Junho de 2024 – Vol. 29 – Nº 6

Júlia Chaves Lobo de Godoi Santos , Julia Messias Fernandes,

Mariana Costa de Carvalho e Silva, Milena Miyata, Prof Dra. Márcia Gonçalves **


RESUMO
O transtorno depressivo e o diabetes mellitus tipo dois são duas doenças de alta prevalência no cenário
mundial atual e a associação entre ambas se mostra cada dia mais forte. Quando analisamos a população adulta
feminina a incidência é ainda maior (WU,2020). Para isso, foi realizada uma revisão integrativa com base nos
resultados encontrados nas bases de dados BVS, LILACS, SciELO e PubMed de trabalhos publicados entre 2020
e 2023 combinando os descritores “Transtorno Depressivo”;” Diabetes Mellitus Tipo 2” e “Adulto”. Os critérios de
inclusão foram os artigos publicados em inglês ou português, pacientes adultos do sexo feminino, portadoras de
transtorno depressivo e de diabetes mellitus II. De 71 artigos encontrados, foram incluídos 9. Como resultado,
observou-se que existe uma relação entre o desenvolvimento do diabetes mellitus e a presença de sintomas
depressivos, em especial na população feminina e essa relação abrange tanto o controle metabólico, quanto
aspectos adaptativos. Existe ainda correlação entre o grau de depressão e a qualidade do controle glicêmico,
sendo esse mais eficaz com a melhora do quadro depressivo. Além disso, novas pesquisas devem ser realizadas
para aprofundar os conhecimentos sobre o assunto.
Palavras-chave: Depressão; Diabetes mellitus II; adultos

  1. INTRODUÇÃO
    A Diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo 2) e a depressão são duas doenças crônicas altamente prevalentes
    nos países desenvolvidos e que estão associadas, por si só, a um impacto negativo na qualidade de vida, a um
    aumento de incapacidade funcional e a uma diminuição na esperança média de vida. Nos últimos anos, tem-se
    demonstrado uma forte associação entre as duas, tendo-se verificado um maior risco de depressão na
    população diabética, bem como um maior risco de alterações da homeostasia da glicose na população com
    síndrome depressiva. (FELISBERTO, et al. 2017).
    Por outro lado, o prognóstico destas doenças, em termos de gravidade, complicações, adesão ao
    tratamento e mortalidade é pior quando surgem juntas do que quando ocorrem em separado.
    Ao colocar em foco a população adulta feminina sob tais enfermidades, vê-se que de acordo com o
    Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), desenvolvido pelo Instituto Cactus, quando observamos
    os fatores sociodemográficos, um aspecto que merece destaque é a constatação que acordo com dados
    recentes divulgados pelo Estudo Observatório de Atenção Primária em Saúde, realizado pela Umane, uma
    associação civil independente, que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública, e baseado na pesquisa Vigitel –
    Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – de 2021, do
    Ministério da Saúde, as mulheres representam 57% das pessoas com hipertensão e diabetes nas principais
    capitais brasileiras. Além disso, um dado preocupante revela que houve um aumento de 54% nos casos de
    diabetes no público feminino ao longo dos últimos 15 anos.
    Dessa forma, com a elaboração desta revisão pretende-se fazer uma súmula do estado atual do
    conhecimento em relação à patologia depressiva na sua associação com a DM tipo 2 na população feminina
    adulta. Para a consecução do trabalho, será feita uma compilação das análises dos artigos selecionados.
  2. METODOLOGIA
    Esta pesquisa envolveu uma revisão da literatura sendo feita uma cuidadosa seleção de artigos sobre o
    impacto do transtorno depressivo em mulheres adultas (19 a 44 anos) portadoras de diabetes mellitus tipo II.
    As fontes de informações selecionadas para identificar os artigos foram BVS, LILACS, SciELO e
    PubMed. Antes do início da pesquisa, a existência de uma revisão sistemática em um assunto semelhante foi
    consultada no banco de dados da Cochrane Library e nenhum registro foi encontrado. Os descritores usados

para elaborar as estratégias de busca foram definidos pelo DeCS: Descritores em Saúde para publicações em
português.
Os descritores selecionados foram: Diabetes mellitus, depression disorder, adult- em inglês. A limitação
de período dos artigos foi de 3 anos (de 2020 a 2023).
Na última etapa, foram encontrados 71 artigos, segundo os critérios de inclusão: artigos publicados nos
últimos 3 anos (2020 a 2023), textos completos e gratuitos. Papers pagos e com data de publicação em período
superior aos últimos 5 anos foram excluídos da análise, selecionando-se 9 artigos pertinentes à discussão.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO
    Um estudo transversal feito em um hospital especializado na Etiópia revelou que a depressão em
    pacientes com DM2 é significativa, 47,1% dos 263 participantes apresentaram depressão, sendo essa de maioria
    leve. O estudo também demonstrou que o controle glicêmico, a presença de complicações e o maior tempo de
    diabetes são preditores de depressão. (YIMAN ALI, et al. 2023)
    Dois hospitais de nível terciário em Bangladesh foram alvo de um estudo transversal em que dados de
    318 participantes foram coletados. O estudo mostrou uma prevalência de 62% de depressão nos pacientes
    diabéticos e por meio de ferramentas, como EuroQol-5D-5L (utilizado para avaliar Qualidade de Vida
    Relacionada à Saúde) concluiu-se que a maioria dos pacientes com DM2 são afetados pela depressão Co
    mórbida e tem impacto negativo na qualidade de vida. (NAMDEO, et al. 2023).
    Um estudo realizado na Suíça apontou que em pacientes com DM2 recém-diagnosticado, as mulheres
    mais jovens apresentaram maior prevalência de depressão, ansiedade e obesidade. Em comparação com a
    população geral sueca, as mulheres jovens apresentam maior prevalência de depressão e uso de
    antidepressivos. (MELIN, et al. 2022).
    Dados coletados do Lifelines Cohort Study and Biobank indicaram que pessoas com sintomas
    depressivos e com ansiedades portadoras de pré-diabéticas podem apresentar um subgrupo de alto risco para
    diabetes tipo 2. Os resultados apontaram que apesar da associação de pré-diabetes por si só seja associada ao
    diabetes incidente, a combinação de pré-diabetes e sintomas depressivos apresenta uma maior probabilidade.
    (DESCHÊNES, et al. 2023).
    Em um estudo de corte transversal de base populacional feito com dados do Maastricht Study associou a
    pior qualidade de vida, pior função cognitiva e depressão com o DM2 e pré-diabetes. Além disso, o estudo
    apontou que não há um padrão claro de diferença entre homens e mulheres nessa associação. Diferentemente
    do que é encontrado para as doenças cardiovasculares, nenhuma diferença clara entre os sexos parece estar
    presente na associação entre diabetes tipo 2 e transtornos mentais e qualidade de vida relacionada à saúde.
    (RITTER, et al. 2023).
    Um estudo feito em pacientes ambulatoriais na Alemanha teve como objetivo quantificar os riscos de
    depressão em indivíduos com DM2 recém-diagnosticados e o risco para DM2 recém diagnosticados com
    depressão. Os riscos foram analisados durante 8 anos e concluiu-se que a ligação entre diabetes tipo 2 e
    depressão é bidirecional e particularmente em indivíduos mais jovens. (CHAE, et al. 2024).
    Em um estudo cujo objetivo foi investigar a prevalência e incidência de depressão, e a interação de
    comorbidades cardiometabólicas, na diferenciação do risco de depressão entre diabetes de início jovem
    (diagnóstico na idade <40 anos) e diabetes de início habitual (diagnóstico na idade ≥40 anos) trouxe com
    resultado que o risco de depressão tem aumentado em pessoas com diabetes tipo 2 incidente no Reino Unido e
    nos EUA, particularmente entre aqueles com diabetes tipo 2 de início jovem, independentemente de outras
    comorbidades. Nos EUA, em comparação com aqueles com idade ≥60 anos com ou sem comorbidade, homens
    e mulheres de 18 a 39 anos apresentavam riscos significativamente maiores de depressão de 5 a 17% e 8 a
    37%, respectivamente. Isto sugere que a avaliação proativa da saúde mental desde o diagnóstico da diabetes
    tipo 2 nos cuidados primários é essencial para o tratamento clínico eficaz das pessoas com diabetes tipo 2
    (DIBATO, et al. 2022).
    Dados coletados também revelam que pacientes ambulatoriais com DM2 de dois hospitais públicos de
    terceiro nível em Quito (Equador) revelou alta prevalência de ansiedade, depressão e estresse associados a

importantes fatores de risco, como sexo feminino e baixo nível de escolaridade. Alguns estudos mostraram que o
sexo feminino constitui um importante fator de risco para depressão, ansiedade e estresse com um percentual de
aproximadamente 50% a 60% em comparação a este estudo citado, no qual encontramos maior predominância.
No entanto, outros fatores de risco, como o rendimento e as complicações da diabetes, foram associados à
depressão, e as complicações da diabetes, por si só, foram associadas à ansiedade. (CÁRDENAS, 2022).
Por último, um estudo coorte prospectivo de grande escala analisou 7158 adultos no sudoeste da China.
Todos os indivíduos não possuíam diagnóstico de diabetes mellitus tipo II ao início do estudo e foram
acompanhados durante 10 anos. Além disso, os participantes responderam ao The Patient Health Questionnaire-
9 (PHQ-9) para avaliação de sintomas depressivos, sendo divididos em três grupos: não deprimidos, depressão
leve e depressão avançada, além de serem submetidos a teste de glicemia capilar em jejum e teste de tolerância
oral à glicose. Como resultado, 739 pacientes foram diagnosticados com diabetes mellitus tipo II e pesquisadores
observaram que participantes do grupo dos portadores de depressão apresentaram maior incidência de diabetes,
seguidos pelo grupo portador de depressão leve, deixando o grupo dos não portadores com o menor risco de
desenvolvimento da doença. Após análise de algumas variáveis (gênero, idade, etnia e região) conclui-se que a
prevalência de diabetes era maior em mulheres, participantes com mais de 45 anos, da etnia Han e moradores
da zona urbana. O estudo conclui também a existência de correlação entre o grau de depressão e risco de
desenvolvimento de diabetes, sendo quanto mais grave a manifestação dos sintomas depressivos maior o risco.
O mesmo vale para a relação entre o grau de depressão e resultado do teste de tolerância oral à glicose,
indicando que a melhora do quadro depressivo pode resultar em melhor controle glicêmico. (WU, 2020)

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
    O diabetes mellitus é uma doença crônica grave, com diversas complicações sistêmicas e metabólicas,
    que possui elevada associação com o aumento dos sintomas de transtorno depressivo, o que pode impactar
    fortemente a qualidade de vida do indivíduo. Além disso, ao colocar em foco a população adulta feminina sob tais
    enfermidades, vê-se que há uma relação desproporcional com a incidência de transtorno depressivo quando
    comparado à população masculina nas mesmas condições sendo, portanto, mais prevalente nas mulheres.
    Observa-se ainda maior risco de desenvolvimento do diabetes em pacientes deprimidos (WU, 2020), além de
    maior prevalência de depressão e outros distúrbios de saúde mental em mulheres jovens recém diagnosticadas
    com diabetes mellitus tipo II (MELIN, et al. 2022). Portanto, é possível afirmar que mais estudos devem ser
    realizados em território nacional para maior entendimento sobre a correlação entre essas duas doenças na
    população brasileira.
  2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
    PIRES, M. M. et al. Diabetes mellitus tipo 2 – uma revisão de literatura. Brazilian Journal of Health Review, v. 7, n. 2, p. e69219–e69219,
    26 abr. 2024
    FELISBERTO, V; SAAVEDRA, T; SANTOS, M; et al. Depressão na Diabetes Mellitus Tipo 2 ou Diabetes Mellitus Tipo 2 na Depressão? –
    Uma Revisão Depression in Type 2 Diabetes Mellitus or Type 2 Diabetes Mellitus in Depression? -A Review.
    DIBATO, J. et al. Temporal trends in the prevalence and incidence of depression and the interplay of comorbidities in patients with young-
    and usual-onset type 2 diabetes from the USA and the UK. Diabetologia, 5 set. 2022.
    WU, Y. et al. Association between depression and risk of type 2 diabetes and its sociodemographic factors modifications: A prospective
    cohort study in Southwest China. Journal of Diabetes, v. 15, n. 11, p. 994–1004, 1 nov. 2023.
    CHAE, W. R. et al. Eight-year nationwide study of the bidirectional association between type 2 diabetes and depression in nearly 8 million
    German outpatients. BMJ Open Diabetes Research & Care, v. 12, n. 3, p. e003903, maio 2024.
    RIANNEKE DE RITTER et al. Sex comparisons in the association of prediabetes and type 2 diabetes with cognitive function, depression,
    and quality of life: The Maastricht study. v. 40, n. 7, 4 maio 2023 DESCHÊNES, S. S. et al. Prediabetes and the risk of type 2 diabetes:
    Investigating the roles of depressive and anxiety symptoms in the Lifelines cohort study. v. 40, n. 7, 17 fev. 2023.
    MELIN, E. O. et al. Depression was associated with younger age, female sex, obesity, smoking, and physical inactivity, in 1027 patients
    with newly diagnosed type 2 diabetes: a Swedish multicentre cross-sectional study. BMC Endocrine Disorders, v. 22, n. 1, 9 nov. 2022.
    NAMDEO, M. K. et al. Depression and health-related quality of life of patients with type 2 diabetes attending tertiary level hospitals in
    Dhaka, Bangladesh. Global Health Research and Policy, v. 8, n. 1, 16 out. 2023.

ALI, S. Y. et al. Depression and glycaemic control among adult patients with type 2 diabetes: a cross-sectional study in a comprehensive
specialised hospital, Jigjiga, Ethiopia. BMJ Open, v. 13, n. 11, p. e073123, 1 nov. 2023.
RODRIGUES, F. F. A.; BRITO, L. R. DE; ALVIM, H. G. DE O. Relação do diabetes mellitus tipo ii com a depressão e o tratamento com
antidepressivos.; Revista JRG de Estudos Acadêmicos, v. 3, n. 7, p. 450–462, 16 nov. 2020.
CÁRDENAS, L; CARMEN, D; MUÑOZ, A; et al. Prevalence and risk factors of depression, anxiety, and stress in an Ecuadorian outpatient
population with type II diabetes mellitus: A cross-sectional study (STROBE). Medicine, v. 101, n. 39, p e30697–e30697, 2022, 25 maio
2024.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Depressão. Disponível em:<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/depressao
 Júlia Chaves Lobo de Godoi Santos, Julia Messias Fernandes, Mariana Costa de Carvalho e Silva, Milena Miyata – Acadêmicas
do Departamento de Medicina UNITAU .** Prof. Dra. Márcia Gonçalves – Professora Titular de Psiquiatria UNITAU
([email protected])

Similar Posts