Fevereiro de 2021 – Vol. 26 – Nº 02
Prof. Dra. Márcia Gonçalves
A Psicologia médica tem seus pilares epistemológicos e devemos conhecê-los para que não ocorram interpretações equivocadas, quando existe a afirmação de que a Psicologia Médica é exclusiva da área médica! A psicologia médica é uma disciplina do conteúdo programático da Medicina e seu conteúdo ementário é exclusivo da formação médica, pois ancorado na ÉTICA e deontologia médica, portanto deve ser ministrado por médicos com formação em psiquiatria!
Nós temos na psicologia MÉDICA as bases do raciocínio do diagnóstico médico, e da construção do raciocínio médico- psiquiátrico e é totalmente diferente do que profissionais psicólogos objetivam numa avaliação. Deve ficar claro que profissionais da psicologia desconhecem a deontologia médica, na medida em que lidam com reabilitação psicológica, e não objetivam a organização de um raciocínio médico diagnóstico, e principalmente focam no prognostico médico! Cada profissão tem suas bases teóricas e seu direcionamento ético! É imprescindível a visão técnica médica para alunos da medicina seja ministrado por quem conhece e atua nesta técnica! Sem demérito, a atuação dos psicólogos é totalmente diferente da médica no que tange à saúde mental!
O trabalho em equipe multi e interdisciplinar é louvável, mas cada um dentro de sua técnica, que de forma alguma tem maior ou menor importância! Todas as profissões são importantes em suas especificidades! A necessidade de a psicologia médica ser transmitida por quem conhece e vive a ética médica se faz insubstituível, porque as implicações jurídicas de cada profissão também são dispares!
Na ética médica o profissional responde juridicamente por imperícia, imprudência e negligência! A avaliação médica e médica psiquiátrica deve contemplar os limites de atuação da medicina, que pode ser inclusive invasivo, se necessário for para salvar uma vida! O profissional médico atua com urgências e emergências e não pode deixar de vislumbrar as implicações jurídicas de seu ato! Os médicos sabem até onde podem intervir, dentro da técnica médica e das diretrizes científicas e baseada em evidências, e devem intervir até de forma invasiva em casos em que a vida esteja em risco! Estas questões éticas/ jurídicas é que norteiam e envolvem a psicologia médica e por isso ela é exclusiva dos profissionais médicos! Se porventura um médico não souber seus limites dentro da área de saúde mental, por exemplo, sofrerá implicações jurídicas graves, e responsabilização penal! Se um médico deixar de agir com a tecnologia disponível ele estará sujeito a ações penais! Se um médico tiver um hiato em sua formação e não conseguir ter a formação adequada, a culpa estará na base de sua formação, e se uma faculdade permite um profissional que desconhece a ética médica ministre uma disciplina, incorrerá em grave falha institucional! Não se trata apenas de teoria, mas de uma postura profissional diante dos pacientes, e o limite de atuação que o exercício médico permite. A multidisciplinaridade é muito bem vinda sempre, como prática, mas com suas especificidades!
Não se trata de forma alguma, de desqualificação de outras profissões, mas nas conseqüências que os médicos vão estar expostos na não observância de seus limites técnicos!
Realmente, se não houver uma vigilância constante da grade curricular e da capacitação médica, quando o assunto prioritário é Formação de médicos, não teremos profissionais aptos a cuidar de pacientes graves, e que, por vezes requerem intervenções necessárias próprias do exercício médico!
O Fluxo de atendimento também pode ser um fator de sucesso ou fracasso terapêutico! Em uma situação de risco, o tempo da avaliação médica e da intervenção medicamentosa ou cirúrgica, se necessária, pode ser um divisor de água do salvamento de uma vida.
A compreensão da magnitude da importância da formação médica e da ética médica não pode ser aplainada!
Mais uma vez, sem qualquer comparação pejorativa, mas ao contrário, com respeito a todas as técnicas e exercícios profissionais a atuação de médicos na saúde mental extrapola a atuação dos psicólogos , assistentes sociais , fonoaudiólogos e outros profissionais, cuja atuação também é louvável e de extrema importância na reabilitação.
Em muitos casos médicos precisam atuar medicamentosamente na continência dos surtos psicóticos, intoxicações e principalmente, precisa atuar na urgência , no estabelecimento do diagnóstico médico- diferencial, pois muitos quadros de saúde mental, muitas vezes com psicopatologia aparentemente de doenças psiquiátricas, podem ter alterações orgânicas descompensadas graves. A prática médica exige atuação em prontos socorros, com contenção física, farmacoterapia, psicofarmacologia, solicitação de exames para diagnóstico! Todos estes aspectos fazem parte também da abordagem e da postura ética que deve estar também na base do conteúdo programático da “psicologia médica”, e estão fora da alçada da atuação de outros profissionais de saúde! O desconhecimento dos limites da atuação de um médico por ele, não lhe tira a responsabilidade frente ao doente, e não extingue a responsabilidade jurídica que lhe pode incidir!
Cabe às instituições de ensino médico ficar atentas ao quadro curricular e suas implicações, pois a falha na formação poderá implicar na qualidade da instituição!
Podemos e devemos sempre ter a parceria com o departamentos de psicologia, fonoaudiologia, serviço social, enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional e outros na atuação junto aos pacientes ! Essa ação em conjunto pode fazer com que um paciente tenha seu completo restabelecimento!
Entretanto na disciplina teórica da psicologia médica a atuação de psicólogos e outros profissionais trazem uma visão diferente daquela contemplada pela ética médica. A disciplina não é “Psicologia”, mas sim psicologia MÉDICA! A não observância de sua especificidade médica pode levar o profissional médico a ter hiatos irrecuperáveis em sua atuação profissional! Todas as profissões são igualmente importantes, mas cada uma tem seus
Limites alicerçados em suas éticas! O respeito ao cabedal epistemológico de cada profissão é que protege o profissional e o paciente diante de impasses e permite que cada profissional tenha suas atuações amparadas protegendo-os de embates jurídicos, e principalmente, permitindo ao paciente a melhor atuação no seu restabelecimento!
Referências com autor
Prof. Dra. Márcia Gonçalves- Prof. de psicologia médica, psiquiatria e psicopatologia da Unitau.