Dezembro de 2022 – Vol. 27 – Nº 12
Walmor J. Piccinini
Desde os anos 70 dedico boa parte da minha atividade clínica para tratar idosos. Ao longo do tempo o simples critério etário não é suficiente para descrever um grupo heterogêneo como são os idosos. São diferentes no aspecto físico, familiar, profissional e conjugal. Solitário ou não, cuida do seu corpo ou não, teve sorte ou azar em termos de saúde física e assim por diante. Grupo heterogêneo sempre renovando. Marcadas diferenças no status social, condições de vida, relações familiares e maritais, nos ganhos, na linguagem, religião, educação, aptidão física, saúde, ocupação e nas relações interpessoais.
Um problema que atinge um número pequeno de idosos, mas com grande repercussão familiar é o estado demencial.
Se observarem com atenção verão o desaparecimento de pessoas que até então eram importantes, médicos, advogados, políticos, empresários e outros.
O mais simples é se pensar em demência: A demência é uma doença que atinge o cérebro e mente e que pode construir ou destruir famílias. Lembre-se de que por trás do comportamento difícil está seu ente querido — um humano que merece ser encontrado, abraçado, confortado e cuidado com o maior amor e compaixão. Em pequeno artigo publicado em Psychiatric Times o Dr. Reda faz algumas sugestões ou seriam conselhos aos que padecem e aos familiares.
“1. Aproveite o momento atual. Mesmo que não tenham memórias factuais, crie memórias emocionais para e com eles, por meio de momentos de vínculo, cuidado e ternura.
2. Repare qualquer dano no relacionamento. Cure feridas antigas se houver espaço para cura. Perdoe velhas rupturas se puder.
3. Concentre-se em seu cônjuge e filhos. Esteja emocionalmente disponível para eles, para que juntos criem memórias duradouras que eles possam apreciar quando sentirem sua falta.
4. Recuse o status quo disfuncional. Não há nada de normal na desagregação familiar.
5. Demonstre respeito, amor e compaixão pelos idosos de sua vida e aqueles ao seu redor. Não apenas seus pais, mas também seus avós, tios, tias, irmãos e parentes mais velhos, vizinhos e todos os idosos de sua comunidade. A pandemia global nos mostrou o quão doloroso é o isolamento. A melhor cura para a solidão é construir pontes e ser uma fonte de segurança e consolo para os outros.
6. E, finalmente, não se esqueça de cuidar de si mesmo. Cuidar pode trazer alegria, mas também pode levar ao esgotamento se você negligenciar suas próprias necessidades e limites.
Em muitas famílias existe a figura de um membro de quem se espera que assuma as rédeas dos cuidados, geralmente é uma filha, mas em alguns casos o filho assume este papel. Esta uma situação potencialmente geradora de conflitos na medida que nos ombros de um são colocados todos os encargos e os demais membros se eximem e ainda criticam o responsável. Na intimidade chamo estas pessoas dedicadas de “mal-amado”, deles tudo se espera e convenientemente se imagina que nada precisem. É importante lembrar que cuidar de uma pessoa em estado demencial é trabalhoso e desgastante.