Maio de 2024 – Vol. 29 – Nº 5

Sergio Telles

  1. My dismal years in psychoanalysis with Melanie Klein’s disciple | Aeon Essays

Artigo muito interessante escrito por Michael Bacon, que, quando criança, foi paciente da psicanalista Edna O’Shaugnessy. Já adulto, lê o “caso Leon”, um trabalho da analista no qual se reconhece. Como escreve no artigo, discorda completamente das análises e interpretações feitas por O’Shaughnessy e passa então a fazer grandes ataques ao tratamento analítico, especialmente à abordagem kleiniano, que considera “abusiva”. O artigo de Bacon levanta muitas questões, às quais devemos estar atentos. Em primeiro lugar, o cuidado que o analista deve ter ao expor, em trabalhos clínicos, seus sentimentos contratransferenciais em relação ao paciente, desde que os pacientes podem ser muito susceptíveis a eles, como é o caso de Bacon, que – décadas depois – ainda se ressente ao saber de como a analista o via. A diferença radical entre as descrições do estado do paciente (“muito deprimido” na opinião da analista) e as do próprio, podem ser atribuídas a muitos fatores. Embora respeitando o depoimento de Bacon enquanto ex-paciente, deve -se lembrar que a autocritica sobre seu estado e suas memórias são tão discutíveis e imprecisas quanto as de qualquer outra pessoa. Bacon afirma que não tinha necessidade alguma de análise, era “normal”, mas não leva em conta que, se estava ali, é porque seus pais o levaram – ou seja, pensavam diferente dele. Diz que o pai trabalhava na Tavistock Clinic naquela ocasião e achava importante que ele fizesse análise, mas sua mãe discordava. Se isso é verdade, configura-se uma divergência sintomática do casal no trato com o filho.

2. How Psychoanalysis Can Be Used To Study AI’s Complexities (forbes.com)

Embora longo, o artigo mostra uma importante questão que é a possibilidade de uso da inteligência artificial generativa na ou com a psicanálise. O autor, Lance Elliot, é uma autoridade mundial no assunto, com inúmeros escritos a respeito e seguido por milhões nas redes sociais. Aqui ele faz uma apresentação sintética do funcionamento da inteligência artificial generativa e estabelece linhas de exploração para um trabalho conjunto entre os dois campos. A psicanálise poderia ser útil na análise dos programadores da inteligência artificial, desde que eles poderiam produzir algoritmos influenciados por seus conflitos internos inconscientes, como ocorreu com o REPLICA, um programa que simularia encontros terapêuticos e que teria induzido pessoas ao suicídio ou a depressão. Investigações posteriores mostraram que o programador do REPLIKA estava em luto pela perda de um ente querido e produziu algoritmos e conteúdos sob tal influência. Os interessados podem ter maiores detalhes no link Psychoanalyzing artificial intelligence: the case of Replika | AI & SOCIETY (springer.com). Uma outra linha de pesquisa seria investigar como a inteligência artificial generativa responderia diretamente a questões ligadas a associações livres, ao sonho, à transferência e à resistência. O autor descreve seus diálogos com o computador e as estimulantes respostas obtidas.

  1. Continuação do artigo anterior. Neste Lance avança em sua pesquisa com a inteligência artificial generativa e a psicanálise, criando interessantes diálogos com o computador em que os papeis de analista e analisando são ocupados de forma alternada por um ou por outro. Ora o computador é o analista e assume o papel de Freud e Lance lhe conta narrativas a serem interpretadas, ora Lance tenta “analisar” o computador, pesquisando suas “associações” e “resistências”.

Ambos os artigos são muito estimulantes, pois mostram que a dimensão inconsciente, que não segue a lógica racional consciente dos algoritmos, aparentemente pode ser captada pela inteligência artificial generativa.

Eles surpreendem, pois mostram uma inesperada afinidade entre uma criação de ponta na ciência (a inteligência artificial generativa) e a psicanálise, cuja morte por obsolescência muitas fezes já foi decretada, o que mostra, desta forma, sua grande vitalidade. Como Lance indica, muitas questões surgem desse inesperado encontro, especialmente as de ordem ética.

Using Generative AI As Your Own Sigmund Freud Psychoanalyst To Freely Reveal Your Deep-Rooted Personal Issues (forbes.com)

  1. Did This Psychoanalytical Cult Kill Jackson Pollock? (thecollector.com)

O famoso pintor Jackson Pollock frequentou durante um período o culto psicanalítico criado nos anos 50 em Nova York por Saul B. Newton, um suposto discípulo de Harry Stack Sullivan, cujas teorias ele distorceu de forma radical. Apregoava Newton que os vínculos familiares e afetivos eram tóxicos e as pessoas não deveriam evitar qualquer ligação amorosa íntima. Muitos acham que tais práticas influíram no estado psíquico de Pollock, agravando seu comportamento autodestrutivo e o alcoolismo que causou diretamente sua morte (e de outras pessoas) num acidente de carro. A curiosidade em torno desse grupo/seita cresceu muito desde a recente publicação do livro que o descreve – “The Sullivanians: Sex, Psychotherapy and the Wild Life of an American Comune”, de Alexander Stille.

  1. In Conversation With a Sigourney Award Winner: The Intersection Between Psychoanalytic Thought and Social Anthropology (psychiatrictimes.com)

Entrevista com Rosine Perelberg, ganhadora do Prêmio Sigourney e presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise, que discorre sobre problemas atuais da psicanálise e sua ligação com a antropologia social.

  1. On Gaslighting (bard.edu)

O artigo explica a origem e o uso dessa expressão “gaslighting”, usada com frequência na língua inglesa. Rastreia seu aparecimento numa peça teatral transformada em filme por George Kukor em 1944, com Ingrid Bergman. Ali se descreve o relacionamento perverso de um casal, em que a mulher se deixa enganar sistematicamente pelo marido, preferindo duvidar de suas próprias percepções a confrontar as manipulações enganosas do marido.

  1. The Birth of Psychoanalysis, and the Erasure of a Life | Psychology Today

Trecho do livro recém-lançado “The Secret Mind of Bertha Pappenheim: The Woman who invented Freud´s Talking Cure”, de Gabriel Brownstein.

  1. Resenha do livro “Psyche – the story of the human mind”, de Paul Bloom, que faz uma forte defesa de Freud e da psicanálise.

Freud: What he said, why he matters | Life Examined | KCRW

  1. O conflito entre palestinos e israelenses se manifestou fortemente em recente embate no Freud Museum de Londres, quando militantes judeus quiseram impedir um ciclo de palestras de analistas árabes liderados pelo Lara Sheehi, atuante psicanalista libanesa. “A psicanálise de longa data tem assumido uma posição anti-palestina”, disse o organizador da “Clínica Vermelha”, um “coletivo de trabalhadores comunistas de saúde mental”. Sem ceder às pressões do grupo israelita, o Freud Museum não cancelou suas atividades programadas.

Israel Lobbyists Tried to Cancel an Event on Mental Health and Palestine – But Failed | Novara Media

  1. On Giving Up, by Adam Phillips book review – The Washington Post

Reports of the death of psychoanalysis are exaggerated, as Adam Phillips’ elegant, elusive writing shows (theconversation.com)

“On Giving up” (“Sobre o desistir”), é o novo livro do prolixo psicanalista e escritor londrino Adam Philips. Com em outras de suas obras, Philips parte da psicanálise para pensar, de maneira não acadêmica ou ortodoxa, diversas questões humanas, como agora, ao abordar a desistência.

  1. A Freudian slip | Ella Nixon | The Critic Magazine

Resenha de” Mortal Secrets – Freud, Vienna and the Discovery of the Modern World”, nova biografia de Freud que tem recebido boa acolhida de crítica e público, indicando talvez que Freud e a psicanálise estão saindo do ostracismo no qual estavam até recentemente nos Estados Unidos.

Similar Posts