Fevereiro de 2022 – Vol. 27 – Nº 2
Sérgio Telles
- “Freud à Bloomsbury”, de Henriette Michaud, publicado pela editora francesa Fayard, conta a relação de Freud com James e Alix Strachey. O casal inglês, queestava interessado em psicanálise e traduções, procurou Freud em Viena, em 1920, com o intuito de se analisar. Houve uma grande empatia entre eles e quando os Stracheys ofereceram seus serviços como tradutores, Freud deu-lhe apenas os “Cinco casos clínicos”. A tradução só foi retomada em 1946, por iniciativa de Ernest, filho de Freud, que queria a obra completa disponível em inglês. Ernest pressionou Strachey – já então com 60 anos e respeitado psicanalista em Londres – para terminar o que iniciara tempos antes, o que ele aceitou desde que sua mulher Alix também recebesse os créditos. E assim apareceu a inestimável “Standard Edition”, finalizada em 1966. Importante lembrar que os Strachey faziam parte do que posteriormente ficou conhecido como Grupo de Bloomsbury. Ali Virginia Woolf e seu marido Leonard Woolf criaram uma pequena editora, a Hogarth Press, que publicou a tradução.
Freud à Bloomsbury, Henriette Michaud | Fayard
- “Lacan, crítico de Marx” é um denso e complexo artigo de Eleutério F. S. Prado, professor titular e sênior do Departamento de Economia da USP, no qual ele examina as relações entre o conceito de “objeto a”, de Lacan, e o de “mais-valia”, de Marx.
Lacan, crítico de Marx – A TERRA É REDONDA (aterraeredonda.com.br)
- Oportuno comentário crítico que reflete sobre as complexidades da formação psicanalítica, à luz da recente proposta de criação de um curso de graduação e bacharelado pela UNINTER, de Curitiba, que foi rejeitada pelas instituições psicanalíticas brasileiras.
O INCONSCIENTE É A POLÍTICA? – Cultura 930
- Um dos programas de maior audiência na Inglaterra é “CouplesTherapy” (Terapia de casal). Diferente de um reality show como o Big Brother Brasil, em que se cria uma “realidade” artificial, fake, em “Couples Therapy” tudo é verdadeiro. Comandada pela famosa psicoterapeuta Orna Guralnik, casais reais recebem um número determinado de sessões que são transmitidas diretamente pela televisão. O extraordinário sucesso do programa levanta muitas questões, entre elas, e principalmente, as ligadas aos limites entre o público e o privado, a cultura da celebridade, a necessidade de estar na mídia para existir, motor de tantos outros programas, como o Botched, que exibe pacientes que fizeram desastrosas cirurgias plásticas.
- Resenha do livro de Christian Dunker “Lacan e a democracia – clínica e crítica em tempos sombrios”, escrita por Vladimir Safatle. Para o resenhista, Dunker reconhece as aporias do conceito de democracia e dos valores que a sustentam, o que a colocam em estado de permanente inacabamento, de ininterrupta construção. Dunker se refere não às democracias do passado e as do presente e sim à democracia “por vir” – como diria Derrida. Diz Safatle: “Se a boa clínica psicanalítica é crítica social é porque ela sabe ouvir as contradições da vida social nos sintomas dos sujeitos que sofrem, ela conhece bem a irrealidade dos valores normativos de nossas sociedades e a maneira com que tal irrealidade produz afetos nos corpos, inibições no desejo, angústias em relação ao tempo e à ação”.
Uma comunidade que ainda não encontrou forma – Carta Maior
- Resenha do livro “The Fairy Tellers: A journalintothesecrethistoryoffairytales”, de Nicholas Jubber. O autor faz um levantamento dos primeiros pesquisadores e escritores (“fairytellers”) que coletaram as histórias de fada e do folclore (“fairy tales”), que têm uma longa história detransmissão oral, antes de ingressarem no mundo dos livros impressos. O resenhista salienta a dimensão antropológica desse tipo de contos e o fato de que eles visavam inicialmente o público adulto, lamentando que a transição para o público infantil não seja suficientemente explorada no livro. Da mesma forma, podemos dizer que é deixado completamente de lado a dimensão inconsciente desses relatos, tão bem explorados por Bruno Bettelheim.
The firstfairy stories wereneverintended for children | The Spectator
- O livro “The Oracle of Night: The History and Science of Dreams”, do brasileiro Sidarta Ribeiro, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, recebe extensa resenha do jornal londrino The Guardian. No livro – editado inicialmente em português – Sidarta Ribeiro critica a psiquiatria que, nas últimas décadas, deu as costas à psicanálise e transformou o psiquismo em mera manifestação fisiológica de sinapses e neurotransmissores, aumentando a medicalização da vida cotidiana para alegria da indústria farmacêutica.
- Partindo de elementos provenientes da psicanálise, de teorias feministas e da crítica literária, em seu último livro MOTHERS, FATHERS AND OTHERS, a escritora Siri Hustvedt enfoca a maternidade, mostrando que sua posição no imaginário coletivo continua ocupando o espectro que vai de Virgem Imaculada à prostituta, como Freud já mostrara.
- O filme “Não olhe para cima”, no Netflix, é uma perfeita metáfora dos mecanismos de negação presentes na sociedade nos tempos de pandemia. No filme, cientistas descobrem que um meteoro se chocará com a Terra em seis meses. Tentam avisar as autoridades, que inicialmente ridicularizam-nos e, quando finalmente se organizam para impedir choque, são demovidos dessa decisão por um empresário que afirma ser o meteoro uma fonte inesgotável de material valioso, que deixaria o pais ainda mais rico e poderoso. No embate entre o interesse capitalista pelo lucro versus o interesse humanitário pela vida – um dos impasses sociais mais prementes na realidade – o que vencerá?
Netflix’s “Don’t Look Up”: A Psychoanalytic Look at the Movie | Dareto look up – OI Canadian
- O sucesso da série “Succession”, do canal HBO é atribuído ao enredo que se apoia fortemente no conflito edipiano entre o bilionário Logan Roy e seu filho Kendall, assim como nos demais conflitos familiares (ciúmes e rivalidades fraternas, filhos abandonados, traumas infantis etc.) tão familiares à psicanálise.
HBO IsSmiling: A Psychoanalytic Take OnYourObsessionwith “Succession” | Psychology Today
- Vídeo com entrevista de Christian Dunker falando sobre negacionismo e covid
Christian Dunker: “O negacionismo é como a curva da covid, ele não se resolve de uma vez” – YouTube
- Uma pequena peça chinesa de jade esquecida em seu apartamento na fuga para Londresfoi resgatada pela Princesa Bonaparte a pedido do próprio Freud, revelando o quanto ele era apegado àquele objeto.Esse é o ponto de partida para as considerações do autorCraig Clunas, curador da próxima exibição “Freud and China”, no Freud Museum de Londres, que abre em fevereiro e refletesobre a inexplorada relação do pai da psicanálise com amilenar cultura chinesa.
Contemporary China Centre Blog » Freud and China (westminster.ac.uk)
- Com enfoque um pouco diferente, o jornal londrino TheGuardian fala sobre a próxima exposição do Freud Museum – FREUD AND CHINA.
How a jade ornamentfrom China casts new light on Freud’s psyche | Sigmund Freud | The Guardian