• A misoginia é hoje um tema capital. Em detalhada resenha do livro “Down Girl: The Logic of Misogyny”, de Kate Manne, o conhecido psicanalista inglês Adam Phillips faz uma sintética apresentação de como a psicanálise entende a misoginia, o que é apropriado para ressaltar o enfoque diverso de Manne. Diz ela: “Procuro entender a misoginia de dentro, a partir dela mesmo, sem vê-la como algo psicológico e, sim, como um fenômeno sócio-político com manifestações psicológicas, estruturais e institucionais. Mostro a misoginia como um sistema de forças hostis que em geral decorre da ideologia patriarcal, desde que vigia e reforça a ordem patriarcal”.

 

https://www.lrb.co.uk/v41/n05/adam-phillips/unforgiven

 

  • Excelente artigo de psicanalista norte-americano, mostrando as mudanças na prática clínica (como o abandono do silêncio imperioso do analista, que adota uma atitude mais próxima e calorosa com os analisandos) e nas ênfases teóricas (tal como a diminuição da importância do pulsional em nome das relações interpessoais, “terceira tópica”) ocorridas na psicanálise de hoje. Além disso, há uma abertura para a importância do sociocultural, do transgeracional, do político, com o abandono da misoginia e homofobia, o reconhecimento do peso determinante dos fatores ligados à classe social, etnia, colonialismo. Dessa forma, a psicanálise procura retomar o lugar de proeminência que perdeu nas últimas décadas, quando muitas vezes esteve alinhada com as forças mais conservadores da sociedade, em detrimento de seus valores intrinsecamente libertários.

 

https://www.dissentmagazine.org/article/the-return-of-psychoanalysis

 

 

  • Densa resenha do livro “Ce que le nazisme a fait à la psychanalyse”, de Laurence Kahn. A autora mostra o grande impacto que o nazismo provocou não só na instituição psicanalítica como na prática e na teoria da psicanálise. Por exemplo, a “Ego Psychology”, de Heinz Hartmann, tão atacada por Lacan por desviar-se do conceito de inconsciente e centrar nas dimensões conscientes e adaptativas do Ego, não seria um desvio teórico visando torná-la palatável para as novas plateias americanas e sim uma deliberada mudança com o intuito de resguardar formulações teóricas freudianas que estavam sendo distorcidas pelos nazistas, como o conceito de “pulsão vital” propalado por Hitler, que se aproximava de “pulsão de vida”, além das propostas relacionadas ao fascínio das massas pelo líder descrita por Freud, também manipuladas pelos nazistas. Do ponto de vista clínico, os sobreviventes do Shoah impuseram mudanças técnicas na terapia. Constatou-se que sua impossibilidade de recordar, devido à dimensão do trauma, estava ligada às violentas distorções impostas pelos nazistas à linguagem, como mostrou o livro de Klamperer, sendo sido necessário o concurso de escritores como Imre Kertész para restaurar um fluxo simbólico que fora interrompido.

 

https://www.nonfiction.fr/article-9775-penser-apres-auschwitz-la-litterature-au-secours-de-la-psychanalyse.htm

 

 

  • Austin Ratner, psicanalista e escritor norte-americano reflete como conceitos freudianos são regularmente usados por todos aqueles que se referem ao errático comportamento de Trump.

 

https://www.usatoday.com/story/opinion/2019/03/22/donald-trump-psychoanalysis-freud-psychology-diagnosis-explain-crazy-tweets-column/3232348002/

 

  • Anúncio de simpósio “Antipsiquiatria – ontem, hoje e amanhã?” a se realizar no Freud Museum de Londres. Boa hora para avaliar a importância e o legado desse movimento que produziu forte impacto nos anos 60 e 70 com sua radical contestação das práticas psiquiátricas então vigentes.

 

https://www.freud.org.uk/event/antipsychiatry-yesterday-today-and-tomorrow/

 

 

  • Abrão Slavutzky fala sobre o “dever da memória” que nos cabe para impedir que caiam no esquecimento acontecimentos sociais dolorosos e traumáticos. Cita de passagem o número 52 de nossa revista Percurso, que aborda os crimes da ditadura militar.

 

https://jornalggn.com.br/artigos/o-dever-da-memoria-por-abrao-slavutzky/

 

 

  • Baseado em impressões ao pesquisar sites pornôs ligados a incesto, ou seja, sem dados formalmente estabelecidos, o psicanalista autor do artigo diz ter percebido um crescimento do incesto fraterno (entre irmão e irmã). Acredita que tal se deve à popularidade da série “Game of Thrones”, na qual os personagens principais (um casal de gêmeos), e não apenas eles, praticam o incesto.

 

 

https://blogs.psychcentral.com/psychoanalysis-now/2019/03/the-rise-of-brother-sister-incest/

 

 

 

  • Entrevista com Sophie Robert, que realizou os documentários “Le Mur” e “Le Phalus et le Néant”. Ambos expressam críticas acerbas à psicanalise e se organizam em torno de entrevistas com psicanalistas falando sobre o autismo (“Le Mur”) e sobre a sexualidade, especialmente a feminina (“Le Phalus et le Néant”).

 

https://www.whatsupdoc-lemag.fr/article/la-psychanalyse-lheure-de-metoo

 

  • A autora comenta trechos do livro “A womb of her own”, de Helena Vissing, que retoma aspectos da sexualidade feminina pouco explorados por Freud, especialmente a gravidez e o parto, a menarca e a menopausa e as fantasias especificas que lhes são próprias.

 

 

https://blogs.psychcentral.com/see-saw-parenting/2019/03/childbirth-re-working-freud/

 

  • Em importante pronunciamento recente, Trump fez 104 afirmações falsas, sem que seus admiradores se incomodassem. Henry J. Friedman, psicanalista professor em Harvard e um dos autores do livro “The Dangerous Case of Donald Trump: 27 Psychiatrists and Mental Health Experts Assess a President”, cuja versão ampliada será lançada logo mais, fala sobre como o caráter megalomaníaco paranoide de Trump exerce especial atração para seus eleitores.

 

https://www.thenewcivilrightsmovement.com/2019/03/why-trumps-grandiose-paranoid-character-appeals-to-his-supporters-harvard-psychoanalyst/

 

 

 

Artigo publicado pelo British Medical Journal abordando a exposição de sentimentos do médico em sua clínica, como, por exemplo, o emocionar-se a ponto de chorar ao ouvir os relatos ou presenciar o sofrimento de seus pacientes. Ao invés de defender a postura habitual de se manter distância e contenção, o artigo mostra compreensão e aceitação com as situações de identificação e estresse que podem mobilizar o médico,

 

https://www.bmj.com/content/364/bmj.l690

 

  • O jornal Varsity, de Cambridge, traz artigo sobre o livro “Not working: why we have to stop”, do psicanalista Josh Cohen. O autor admoesta contra o trabalho compulsivo, impulsionado internamente pelo superego e pelo ideal do ego, que refletem, por sua vez, as pressões sociais em torno da busca do sucesso. Ele mostra a diferença entre esse tipo de trabalho e aquele realizado por artistas, no qual a importância do ócio criativo é fundamental.

 

https://www.varsity.co.uk/arts/17110

 

  • Em artigo simples, a autora explica para o público leigo a importância estruturante do pai e do exercício da função paterna na constituição do sujeito e na organização familiar.

 

https://blogs.psychcentral.com/practical-psychoanalysis/2019/02/the-function-of-the-father-in-psychoanalysis/

 

 

  • O presidente do México enviou mensagem ao rei da Espanha, solicitando que este pedisse desculpa pela conquista do México 500 anos atrás, pedido que foi imediatamente repudiado pela Espanha. Trata-se de uma questão importante nestes tempos onde os estudos pós-colonialistas estão em alta. Seria possível julgar o passado à luz do pensamento contemporâneo?

 

https://www.telegraph.co.uk/news/2019/03/26/spain-refuses-apologise-conquering-mexico-five-hundred-years/

 

 

  • Por suas peculiaridades extravagantes, o Forrest Lawn Memorial Park, o imenso e luxuoso cemitério localizado em Los Angeles onde estão os restos mortais de grandes artistas e celebridades do cinema é chamado de “disneylandia da morte”. É um cemitério criado para negar a morte, o parâmetro de um tipo especial de negócio e forma de ganhar dinheiro e em suas dependências se fala um vocabulário específico que procura evitar qualquer menção a perda, tristeza, infelicidade. A autora relata uma visita a esse monumental lugar, considerando-o como um sintoma de nossa sociedade.

 

https://hazlitt.net/longreads/disneyland-death

 

Similar Posts