Maio de 2022 – Vol. 27 – Nº 5

Walmor J. Piccinini

 

Até a queda do Império a assistência aos doentes mentais era comandada pelas Santas Casas que contratavam ordens religiosas para prestar assistência aos insanos. Com a república (1889) os médicos gradativamente assumiram o seu controle e o Centros de Estudos passaram a ter voz política. O diretor do hospital tinha grande prestígio e poder. Costumavam acumular a cátedra na Universidade com a direção do hospital. A Constituição de 1934 proibiu este acúmulo e isto foi benéfico para o hospital e para as Faculdades de Medicina.

A Penicilina, novos antipsicóticos e antidepressivos diminuíram, inicialmente, a população hospitalar e surgiram os consultórios psiquiátricos. Com os cursos de formação novos profissionais foram surgindo. Atrevo-me a dizer que os psicanalistas ensinaram os psiquiatras a atender em consultórios. Acrescente-se que os primeiros analistas eram psiquiatras. (Davam eletrochoque de manhã e analisavam à tarde)

Sugiram as associações psiquiátricas estaduais e por fim a necessidade de uma entidade nacional. Já relatei em vários artigos a fundação da Associação Brasileira de Psiquiatria e por isso vou me fixar na alternância política dentro daquela Associação. Seus primeiros presidentes eram catedráticos e aos poucos foram surgindo outras lideranças.

Quando surgiu a ABP em 1966 já existiam algumas entidades psiquiátricas estaduais muito fortes. APERJ, APM, SPRS e outras. As três maiores eram no Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Quando a ABP foi aceita na WPA, lá já estavam a SPRS e a APERJ.

Para evitar que as maiores não assumissem o controle da nova entidade, foram estabelecidas algumas regras de convivência, que foram aceitas por todos.

1) A Sede seria no Rio de Janeiro, a Revista seria administrada em São Paulo e se teria uma sede política em Brasília.

2. A Diretoria deveria ser alternada entre norte, nordeste e o Sul. Centro-Oeste e Brasília tinham poucos profissionais. O primeiro presidente foi José Leme Lopes do Rio de Janeiro (166-67) seguem-se Antônio Carlos Pacheco e Silva 1968; Dr. Álvaro Rubim de Pinho | 1968 a 1969 | 1969 a 1971(Bahia); Dr. Fernando Megre Velloso | 1971 a 1973 (MG); Dr. José Cavalcante Lucena da M. Silveira | 1973 a 1975 (PE); Dr. David Zimmermann | 1975 a 1977; Dr. Ulysses Vianna Filho | 1977 a 1980 (RJ); Dr. Marcos Pacheco de Toledo Ferraz | 1980 a 1983; Dr. João Romildo Bueno | 1983 a 1986; Dr. Luiz Salvador Miranda de Sá Junior | 1986 a 1989 (MS); Dr. William Dunningham | 1989 a 1992 (BA); Dr. Othon Bastos | 1992 a 1995 (PE); Dr. Rogério Wolf de Aguiar | 1995 a 1998 (RS); Dr. Miguel Roberto Jorge | 1998 a 2001 (SP); Dr. Marco Antônio Alves Brasil | 2001 a 2004 (RJ); Dr. Josimar Mata de Farias França | 2004 a 2007 (BR); Dr. João Roberto Gomes de Carvalho | 2007 a 2010 (PE); Dr. Antônio Geraldo da Silva | 2010 a 2013 | 2013 a 2016 (BR); Dra. Carmita Helena Najjar Abdo | 2017 a 2019 (SP);Dr. Antônio Geraldo da Silva (2019-2022) (BR).

#. A eleição seria por votos das federadas proporcional ao número de sócios efetivos. 20 sócios = 1 voto.

3. O sistema eleitoral da abp era muito favorável a situação. Havia uma tradição em que o primeiro vice passava a ser o presidente na próxima eleição. O colégio eleitoral facilitava o processo, em certas ocasiões, um votante poderia representar 20 ou mais pessoas, isto depois foi reduzido para dois votos. Mesmo assim, os representantes do poder vigente poderiam acumular uma votação expressiva.

4. A Associação Psiquiátrica Latino-americana funcionava mais ou menos da mesma forma. O Brasil teve três presidentes, Clóvis Martins de São Paulo, Manoel Antônio Albuquerque do Rio Grande do Sul e Antônio Geraldo da Silva. Os dois primeiros foram preteridos na ABP e ganharam a APAL como consolação. O terceiro não, ele trabalhou para assumir a APAL como uma forma de ampliar horizontes da psiquiatria brasileira. De uma forma jocosa se dizia que quando queriam afastar alguém este era indicado para a latino-americana.

5. Um grupo de oposição foi se formando dentro da ABP e as bandeiras eram democratizar a gestão e voto universal. O primeiro opositor de expressão foi Itiro Shirakawa, psiquiatra ilustre de São Paulo. Num trabalho discreto foi amealhando apoios, contava com Antônio Geraldo da Silva como candidato a vice-presidente e chegou a disputar a presidência em Assembleia Geral de Representantes em Porto Alegre.RS. Isto aconteceu em 2008 e o candidato vitorioso foi de Pernambuco.

6. Mesmo derrotada a chapa perdedora atraiu a atenção de muitas pessoas e muitos psiquiatras que não davam muita atenção a sua associação, começaram a se interessar e no Congresso de 2010 a oposição foi vencedora encabeçada por Antônio Geraldo da Silva.

7. O vencedor evitou ataques aos que o antecederam e se pôs a trabalhar. De várias fontes recebi algumas informações. A tesouraria foi entregue sem dinheiro em caixa e com compromissos a cumprir. A sede que era alugada, estava sofrendo ação de despejo. Problemas com a Revista, com prova de título e o congresso loteado entre departamentos.

8. Rapidamente, com gestão eficiente, os novos dirigentes colocaram a casa em ordem e hoje a ABP é dona de um andar inteiro num prédio no centro do Rio de Janeiro, seu congresso é o segundo do mundo em tamanho de público e sua presença na mídia é extraordinária,

9. Foi cumprida a reforma dos estatutos criando o voto direto. Só ficaram os departamentos que são área de atuação reconhecida pela AMB. O autor, como um dos fundadores do Departamento de História, ficou frustrado pela perda de um horário exclusivo no Congresso, mas reconhece o valor da medida e a profissionalização das atividades.

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