Março de 2023 – Vol. 28 – Nº 3

Walmor João Piccinini 

No seu livro “O Diário da Guerra do Porco”, Adolfo Bioy Casares trata de uma Buenos Aires do futuro em que bandos de jovens saem às ruas para matar velhos a quem atribuíam à crise previdenciária do país. Vivendo muito eles teriam falido a Previdência Social e comprometido o futuro. Ainda não estamos lá, mas os sinais vão se avolumando sobre uma crise anunciada. No meio disto tudo um grupo de amigos se reuniam na mesa de um bar para tratar de assuntos importantes, mulher e futebol. Observaram um grupo de jovens aos gritos pelas ruas, não deram bola, afinal eles atacavam apenas os velhos. Como não se consideravam velhos, não era com eles. Foi um choque quando foram violentamente agredidos e descobriram que eles eram velhos também. Na vida é mais ou menos assim, não notamos a velhice, achamos que somos maduros, experientes. Nas novas publicações assistimos expressões como “novos velhos”, sazões, desaposentados, etc. Em detrimento dos idosos beneficiários do Estatuto do Idoso. (Estes seriam os velhos frágeis, doentes, incapazes de trabalhar).

Assistindo uma apresentação do Professor Cataldo sobre Psicanálise do Envelhecimento consideramos que, seria um assunto importante e interessante para discussão no CBP. Sugestão aceita, convidamos o próprio Prof. Cataldo e mais dois proeminentes professores com longa história associativa dentro da ABP, os Professores Luiz Salvador Miranda e Sá Júnior e o Professor João Romildo Bueno. Luiz Salvador e eu participamos do primeiro CBT em 1970. Luiz Salvador participou da Assembleia de Fundação da ABP em 1966. O Professor João Romildo Bueno perdeu alguns destes momentos graças ao seu pioneirismo, estava nos EUA trabalhando e se especializando em Psicofarmacologia. (Escrevi sobre eles no Psychiatry Online Brasil – ( https://www.polbr.med.br/ano17/wal0617.php e https://www.polbr.med.br/ano13/wal0213.php ) Ambos nascidos em 1938.

Alex Confort escrevendo sobre a velhice atribuiu uma boa velhice a Hereditariedade, Situação Financeira e Sorte.

German Berrios em editorial na Rev. Psiquiatr. RS em 2000:29 (1) discute se em psiquiatria o conhecimento histórico pode ter capacidade preditiva. “A resposta é complexa e depende, em grande parte, da maneira como definimos a psiquiatria, história e capacidade preditiva”.

“Por psiquiatria entendo o conjunto de narrativas desenvolvidas, (principalmente por sociedades ocidentais) para configurar, explicar e lidar com fenômenos comportamentais os quais, com base em critérios sociais mais do que neurobiológicos, foram definidos como “desvios”. Atualmente, tais narrativas são predominantemente médicas, mas a aliança entre medicina e loucura também é histórica por natureza e pode muito bem ser dissolvida no futuro” Esta dissolução seria determinadas por fatores sociais e não por fatores científicos”.

“História refere-se ao conjunto de narrativas desenvolvidas para capturar e reconfigurar agrupamentos contemporâneos de ideias, emoções e ações humanas na medida em que elas ocorrem em determinadas coordenadas espaço-temporais”.

“Capacidade preditiva se refere ao poder de especificar no presente os formatos e interações comportamentais que ocorrerão no futuro”.

Quando comecei a trabalhar com doentes mentais em 1960, (atendente psiquiátrico da Clínica Pinel de Porto Alegre), a psiquiatria era mais simples. Era o ramo da medicina que tratava os doentes mentais. O futuro era promissor. Ser psicanalista, trabalhar em clinica privada e construir uma casa em Gramado. Para atingir esta meta necessitava trabalhar muito, tive muitos empregos como estudante, alguns foram ficando pelo caminho. Mantive meu trabalho no Ministério da Saúde (IAPB, Inamps, MS). A ideia de ser psicanalista foi posta de lado e me tornei um híbrido, servidor público e psicoterapeuta. Isso permitiu criar um lastro que me mantém até hoje. Não pensava na velhice ou na doença como redução de ganhos. E aí entra a sorte de que nos falava Confort, pois as doenças puderam ser vencidas sem grandes prejuízos.

A possibilidade de emprego público foi diminuindo, quase desaparecendo e uma sugestão que posso dar aos jovens psiquiatras é que planejem a aposentadoria. Hoje em dia já existem planos que permitem esta viagem. Quando trabalhei com Harri Graeff na AMRIGS participei com ele na ideia de criar um seguro de interrupção de atividade e um pecúlio para a família. Infelizmente surgiram casos de ter que adiantar o pecúlio para familiares de médicos doentes cuja família passava necessidades.

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