France Brasil- Psi; Sumário:

O sonho é uma realização de desejo?

 Histórias de aparições

Perversão ou loucura?

 Antônio Tabucchi : “Pereira Pretende”

Freud vivente

 

O SONHO É UMA REALIZAÇÃO DE DESEJO?

Seria necessário distinguir o desejo consciente do desejo inconsciente? Como explicar de outra maneira os pesadelos? Por exemplo:alguém da Wikipedia portuguêsa me enviou uma mensagem que me angustiou. Sem que a mensagem me acusasse claramente, deixa-me entender que eu havia prejudicado consideravelmente a Wikipédia com minha última contribuição. Meio adormecido, meio acordado, tentei sair deste pesadelo, sair porque eu estava mergulhado nele, preso, de tal modo o pesadelo me parecia verdadeiro, um acontecimento ocorrido. Então, como explicar a realização de um desejo num pesadelo? No qual o prazer sexual aparece inexistente, onde o desprazer prevalece?

 

Certamente, Freud mostrou as transformações pulsionais a partir dos mecanismos de defesa. Então, aqui, a satisfação sexual, o desejo inconsciente teria sido transformado em seu contrário? Ou a satisfação é masoquista (recalcada), o que implica a necessiadede de ser punido?

 

A introjeção de aspectos pulsionais masoquistas (a mãe que  sofre e que, a chorar bate nos filhos  e ao mesmo tempo suplica a  Deus de tirar-lhe a vida); o pai severo, frio e meticuloso quando punia e batia nos filhos, castrador por suas interdições mas que, sexualmente, se revela ter uma atividade sexual importante, como mostra o número de filhos que teve? Conclusão: decididamente, tantos pesadelos demonstram, com insistência, a dor e o prazer entrelaçados. Em que proporções? E o sadismo em tudo isto?

 

HISTÓRIAS DE APARIÇÕES

Referência: Connaissance de L’inconscient, Nouvelle Revue Française, éditions Gallimard (Sarah Chiche).

Tradução :EHC

 

É a história dum paciente que foi ver um analista porque não sabia falar a seus mortos. A história duma atriz perdida no seu reflexo. A história dum pai que, num pequeno jardim público, não consegue deixar de olhar sua filha brincar por temer que ela desapareça. Pode ser vossa história, quando, de repente, esta pessoa que você não conhecia, um instante antes, entrou na sua vida. « Basta pouca coisa para que ela entre na minha, um riso partilhado, um comentário no fim de contas banal  que adquire para mim o estatuto duma verdade inalterável ; sua falta de jeito, que é também a minha, cada vez que nos vemos…

 

De repente, ela tornou-se uma outra pessoa, e este mal-entendido se chamará amor e permanecerá durante a vida inteira, ou não. »De que maneira alguém ou qualquer coisa aparece nas nossas vidas?  Como é que alguém ou alguma coisa desaparece? Para o psicanalista Miguel de Azambuja, autor deste livro, seu amigo, Jean-Bertrand Pontalis, confiava frequentemente sua aversão pelos conceitos quando eles saturam o propósito em detrimento dum « pensamento sonhador ». Leremos pois estas páginas  como uma muito bela homenagem ao amigo desaparecido.

 

Lendo essas histórias de aparições e de desaparecimentos, ligeiras ou graves, nas nossas  cabeças, de repente, tormam-se imagens, fragmentos de vozes nos voltam, e extranhas aproximações de idéias se fazem. Então pensamos que a literatura psicanalítica é boa quando permite isto: jamais renunciar à nossa criatividade cobrindo-nos vivos debaixo dos conceitos mortos, mas respeitar em cada leitor, « o elefante que se diverte numa loja de porcelona »,  isto é a criança que ri e a criança que sonha.

 

 

PERVERSÃO OU LOUCURA?

 

O assassino cognominado “Pierrot le fou” (Pierrot o louco) foi condenado à prisão perpétua por três crimes horriveis, acompanhados de atos bárbaros e estupros. Uma senhora  e duas meninas foram as vítimas de Pierrôt.

Perverso consciente de seus atos ou louco delirante, sem discernimento, incapaz de julgar o bem e o mal, Irresponsável, Pierrot le fou? Em sua longa carreira de criminoso, foi hospitalizado várias vezes em serviços psiquiátricos, aplicaram-lhe todos os tratamentos biológicos sem nenhum resultado.

Os especialistas psiquiatras foram incapazes de precisar os contornos da personalidade do criminoso, eles dividiram-se entre considerá-lo perverso ou louco, e, no final, foi o júri popular que decidiu.                               .
Um advogado disse: a psiquiatria não evoluiu depois de 100 anos, uma afirmação errônea mas que, neste caso, mostra os limites de suas técnicas, os fracassos da medicina legal. Os mistérios do criminoso, do “acting out” do fantasma, permanece intacto. E os psicanalistas têm razão de insistir, após Freud, sobre as disposições criminosas do homem.

 

 

ANTÔNIO TABUCCHI : “Pereira Pretende”

 Ele revelou o segredo de sua inspiração ao escrever “Pereira Pretende”, fulgurante pequeno livro escrito num estilo rápido, no pretérito perfeito, para fornecer-nos o retrato de um jornalista, viúvo e solitário, idealista e rotineiro, que parece observar o mundo como se vivesse num outro planeta. O segredo do autor? “Escrevi este livro em dois meses de trabalho intenso, recluso numa pequena casa perto do bordo do mar.

É este método que vou experimentar hoje e observar os resultados que terei se escrever emergindo das impressões que deixaram a marca do inconsciente materializada nos diversos sonhos que fiz.

Leio na Wikipedia portuguesa um artigo sobre Antônio Tabucchi:  

Antonio Tabucchi  (Vecchiano, província de Pisa24 de Setembro de 1943 – Lisboa25 de Março de 2012) foi um escritor italiano, professor de Língua e Literatura Portuguesa na Universidade de Siena. Desde 2004 tinha também a nacionalidade portuguesa.[

Muito apaixonado por Portugal, e dos melhores conhecedores, crítico e tradutor italiano do escritor português Fernando Pessoa, além de Carlos Drummond de Andrade. Os seus livros estão traduzidos em cerca de dezoito países. Obteve o prémio francês “Médicis étranger” pelo seu romance Notturno Indiano, e o prémio Campiello por Sostiene Pereira.[carece de fontes]

Alguns dos seus livros mais conhecidos são Notturno IndianoPiccoli equivoci senza importanzaUn baule pieno di genteGli ultimi tre giorni di Fernando PessoaSostiene PereiraLa testa perduta di Damasceno MonteiroSi sta facendo sempre più tardi. Vários dos seus livros foram adaptados ao cinema, com destaque para Sostiene Pereira, onde Marcello Mastroianni realiza uma das suas últimas interpretações, em 1995, um ano antes da sua morte.

 

 

FREUD VIVENTE LIVRO DE Alain de Mijolla

 

Psicanalista e neuropsiquiatra, especialista da história da psicanálise, Alain de Mijolla descreve uma história de Freud, momento por momento, entre biografia e história do nascimento da psicanálise. O autor recoloca a emergência desta disciplina no contexto da época: a guerra, as relações de Freud com Charcot ou Jung. Não é questão aqui de descrever uma verdade biográfica (mas isto seria possível?). Antes de nos fazer “ressentir”, “vibrar” através da vida de Freud.

Cada capítulo pode ser lido separadamente, restituindo detalhes que fazem a essência duma existência, nos fazendo descobrir um Freud irritado ou ardente, um Freud em movimento permanente, que se manteria aqui, em nossa frente e com o qual iniciaríamos uma conversação apaixonante . Um livro repleto de emoções e de sinceridade.

 

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