Colaborador da Psychiatry Online Brasil lança a quarta edição do seu livro Manual do Exame Psíquico. Cláudio Lyra Tavares. As principais características desta nova edição estão assim resumidas pelo autor.
Resenha da 4ª edição do meu Manual do Exame Psíquico, pela editora Thieme.
Esta 4ª edição traz algumas novidades e correções, mas a essência é a mesma das anteriores. Como psiquiatra essencialmente clínico, meu objetivo continua ser o de trazer ao aluno ou profissional não um manual para fazer provas ou preencher prontuários, mas um apoio para compreender o paciente e produzir uma proposta terapêutica coerente. Continuo entendendo que o estudo teórico só funciona com a prática e vice-versa. Não basta aprender o presente, é preciso conhecer o passado e antever o futuro. É assim que o cérebro funciona.
A multiplicidade teórica e instrumental da psicopatologia clínica e da prática psiquiátrica não deve ser vista como um problema, mas como um recurso inerente a esta arte. Da mesma forma que ninguém consideraria as diversas classes de instrumentos musicais um “problema” da orquestra, que o maestro resolveria escolhendo, por exemplo, apenas os violinos e abandonando os fagotes e oboés.
Entendo que a prática e a teoria só desfrutam de existência virtual – como duas faces da mesma moeda – e não funcionam separadas uma da outra.
Assim, para chegar a ser um bom profissional, todo psiquiatra deve examinar atentamente inúmeros pacientes, lendo muito e refletindo mais ainda. Hoje, vemos que uma boa parte de iniciantes não faz nem uma coisa nem outra. Isto parece ocorrer porque muitos aprendizes se iniciam na psiquiatra pela doutrina de que o diagnóstico é um procedimento burocrático como outro qualquer e se faz de forma aritmética, pela soma de sintomas.
O pensamento crítico só se adquire no confronto diário com a realidade, que nunca obedece direito às teorias. Desta forma se vê que: a) as verdadeiras questões terapêuticas se originam no diagnóstico; b) abordagens superficiais não funcionam com objetos complexos; c) todas as dicotomias são sempre falsas (genética vs. ambiente; drogas vs. psicoterapia, internação vs. ambulatório, mono vs. poli farmácia, etc.);
Há anos, escrevi um pequeno artigo chamado o Erro Diagnóstico na Psiquiatria. Presumindo que poucos leram o artigo, transcrevo alguns conceitos aqui, por pertinentes ao tema.
A abordagem fenomenológica não é uma escola, nem uma corrente, nem uma teoria, nem um sistema explicativo, mas apenas uma atitude frente ao fenômeno humano. Assim, preparar os iniciantes para a compreensão do homem como um todo, privilegiando a abordagem clínica sobre todos os arcabouços teóricos pode ajudá-los a se tornarem bons psiquiatras sem que tenham antes que formar-se em literatura ou filosofia. É muito mais uma questão de atitude frente à clínica do que da formulação de frases bem-feitas ou elegantes elucubrações metafísicas. Psicopatologia fenomenológica é essencialmente prática, e não filosofia, apesar de, às vezes, acabar levando os seus praticantes a um certo grau de crítica filosófica.
A psicopatologia tem muito a aproveitar – mas também a ensinar – com a investigação neuro científica. Esta se restringe às abordagens cartesianas porque são as únicas que se sabe fazer, não as que realmente se prestam a isso. Como a história do bêbado que procura a chave do carro junto ao poste de luz, onde está claro, não aonde a deixou cair.
Só entendemos realmente a psicopatologia quando nos confrontamos com a aparente imprevisibilidade do fenômeno psiquiátrico e percebemos que, na realidade, ele é muito mais previsível do que a vida normal. Que não apenas as alucinações do doente mental, mas todas as formas de percepção real de todas as pessoas são igualmente construídas pela mente. Que o verdadeiro mistério não reside no porquê do comportamento agressivo deste ou daquele paciente, mas sim na razão pela qual as pessoas não trocam bofetões diariamente.
Para ilustrar, usando o sintoma que mais mobiliza a sociedade, a agressividade (violência, periculosidade) como mote, vemos que não se pode medicá-la bem sem o diagnóstico correto do quadro de base. Quando se medica a agressividade, visa-se:
a) num esquizofrênico, o descontrole, uma consequência primária da desorganização;
b) num paranoide, a consequência secundária da ideia de perseguição;
b) num deficiente, a reatividade pueril, consequência secundária da incapacidade;
c) num epiléptico, a irritabilidade, consequência primária de alguma lesão cerebral;
d) num maníaco, a impulsividade, uma consequência primária da excitação e secundária à imaturidade.
Assim, a questão fundamental, evidentemente, não é qual a medicação, mas qual o problema a ser tratado. Sabendo avaliar, usamos o mais adequado na dose suficiente e sem criarmos problemas. Primum non nocere.
A imensa massa de informação disponível hoje em dia, ao alcance do celular, facilita e dificulta a tarefa do estudante. A quantidade de nonsense, fakenews, pseudociência, ciência falsa (não é a mesma coisa) e deblaterações ideológicas na rede tende a angustiar e deixar o aluno à mercê das apostilas e protocolos. Por esta razão, não procurei fazer um texto esquemático nem enciclopédico. Minha ideia é ajudar o leitor a navegar nesse oceano de dados desencontrados e dar um sentido à sua prática, criando seu próprio caminho. Se não precisa ser burocrático, também não é necessário ser profundo nem criativo (seja lá o que for isso).
É perfeitamente possível fazer uma psiquiatria bem-feita sem apelar para coisas indefinidas como criatividade, originalidade ou profundidade. A psiquiatria deve ser relacional; basta entender o que se passa. Só isso.
Fizemos uma rápida busca das Publicações de Cláudio Lyra Bastos no Psychiatry online Brasil e as trazemos para nossos leitores.
Agosto de 2010 – Vol.15 – Nº 8 COLUNA PSIQUIATRIA CONTEMPORÂNEA
https://www.polbr.med.br/ano10/cpc0810.php
PSIQUIATRIA DE RISCO E A TRIVIALIZAÇÃO DO CONCEITO DE DOENÇA MENTAL Luiz Carlos Marques,
psiquiatra da Universidade Federal Fluminense, diretor do Instituto Fluminense de Saúde Mental,
Especialista em Psiquiatria pela UFRJ, Especialista em Psiquiatria e Psiquiatria Forense pela ABP.
Claudio Lyra Bastos,
psiquiatra da Universidade Federal Fluminense, perito do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro,
diretor do Instituto Fluminense de Saúde Mental, Mestre em Antropologia pela UFF,
Especialista em Psiquiatria pela UFRJ, Especialista em Psiquiatria e Psiquiatria Forense pela ABP.
Junho de 2012 – Vol.17 – Nº 6 Pensando a Psiquiatria https://www.polbr.med.br/ano12/clau0612.php
UM QUADRO PARANÓIDE QUERELANTE – LAUDO PSIQUIÁTRICO FORENSE
Fevereiro de 2012 – Vol.17 – Nº 2 Pensando a Psiquiatria https://www.polbr.med.br/ano12/clau0212.php
OS QUADROS PARANÓIDES QUERELANTES – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PSIQUIÁTRICO-FORENSE.
Maio de 2012 – Vol.17 – Nº 5 Pensando a Psiquiatria https://www.polbr.med.br/ano12/clau0512.php
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO: OBSESSÃO E DELÍRIO
Dezembro de 2011 – Vol.16 – Nº 12 Pensando a Psiquiatria https://www.polbr.med.br/ano11/clau1211.php
AVALIANDO O TDAH
Julho de 2012 – Vol.17 – Nº 7 Pensando a Psiquiatria
https://www.polbr.med.br/ano12/clau0712.php
HIGIENE E SAÚDE PÚBLICA: UM LAUDO PSIQUIÁTRICO FORENSE
Setembro de 2012 – Vol.17 – Nº 9 Pensando a Psiquiatria
https://www.polbr.med.br/ano12/clau0912.php
PROBLEMAS NA PSIQUIATRIA DO IDOSO: DIFICULDADES TERAPÊUTICAS
Março de 2012 – Vol.17 – Nº 3 Pensando a Psiquiatria https://www.polbr.med.br/ano12/clau0312.php
OS QUADROS PARANÓIDES QUERELANTES – 2ª PARTE: UM RELATO PERICIAL
Janeiro de 2012 – Vol.17 – Nº 1 Pensando a Psiquiatria https://www.polbr.med.br/ano12/clau0112.php
PROBLEMAS NA PSIQUIATRIA DO IDOSO: DIFICULDADES NO DIAGNÓSTICO
Maio de 2004 – Vol.9 – Nº 5 Artigo do mês
https://www.polbr.med.br/ano04/artigo0504.php
Pseudo-hermafroditismo e estados intersexuais: evolução histórica e impasses do tratamento médico
Lisieux Eyer de Jesus
Cirurgiã Pediátrica/Hospital Municipal Jesus/ Hospital Universitário Antônio Pedro – Universidade Federal Fluminense, TCBC
Claudio Lyra Bastos
Psiquiatra/Hospital Universitário Antônio Pedro – Universidade Federal Fluminense/ Instituto Fluminense de Saúde Mental
Maio de 2013 – Vol.18 – Nº 5 – Pensando a Psiquiatria
O CÉREBRO DOS PEDÓFILOS https:/ /www.polbr.med.br/ano13/clau0513.php