Volume 9 - 2004
Editor: Giovanni Torello

 

Março de 2004 - Vol.9 - Nº 3

France - Psy

Atualidades

Eliezer de Hollanda Cordeiro

Sumário:

  1. Modernidade da obra de José Otávio de Freitas
  2. Um modelo animal dos distúrbios esquizofrênicos
  3. O suicídio no mundo: dados epidemiológicos
  4. Calendário científico
  5. Seleção de sites

 

    1. MODERNIDADE DA OBRA DE JOSÈ OTÁVIO DE FREITAS

RESUMO: Psiquiatra, escritor, intelectual engajado, José Otávio de Freitas foi também o autor de uma obra científica e literária importante . Com efeito, suas publicações abrangem vários domínios do saber: psicologia, psiquiatria, psicanálise, psicometria, sociologia...Contudo, de sua obra eclética podemos destacar dois aspectos marcantes :a defesa e ilustração de uma semiologia psiquiátrica baseada no modelo médico; e o emprego sistemático dos testes mentais no estudo do comportamento humano.

Suas idéias, elaboradas no início da segunda metade do século passado, traduzem diversas influências formadoras inscrevendo-se na grande História da psiquiatria..

Introducão

Se a semiologia é a ciência geral dos sígnos e a semiologia médica estuda os sígnos das doenças, a semiologia psiquiátrica é o primeiro tempo do exame clínico, cujo objetivo consiste em notar os sintomas( isolados ou reunidos em síndromes) que vão permitir o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento de uma doença mental.

A psicometria, como sabemos também, registra e mede os fenômenos psíquicos por meio de métodos experimentais padronizados, os testes mentais.

Nesses domínios, José Otávio de Freitas Júnior foi um dos autores brasileiros mais prolíferos , como podemos constatar no artigo de Othon Bastos:“José Otávio de Freitas Júnior: uma apresentação aos jovens psiquiatras”(1).Com efeito, a bibliografia que o autor reuniu mostra que José Otávio de Freitas abordou temas variados, especialmente questões concernando a semiologia e a psicometria, onipresentes também em suas conferências, atividades universitárias e pesquisas. São esses aspectos de sua obra que trataremos neste artigo.

Note-se, entretanto, que certas publicações de José Otávio de Freitas sobre assuntos de relevância indiscutível (sociologia, marxismo, estudos biográficos ...) não devem ser negligenciadas por quem pretenda estudar totalidade da obra deste eminente psiquiatra pernambucano.

Semiologia psiquiàtrica e modelo médico

A psiquiatria como uma especialidade da medicina, a semiologia psiquiátrica como um aspecto particular da semiologia médica, estas duas convicções erigidas em princípios vão guiar José Otávio de Freitas ao longo de sua obra.

Podemos mesmo dizer que seus trabalhos procuram responder e ilustrar essas idéias fundamentais ,cuja finalidade consiste em objetivar a clínica psiquiátrica, encontrar-lhe os elementos típicos, demonstráveis, afim des responder às exigências do conhecimento científico.

Assim, em seu artigo « Eléments basiques de sémiologie psychiatrique »(7), ele diz que "A semiologia psiquiátrica não deve ser distinta da semiologia médica [...] nem pelo seu método nem pelo seu objeto”. Ao contrário, “ela deve ser considerada como parte de um mesmo conjunto de conhecimentos, para não se distanciar da realidade”.

Concordância dos tempos, comunidade de interesses:a reflexão sobre a semiologia psiquiátrica marcou também a obra do psiquiatra francês, George Daumézon(5), um dos pioneiros da política do setor psiquiátrico em seu país. Contemporâneo de José Otávio, ele definia a psiquiatria como “uma disciplina cuja estrutura é determinada pelo modelo científico do saber médico , no qual a semiologia constitue um tempo necessário, prealável à construção deste modelo e à concepção de uma ação terapêutica”.

Muitíssimo lúcido e visionário, G. Daumézon notou, na década de 1970, as ameaças que pesavam sobre a psiquiatria, deplorando o discrédito da semiologia e proclamando a necessidade de seu aprendizado. E, mesmo se a semiologia não representasse a base de todo o conhecimento psiquiátrico, sua existência era necessária à garantia da realidade deste saber”. (6).

Psicometria e psicologia experimental

As referências de José Otávio de Freitas à psicologia aplicada aos testes mentais são numerosas,demonstrando um interesse bem compreensível se levarmos em conta que a psicometria parecia-lhe uma disciplina cujos métodos eram capazes de dar rigor, objetividade e garantia científica à semiologia psiquiátrica.

Entre os testes utilizados por JOF podemos citar a análise fatorial,o dezenho da figura humana,certas provas psicomotoras e a biotipometria(1). Essa utilização abrangia a clínica psiquiátrica em geral, o diagnóstico de entidades nosológicas especiais como as esquizofrenias e as depressões, sem esquecermos suas aplicações na seleção psicológica de certas categorias profissionais.

Como sabemos, foi graças sobretudo a Wilhem Wundt(1832-1920) que a psicologia adquiriu seu estatuto de disciplina científica e autônoma no fim do século XIX (4).

De fato, a importância de seus trabalhos e publicações, sua idéia de criar o primeiro laboratório de psicologia experimental no mundo, em Leipzig, (1879),graças também aos alunos estrangeiros que vieram estudar com Wundt, outros laboratórios semelhantes ao do sábio alemão foram construidos na Alemanha , na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Deles iriam surgir as primeiras escalas psicométricas que demonstrariam a utilidade da nova psicologia experimental e responderiam às demandas provenientes das forças armadas, das escolas, dos centros de saúde e da indústria(4).

A aplicação dos testes mentais à clínica psiquiátrica iria se desenvolver no mundo inteiro, e, “desde 1925, diz Othon Bastos(1),seria fundado em Recife, o primeiro instituto de psicologia no Brasil...[onde] a utilização frequente de técnicas psicológicas em problemas de psicopatologia clínica tornou-se tão usual naquela época que ela converteu-se mesmo em uma das características da Escola Psiquiátrica do Recife”.

Foi neste contexto que José Otávio de Freitas tornou-se um ilustre representante dessa corrente que utilizava provas, questionários e testes à procura da objetividade semiológica. Ele empregou constantemente a psicometria como parte do exame clínico e no estudo do comportamento humano. Donde o combate que travou para que a psicometria entrasse no repertório diagnóstico dos psiquiatras brasileiros, levando-se em conta sua utilidade para a distinção entre “normalidade” e “alienação”.

Emil Kraepelin: uma influência decisiva

Como quase todos os psiquiatras de sua época, o itinerário científico de José Otávio de Freitas foi marcado pela obra imensa de Emil Kraepelin(1856-1926), de quem adotou bom número de conceitos: negativismo, oposição, indiferença, cronicidade, malignidade e até a metodologia clínica que Kraepelin utilizava afim de diferenciar as categorias especificas da alienação mental.

Sobre o conceito de malignidade,por exemplo, José Otávio de Freitas retomou a idéia de Kraepelin, escrevendo que “a categoria nosológica da esquizofrenia só adquire seu valor prático a partir do momento em que ela se refere a um complexo de sintomas e a un prognóstico de malignidade(...),este constituindo a chave do diagnóstico da esquizofrenia”(9).

Da mesma maneira, JOF adotou as posições de Kraepelin sobre a importância da evolução e do prognóstico na esquizofrenia, cuja sintomatologia não devia ser confundida com a dos dementes e deteriorados orgânicos: “Em lugar de uma extinção, a esquizofrenia sugere uma desorganisação(...) Este distúrbio caótico, ao mesmo tempo profundo e irreversível ,é um elemento de importância capital no diagnóstico clínico”(7).

José Otávio De Freitas e a psicanálise

José Otávio viveu numa época onde a psicanálise já havia atingido o seu apogeu e influenciado a psicopatologia. Assim, ele incorporou certos conceitos freudianos,como por exemplo os mecanismos de defesa do ego, mas de um modo criticável (11).

Em sua busca de uma base semiológica objetiva, José Otávio foi levado a combater o subjetivismo, afirmando que “Os problemas nosológicos em psiquiatria resultam, em suma, do subjetivismo de uma semiologia que não permite o estabelecimento de conceitos precisos e homogêneos sobre os quais pudesse fundar-se uma classificação das doenças”(8). Ele visava essencialmente a semiologia psicanalítica, “cuja atitude irracional nega a apreensão do objeto do conhecimento pelos métodos sistematizados, substituídos pela intuição, pelo sentimento do precoce, pelo encontro existencial, por mecanismos inconscientes”(8).

Aliás, a recusa do subjetivismo por José Otàvio manifesta-se as vezes de modo radical, se traduzindo por uma condenação englobando a psicanálise, psicodinamistas, fenomenólogos e biotipólogos.(9)

Ele escreveu ainda que “Uma das grandes tentativas para sobrepujar o subjetivismo consiste na utilização de testes mentais, cujos resultados serão submetidos à análise fatorial” (8).

Notemos , contudo, que em outros trabalhos, José Otàvio pareceu relativisar a importância dos testes psicológicos em clínica psiquiátrica.Ou melhor, ele chamou a atenção para o fato de que os testes não poderiam substituir o exame clínico do paciente,donde sua denúncia“da esperança ingênua de encontrar-se , com a ajuda de testes, algo de fundamentalmente novo em semiologia psicopatológica”. Os testes, para ele, poderiam comportar “ aproximações, exageros dos fenômenos examinados, donde a perda de uma perspectiva da totalidade”(9).

Uma obra inacabada...

Desta obra erudita, difícil e ao mesmo tempo estimulante que nos legou José Otávio de Freitas, podemos reconhecer aspectos teóricos-clínicos bastante sólidos, críticas pertinentes do subjetivismo psicológico redutor e uma coerência fundada a partir de conceitos elaborados por grandes autores clássicos da psiquiatria.

Ao mesmo tempo, sua defesa de um objetivismo radical é criticável na medida em que ela parece refletir igualmente uma visão reducionista dos fenômenos psíquicos.

Entre suas posições teóricas discutíveis podemos citar a maneira imprecisa com que ele empregou certas noções psicanalíticas. Poderiamos até falar de contradição quando José Otávio reservou um lugar importante aos mecanismos de defesa do ego em seu artigo: “Eléments basiques de sémiologie”.Ora, ele recusava o inconsciente, a noção de conflito psíquico, o determinismo freudiano,donde sua dificuldade em reconhecer o valor e a pertinência dos mecanismos de defesa à luz da exposição sistematizada de Freud. O resultado foi uma redução da teoria freudiana, como aliás fizeram vários outros psiquiatras brasileiros (11).

A propósito de sua prática terapêutica, notemos que a maneira como José Otávio definia a relação médico-paciente era também bastante discutível: ele afirmava que o psiquiatra deveria comportar-se como um observador neutro e não engajado. Esta posição de princípio levou-o a se desinteressar pelo estudo da transferência, da sua significação e importância na relação-médico-paciente, como se o psiquiatra não fosse um protagonista essencial neste encontro singular.

Sobre este assunto, J.P. Valabrega escreveu: “As intenções do médico são de grande importância na estruturação da relação com o doente. Assim, é a preocupação pela objetividade que conduz um psiquiatra a centrar seu estudo sobre as provas intelectuais em desfavor de uma análise dos processos afetivos. Porém, esta perspectiva consistindo em procurar a objetividade é invariavelmente marcada pela intenção mesma do médico, isto é um sistema subjetivo”(16).

Assim, tudo se passa como se José Otávio de Freitas quizesse “buscar no diagnóstico uma objetivação mecanizada da entrevista”, como disse José Lucena a propósito dos reducionismos que ameaçam a existência da psiquiatria , em seu artigo “Os limites da atuação do psiquiatra”(14).

Estas opções conceituais de José Otávio de Freitas são recusadas por G. Benoît e G. Daumézon, Henri Ey e José Lucena.

G. Benoit e G. Daumézon escreveram: “A partir de Freud, de Janet e de Bleuler,sobretudo da fenomenologia, o observador adota uma outra atitude: a de um médico que vai descrever seu encontro com um paciente, cujo resultado constituirá a matéria essencial de sua observação”(5).

Henri Ey ,a propósito da oposição entre subjetivismo e objetivismo,notou que “A unidade e a integração do subjetivo e do objetivo, do ego e do seu mundo,caracteriza o funcionamento da atividade psíquica” (13). Ele lembra que a psicologia contemporânea, em seus aspectos geltaltistes, fenomenológicos, estruturais e bio-psicológicos, confirma esta unidade entre as duas concepções, que José Otávio mantinha como antagônicas.

Enfim, José Lucena tomou posição nítida sobre esta oposição doutrinária ao escrever : “A gênese da doença mental é, pois, função multifatorial de causas biológicas, psicológicas e sociais “(14)).

Sobre o silêncio da obra de José Otávio a propósito de sua prática psicoterápica integrando suas concepções teóricas e clínicas, lembremos que ele escreveu um livro sobre Pavlov,inventor da noção de reflexo condicionado(10). Poderiamos pensar, logicamente, que ele utilizasse uma técnica psicoterápica inspirando-se no behaviorismo. Ora, nenhuma referência sobre este aspecto de seu trabalho aparece nos artigos que tivemos a ocasião de consultar.

Contudo, José Otávio enunciou proposições nas quais o objeto da psicologia era descrito em termos de observação do comportamento e não da produção dos estados mentais. Foi o que disse exatamente Watson, em seu famoso manifesto que daria nascimento ao behaviorismo, publicado em 1913.

Aliás, se nenhum método psicoterápico aparece claramente na obra de José Otávio de Freitas como parte integrante de sua atividade clínica, sua Tese de Livre-Docência, intitulada “Contribuição ao estudo da psicotropia”, demonstra, finalmente, sua opção terapêutica e seu interesse pela ação dos medicamentos na atividade mental.

Mais uma vez ele mostrou-se coerente em suas concepções concernando as origens das doenças, que se inscreviam no enfoque biológico da psiquiatria. Como disse Daniel Widlöcher: “Os defensores da origem biológica das doenças tiram seus argumentos de uma raciocínio simples: se o medicamento melhora ou cura os sintomas de uma doença é que ele age sobre um distúrbio de natureza biológica e que este distúrbio é a causa da doença. A partir destas bases desenvolveram-se as grandes orientações da psiquiatria biológica”(17).

... mas de uma grande modernidade

Ressaltemos, contudo, a importância e a atualidade dos trabalhos de José Otávio de Freitas. Assim, apoiando-se em Kraepelin, o mais eminente construtor da nosografia psiquiátrica, ele elaborou uma obra caracterizada por uma indiscutível riqueza clínica e uma descrição minuciosa de certos conceitos semiológicos.

Num momento em que a nosografia psiquiátrica aparece em plena confusão, os escritos de José Otávio de Freitas podem ajudar-nos a sustentar a necessidade do ensino da semiologia como parte muito importante do saber de nossa disciplina. Georges Daumézon tinha o hábito de dizer que “ensinar a psiquiatria era ensinar a história da psiquiatria, dos conceitos semiológicos, notando suas variações e suas vicissitudes em função do campo teórico e prático onde ela se exerce”(3).

Sobre este ponto, Othon Bastos, em recente editorial(2), escreveu que ”Os técnicos em psiquiatria poderão limitar-se às atividades de neuroimagem ou neuroquímica, porém o verdadeiro psiquiatra jamais prescindirá dos conhecimentos das psicopatologias e da nosologia psiquiátrica tradicional”.

Conclusão

Diante dos problemas que ameçam a psiquiatria contemporânea, dividida em correntes isoladas, algumas marcadas pelo cientificismo conquistador,uma questão essencial salta aos olhos : e se o futuro da psiquiatria residisse na interdisciplinaridade e não em conhecimentos especializados e isolados? Com efeito,não podemos negar que existem “vários enfoques dos fatos psíquicos segundo nossa maneira de considerá-los a partir de condutas exteriores, das dimensões inconscientes, dos processos biológicos ou dos estados mentais”(12).Nós reconhecemos, nesta enumeração, os enfoques behaviorista, psicanalítico, biológico e cognitivo.

Desta forma, não seria preferível evitarmos explicações maniqueístas e consequentemente redutoras dos fenômenos psíquicos, privando-nos ao mesmo tempo de um método de trabalho fundado na pluridisciplinaridade?

A necessidade de confrontar os saberes de disciplinas diferentes, como por exemplo a Psiquiatria, as Ciências Humanas e as Neurociências, conduziu especialistas franceses a editarem uma revista intitulada PSN( Psychiatrie, Sciences Humaines, Neurosciences),cujo primeiro número saiu em Janeiro passado, em Paris(27). Trata-se de uma experiência ambiciosa e que deve ser seguida com muito interesse por todos aqueles que trabalharam e que trabalham pela evolução do saber psiquiátrico.

Foi o caso de José Otávio de Freitas, cuja morte prematura, aos 61 anos de idade, veio interromper uma reflexão aberta aos progressos desse saber. Prevalece o sentimento de que sua morte impediu um movimento intelectual que o levaria a desempenhar um papel relevante na busca de uma síntese das dimensões subjetivas e objetivas em psicopatologia. Com efeito, ele parecia muito bem armado para abraçar as pesquisas modernas das ciências cognitivas, “cujo objeto é de explorar os mecanismos do pensamento em ação”.

Contudo, mesmo inacabada, sua obra guarda um valor incontestável.

Referências

1) Bastos (O.), «História da psiquiatria em Pernambuco e outras histórias»,capítulo 14, Lemos Editorial, São Paulo, 2002.

2) Bastos(O.), « Psicopatologias redivivas », em « Neurobiologia », Revista da UFP,V.65,Lemos Editorial,São Paulo,2002.

3) Benoît (G.) et Daumézon (G.), « Apport de la psychanalyse à la sémiologie psychiatrique », Masson, Paris, 1970.

4) Cosnier (J.), “Idéologie et psychologie”, em “Psychiatrie française”, vol. XXIX, Paris, 1998.

5) Daumézon (G.), “Réflexions sur la Sémiologie psychiatrique”, em L'Evolution Psychiatrique, Paris, 1957.

6) Daumézon (G.), « Ambiguïtés autour de la sémiologie dans la psychiatrie contemporaine », em « Annales Médico-Psychologiques », T. 2, N.5, Paris, 1964.

7) De Freitas (J.O.), « Eléments basiques de sémiologie psychiatrique », Neurobiologia, n°1, t.XXI, Recife, 1958.

8) De Freitas (J.O.), “Quelques épreuves sémiologiques pour le psycho-diagnostic de la schizophrénie”, em Neurobiologia, N.3 e 4, t.XX, Recife, 1957

9)De Freitas(J.O.),“Contribuição ao estudo semiològico do fator de fluência”, em Neurobiologia, t. XVI, n.4, Recife,1953.

10)De Freitas (J.O.), “Pavlov: Vida e Obra”, Rio de Janeiro, 1966.

11) De Hollanda Cordeiro (E.),  « La pénétration de la psychanalyse dans la sémiologie psychiatrique au Brésil », em « Apport de la psychanalyse à la sémiologie psychiatrique », Masson, Paris, 1970, sob a direção de G. Benoît e G. Daumézon.

12) Dortier (J.F.), ”Psychologie, les mystères du psychisme”, em « Les Sciences Humaines », Sciences Humaines Editions, Auxerre, France, 1998.

13) Ey (H.),”Manuel de Psychiatrie”, Masson, Paris, 1963.

14)Lucena(J.), “Os limites da atuação do psiquiatra”,em “Neurobiologia”, Revista da UFP,v.65,Lemos Editorial,São Paulo,2002.

15) « PSN » (Psychiatrie, Sciences Humaines, Neurosciences)  ,Imprimeries de Champagne, France,2003

16) Valabrega (J.-P.), “Quelques aspects de la relation malade - médecin observés au cours de deux examens successifs”, em « Bulletin de Psychologie », Paris, 1957.

17) Widlöcher (D.), « Les psychotropes, une manière de penser le psychisme ? », collection « Les empêcheurs de penser en rond », laboratoires Delagrange, Paris, 1990.

2. UM MODELO ANIMAL DOS DISTÚRBIOS ESQUIZOFRÊNICOS

Resumo do artigo da correspondente do jornal « Le Monde » em Grenoble, Nicole Cabret

Aprimorada e patenteada por biologistas do CEA e do INSERM de Grenoble(Instituto nacional da saúde e da pesquisa médica), essa descoberta poderia abrir novas perspectivas para tratamentos de uma doença que ataca mais de  1% da população mundial.

Qual é a função neuronal atingida na esquizofrenia? Uma equipe do laboratório do citoesqueleto ( unidade CEA/Inserme/université Joseph-Fourier) de Grenoble trouxe uma resposta ao debate sobre a origem das doenças mentais. Com efeito, os pesquisadores desenvolveram um modelo de rato transgênico que poderia revelar-se eficaz para o estudo e o tratamento da esquizofrenia. Trata-se de uma descoberta de grande importância na medida em que, se o modelo animal for verificado, ele poderá abrir o caminho à fabricação de novos tratamentos de uma doença que ataca mais de 1 % da população mundial (600 000 esquizofrênicos na França).

Sabemos que a esquizofrenia atinge todas as funções mentais, porém certas manifestações específicas dos seres humanas, como as alucinações ou o delírio verbal, parecem impossíveis de serem avaliadas no animal. Didier Job, o diretor do laboratório francês, recusa este obstáculo.”A doença apresenta características gerais” , argumentou. Por exemplo, ela “provoca uma desorganização da atividade com ruturas de sequências dos comportamentos normais e o aparecimento de atividades sem finalidade perceptível.Ela se acompanha igualmente de distúrbios cognitivos muito importantes e de defeitos na interação entre os meios físicos e afetivos, associados, em particular, a un isolamento social severo”. Tais sintomas melhoram com os neurolépticos. A dificuldade que encontraram gerações de pesquisadores resulta do fato que a esquizofrenia não se acompanha de distúrbios neurológicos evidentes nem de anomalia anatômica constatada no cérebro. "Os modelos recentes afirmam que se trata de uma doença da conexidade neuronal ou doença da sinapse » ,explicou Didier Job. As sinapses ligam os neurônios entre eles . Toda e qualquer anomalia em seu funcionamento engendra « distúrbios da atividade global do cérebro, e por conseguinte, do comportamento”.

Fases de agitação

O modelo realizado em Grenoble demonstrou, pela primeira vez, a possibilidade da criação experimental de uma doença da sinapse.A descoberta ocorreu por acaso. No início, a equipe estudava o câncer.Tratava-se de verificar as funções da proteína STOP (Stable Tubule Only Polypeptide), sobretudo na estabilização dos microtúbulos que garantem a transferência de substâncias indispensáveis ao funcionamento do cérébro e ao mesmo tempo implicadas em patologias como o câncer, doenças cardiovasculares e neuro-degenerativas.A idéia era de estudar os efeitos produzidos pela inibição da proteina STOP.

Dnde a criação de ratos transgênicos portadores de um gene STOP inutilizável.. Resultado :  "Os ratos revelaram-se efetivamente desprovidos de microtúbulos neuronais estáveis. Em compensação, as consequências não foram aquelas que esperávamos”, explicou seu diretor, Didier Job. Embora nenhuma anomalia tivesse sido notada na anatomia do cérebro e do sistema nervoso em geral, os ratos apresentaram défices da sinapse "compatíveis com sua sobrevida, porém responsáveis por numerosos e severos distúrbios do comportamento”, explicou a biologista Annie Andrieux.

Assim, os ratos deficientes em proteina STOP mudam de atividade sem cessar e passam por fases de agitação e de frustração. Contudo, embora suas andanças sejam condicionadas quase sempre pela procura de alimentos, isto revelou-se inoperante neste caso.De maneira ainda mais significativa, os ratos manifestaram um desinteresse social fora do comum e uma indiferença quase completa por seu entourage. "Não conseguimos interessá-los pelos objetos nem mesmo pelos seus congêneres », realça Didier Job. Um rato macho que normalmente é capaz de lutar até morrer para rechaçar um intruso de sua gaiola, fica, nesse caso, sem reação ».

Seis casais em "leasing"

O teste mais espetacular consistiu em observar o comportamento das mães com relação a seus filhotes.Elas revelaram-se incapazes de instinto maternal”. "Os filhotes morrem entre 24 e 48 horas após o nascimento », disse Guy Job. Donde a idéia de estudar os efeitos de diversos agentes psicotrópicos sobre o comportamento. "A utilização de neurolépticos diminue o instinto maternal das ratas  », explicou Didier Job. Ora, no caso das mães deficientes em proteína STOP, observou-se um efeito benéfico . A eficiência do tratamento depende contudo do tempo de sua utilização. Se os neurolépticos são administrados somente durante oito dias antes do nascimento dos ratinhos, o quadro melhora, as ratas serão capazes de proteger os filhinhos e de reconduzí-los ao lugar que lhes serve de ninho. Mas isto não é ainda suficiente para permitir a sobrevida dos filhotes, salvo se o tratamento for administrado desde o nascimento e durante todo o desenvolvimento ulterior.

Experiências continuam procurando saber até onde é possível a analogia com a esquizofrenia. Os resultados dos trabalhos do laboratório de Grenoble , publicados na revista Genes and Development, já interessaram dois pesos pesados da indústria farmacêutica mundial, o alemão Merck Laboratórios, que aceitou seis casais em "leasing", e o suisso Hoffman Laroche, com quem o INSERM passou uma convenção.Em troca do empréstimo dos ratos transgênicos , os laboratórios garantiram a comunicação dos resultados de seus testes. Se o modelo for validado, a questão da transferência da técnica e por conseguinte do preço de venda da mesma entrará em jogo."A potência de investigação de indústrias de tamanha importância não pode ser comparada às dos laboratórios públicos de pesquisas na França », justificou Didier Job.

3. O SUICÍDIO NO MUNDO: DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

Resumo do dossié “Doctissimo”( www.doctissimo.fr )

Uma pessoa se suicida a cada quarenta segundos no mundo. E nenhum país escapa a esses índices estatísticos.

Segundo as estimações da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2000, cerca de 1 milhão de pessoas suicidaram-se no mundo e 10 a 20 milhões fizeram tentativas de suicídio. Isto representa em média uma morte cada 40 segundos e uma tentativa cada três segundos. Assim, deve-se constatar que existem mais mortes por suicídio do que provocadas por todos os conflitos armados existentes nos cinco continentes..

Idade e suicídio

Em todos os países, o suicídio é uma das primeiras causas de mortalidade das pessoas entre 15 e 35 anos. Até bem pouco, ele era mais frequente em pessoas idosas, porém agora atinge sobretudo os jovens em um terço dos países. A análise comparativa do número de suicídios em função da idade oferece também um nova perspectiva. De fato, um dos princípios clássicos em suicidologia é sua predominância em homens idosos ; este fato é incontestável em termos de porcentagem. Contudo, as informações sobre o número de suicídios revelam uma imagem diferente : em termos mundiais, percebe-se atualmente que há mais suicídios (57%) perpetrados por pessoas entre 5 e 44 anos do que a partir dos 45 anos . Isto representa uma mudança considerável do quadro epidemiológico começada em 1950, na medida em que o envelhecimento da população aumentou ao longo dos últimos cincoenta anos.

Em resumo, o número de suicídios de pessoas dos dois sexos é maior entre 35 e 44 anos, embora os índices masculinos continuem superiores. Este fenômeno ocorre também na França. A única excessão é a China rural onde as mulheres suicidam-se mais do que os homens( cerca de 1,3%).

Nenhum país escapa

Os índices mais altos ( acima de 30 por 100 000 habitantes) encontram-se nos países bálticos , que representam mais do duplo do índice médio mundial que é de 16 suicídios por 100 000 habitantes. Note-se igualmente que os altos índices de suicídio das regiões da Africa, das Américas, do Sudeste asiático e do Pacífico ocidental encontram-se nos países insulares, respectivamente a Ilha Maurícia, Cuba, Skri Lanka e Japão. A significação exata deste fenômeno não foi ainda elucidada. Em números absolutos, podemos entretanto constatar que um quarto de todos os suicídios no mundo ocorrem em dois países:a China e a India, o que reflete a imensidão das populações respectivas. A China representa, sozinha, 20% dos suicídios mundiais.

4. CALENDÁRIO CIENTÍFICO

La Lettre de Psychiatrie Française” selecionou as seguintes reuniões:

MAIO 2004

Paris: ( de 13 a 15): A Associação Francesa de Criminologia organiza a primeira Conferência mundial das sociedades de criminologia . Informações: AFC-P.Pelissier, 19 rue Ginoux, 75015 Paris E-mail: [email protected]

PARIS: (dia 14) : quarto Colóquio internacional de psicodinâmica e psicopatologia do trabalho sobre o tema “Novas formas de servidão e psicopatologia”. Informações:CNAM,V. Hervé, 41 rue Gay-Lussac, 75005 Paris Telefone: 01 44 10 78 22 E. mail : [email protected]

SAINT-ETIENNE (dia 15, no Castelo de Saint-Victor-sur-Loire): Jornada organizada pela Association Française de Psychiatrie sobre o tema: Pensar a psicose.

Conferências: 1) Os neurolépticos e as psicoses , um ponto de vista psicanalitico(Doutor Vassilis Kapsambelis) 2) O medicamento pode facilitar a relação terapêutica? (Doutor D. Guillaume) 3) Tratamentos neurolépticos e terapia institucional num serviço de adolescentes (Doutor Jean-Yves Bottala)

Argumento: Os neurolépticos e a psicose, um ponto de vista psicanalítico(Doutor Vassilis Kapsambelis)

O problema do desligamento na psicose e nos estados limites psicóticos constituiu a trama seguida nas quatro precedentes Jornadas de Saint -Etienne(2000-2003). A compreensão desse problema, à luz da clínica e de diversos pontos de vista teóricos, conduziu-nos a organizar um debate sobre as diversas modalidades da escuta e opções terapêuticas.

Se a questão da terapêutica medicamentosa já foi abordada por Jacques Dufour em 2001 do ponto de vista da triterapia, parece-nos útil voltar a este assunto centrando-o na prescrição de neurolépticos. Que façamos ou não prescrições, somos levados a constatar que, de uma certa maneira, nossos pacientes entretêm uma relação mais ou menos conflituosa com os psicotrópicos. Tomando a precaução de evitar debates sobre técnicas, solicitamos a Vassilis Kapsambelis, psicanalista e psiquiatra receitador, de dividir conosco suas reflexões e sua experiência de prescritor de neurolépticos em referência à metapsicologia freudiana.

Que receitemos ou não, qual seria o interesse de referirmo-nos à metapsicologica de Freud? De que maneira ela orienta nossas receitas? A metapsicologia nos ensina alguma coisa sobre a prescrição dos neurolépticos? De que modo a prescrição de medicamentos pode agir sobre o mecanismo freudiano de desligamento? Como a relação tranferencial-contratransferencial pode se articular com a ação dos neurolépticos? Essas são algumas questões que desejamos debater com V. Kapsambelis e os colegas liberais e hospitalares que aceitaram de participar desta jornada.

5. SELECÃO DE SITES

www.doctissimo.fr

L'Encéphale: www.encephale.org

La Revue Française de Psychiatrie et de Psychologie Médicale: www.mfgroupe.com

Les Actualités en Psychiatrie: www.vivactis-media.com

Psychiatrie Française : [email protected]

Synapse: [email protected]

Nervure: Rédaction: Hôpital Sainte-Anne, 1 rue Cabanis, 75014 Paris. Téléphone: 01 45 65 83 09 Fax. 01 45 65 87 40

Bulletin de l'Ordre des Médecins: www.conseil-national.medecin.fr

PSN (Psychiatrie, Sciences humaines, Neurosciences): Endereço: rue de la Convention, 75015 Paris. Telefone: 01566565 Fax: 0156566566

Association Française Des Psychiatres d'Exercie Privé: www.afpep-snpp.org

www.carnetpsy.com

Psydoc-broca.inserm.fr/Cybersessions/Cyber.html

Neuronale (Revista de Neurologia do Comportamento): [email protected]

Psiquiatria geral

Anorexia-bulimia

Distúrbios do comportamento alimentar

ENFINE : site associativo consagrado às desordems alimentares. Ele destina-se às pessoas sofrendo de anorexia mental, de bulimia , e aos familiares. http://www.enfine.com

Ansiedade

Distúrbios neuróticos, distúrbios ligados aos fatores de estresse et distúrbios somatoformes: catégoria F40 até F48

O site Agoraphobie.com: http://www.agoraphobie.com/

Estados ansiosos sites francophones http://www.chu-rouen.fr/ssf/pathol/etatanxiete.html

Autismo

Autisme France http://autisme.france.free.fr

Pro Aid Autisme; http://www.proaidautisme.org

Autisme Montréal : autismo e distúrbios invasores do desenvolvimento.

Depressão

Distúrbios do humor(afetivos) : www.dépression.ch

Estados limites em psiquiatria: tratamento (D. Marcelli): Suicídio Escuta - 24/24
http://suicide.ecoute.free.fr

Informações sobre o suicídio e as situações de crise: http://www.suicideinfo.org/french

Centro de Prevenção do suicídio: http://www.preventionsuicide.be

Associaçao Alta ao Suicídio: http://www.stopsuicide.ch

Suicídio : sitos francofonos: http://www.chu-rouen.fr/ssf/anthrop/suicide.html

Toxicomanias e drogas

Drogas: http://www.drogues.gouv.fr/fr/index.html

S.O.S. RÉSEAUX : http://www.sosreseaux.com/

IREB - Instituto de pesquisas científicas sobre as bebidas: http://www.ireb.com/

ADDICA: Addictions Précarité Champagne Ardenne: http://www.addica.org/

INTERNET ADDICTION : conceito de dependência à Internete:
http://www.psyweb.net/addiction.htm

Estupefiantes e conduta automobilística; as proposições da SFTA:
http://www.sfta.org/commissions/stupefiantsetconduite.htm

Etnopsiquiatria:

Centre Georges Devereux (psychiatrie transculturelle, analyse anthropologique des thérapies traditionnelles. Penser la guérison dans les mondes modernes): www.ethnopsychiatrie.net

Pedo-Psiquiatria

Défice da atenção e hiperatividade - cianças hiperativas - hiperkinéticas

Distúrbios hiperkinéticos

Distúrbios do comportamento e distúrbios emocionais aparecendo habitualmente na infância.

Guia prático da hiperatividade na França - este site é o resultado de uma experiência pessoal http://carla7.chez.tiscali.fr/index.htm

Associação HyperSupers - Thada France http://membres.lycos.fr/hyperactivite/

Guia para pais de crianças hiperativas http://www.planete.qc.ca/sante/elaine/

Abusos sexuais cometidos em crianças: como falar-lhes sobre o assunto

Sevicias em crianças - Professor Le Gueut-Develay.
http://www.med.univ-rennes1.fr/etud/medecine legale/sevices.htm

Abuso sexual : sites francophones
http://www.chu-rouen.fr/ssf/anthrop/abussexuel.html

Abuso sexual em crianças

A.M.E. - Associação Contra A Mutilação em crianças
http://perso.wanadoo.fr/enfant.org/index.html

FRANCE PSY

Quem somos (Qui sommes-nous)?

Qui sommes nous?

France-Psy est le nouvel espace virtuel de “Psychiatry on Line” offert aux internautes et aux professionnels du secteur de santé mentale au Brésil.

Notre but est de rendre plus aisé, l'accès à certaines publications en langue française concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse.

Quem somos ?

FRANCE-PSY é o novo espaço virtual de “Psychiatry On Line” dedicado aos internautas e aos profissionais do setor da saúde mental no Brasil.

Nosso objetivo é de facilitar o acesso a certas publicações em língua francesa concernando a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise.

O leitor é cordialmente convidado a dar a sua opinião sobre os assuntos acima tratados, propor temas ou questões para as colunas ulteriores, apresentar sugestões para melhorarmos o site, tornando-o mais convivial. A participação dos colegas seria extremamente importante para o autor desta coluna. Meus agradecimentos antecipados a todos.

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