúsculo Fundamental, August Compte definiu sua lei dos “três estados”.
“Pela própria natureza do espírito humano, cada ramo de nossos conhecimentos
está necessariamente sujeito, em sua marcha, a passar sucessivamente por três
estados teóricos diferentes: o estado teológico ou fictício, o metafísico ou
abstrato, e, em fim, o científico positivo (Compte, 1822, p.82) (citado por
Almeida, F.Rev. Latino Amer. Psicopat. Fund. 2008)". Anibal Silveira e o
Positivismo A palavra positivismo tem
aparecido na literatura psiquiátrica e psicológica como se fosse um termo
pejorativo. Psiquiatria positivista
aparece freqüentemente com teor acusatório às práticas da neurociência, do uso
de métodos quantitativos, da Psiquiatria baseada em evidências e outras formas
da Psiquiatria Médica e científica. Aparentemente, o termo positivismo, é
utilizado como forma de desmerecer métodos mais científicos da prática
psiquiátrica moderna. Fica sempre a acusação de que, quanto mais positivista,
menos humanista se tornaria a psiquiatria. Sendo assim, julgo por bem
esclarecer que o positivismo de Anibal Silveira se refere a sua condição de
seguidor das idéias de Augusto Compte (1788 – 1857). Não pretendemos examinar em profundidade a filosofia positivista, para
quem estiver interessado sugiro a leitura da Enciclopédia Simpósio ( http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/novo/2216y840.htm)
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA (Versão
em Português do original em Esperanto) © Copyright 1997 Evaldo Pauli).
“Auguste Comte (1798-1857). Filósofo francês, nascido Resumindo ainda
mais, podemos observar que Compte teve
uma vida pessoal atribulada, problemas familiares, casamento infeliz,
internamento psiquiátrico com Esquirol, tentativa de suicídio e por fim a
realização das suas principais obras. O Positivismo iniciou-se na França, em 1830
quando Auguste Compte inaugurou seu Curso de Filosofia Positiva. Na segunda parte do século o
estágio de crescimento do positivismo já se encontra apreciável, e até com duas
alas, a ortodoxa, com Pierre
Lafitte (1828-1881), a dissidente,
com Emilio Littré (1801-1881), Hipólito Taine (1828-1893), Emílio Durkheim
(1858-1917), sociólogo e filósofo da educação. Afim a este movimento se
encontra o materialismo, geralmente monista; cita-se, na França, entre outros
Le Dantec. O Positivismo se espalhou
pelo mundo, França, Alemanha e chegou ao Brasil através de professores do
Colégio Militar. No Brasil o positivismo teve ampla
aceitação, quer nas escolas de direito, quer nos círculos militares em virtude
da matemática, quer ainda no movimento republicano. Teve também seus materialistas
e evolucionistas. Em Recife notaram-se primeiramente Tobias Barreto (1839-1889)
e Silvio Romero (1859-1914), depois emigrados para outros centros. No Rio de
Janeiro o republicano Benjamim Constant (1837-1891) fundava em A História destaca a grande influência dos positivistas na
proclamação da República. Se para muitos foi surpresa, para os positivistas ela
estava sendo articulada e quando foi estabelecida, as
primeiras leis já estavam elaboradas como nos conta a Dra. Elisabete da Costa
Leal no seu artigo O Calendário Republicano e a Festa Cívica do
Descobrimento do Brasil em 1890: versões de história e militância positivista (HISTÓRIA,
SÃO PAULO, v. 25, n. 69 2, p. 64-93, 2006). A
Religião da Humanidade criada por Comte era uma religião da História e um culto
aos mortos, no sentido memorial. Era composta por um culto privado e um culto
público. O primeiro ocorria no espaço doméstico e era voltado para a lembrança
dos familiares mortos, estimulando diariamente a rememoração da história dos
antepassados e sua transmissão. O culto público ou coletivo ocorria nos templos
positivistas, era destinado a celebrar a Humanidade e seu passado e dirigido
pelos sacerdotes (filósofos). Os positivistas também estimulavam as atividades
cívicas, fora dos templos. Os
positivistas davam especial atenção a atividade
física, a ginástica isso explica o livro sobre Educação Física escrito por
Anibal Silveira em 1929. O texto aborda como os membros da Igreja Positivista do Brasil –
IPB –, e alguns políticos aliados, se envolveram na proposição do Decreto 155-B
de 14 de janeiro de 1890, que estabeleceu o calendário republicano de feriados
oficiais, e como se empenharam para consolidá-lo na cultura política da
Primeira República. O Positivismo
continha no seu arcabouço de idéias, três diretrizes, a científica (Spencer,
Darwin), a psicológica (Taine, Stuart Mill, W. Wundt) e a sociológica (Émile
Durkheim). Os
três princípios básicos do positivismo de Comte Prioridade do todo sobre as partes: significa que
para compreender e explicar um fenômeno social particular,
devemos analisá-lo no contexto global a que pertence. Considerava que
tanto a Sociologia Estática (estudo da ordem das sociedades em determinado
momento histórico) quanto a Sociologia Dinâmica (estudo da evolução das
sociedades no tempo) deveriam analisar a sociedade, de uma determinada época,
correlacionando-a a sua História e à História da Humanidade (a Sociologia de
Comte é, na realidade, Sociologia Comparada, tendo como quadro de referência a
História Universal); O progresso dos conhecimentos é característico da
sociedade humana: a sucessão das gerações, com seus conhecimentos, permite uma acumulação de experiências e de saber que
constitui um patrimônio espiritual objetivo e liga as gerações entre si; existe
uma coerência entre o estágio dos conhecimentos e a organização social; O homem é o mesmo por toda à parte e em todos os
tempos: em virtude de possuir idêntica constituição biológica e sistema
cerebral. A
“Lei dos Três Estados” de Augusto Comte Estado teológico ou fictício, em que se explicam os
diversos fenômenos através de causas primeiras, em geral personificadas nos
deuses. O Estado Teológico subdivide-se em: 1. Fetichismo, em que o homem confere
vida, ação e poder sobrenaturais a seres inanimados e a animais; 2. Politeísmo, quando atribui a
diversas potências sobrenaturais ou deuses certos traços da natureza humana
(motivação, vício e virtudes etc.); 3. Monoteísmo, quando se desenvolve a
crença num deus único. Estado metafísico ou abstrato: as causas primeiras
são substituídas por causas mais gerais – as entidades metafísicas –, buscando
nestas entidades abstratas (idéias) explicações sobre a natureza das coisas e a
causa dos acontecimentos; Estado positivo ou científico: o homem tenta
compreender as relações entre as coisas e os acontecimentos através da
observação científica e do raciocínio, formulando leis; portanto, não mais
procura conhecer a natureza íntima das coisas e as causas absolutas. A reforma da sociedade proposta por Comte deveria obedecer aos seguintes passos: 1) reorganização intelectual, depois 2) moral e, por fim, 3) política. A Doutora Lúcia Coelho, destaca no trabalho Psicologia
Fisiológica de Silveira, os seguintes pontos: 1. No domínio cerebral, como nos
demais setores do organismo, existe íntima correlação entre o plano funcional e
o plano estrutural: no caso, organização neuropsíquica e organização anatômica
do cérebro. Quatro artigos de Silveira
contém suas idéias de forma didática: Psicologia Fisiológica, Cerebral Systems
in the Pathogenesis of Endogenous Psychoses, Genetics of Psychosis e Human
Genetics as na approach to the Classification of
Mental Disorders. Para situarmos o trabalho de Silveira, resolvemos
fazer um resumo histórico do que se estuda A idéia de que a doença mental pudesse ser herdada tornou-se a evidência física mais clara da natureza biológica da doença mental. Desde a enunciação das leis de Mendel, tratou-se de estabelecer uma linha direta entre o louco e sua descendência. Em 1857, Benedict Augustin Morel chega a conclusões drásticas e apresenta a Teoria da Degeneração na Psiquiatria. As doenças mentais eram atribuídas a corrupção do patrimônio genético, através de sucessivas gerações. A semente degenerada era transmitida de uma geração para outra. Essa teoria pode ser comparada a doutrina moderna da “antecipação genética” onde um transtorno cresce nas gerações sucessivas como por exemplo na doença do X-Frágil, na doença de Huntington e outras. Morel escreveu em 1857: “O ser humano degenerado, se for abandonado ao seu bel prazer, cai numa degeneração progressiva. Eles se tornam um obstáculo na cadeia de transmissão do progresso na sociedade humana e se torna o maior obstáculo para esse progresso através do contato com a população sadia”. Esse tipo de idéia, somada as idéias eugênicas propostas por Dalton, levaram a políticas de esterilização de deficientes mentais e dos “feeble minded”. Sobre esse assunto escrevemos no Psiquiatria On line em 2001 o artigo Eugenia e Higiene Mental (http://www.polbr.med.br/ano01/wal0901.php). Francis Galton (1822-1911), sobrinho de Darwin, publica em 1869 seu livro “Gênio Hereditário: Um inquérito entre suas leis e conseqüências”, Onde desenvolve a idéia da importância da descendência ou da
história familiar para estudar a herança genética. Introduz a idéia do controle
genético em favor da raça humana. Criou o termo eugenia. Tornou-se Cavaleiro da
Inglaterra em 1909. Sir Francis galton. Deixou parte da sua fortuna para a City
University of London onde foi criada em Galton é o responsável pela noção que certos traços tem um forte componente genético, mas não pode ser a ele atribuída a idéia da esterilização, que mais tarde, tornou-se uma marca da eugenia. Os eugênicos brasileiros, por mais que estivessem influenciados pelas idéias americanos e alemães, não conseguiram aprovar leis de esterilização. O próprio Renato Kehl que é apontado como líder do movimento eugênico brasileiro afirmava que jamais uma lei dessas passaria no Congresso Brasileiro. Estudos genéticos em Psiquiatria
Hans Luxemburger (1894-1976) publica em 1928 o primeiro estudo com gêmeos. De 211 pares de gêmeos, internados por esquizofrenia, constatou que 64% dos gêmeos monozigóticos tinham esquizofrenia enquanto no grupo de gêmeos controles, nenhum apresentou a doença. Aaron Rosanof (1878-1943), em 1932 publicou um estudo com128 gêmeos em que um deles tinha sido hospitalizado. Nos monozigóticos (41 pares) chegou a 86% de concordância. Nos dizigóticos 34 % dos gêmeos apresentaram a doença. Franz Kahlmann (1857-1965), publicou no american Journal of Psychiatry em 1946, de 691 famílias com gêmeos, 86% dos pares monozigóticos tinham esquizofrenia e só 15% dos dizigóticos apresentavam a doença. Esse trabalho foi apresentado no Congresso Mundial de Psiquiatria de 1950, em Zurique na Suíça e causou grande impacto, para não dizer, consternação nos que defendia a origem psicogência da doença mental. Em relação a essa apresentação, Anibal Silveira, escreveu o artigo “Genetics of Psychoses” que foi publicado no Eugenic News e que comentaremos mais adiante. Eliot Slater publicou em 1953 seu livro “Psychotic and Neurotic Illnesses in Twins” aonde a concordância da doença esquizofrênica chegava a 75% nos gêmeos monozigóticos e a 11% nos dizigóticos. Slater concluiu: “Esses fatos sugerem que causas genéticas determinam uma potencialidade para a esquizofrenia, talvez de forma essencial, embora os fatores ambientais tenham um papel substancial”. Irving Gottesman, no seu livro Schizophrenia gênesis (1991) coloca os seguintes dados: monozigóticos (50%); dizigóticos (20%), sobrinho(a)s: 5%. População geral menos de 1%. Leonard Heston em 1966 publica no British Journal of Psychiatry artigo em que pesquisa gêmeos criados em ambientes diferentes, adotados por diferentes famílias, mas com mãe esquizofrênica. 5 de 47 crianças de mãe esquizofrênica criada em famílias normais, apresentaram esquizofrenia contra nenhuma no grupo controle. Conclui: Os resultados desse estudo reforçam a idéia de uma etiologia genética para a Esquizofrenia.
Estudo do NIMH (Seymour Ketty, David Rosenthal e Paul
Wender) na
Dinamarca (Fini Schulsinger). Publicaram um estudo de seguimento de 5.483
adoções durante a vida, de
A pesquisa em genética das doenças mentais está no seu início. Alguns resultados são objetos de manchete na imprensa. Há uma fantasia de se localizar um fator determinante da doença e o respectivo tratamento, isso é pouco provável, pois se discute que a esquizofrenia, por exemplo, não seria uma doença e sim um caminho final de várias doenças. Assim, como afirma Edward Shorter (Historical Dictionary of Psychiatry) de onde extrai boa parte das informações, “o gene da esquizofrenia” provavelmente não existe e que a influência genética afeta fundamentalmente o processamento da informação no cérebro. (p.228-232). Aníbal Silveira em seus artigos sobre Classificação com uma aproximação genética apresenta as seguintes conclusões: “Dispondo as diferentes formas de doença mental de acordo com os fatores heredológicos subjacentes, obtém-se uma verdadeira ”série natural”. A classificação que procuramos estabelecer combina os critérios eugênicos e dinâmico principalmente e consta de 24 quadros clínicos distintos, reunidos em cinco grupos fundamentais: 1 – Psicoses de origem infecciosa predominante (4 rubricas); 2 – Psicoses de origem tóxica predominante ( 2 rubricas); 3. Psicoses endógenas constitucionais (7 rubricas); 4. Lesões focais e abiotróficas do cérebro (4 rubricas); 5. Quadros deficitários por lesões focais ou abiotróficas do cérebro (4 rubricas). Entre as condições clínicas do grupo 4 encontram-se as psicoses marginais “degenerativas”de Kleist, cuja freqüência na psiquiatria cotidiana lhes assegura lugar individualizado na classificação. No artigo sobre Human Genetics, Silveira faz reparos ao trabalho de Kahllmann apresentado no Congresso Internacional de Paris em 1950 propondo a colocação das Psicoses atípicas endógenas de Kleist como uma verdadeira psicose endógena. No seu trabalho sobre Sistemas Cerebrais, Silveira afirma que o psiquiatra não conseguirá se desenvolver sem seguir uma teoria da personalidade. Ele refere que a teoria psicanalítica que é seguida pela maioria, no mundo ocidental pode explicar os mecanismos das neuroses ou similares, mas não se aplica às psicoses. Outras teorias recentes, também deixam de abarcar as psicoses. E ai apresenta sua teoria de base positivista: “Se nós desejarmos uma teoria que possa abranger todas as condições mentais e correlaciona-las com a fisiologia cerebral e patologia, nós temos que retroceder até 1850. Tal teoria foi fundada por um dos mais brilhantes pensadores de todos os tempos, o filósofo francês Auguste Compte, que a expôs em 1851. Mais tarde ela foi magistralmente elaborada pelo filósofo e médico Georges Audiffrent em dois grossos volumes, “Do Cérebro a Inervação”, 1869 e “Doenças do Cérebro, em 1874. Sem entrar em maiores detalhes, é suficiente dizer que foi baseada na sociologia do homem, na anatomia comparada do sistema nervoso, nas leis da biologia, especialmente a fisiologia, e comprovada através da conduta animal e pela anatomia patológica do cérebro”. Essa doutrina descreve minuciosamente, pela primeira vez em Como vemos por sua obra, Silveira sempre se manteve fiel as idéias do pai positivista, abraçou apaixonadamente as idéias de Compte e produziu uma obra singular no meio psiquiátrico e psicológico brasileiro. Lutou bravamente no terreno das idéias, pode ser questionado, mas foi um homem do seu tempo e deixou marcas positivas da sua atuação. Bibliografia de Aníbal Silveira registradas no Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria. Bibliografia de Aníbal Silveira no IBBP 1. Silveira, Anibal. Acepção de Semiologia no domínio das doenças
mentais. Arq. Neuro Psiquiatria. 1950; 15:5-21. 2. Silveira, Anibal. "Alterações não metaluéticas do líquido
cefalorraquidiano em doentes mentais".
In Brasil Médico. 1939; 53 (15, 16, 17). 3. Silveira, Anibal. Aplicação da genética humana à higiene mental. Rev.Latino-Americana
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Assist.A Psicopatas Do Estado De São Paulo. 1938; 3(1-2): 32-52. Nota. Registramos no Índice Bibliográfico Brasileiro de Psiquiatria 53
artigos publicados. O Professor relaciona no se memorial 425 artigos. A grande
diferença de número de artigos se deve ao fato dele registrar conferências,
aulas de cursos, e participação em congressos, como material publicado.
Infelizmente não se usa esse critério. Cumpre destacar que o professor Anibal
Silveira era assíduo participante de Congressos psiquiátricos na América
Latina, nos EUA e na Europa.
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