Junho de 2020 – Vol. 25 – Nº 6

Belarmino Alves de Azevedo (*1),

Carnelindo Maliska (*2) e

Talvane Marins de Moraes (*3)

 

(*1)  Prof. das Disciplinas de Psiquiatria e Psicologia Médica da Universidade Iguaçu (UNIG) e

Ex-Coordenador do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Instituto Nacional

de Infectologia da Fundação Oswaldo Cruz (INI/FIOCRUZ), e-mail: [email protected];

(*2)  Prof. das Disciplinas de Neuroimagens em Psiquiatria e Espiritualidade e

Saúde do Curso Médico da Universidade Iguaçu (UNIG);

(*3) Prof. da Escola de Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e

Ex-Diretor do Hospital de  Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho.

 

Resumo

 

Psicopatas sociais, institucionais, socioinstitucionais  ou sociocorporativos estão implicados com atribuições ou inadequações dominantemente limitadas aos contextos pró-sociais, e não antissociais; são autores de inadequações antiéticas, ou até delitivas, notadamente quando em ascensão à liderança ou na vigência do controle do poder institucional.

Neste estudo, os objetivos foram identificar alguns traços psicopatológicos referentes ao estilo institucional psicopático.

Utilizou-se a pesquisa qualitativa exploratória descritiva, incorporando-se alguns elementos da observação sistemática, após a observação assistemática inicial.  As informações foram obtidas, por observação individual e não participante, em doze casos identificados: um deles foi o sujeito dessas observações, por cerca de dois anos; um falso acadêmico de medicina, com 28 anos de idade, em um Hospital Psiquiátrico de S. Paulo.   Foram considerados os referenciais teóricos de HARE, para o conceito de psicopatia. Como resultados, nove unidades de observação, ou traços psicopatológicos, compõem o “estilo institucional psicopático”, um modus operandi do psicopata neste contexto: 1. Talento ou virtude prossocial diferenciada; 2. Abnegação ao trabalho; 3. Camaleonismo; 4. Messias ou salvador da pátria; 5. Parasitismo; 6.  Alpinismo hierárquico institucional; 7. Controle do poder institucional ou liderança; 8. Discrepância funcional elevada; 9. Inadequações antiéticas, delitivas ou predações institucionais.

 

Concluiu-se que:

– o estilo institucional psicopático é sugestivo de ser representativo de um modus operandi do psicopata, quando na sua forma existencial institucional, com destaque para a sua trajetória institucional ascendente à liderança;

– sugere-se que estejam presentes quatro ou mais traços psicopatológicos, entre os nove totais deste estilo.

 

Palavras chaves: Psicopatia social, psicopatia institucional, estilo institucional psicopático, critério diagnóstico e psicopatologia.

 

Summary

 

Social, institutional, sócio-institutional, or socio-corporate psychopaths are implicated with dominant attributions or inadequacies limited to prosocial, and non-antisocial contexts; they are authors of unethical or even delinquent inadequacies, notably when on the rise to leadership or control of institutional power.

In this study, the objectives were to identify some psychopathological features related to the institutional psychopathic style.

It used a descriptive exploratory qualitative research, incorporating some elements of systematic observation, after an initial unsystematic observation. As information was obtained, by individual and non-participant observation, in twelve cases: one of them was presented for about two years, a fake 28-year-old medical student at a São Paulo Psychiatric Hospital.

For the concept of psychopathy, the theoretical references of HARE  were considered..

As a result, nine identified observation units, called “psychopathic institutional style”, a mode of operation of the psychopath in this context: 1. Differentiated prosocial talent or virtue; 2. Self-denial to work; 3. Chameleonism; 4. Messiah or savior of the fatherland; 5. Parasitism; 6. Institutional hierarchical mountaineering; 7. Control of institutional power or leadership; 8. High functional discrepancy; 9. Unethical inadequacies, crimes or institutional predations.

 

It is concluded that:

– The psychopathic institutional style is suggestive of being representative of a psychopathic modus  operandi, when in its institutional existential form, with emphasis on its ascending institutional trajectory to leadership;

– It is suggested that four or more psychopathological traits are present among the nine totals of this style.

 

Keywords: social psychopathy, institutional psychopathy, institutional psychopathic style, diagnostic criteria and psychopathology. 

 

Introdução

Incluem-se na psicopatia social os psicopatas institucionais, corporativos (BABIAK et al., 2010), comunitários (OLIVEIRA-SOUZA, 2005), empresariais, do trabalho, industriais (BABIAK, 1995), do colarinho branco, cobras de gravata (BABIAK & HARE, 2006) ou cobras de terno ( BABIAK & HARE, 2006);  são observados em alta prevalência nos cargos empresariais superiores, 15 a 20% (BABIAK et al., 2010).

Encontram-se, em contratos trabalhistas ou não, dominantemente implicados com ações, trabalhos ou atribuições em contextos pró-sociais, mas, insolitamente, motivados pela excessiva e incontrolável  ambição,  perspicácia ou talentos pró ou antissociais, mostram-se autores de  inadequações antiéticas (maleficiências (predações), injustiças, não benevolência ou anulação da autonomia alheia ) ou delitivas (corrupções financeiras etc), precursoras ou articuladas à liderança, ou ao controle do poder institucional.

Entre as referências ao tema psicopatia corporativa, destaca-se a descrição da trajetória do psicopata no trabalho em cinco fases (BABIAK e HARE, 2006):  1. ingresso na empresa; 2. estudo do território; 3. manipulação de pessoas e fatos; 4. confrontação; e 5. ascensão. Estudando o território, o psicopata se utiliza, com avidez, da necessidade de obter o máximo de informações, e, não raro, como conseqüência, termina por mostrar-se como agente de divulgação institucional das informações.  CLARKE (2011) é outra referência esclarecedora da psicopatia no contexto do trabalho.

Uma das características existenciais do psicopata é a sua elevada capacidade plástica de se moldar às variações de contextos e oportunidades: chamaremos aqui de camaleonismo. Conta com vários aspectos, que lhes são naturalmente favoráveis, para esta finalidade, como: sua elevada racionalidade, ausência de arrependimento ou culpa, indiferença afetivo-emocional, falta de empatia, poder de sedução, loquacidade etc (AZEVEDO e TALVANE, 2018).

Guardando seus traços de personalidade, ou traços psicopatológicos, essenciais, centrais e gerais (DSM-5, 2013), alguns psicopatas no ambiente de trabalho veem-se, não raramente, conduzidos irrefreavelmente pelas suas acentuadas ambições de atingir o controle do poder institucional. Os instrumentos, colocados em ação, não são outros que os próprios recursos inadequados, persistentes e psicopatológicos de personalidade: são utilizados a favor de suas práticas, fazendo-as com uma singular oportunidade de aperfeiçoar-se em novos desafios antissociais, ou para testar seu potencial de destaque, uma das suas expressões narcísicas.

Os objetivos do presente estudo, em um caso institucional, foram identificar alguns  traços psicopatológicos, modus operandi do psicopata em seu contexto de trabalho, e sugerir um critério diagnóstico inicial em estilo institucional psicopático.  Tais características estiveram demonstradas em sua trajetória, quando excessivamente ambiciosa, de ascender ao controle do poder institucional.

O interesse na investigação desse caso originou-se em uma constatação empírica, acentuadamente insólita ao juízo do observador, à época, em um profissional não possuidor de necessárias formações especializadas, que, no entanto, ascendeu de formas inadequadas, surpreendentes e vertiginosas nas hierarquias institucionais.

 

 

O sujeito das observações e a metodologia empregada

O sujeito sob análise psicopatológica foi um homem com cerca de 28 anos de idade, que exerceu, por quase 6 anos, atribuições de acadêmico estagiário em um Hospital de Psiquiatria, instituição privada, na cidade de São Paulo; possuía inadequações antiéticas e delitivas, que chamavam a atenção e a curiosidade especiais do observador.

Para este estudo, como critério de exclusão, foram os sujeitos que não aparentavam tais inadequações no contexto do trabalho. As observações ocorreram em espaços diversos, tais como: enfermarias, ambulatórios, sala de convivência dos médicos, sala de reuniões e refeitório, em dias e horários ocasionais.

Para a identificação dos traços psicopatológicos, inerentes ao estilo institucional psicopático, foi analisado, segundo alguns elementos relativos ao contexto psicopatológico no trabalho, um caso, sob observação assistemática, entre doze casos.  Utilizou-se a pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva (RUDIO, 2009 ; MARCONI & LAKATOS, 2017), que, após a observação assistemática inicial, incorporou-se alguns elementos da observação sistemática (campo das observações, unidades de observação e identificação das variáveis), assim caracterizada: in loco (instituição hospitalar), observação individual, não participativa e semiestruturada.

O período de observação foi de aproximadamente 2 anos, com freqüência média de observação em uma ou duas vezes por semana. O observador não participante, sem interferir ativamente nos meios institucionais, apenas existiu como assistente, e não como ator; colheu diretamente as características das observações semi estruturadas na realidade empírica. Foram consideradas semi estruturadas pelo tanto que novas observações surgiram, mais além das estabelecidas pelas descrições clínicas e diretrizes diagnósticas vigentes (DSM-V, 2013 & CID-10, 1993); outras características da metodologia empregada são encontradas em AZEVEDO e MORAES (2018).

O observador guardou sigilo absoluto da identidade do sujeito e da instituição, mantendo-as em anonimato e substituindo-as por nomes fictícios.

O trabalho obteve aprovação do Conselho de Ética em Pesquisa, do Instituto Nacional de Infectologia (INI) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), RJ; não há conflito de interesse e nem houve fontes de financiamento.

As unidades de observação (RUDIO, 2009), os traços de personalidade (CID-10, 1993), as características diagnósticas (DSM-5, 2013), ou traços psicopatológicos aqui tiveram o mesmo significado.

Para o conceito de psicopatia, considerou-se os referenciais teóricos de HARE (1991 e 2003), HARE (2005), MORANA (2003), BABIAK e HARE (2006).

 

Resultados

Caso institucional:

Rodrigo, solteiro, com aproximadamente 28 anos de idade, ingressou em um Hospital de Psiquiatria como acadêmico estagiário de medicina, dizendo estar no seu primeiro ano de Faculdade, e onde permaneceu por quase seis anos.

Sua trajetória foi marcada por sucessivas e cada vez mais intensas aquisições de confiança, especialmente por parte da gestão superior. Há muito havia se aproximado dos diretores, a ponto de tornar-se “um braço-direito”: defendia os ideais, anseios, normas, objetivos e metas dos dirigentes, representante perfeito das características institucionais, incorporando-as em si, na sua forma de existir (3). Fez-se íntimo e conhecedor de detalhes pessoais da vida destas pessoas, que somente ele dizia ser conhecedor. Em troca mostrava-se como trabalhador incansável em qualquer necessidade (2).

Ganhou continuamente a confiança e o apoio dos gestores institucionais (5); foi elevado da categoria de acadêmico de medicina ao “profissional” mais influente e deliberativo da instituição, como se fosse um diretor.

Entre os médicos psiquiatras, Rodrigo acumulava  estima e admiração crescentes; esta grande confiança que se depositava  neste acadêmico resultou em seu crescimento institucional (6). Tornou-se, na compreensão dos gestores, o funcionário “solução para tudo” (4).  Assuntos administrativos importantes tinham em Rodrigo opiniões e decisões finais (7).  Sua participação na vida corporativa era ampla, em todos os segmentos. Por vezes, graças ao seu elevado espírito colaborador (2), realizava até mesmo as tarefas mais simplesSe precisasse, dirigia a ambulância na condução dos pacientes, fazendo-a com facilidade e destreza (1).  Participava das compras e da definição dos convênios.  Opinava sobre as avaliações de desempenho dos médicos psiquiatras, dos demais acadêmicos estagiários, dos enfermeiros (7) e, não raro, profissionais competentes, porém, não alinhados às suas determinações, eram depreciados (9).. Sua interferência no cotidiano da instituição hospitalar era imensa.  Rodrigo via-se presente todos os dias, o hospital era sua maior referência domiciliar. Se não estivesse ali, entendia-se que estaria na Faculdade em seu Curso Médico, ou em compromissos pessoais.

Tudo sabia sobre a instituição, ao mesmo tempo, que nada fugia aos seus pareceres (7).  Reconheceu-se nele, a maior competência profissional na Psiquiatria daquele hospital.  Seus saberes técnicos convertiam-se em protocolos de abordagem ao tratamento psiquiátrico.  Era “o cara”, o dono das soluções das questões cotidianas e dos desafios (4). Elogiado pela inteligência, competência e fluência para os diálogos, argumentações e discussões institucionais.. Seu crescimento institucional (6) e sucesso eram sem limites. Exibia excessiva autoconfiança e orgulho  sobre seus talentos médicos, para ele, incomparáveis.

Quando lhe era oportuno, expressava uma conversa envolvente e mesmo encantadora: a mais linda acadêmica tornou-se sua namorada, perdidamente apaixonada; recursos financeiros incomuns eram obtidos por Rodrigo, doações feitas por ela (5), que teve sua vida voltada para apoiá-lo incondicionalmente.  Mas tão logo surgiu outra opção amorosa, abandonou-a com intensa indiferença e frieza emocional.

Por vezes, alguns funcionários estranhavam o fato de Rodrigo ser tão presente no Hospital, mas logo vinha alguma justificativa: entendia-se que Rodrigo amava demais a vida hospitalar, e o exercício da Psiquiatria, e que sacrificava sua vida social, como jovem, para aperfeiçoar-se em sua formação médica nesta instituição.  Achava-se mesmo que ele estava desperdiçando sua vida pessoal em troca de uma inteira dedicação ao Hospital (2).

Na realidade, pouco se podia falar sobre sua história de vida, sabia-se, apenas, que: era acadêmico de medicina de uma Universidade Pública Federal, a mais importante da região;  possuía algum grau de parentesco, não muito próximo, com um dos Diretores desta instituição, pessoa que lhe havia convidado para realizar o seu estágio;  e  que a sua família morava distante,  esclarendo-se, de certa forma, o fato dele “residir” no Hospital.

Era pessoa acima de qualquer suspeita desfavorável ou hostil. Seus colegas viam nele uma pessoa madura, educada, atenciosa, prestativa, inteligente, pertinente e muito colaboradora. Até que, numa tarde, durante as suas atribuições assistenciais, Rodrigo convidou, exibindo surpreendente e aparente ansiedade, o seu médico confidente, para uma conversa particular; informou-lhe que deveria ser sigilosa e declarou: “recebi agora um telefonema de uma pessoa que, em tom de desafio e ameaça, poderá vir aqui no hospital para desmascarar-me, porque, de fato, eu nunca fui aluno de nenhum Curso Médico, portanto não posso ser acadêmico estagiário. Prestei vestibular para Medicina, mas não fui aprovado”.

Portanto, Rodrigo, durante quase seis anos, exerceu ilegalmente atribuições como acadêmico estagiário no Hospital de Psiquiatria (9), mas, ainda que tenha confessado, não demonstrava nenhum arrependimento ou culpa. Era um falso acadêmico (9).  Após aquela conversa, Rodrigo tomou destino ignorado.

 

      Características diagnósticas do estilo ou dinâmica psicopática do caso institucional:

  1. Talento ou virtude pró-social diferenciada;
  2. Abnegação ao trabalho;
  3. Camaleonismo;
  4. Messias ou salvador da pátria;
  5. Parasitismo;
  6. Alpinismo hierárquico institucional;
  7. Controle do poder institucional ou liderança;
  8. Discrepância funcional elevada;

9- Inadequações antiéticas, delitivas ou predações institucionais.

 

Discussão

O termo psicopatia tem sido amplamente utilizado e consagrado como genérico, lato sensu, como nós o utilizamos aqui, tal qual o fez Robert Hare  em “Psicopatas cobra de gravata” (HARE, 2005).

Mais apropriadas para o estudo de condutas espontâneas, ou manifestadas na vida social, as técnicas de observações assistemática e sistemática (MARCONI e LAKATOS, 2017)  contribuíram para este estudo exploratório. Deu-se preferência ao vocábulo institucional, porque é mais abrangente que o corporativo e inclui outros contextos, como: o familiar, conjugal, religioso etc

                  Observou-se neste caso um “estilo, ou dinâmica, institucional psicopática”, constituída por 9 (nove) traços psicopatológicos, a seguir descritos:

“talento ou virtude pró-social diferenciada psicopática”: algo pró-social, que foi precursor dos aspectos antissociais. Um recurso não restrito aos valores pró-sociais, mas utilizado, de forma sedutora, para: obtenção de admiração e apoio dos agentes hierarquicamente superiores, que o conduziu aos níveis de autoridade cada vez mais elevados (alpinismo institucional); manipulações; parasitismo;  e realização de sua ambição pelo controle do poder;

abnegação ao trabalho psicopática” é trabalhar mais além das expectativas, ou mais que os seus pares, uma dedicação excessiva, além do necessário, com muita disposição.  Este esforço a mais sempre fez-se observado por todos.  Constitui mais outro meio de ganhar admiração, respeito e confiança, especialmente dos gestores institucionais; é uma forma de sedução, que será sucedida pela manipulação, parasitismo, camaleonismo e crescimento hierárquico institucional;

“camaleonismo psicopático”, uma das características existenciais e importantes do psicopata: é a capacidade de mimetizar, ou se moldar, às variações de contextos e oportunidades; acentuada plasticidade para se identificar, incorporar e mimetizar diferentes papéis (ideológico, político, afetivo-emocional etc); faz-se parecer com alguém de seu interesse parasitário, com a finalidade de obtenção de sucessos ou vantagens pessoais; incluem-se nesta dinâmica, respectivamente, os talentos próprios e diferenciados e as ações sedutoras e manipuladoras; não faltam as mentiras freqüentes, que alimentam a farsa ou simulação; o camaleonismo é uma espécie de estado “simbióide”, criado pelo psicopata com sua vítima, para melhor e mais intensamente controlá-la e extrair vantagens, comumente a pessoa hierarquicamente superior;

“messias, ou salvador da pátria,” é entendido como o consagrado, restaurador, por vezes é  possuidor de uma identidade secreta, na qual as pessoas depositam uma confiança desmedida, para conseguir um objetivo ou resolver um problema. Quem efetivamente consegue, ou promete conseguir um objetivo muito importante e inesperado também tende a ser considerado um messias. WEBSTER (1999) fala-nos em “personalidade messiânica”: “aquele que cuidadosamente constrói sua personalidade de autoridade misteriosa e mantém uma autoimagem que enfatiza sua superioridade, sua eleição e a sensação de estar de posse da verdade essencial”;

“parasitismo psicopático” refere-se às gratificações, aos diversos ganhos. Decorrem dos relacionamentos estabelecidos singularmente com as pessoas capazes de beneficiá-lo. Seu comportamento é sustentado pelas suas competências sedutoras, manipuladoras e camaleônicas, em proporções cuidadosas e tecnicamente planejadas;

“alpinismo hierárquico institucional psicopático” é um tipo de alpinismo, desenvolvido e limitado no contexto de qualquer instituição, mas que pode ocorrer fora das características psicopatológicas da psicopatia.  Um desses exemplos é a pessoa anancástica (CHENIAUX, 2017), que jamais se satisfaz, sempre necessita de um posto mais elevado. Mas, obtém seu crescimento socioprofissional às custas dos próprios méritos, digno e honestamente desenvolvidos por toda a sua carreira, cumprindo gradualmente cada etapa ao longo dos anos. Pelo seu persistente bom caráter, sua trajetória fica marcada por ações pró-sociais. O alpinista hierárquico institucional psicopático ascende comumente com uma rápida escalada em direção ao controle do poder, deixando um rastro de inadequações antiéticas ou delitivas;

“controle do poder institucional” é uma ambição que se apresenta com elevada intensidade ou obsessão e constitui o objetivo principal em torno do qual convergiram a existência desse psicopata institucional.  Para atingir a meta almejada, mostrou-se determinado, ou mesmo até perfeccionista, embora, nesta trajetória, nunca estiveram ausentes as injustiças praticadas e demais ações ou omissões antiéticas. Em tais circunstâncias, seus erros, quando cometidos, nunca se acompanharam de culpa, pelo contrário, revestiram-se com incomum e surpreendente racionalidade; projetou-os em outro ou outros, não raro com crueldade, pelo tanto que seus afetos lhe foram unicamente superficiais e as empatias excluídas;

– “elevada discrepância funcional” entre o exercício de atribuições superiores e o seu nível inferior de formação profissional foi observada, devido à ausência das titulações comprobatórias, que comumente legitimam institucionalmente as funções superiores.  Outros profissionais, que ao contrário, possuíam os requisitos necessários aos exercícios daquelas atribuições, foram preteridos e substituídos pelo psicopata, sob perplexidade institucional;

“inadequações antiéticas, delitivas ou predações corporativas”: as inadequações antiéticas referem-se à maleficiência, não beneficiência, injustiça e anulação da autonomia alheia; o delito ou comportamentos ilegais, constitui qualquer ato ou comportamento que revele uma infração às leis estabelecidas, considerado, portanto, como crime (categoria diagnóstica A1) e o desrespeito por normas, regras e obrigações sociais (traço de personalidade “b”), respectivamente dos transtornos de personalidade antissocial da DSM-5 (2013) e CID-10 (1993); e as predações institucionais, ou corporativas, termo empregado por HARE (2005). A predação psicopática tem possibilidade de ocorrer em diferentes etapas da trajetória institucional: especialmente durante sua ascensão, ocasião na qual seus pares, ainda que dignos de boa avaliação organizacional, podem ser por ele destruídos;  quando ocupa o controle do poder institucional; ou em ambas as etapas.

Uma das cinco fases evolutivas, do percurso desenvolvido pelo psicopata corporativo de BABIAK e HARE (2006) foi a “ascensão”; corresponde igualmente ao descritor psicopatológico   identificado no presente caso institucional como “alpinismo hierárquico institucional”.

 

Conclusão

           Conclui-se que:

– o estilo institucional, ou socioinstitucional, psicopático pode representar um modus operandi do comportamento psicopático em uma trajetória institucional ascendente, alimentada pela ambição em assumir a liderança ou controle do poder; 

– sugere-se que o diagnóstico de estilo institucional psicopático possa ser satisfeito com a presença obrigatória de 4 (quatro) ou mais dos 9 (nove) itens que o compõem.

 

Referências bibliográficas

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