Maio de 2022 – Vol. 27 – Nº 5
Walmor J. Piccinini
Fugindo dos mitos oficiais em que o Brasil é colocado como terra de oportunidades e que todos que aqui chegaram foram e eram bem recebidos, constatamos que os imigrantes em geral sofreram e muito na sua luta para construir uma nova vida no Brasil. Os negros escravos, migrantes forçados são a face mais sombria dos maus tratos, mas não foram os únicos. Sofreram os italianos, os alemães, os japoneses, os judeus e muitos outros indivíduos provenientes de todas as partes do mundo.
Examinar a conduta do nosso governo, dos seus líderes políticos, de muitos dos seus cidadãos nos deixa envergonhados. Alguns autores discutem as ideias de “branqueamento” da população como um ente político por trás das correntes imigratórias. Outros fatores devem ser considerados, a religião um dos mais intolerantes. Aos judeus deveria ser impedida a entrada por não serem passíveis de conversão, os japoneses por ser uma “raça inferior” e assim por diante.
WPiccinini em O Japão e Juliano Moreira (polbr.med.br)
É com satisfação que a Psychiatry Online Brasil homenageia um filho de imigrantes japoneses que construiu uma brilhante carreira psiquiátrica em terras brasileiras e tem o carinho e admiração de todos os psiquiatras brasileiros.
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram em 18 de junho de 1908 a bordo do navio Kasato Maru, foram 1231. Chegaram para trabalhar nos cafezais de São Paulo. Existiam muitas vozes discordantes destas imigrações e lideradas por católicos que além de racistas, eram contra os orientais em geral. Uma das vozes que se ergueu para combater esta corrente, foi a de Juliano Moreira que por isto foi condecorado pelo Imperador do Japão e convidado a dar palestras no Japão em 1929.
Havia interesse do governo do Japão e do Brasil que a imigração continuasse e os imigrantes, na maioria agricultores foram chegando e se distribuindo por São Paulo e norte do Paraná. Numa das últimas viagens do navio África Maru chegou em São Paulo um imigrante especial, era um professor do ensino fundamental chamado Ken-Itsuro Shirakawa e sua mulher Tamae Shirakawa. Chegou com 5 filhos e a esposa grávida. Teve sete filhos e apenas o mais velho que está com 95 anos e reside em Nova York, e o mais novo que é nosso homenageado. O professor Shirakawa veio com a missão de dar aulas aos imigrantes e seus filhos, mas a guerra trouxe terríveis contratempos. Prisão, desemprego e a proibição de ensinar a língua. Isto aconteceu também nas colônias de imigrantes de origem alemã e italiana.
Um dos filhos deste professor é Itiro Shirakawa e se pode imaginar uma infância difícil. Tenho algumas vivências parecidas com o Professor Itiro pois sou descendente de italianos, nascido no mesmo ano, 1941. Na minha cidade era proibido lecionar e falar italiano e não faltava que denunciasse os pobres colonos.
Itiro cresceu numa família com poucos recursos, mas isto não impediu que estudasse e trabalhasse. Teve vários empregos e conseguiu ser aprovado no vestibular para medicina na Unifesp. Sua graduação ocorreu em 1968 e desde cedo interessou-se pela psiquiatria. Não havia uma formação especializada na época, começou a trabalhar e procurou um curso básico de psiquiatria da USP. Segundo palavras do próprio Professor Itiro em seu memorial para professor titular: “O acaso, muitas vezes, direciona nossas vidas para caminhos inesperados. Após a graduação em Medicina, frequentei o Curso básico de psiquiatria da FMUSP, como única possibilidade de algum conhecimento psiquiátrico organizado, existente na ocasião. Na Escola Paulista de Medicina, não havia estágio ou residência em psiquiatria. Dediquei-me, então, junto com Cícero Brasiliano a tentar montar uma enfermaria decente, no Hospital Psiquiátrico da Água Funda, do Estado de São Paulo, que atendia pacientes indigentes. Nosso trabalho de apenas três meses foi reconhecido pelo Diretor do Hospital. Quando o Professor Darcy Uchôa, solicitou uma enfermaria para dar aulas práticas do Curso de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina, a nossa enfermaria foi escolhida e Cícero e eu, indicados pelo Diretor para prestar serviços à Escola Paulista de Medicina. Assim, um ano depois de formado voltávamos para a Escola Paulista.”
Não foi fácil para um jovem filho de imigrantes fazer carreira universitária, mas ele conseguiu com muita discrição e tenacidade no trabalho. Ocupou todos os cargos que apareceram na sua frente e sempre com brilho, discrição e tenacidade. Doutorado em 1989. Tornou-se professor, recebeu o título de professor emérito. Aposentou-se como professor titular na UNIFESP.
Chefe do Departamento de Psiquiatria entre os anos de 1983 e 1992, o Dr. Itiro foi o responsável pelo crescimento do setor, que dobrou de tamanho em sua gestão. Assumiu o cargo com apenas 8 docentes e, ao sair, o Departamento contava com 16 professores, além de mais de 100 profissionais da saúde mental, como psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, entre outros.
“Nos nove anos em que fui chefe do departamento, consegui montar um serviço na EPM, contratando uma equipe multidisciplinar. Sinto-me feliz, posso dizer que foi um dia muito agradável na minha vida”, explica o Prof. Dr. Itiro Shirakawa. Ele também brinca que muitos dos psiquiatras mais novos que passam pelo departamento não sabem do seu papel, mas que é “muito bom que os antigos tenham reconhecido o meu papel lá atrás”.
Paralela a esta brilhante carreira Universitária, trabalhou muito pela psiquiatria brasileira atuando na Associação Brasileira de Psiquiatria onde hoje tem cargo no seu conselho fiscal. Durante mais de dez anos foi responsável pela parte científica dos Congressos Brasileiros de Psiquiatria. Ao mesmo tempo tornou-se reconhecido especialista na área da Esquizofrenia, com muitos trabalhos e livro publicados.
Sua dedicação e trabalho pela Associação Brasileira de Psiquiatria foi reconhecido e homenageado dando seu nome a subsede de São Paulo à Rua Pedro de Toledo 967 – Casa 1 CEP 04039-032 São Paulo, SP. Ele tem recebido muitas homenagens de alunos e colegas. Uma que se orgulha lhe foi concedida pela ABP.
Publicações de Itiro Shirakawa encontradas no Índice Bibliográfico de Psiquiatria de minha autoria.
Publicações de Itiro Shirakawa
1. Andrade, Mônica Pimenta de and Shirakawa, Itiro. The Brazilian version of Michael Bond’s defense style questionnaire (DSQ): problems and achievements. R. Psiquiatr. RS. 2006; 28(2).
2. Andreoli, Sérgio B.; Mari, Jair de Jesus, and Shirakawa, Itiro. Uso da Informática em Saúde Mental. Psicorama. 1991; 4(1):6-11.
3. Bastos Filho, Othon Coelho; Busnello, Ellis A. D.; Calil, Helena M.; Campos, J. A.; Dunningham, William; Grabowski, H; Guz, Miguel; Ruschel, Sandra Inês; Schestatsky, Sidnei S.; Shirakawa, Itiro, and Versiani, Márcio. Avaliação da eficácia, tolerabilidade e segurança da Sertralina (50 mg a 200 mg) durante 8 semanas no tratamento de 150 pacientes ambulatoriais com depressão maior. J.Bras.Psiquiat. 1996; 45(2):105-109.
4. Bressan, Rodrigo A.; Chaves, Ana Cristina; Pilowsky, Lyn S.; Shirakawa, Itiro, and Mari, Jair de Jesus. Depressive episodes in stable schizophrenia: critical evaluation of the DSM-IV
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Notes: Schizophrenia Program, Department of Psychiatry, Federal University of São
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5. Bressan, Rodrigo A.; Chaves, Ana Cristina, and Shirakawa, Itiro. Depressăo na Esquizofrenia. In: Shirakawa, I., Chaves, AC., Mari, JJ. Editores. O Desafio Da Esquizofrenia, Lemos Editorial 1998. 1998; 1:119-132.
6. Bressan, Rodrigo A.; Chaves, Ana Cristina; Shirakawa, Itiro, and Mari, Jair de Jesus. Estudo de confiabilidade da Escala Calgary de Depressão para Esquizofrenia. Rev. ABP-APAL. 1997; 19(4):149-154.
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Notes: Department of Psychiatry, Federal University of São Paulo, Brazil.
8. Bressan, Rodrigo A. and Shirakawa, Itiro. Neurolépticos de ação prolongada e os avanços da psicofarmacologia da esquizofrenia. Psychiatry On-Line Brazil. 1996.
9. Chaves, Ana Cristina; Mari, Jair de Jesus, and Shirakawa, Itiro. A clozapina é mais eficaz no tratamento da esquizofrenia do que os neurolépticos convencionais. Rev. ABP/APAL. 1993; 15(1):26-30.
10. —. Gênero, Sintomas e Desempenho Social na Esquizofrenia. In: Shirakawa, I., Chaves, AC., Mari, JJ. Editores. O Desafio Da Esquizofrenia, Lemos Editorial 1998. 1998; 103-117.
11. Chaves, Ana Cristina and Shirakawa, Itiro. Escala das síndromes negativa e positiva – PANSS e seu uso no Brasil. Rev. Psiquiatr. Clín. 1998; 25(6):337-345.
12. Chaves, Leonardo P. and Shirakawa, Itiro. O uso de nicotina em pacientes com esquizofrenia avaliado pelo Questionário de Tolerância de Fagerström: uma análise descritiva em uma amostra brasileira. Rev. Bras. Psiquiatr. 2008.
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17. Mello, Marcelo Feijó de; Abreu, Paulo B.; Bastos Filho, Othon Coelho; Dalgalarrondo, Paulo; Vale, R. D. C.; Dunningham, William; Elkis, Helio; Grabowski, H.; Louzã Neto, Mario R.; Mendes, A B. V.; Oliveira, Irismar Reis de; Rocha, Fábio Lopes, and Shirakawa, Itiro. Estudos Multicêntricos da Ziprazidona Oral no tratamento de pacientes com esquizofrenia ou transtorno esquizo-afetivo. RBM (Rev.Bras.Med.). 2007; 64:170-176.
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22. Razzouk, Denise and Shirakawa, Itiro. A Evolução dos Critérios Diagnósticos da Esquizofrenia. In: Shirakawa, I., Chaves, AC., Mari, JJ. Editores. O Desafio Da Esquizofrenia, Lemos Editorial 1998. 1998; 1:15-23.
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Notes: Departamento de Psiquiatria da Unifesp/EPM. Programa de Esquizofrenia (Proesq), Unifesp/EPM
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Notes: Departamento de Psiquiatria da Unifesp/EPM
26. Shirakawa, Itiro. Esquizofrenia: Histórico e Conceito. J. Bras. Psiquiat. 1989; 38(4):154-6.
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28. Shirakawa, Itiro. O Ajustamento Social na Esquizofrenia. São Paulo, Lemos Editorial. 1992; 1(1-160).
29. Shirakawa, Itiro. O Ajustamento Social na esquizofrenia: Um estudo retrospectivo. Doutorado, Tese-EPM-UNIFESP. 1989.
Notes: Orientador Prof. Jair de Jesus Mari
30. Shirakawa, Itiro. O Manejo do Paciente com Diagnóstico de Esquizofrenia. In: Shirakawa, I., Chaves, AC., Mari, JJ. Editores. O Desafio Da Esquizofrenia, Lemos Editorial 1998. 1998; 1:273-279.
31. Shirakawa, Itiro. Preconceito, Segregação e Distúrbios Psiquiátricos. Bol.Psiq.SP. 1990; 22/23(1):5-8.
32. Shirakawa, Itiro; Bressan, Rodrigo A., and Chaves, Ana Cristina. Tratamento Farmacológico da Esquizofrenia. In: Shirakawa, I., Chaves, AC., Mari, JJ. Editores. O Desafio Da Esquizofrenia, Lemos Editorial 1998. 1998; 1(135-148).
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Notes: PROESQ-Programa de Esquizofrenia -UNIFESP-EPM.
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39. Shirakawa, Itiro; Mari, Jair de Jesus; Chaves, Ana Cristina, and Hisatsugo, M. Family expectations, social adjustment and gender differences in a Brazilian sample of schizophrenic patients. Rev. De Saúde Pública. 1996; 30(3):205-212.
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Nota: Japonês imigrante é Issei, o filho é Nissei e o neto é Sensei
Itiro Shirakawa CRM SP-13708