Abril de 2024 – Vol. 29 – Nº 4
1) Cinco acadêmicos norte-americanos discutem “Who´s afraid of
gender?”, o mais recente livro de Judith Butler. Fortemente embasado
numa perspectiva psicanalítica, Butler aponta como ficou difícil tratar o
“gênero” de forma objetiva por ter ele se transformado num fantasma
que capta o imaginário coletivo, centralizando projeções e medos
inconscientes. Um exemplo citado é acusação persistente feita pelo
Vaticano de que a ideologia de gênero promove a pedofilia, quando é
sabido que a Igreja Católica é obviamente a maior instituição
responsável pela pedofilia no mundo. Butler cita ainda o fato de ter sido
perseguida como “bruxa” num aeroporto de São Paulo em 2017, em
função de um livro que escrevera em 1990, 27 anos.
Gender and Its Enemies (chronicle.com)
2) “Berlin 1933 – a uniformização escondida da psicanálise” é um artigo
publicado na Revue Française de Psychanalyse de janeiro de2024 que
aborda um tema difícil – as negociações entre os psicanalistas da
Sociedade de Psicanálise da Alemanha com os nazistas, visando evitar
sua dissolução. As negociações foram lideradas por dois psicanalistas
não judeus – Felix Boehm e Carl Müller-Braunschweig. Hitler sobe ao
poder em 1933 e já nesse ano os analistas judeus começam a ser
afastados, processo que culminou com a expulsão de todos em 1935. A
sociedade se manteve até 1938, quando foi fechada. Todas as
conceções feitas foram em vão.
Berlin 1933 : l’uniformisation cachée de la psychanalyse [1] | Cairn.info
3) “Levado à loucura por uma filha marxista” é um divertido, mas muito bem
fundamentado artigo analisando as desventuras de dois pais bilionários
– Bill Ackmann e Elon Musk – cujas filhas se declaram marxistas e
romperam relações com eles, levando-os a acusar as instituições
universitárias que elas frequentavam como propagadoras de “deologias
exóticas” – como se dizia há 60 anos aqui no Brasil. O autor, seguindo o
figurino lacaniano, aponta que Ackmann e Musk se recusam a
abandonar o papel de Pai Real e assumirem o de Pai Simbólico.
Driven Mad by a Marxist Daughter – Public Seminar
4) O artigo se inicia e progride longamente listando as acusações mais
recentes contra a psicanálise, feitas pelo cientificismo e as terapias
cognitivo comportamentais e medicamentosas, para terminar fazendo
um surpreendente, mas comedido elogio a Freud, cujas ideias “não
podem ser caladas”. O gatilho para o autor foi o recém-lançado livro de
Frank Tallis – “Mortal Secrets: Freud, Vienna and the making of the
modern mind”, que ousa defender a psicanálise num campo em que a
generalizada hostilidade contra Freud e suas descobertas parece
começar a ceder.
Why we still need Dr Freud – UnHerd
5) Uma nova biografia de Freud, escrita por Frank Tallis, escritor e
psicólogo.
THINKING, FAST AND SLOW | Kirkus Reviews
6) Psicanalista que é colunista da revista Slate (edição francesa) responde
com clareza e objetividade à pergunta de um leitor: o que a psicanálise
pensa das trans-identidades? Um de seus pressupostos é que a
psicanálise não tem compromissos com velhos dogmas nem com os
novos. Ela deve ser sempre uma escuta singular, não diretiva, ajudando
ao sujeito se compreender melhor.
«Comment la psychanalyse pense-t-elle les transidentités?» | Slate.fr
7) Em artigo no Estadão, o autor comenta as notícias sobre o câncer de
Kate Middleton, abordando-as sob três enfoques – a veracidade das
informações “oficiais”, a privacidade hoje e o encontro com a doença e
morte.
Uma princesa diante da fragilidade humana e nós, plebeus,
confrontados com nossa própria mortalidade – Estadão (estadao.com.br)
8) Previsivelmente, estudos mostram que o uso intenso do telefone celular
facilita a conexão global, mas prejudica os benefícios do contato
pessoal, ao potencializar a distração e o desinteresse pela sociabilidade.
Life Advice: Put Your Phone Away, Please | Psychology Today
9) Interessante artigo do psicanalista italiano Massimo Recalcati,
abordando a anorexia, o isolamento social e a depressão não como
patologias pessoais a serem tratadas mas sintomas do mal-estar da
cultura.
Jovens, vocês estão vivos, não loucos. Artigo de Massimo Recalcati –
Instituto Humanitas Unisinos – IHU
10) Cristian Dunker e Gilson Iannini fazem uma conferência em Belo
Horizonte no lançamento do livro “Ciência pouca é bobagem: por que
psicanálise não é pseudociência”, uma resposta ao tão comentado livro
de Natália Pasternak e Carlos Orsi.
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais – Christian Dunker e
Gilson Iannini debatem relação entre psicanálise e ciência