Março de 2021 – Vol. 26 – Nº 03

 

Walmor J. Piccinini

 

Antes da pandemia visitando um mercado me deparei com uma liquidação de “Croc” aqueles chinelos sem graça, mas muito confortáveis. Num impulso comprei vários para presentear sobrinhos e filhos. Dei alguns e acabei ficando com vários, seja para andar na praia ou uso doméstico mesmo. Veio a pandemia, distanciamento social e os Crocs se tornaram meu calçado para todos momentos. Algumas vezes cheguei a utilizar tênis para caminhar numa esteira, mas foram poucas vezes, pois a esteira implica comigo e a tenho deixado de lado. Resumindo, tenho Croc para andar em casa, para andar na rua, para deixar em quarentena, para sair de casa. É Croc para toda obra. Abri uma exceção para um chinelo que ganhei no dia dos pais e esta é minha vida atual, do Croc para o chinelo e do chinelo para o Croc. Passo os dias atarefado, além do trabalho com telemedicina, vou pulando de aparelho em aparelho. O smartfone é o mais utilizado, mas aí surgem opções, no Kindle Fire leio um livro de cavaleiros medievais, no Ipad uma ópera cósmica, no computador livro de história e ainda estou tentando encontrar uma serventia para o laptop que costumava utilizar em viagens. Ele não pega pó por estar bem acondicionado. Nos últimos anos viajei muito, visita para filha no Japão, visita a outra filha na Austrália e por fim visita às minhas origens no Alto Trento. E aí veio corona e tudo mudou. Nada de planos de viagens, nada de rua, nada de festas. Comemorei o aniversário de um neto com uma festa virtual e ele ficou muito feliz. Novos tempos, novas maneiras de se viver, novos desafios. Sinto como se estivesse viajando numa nave espacial rumo ao espaço infinito sabendo que não dá para dar uma paradinha e desembarcar para esticar as pernas. Surgem constatações de toda ordem. A primeira é que tem muita gente bem tranquila com a situação, filhos criados, renda mensal suficiente, menos gastos, mais trabalho doméstico, mas a vida vai tranquila.  Outros enfrentam crise nos negócios, falta de perspectivas no futuro próximo. Problemas de relacionamento afloram, brigas, desgaste contínuo e muita ansiedade. Esta pandemia traz à tona problemas que estavam enterrados.

Enquanto milhares de pessoas procuravam o sistema de saúde, outros corriam para os supermercados diante da perspectiva de faltarem alguns itens essenciais. Em Kobe, no Japão correu o boato que faltaria papel higiênico, todos correram para estocar e é claro, faltou o tal papel. Um dos primeiros problemas psicológicos foi derivado da perda de certas liberdades diante da necessidade do isolamento social. Mesmo o isolamento sendo uma das mais eficientes intervenções para controlar a disseminação do vírus, alguns reagiram e reagem com teimosa obstinação. O fato é que no início, vinham informações de Wuhan dando conta da necessidade de isolamento, para muitos, parecia coisa de chinês. Foi difícil cair a ficha desta necessidade. Uma medida muito bem vinda foi a garantia de uma renda mínima para a população. Com ela evitou-se o desespero, a possibilidade de saques e violência.

Maior consumo de equipamentos de eletrônica, a importância de uma rede confiável de WIfi, tudo passou a fazer parte do nosso dia a dia. O trabalho remoto trouxe novos desafios, novas necessidades, replanejamento dos ambientes domésticos. Aumentou o consumo de móveis de escritórios e cadeiras mais ergométricas. Atividades coletivas em ambientes fechados, cinemas, teatros, conferências e congressos, tudo foi adiado, transferido ou cancelado.

Se a pandemia mostrou aspectos menos nobres do ser humano, serviu para mostrar que tem muita gente boa, desprendida e disposta a auxiliar os necessitados. Empresas doando, cidadãos se voluntariando para prover comida aos mais carentes, tudo nos mostrou a melhor qualidade de muitos seres humanos. Médicos, profissionais de saúde de modo geral tem dado mostras de heroísmo no seu dia a dia carregado de incertezas. A população reconhece e aplaude. A experiência em outras epidemias da Organização Mundial de Saúde e alguns especialistas nos permitem propor algumas medidas facilitadoras para o enfrentamento da situação que vivemos: estas recomendações são da OMS e resume muta coisa que vocês podem seguir.

Cuide de si mesmo e dos outros, mantendo contato com amigos e familiares e encontrando tempo para atividades de lazer.

Limitar a exposição a notícias relacionadas à pandemia, já que muitas informações podem desencadear transtornos de ansiedade.

Diga a alguém quando sentir sintomas de tristeza ou ansiedade…

Preste atenção às suas próprias necessidades, sentimentos e pensamentos…

Ajudar, tanto quanto possível, pessoas em grupos de risco…

Limitar o contato físico com outras pessoas, evitando a distância emocional.

Compartilhe informações e instruções de prevenção de contaminação…

Monitore estados mentais disfóricos, como irritabilidade e agressão.

Entenda que estresse e medo são normais em situações desconhecidas…

Desenvolver um sentimento de pertencimento ao processo de cuidado coletivo-

Evite confundir a solidão do confinamento preventivo com abandono, rejeição ou desamparo.

Considere o impacto coletivo de suas ações…

Estabeleça uma rede de suporte (mesmo que seja virtual)

Considere o impacto das ações sociais na parada ou desaceleração da doença…

Não discriminar ou culpar grupos ou indivíduos pelo processo de contaminação…

Não dissemina informações de fontes não oficiais…

Mantenha padrões adequados de sono, nutrição e exercícios…

Pratique meditação.

Manter o uso normal de medicamentos prescritos…

Não tenha medo da assistência por profissionais de saúde mental.

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