Dezembro de 2023 – Vol. 28 – Nº 12

Vitória Gouveia Andrade, Prof. Dra Márcia Gonçalves


RESUMO:


O câncer de mama, prevalente globalmente, apresenta desafios físicos e emocionais. Este estudo busca
entender as complexas interações entre esta doença, a mastectomia e a saúde mental. Realizou-se uma
revisão de literatura, focando em pesquisas recentes sobre a jornada mamária e sua relação com saúde
mental. Destaca-se a interconexão entre depressão, ansiedade e câncer, evidenciando a importância de
intervenções abrangentes. Discute-se a vivência da mastectomia, seus impactos e a reconstrução
mamária, ressaltando a persistência do impacto emocional. Evidencia-se, também, o apoio familiar
diante dos desafios físicos e psicológicos do tratamento oncológico. Considerando as complexidades
da jornada do câncer de mama, destaca-se a necessidade de uma abordagem personalizada para
promover o bem-estar das pacientes após o diagnóstico com câncer de mama.
Palavras-chave: Mastectomia; Câncer de Mama; Depressão; Saúde Mental


INTRODUÇÃO:


O câncer de mama, considerado o mais prevalente entre as mulheres globalmente, registra
mais de 2 milhões de novos diagnósticos anualmente, conforme evidenciado por Afshar-Bakshloo et
al. (2023). Para além dos desafios físicos inerentes a essa condição, estudos conduzidos por Tsaras et
al. (2018) e Bredicean et al. (2020) salientam a presença crucial de dimensões psiquiátricas, como
ansiedade e depressão, na trajetória de pacientes após o diagnóstico de câncer, demandando uma
avaliação e tratamento integral da saúde mental dessas mulheres.
A vivência da mastectomia, conforme apontado por Kaminska et al. (2015) e Archangelo et al.
(2019), associa-se a uma maior frequência de sintomas de ansiedade e depressão. Apesar da eficácia
da mastectomia na prevenção e tratamento do câncer de mama, pesquisas conduzidas por Archangelo
et al. (2019) e Weingarden et al. (2022) ressaltam a possibilidade de desencadear consequências
persistentes da imagem corporal. Esse impacto negativo se reflete na qualidade de vida, função sexual
e no isolamento social de uma parcela expressiva de pacientes.
O presente artigo aborda as complexas interações entre a jornada de pacientes que tiveram
diagnóstico de patologia oncológica mamária e a saúde mental, visando a compreensão da necessidade
de abordagens clínicas e demais suportes de reabilitação para essas mulheres.

METODOLOGIA:


Foi realizada uma revisão bibliográfica consultando bases de dados de alta relevância no meio
acadêmico, como PubMed e SciELO, utilizando termos-chave relevantes, como “Mastectomia”,
“Câncer de Mama”, “Depressão” e “Saúde Mental”. Como critérios de inclusão, foram utilizados
artigos científicos publicados nos últimos dez anos, que abordassem a relação entre mastectomia e
patologias psiquiátricas. Foram excluídos artigos com período de publicação anterior a dez anos,
escritos em idiomas não acessíveis e sem foco direto na relação entre mastectomia e patologias
psiquiátricas.

DISCUSSÃO:


A relação entre mastectomia e patologias psiquiátricas, especialmente depressão e ansiedade,
tem sido alvo de considerável atenção na literatura científica recente. Uma compilação de artigos
revela que a mastectomia, embora eficaz na prevenção e tratamento profilático do câncer de mama,
não está isenta de consequências psicológicas substanciais.

Tsaras et al. (2018) e Bredicean et al. (2020) oferecem insights valiosos sobre a interligação
entre câncer de mama e patologias psiquiátricas, destacando diferentes perspectivas em relação a essas
condições psicológicas. Segundo os autores, a depressão e a ansiedade são comuns e representam as
principais manifestações psiquiátricas em pacientes com câncer de mama. Bredicean et al. (2020)
abordam a influência dos esquemas cognitivos na experiência de sintomas mistos em pacientes com
câncer de mama, descrevendo a depressão como um fenômeno multifacetado, envolvendo sentimentos
de futilidade, culpa e retraimento social. A pesquisa ressalta a bidirecionalidade na relação entre
depressão e câncer, sugerindo que a depressão não apenas resulta do diagnóstico, mas também pode
ser um fator de risco para o desenvolvimento da doença. Tsaras et al. (2018) explicam que o
diagnóstico e o tratamento da doença podem ser experiências traumáticas, aumentando o risco de
desenvolvimento de sintomas emocionais, enfatizando a importância da detecção precoce e do
encaminhamento adequado para abordar questões individuais psicológicas em pacientes com câncer
de mama. Essas abordagens convergentes oferecem uma visão abrangente da complexidade emocional
enfrentada por essas pacientes. A interconexão entre essas condições e o próprio câncer, destaca a
importância de intervenções, que não apenas abordem os sintomas, mas também considerem a
prevenção e o tratamento dos fatores de prejuízos emocionais associados.
Kaminska et al. (2015) e Archangelo et al. (2019) evidenciam uma maior frequência de
sintomas de ansiedade e depressão em mulheres submetidas à mastectomia. De acordo com Kaminska
et al. (2015), após o procedimento, as mulheres podem desenvolver o ‘complexo de meia mulher’,
uma vez que a perda da mama não apenas acarreta alterações físicas, mas também instiga ansiedade
em relação à perda da feminilidade. Almeida et al. (2015) e Archangelo et al. (2019) destacam que,
além da importância fisiológica, os seios representam a feminilidade e sensualidade. Assim, ao
interromper a harmonia do “corpo perfeito”, a mastectomia impõe desafios relacionados à sexualidade,
autoconceito e imagem corporal. Almeida et al. (2015) afirmam que as mulheres submetidas à
mastectomia frequentemente experimentam sentimentos de vergonha perante a sociedade.
Archangelo et al. (2019) exploram a reconstrução mamária como uma alternativa para
melhorar a autoestima e a função sexual. De acordo com os autores, essa opção é segura e resulta em
melhorias na imagem corporal, função sexual e na redução de sintomas depressivos. Esse impacto
positivo é especialmente significativo em mulheres mais jovens, as quais, segundo Almeida et al.
(2015) e Archangelo et al. (2019), atribuem maior importância à sua aparência em comparação com
mulheres mais velhas. Por outro lado, Weingarden et al. (2022) e Afshar-Bakshloo et al. (2023)
enfatizam a persistência do olhar alterado negativamente da imagem corporal a longo prazo em uma
parcela significativa de pacientes submetidos à mastectomia. Apesar de muitas mulheres buscarem a
reconstrução mamária para mitigar esses impactos, uma proporção substancial ainda enfrenta questões
e prejuízos na qualidade de vida persistentes nesse aspecto, mesmo após o procedimento. Em
contrapartida, Afshar-Bakshloo et al. (2023) observam uma possível tendência de recuperação ao
longo do tempo após uma mastectomia isolada. Essa complexidade ressalta a importância de
abordagens abrangentes e sensíveis no cuidado dessas mulheres, considerando tanto os aspectos
físicos quanto os psicológicos dessa jornada.
Por fim, o estudo de Almeida et al. (2015) salienta a importância do apoio familiar para
mulheres com câncer de mama. Com o surgimento da doença, ocorre uma mudança de papéis,
frequentemente levando a mulher a renunciar a atividades cotidianas, como trabalho, cuidado com os
filhos e casa, resultando em isolamento social. O suporte da família e amigos é essencial para superar
medos, ansiedades e depressão, proporcionando opções adaptativas de vida e contribuindo para a
aceitação e estabilidade comportamental. A família emerge como a principal fonte de apoio,
oferecendo cuidados diretos e auxiliando nas atividades diárias, fundamental para enfrentar os desafios
físicos e mentais associados ao tratamento oncológico.

CONCLUSÃO:


O câncer de mama vai além dos desafios físicos, incorporando dimensões emocionais como
ansiedade e depressão. A mastectomia, muitas vezes necessária no tratamento, intensifica esses
desafios, provocando reflexões profundas sobre identidade e feminilidade. A perda da mama não afeta
apenas o corpo, mas também desencadeia sentimentos de vergonha e um sentido de desequilíbrio,

sublinhando o impacto significativo da imagem corporal na saúde mental. Mesmo com a reconstrução
mamária, as questões sobre a imagem do corpo e feminilidade, entre outras persistem em muitas
mulheres. Isso destaca a importância do suporte e reabilitação psicológica contínuo, que deve abranger
toda a jornada, desde o diagnóstico até após a cirurgia.
Assim, este estudo evidencia a importância de uma abordagem abrangente da saúde mental,
reconhecendo e respondendo à natureza duradoura e multifacetada dos impactos emocionais
associados ao câncer de mama.

REFERÊNCIAS:

Afshar-Bakshloo, M., Albers, S., Richter, C. et al. How breast cancer therapies impact body image –
real-world data from a prospective cohort study collecting patient-reported outcomes. BMC Cancer.
2023;23(1), 705. doi:10.1186/s12885-023-11172-y


Weingarden, H., Wilhelm, S., Jacobs, J. M. et al. Prospective examination of psychological risk and
maintenance factors for body image distress after mastectomy with immediate breast reconstruction.
Body Image. 2022;42, 120-125. doi:10.1016/j.bodyim.2022.05.014


Bredicean, A. C., Crăiniceanu, Z., Oprean, C. et al. The influence of cognitive schemas on the mixed
anxiety-depressive symptoms of breast cancer patients. BMC Women’s Health. 2020;20(1), 32.
doi:10.1186/s12905-020-00898-7

Tsaras, K., Papathanasiou, I. V., Mitsi, D. et al. Assessment of Depression and Anxiety in Breast
Cancer Patients: Prevalence and Associated Factors. Asian Pac J Cancer Prev. 2018; 19(6), 1661-

  1. doi:10.22034/APJCP.2018.19.6.1661

Archangelo, S. C. V., Sabino Neto, M., Veiga, D. F. et al. Sexuality, depression and body image after
breast reconstruction. Clinics (Sao Paulo). 2019;74, e883. doi:10.6061/clinics/2019/e883


Kamińska, M., Kubiakowski, T., Ciszewski, T. et al. Evaluation of symptoms of anxiety and
depression in women with breast cancer after breast amputation or conservation treated with adjuvant
chemotherapy. Ann Agric Environ Med. 2015;22(1), 185-189. doi:10.5604/12321966.1141392


Almeida, T. G., Comassetto, I., Alves, K. et al. Experience of young women with breast cancer and
mastectomized. Esc Anna Nery. 2015;19(3), 432-438. doi:10.5935/1414-8145.20150057


Vitória Gouveia Andrade – Médica – [email protected]
Prof. Dra. Márcia Gonçalves – Professora Titular de Psiquiatria da Unitau – Universidade de Taubaté
[email protected]

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