Walmor J. Piccinini

Personagens e locais do drama:

Hospital Val-de- Grâce (https://www.theguardian.com/world/2014/oct/15/paris-val-de-grace-hospital-close-under-spending-cuts)

Hospital Saint Anne (https://soundlandscapes.wordpress.com/2015/08/14/centre-hospitalier-sainte-anne/)

Henri Laborit (21 novembro 1914 – 18 May 1995) (https://en.wikipedia.org/wiki/Henri_Laborit)

Jean Delay (14 de novembro de 190729 de maio de 1987)

Pierre Huguenard (2 de novembro 1924 et mort le 4 mars 2006)

(https://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_Huguenard)

Pierre Deniker (16 February 1917 – 17 August 1998)

Jean-Marie Harl

Hamon. Paraire. Velly.

 

Os personagens principais desta guerra foram Henri Laborit (Hospital Val De Grace) e Jean Delay (Hospital Saint Anne) e muitos historiadores dos quais destacaria Jean Thullier e David Healy. Numa das minhas idas a Buenos Aires nos anos 1980s, encontrei um livro de um psiquiatra do Hospital Saint Anne, Jean Thullier. Editado em Barcelona, em 1981, tinha por título ‘El Nuevo rostro de la loucura”, seu original em francês era bastante diferente “Les dix ans qui ont changé la folie”. O livro contava a vida do autor como psiquiatra do Saint Anne e seu testemunho das profundas modificações que a psiquiatria sofreu a parti da entrada da Clorpromazina no seu arsenal terapêutico. O que vim a descobrir posteriormente, é que seu livro foi recebido com frieza pelos psiquiatras da Saint Anne porque ele registrou o papel de Henri Laborit na descoberta do uso médico da Clorpromazina. Quando o livro saiu do prelo os ânimos dos grupos de Jean Delay e de Henri Laborit ainda andavam em pé de guerra.

Vamos aos fatos: Pierre Huguenard, anestesista do Hospital de Vaugirard em Paris, leu trabalhos de Henri Laborit sobre os efeitos do curare que passaram inadvertidos. Começaram a trabalhar juntos na busca de um anestésico eficaz e nesta pesquisa se depararam com uma substância do Laboratório Roche de número 4,560.R.P. (largactyil). Publicaram suas observações em 13 de fevereiro de 1952 sob título “Um novo estabilizador neurovegetativo”, o, 4560 R.P). Os psiquiatras do Hospital Val de Grâce, Hamon, Parair e Velly, empregaram o medicamento num caso de agitação maníaca, que trataram associando o mesmo ao Pentotal e a Petidine e finalmente curado pelo eletrochoque.

Pierre Deniker, assistente do Professor Jean Delay, no entanto, foi quem demonstrou que este produto tinha efeito sobre a agitação psicótica. Deniker chegou ao produto 4.560 (Largactil) por informação de um cunhado cirurgião que Laborit estava fazendo experiências de hibernação com tal produto. Imediatamente fez contato como Laboratório La Specia e conseguiu amostras do 4.560 R.P. (Clorpromazina-Largactil). Recebe algumas ampolas e as emprega nos psicóticos. No início, como havia a ideia da hibernação, eles envolviam os pacientes em bolsas de gelo e aplicavam a medicação. Logo os enfermeiros lhe disseram que não era necessário o gelo, bastava as injeções. Publicou seu trabalho com seu superior, Jean Delay.

“os resultados obtidos com a clorpromazina podiam ser medidos em decibéis (desapareceram os gritos nas enfermarias”. (Thullier)

Em 1954, Deniker e Laborit foram divulgar o novo produto nos Estados Unidos e Canadá onde recebeu um novo nome “Thorazine”.

As descobertas da reserpina, clorpromazina e haloperidol levou a especulação deque alguns dos envolvidos poderiam vencer o prêmio Nobel. Outros prêmios já tinham sido dados. Nathan Kline e Robert Noce receberam em 1957 o Lasker Prize pelo seu trabalho na descoberta da reserpina, embora a pesquisa de Leo Hollister tivesse dados mais convincentes que os seus. Em 1964, Kline foi o único homem a receber um segundo Prêmio Lasker, pela descoberta das propriedades antidepressivas da Iproniazida. Ele parecia um bom candidato para o Prêmio Nobel, mas aí estourou uma celeuma. Um coautor, Jack Sauders contestou a entrega do Lasker para Kline e a posterior batalha legal tirou qualquer chance de Kline receber o Nobel.

Os outros candidatos ao Nobel, foram Deniker e Delay, pelo seu trabalho com a clorpromazina. O nome de Jean-Marie Harl estava citado nos primeiros relatos de seus estudos, e como Harl era o mais jovem, provavelmente o que mais lidava com os pacientes e que mais notar o impacto da clorpromazina neles. Entretanto, ele estava no hospital em treinamento; logo partiu para a atividade privada e pouco depois morreu num acidente de escalada. Ficou sem chances de ser nomeado para o prêmio.

Delay era o mais antigo psiquiatra no mundo psiquiátrico. Por volta dos anos 50, via poucos pacientes e raramente aparecia nas enfermarias. O contato de Delay com pacientes de enfermaria era restrito a discussão de caso que ele comandava e nestas era norma interrogar os pacientes. Mesmo assim, Delay parecia bem atuante na questão da clorpromazina. Mais adiante ele, certamente, fez contribuições sobre o emergente campo dos neurolépticos, termo por ele cunhado ao descrever a ação e classe de drogas.

Delay sempre pensou que ele e Deniker deveriam ter recebido o Prêmio Nobel. Isto se tonou uma obsessão para ele. Mesmo que não tivessem sido os primeiros a usar a clorpromazina, eles foram os primeiros a proclamar suas qualidades antipsicóticas. E, apesar de tudo, a honra cabia aos primeiros a chamar a atenção da existência e importância do fenômeno, em vez dos descobridores da droga. A descoberta de Delay que a clorpromazina era benéfica no tratamento das psicoses, deu força para o desenvolvimento da clorpromazina numa época que muitos dos seus contemporâneos duvidavam do seu potencial terapêutico em tratar as psicoses.

Os eventos não favoreceram Delay. Em 1957 os Americanos agraciaram o Prêmio Lasker para Pierre Deniker e Henri Laborit e um terceiro personagem Heinz Lehman pelo trabalho com a clorpromazina, e para Kline e Noce, e Ruston Vakil, cujo artigo no uso da reserpina no tratamento da hipertensão, acionou o gatilho de interesse no Ocidente para este composto. Uma vez que um comitê de premiação de importância (Lasker Prize) decidiu quem eram os atores chaves na descoberta da clorpromazina e não reconheceu a específica contribuição de Delay, outro comitê, O comitê do Nobel não iria se pronunciar.

Porque, então não dar o prêmio Nobel para Laborit e Deniker? Porque Delay era membro do Comitê do Nobel e bloqueou qualquer esforço neste sentido. Quando nenhum prêmio foi oferecido pela descoberta da clorpromazina, nenhum pode depois ser oferecido para Kuhn ou Kline pela descoberta dos antidepressivos, uma descoberta derivativa de menor importância.

Havia uma tremenda hostilidade ente o campo do Saint Anne e Laborit. Deniker e outros do Saint Anne diminuíam a contribuição de Laborit no trabalho da clorpromazina. Através dos anos 1950s e 1960s, Delay proclamava sua prioridade. Reagia com raiva e hostilidade aos esforços de outros que propuseram um novo sistema classificatório dos antipsicóticos. Por exemplo Pierre Lambert e Louis Revol de Lyon propuseram uma classificação que variava dos efeitos sedativos até o tipo incisivo dos neurolépticos.

Em 1992, no quadragésimo aniversário do uso por Deniker da clorpromazina, Rhône Poulenc marcou a ocasião publicando um volume que registrou o trabalho de Laborit no campo da anestesia, e creditou a descoberta clínica para Delay e Deniker.

O Livro de Jean Thuillier em 1981 registrou a história da Clorpromazina no Saint Anne dando total crédito a Delay como uma figura de destaque. Entretanto, ele também destacou as contribuições de Laborit e Deniker. Mesmo a história sendo verdadeira, arrumou poucos amigos para Thuillier. Mesmo com o livro de Thuillier, Laborit se sentia passado para trás e morreu amargurado.

Em 1994, nos duzentos anos da fundação do Val de Grâce, uma placa foi colocada no hall do hospital destacando a descoberta da clorpromazina ali, em 1952 por Laborit, Hamon, Paraire e Velluz.

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O Prêmio Lasker (em inglês: Lasker Award) é concedido desde 1946 a pessoas que realizaram contribuições significativas à medicina, ou que realizaram serviços públicos notórios em medicina. É concedido pela Lasker Foundation, fundada por Albert Lasker e sua esposa Mary Woodward Lasker. Os prêmios são ocasionalmente denominados “prêmios Nobel da América”. Setenta e seis premiados com o Lasker Award receberam também o Prêmio Nobel.

 

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