CULPA
A culpa é um processo essencial da natureza humana. Os cientistas evolucionistas explicam o desenvolvimento dos sentimentos humanos através da evolução que viria desde a Idade do Gelo. Imaginam que neste período a humanidade, confinada a pequenas áreas geográficas e com escassos recursos de sobrevivência, teriam já desenvolvido as regras básicas de convivência comunitária. Comportamentos como incesto, provocar a morte dos outros e comportamentos prejudiciais à comunidade seriam condenados. Desta forma a culpa e o remorso é uma das formas de organização ética e moral impostas pela cultura de cada povo. Freud acreditava que a culpa surgisse nos primeiros anos de vida, quando a criança teria ciúmes do pai por este dar atenção à mãe, o qual Freud denominou de complexo de Édipo.
O desenvolvimento da culpa faz parte do desenvolvimento normal de qualquer sujeito. Este processo também obedece a um espectro de manifestação. Se a culpa for exagerada, torna-se fonte de angústias configurando-se mesmo como quadros neuróticos. Se a culpa for frouxa, torna-se traço de caráter deficitário.
O processo de culpa, sendo inerente no ser humano, depende do grau de maturidade, integridade cerebral e equilíbrio emocional para poder se lidar com ela. Apenas os psicopatas são capazes de infringir regras sem o menor arrependimento por isso. São capazes de causar o mal sem nenhum arrependimento. Por esta razão é um dos problemas de mais difícil tratamento nos consultórios psiquiátricos.
No campo da normalidade a culpa normal de um ser humano não psicopata é expiada através da fé e através dos “terapeutas”, como também na conversa com os amigos e familiares.
Comportamento
A psicopatia não pode ser definida pelo comportamento e sim pelo padrão anormal de atitudes que o sujeito tem em todas as relações interpessoais desde a infância.
Muitos psicólogos pensam que se define psicopatia por comportamentos. Principalmente por comportamentos de agressividade e criminalidade. Tenho tentado explicar a eles que o diagnóstico da condição de psicopatia depende de avaliação de tendências da personalidade. Estas apenas podem ser acessadas através da história de vida, principalmente dos padrões de relacionamento nas várias modalidades de relacionamento interpessoal e semiologia.
Se julgarmos psicopata pelo comportamento, verificamos que, em algumas sociedades matar alguém não é crime nem algo errado a se fazer, por exemplo, em aldeias de índio aonde as mulheres matam as filhas mulheres ou os filhos que nascem com defeito e, isso é plenamente aceito pela comunidade indígena, mas se existir um psicopata nessa sociedade que será um sujeito mentiroso manipulador, querendo levar vantagem em tudo, ele será identificado como um mau caráter.
Entre os babilônios que viveram por volta de 2000 mil anos antes de Cristo, a prática da mentira, trapaça, roubo, agressão, arruaça ou mesmo assassinato era atribuída a que os babilônios chamavam de momitu: juramentos. O comportamento antissocial de algumas pessoas era tão consistente que era como se tivessem jurado agir daquela maneira por toda a vida. Na segunda metade do século XIX surgiu a ligação entre personalidade e tendência inata ao crime. O autor RAFAEL GARÖFALO no campo jurídico
“CRIMINNOLOGIA” – 1885 considerava que as pessoas podiam ser presas antes de cometerem crimes, por terem a natureza da perversidade ou seja, da psicopatia. Em Londres por 15 anos funcionou um projeto para deter aqueles chamados transtornos graves e severos da personalidade, (3) esse projeto visava detectar pessoas com transtorno da personalidade que revelassem serem portadores de alto risco de violência, o projeto atendia 300 pessoas, qualquer médico que desconfiasse que o seu paciente tivesse traços de psicopatia encaminhava o ao Health Department de Londres. Essa pessoa era examinada por uma equipe especializada que aplicava diversos testes e se a pessoa que apesar de não ter cometido nenhum delito fosse diagnosticada como psicopata ela passava a ser vigiada em sua conduta por um funcionário público o que evitou muitos crimes de virem a acontecer. É como no filme “Minorit Report” aonde o ator Tom Cruise faz o papel de um policial do futuro integrante de uma agencia policial onde ele é capaz de prever quando uma pessoa faria um crime e detê-la antes da ação criminosa.
Outros métodos também foram usados: o jornal New Scientist apresentou espantosa notícia que um sistema “detector para crime” estaria funcionando com até 80% de acerto capaz de prever intenções criminosas, o sistema é baseado em leitura de pessoas e consegue detectar com esse grau de acerto a intenção criminosa. Por exemplo: um assaltante que se dirigisse a uma loja de shopping para assaltar seria identificado por sinais scaneados pelos sistemas de informática, como: batimento cardíaco, temperatura do corpo, dilatação de pupilas, características da voz, gestos, etc. estes dados seriam lidos por monitores eletrônicos e analisados por computadores, que preveriam as intenções imediatas de cometer em crime (Jarbas Andrade Marquione).
A revista New Scientist diz que o departamento de segurança dos Estados Unidos desenvolveu um sistema para detectar pensamentos hostis em pessoa andando em aeroportos ou espaços públicos “os autores desse trabalho dizem que estão conseguindo até 78% de acerto de intenção mal-intencionada em 80% nas fraudes.
Uma das diferenças marcantes entre a realidade britânica entre a brasileira é que a britânica exerce um controle muito maior sobre a população que apresenta risco de violência significativa, o sistema de saúde faz o acompanhamento dessa população que nós não fazemos, eles promovem uma segurança maior, evitando que um determinado indivíduo venha a delinquir novamente. Na Inglaterra o britânico comum é espionado em média 300 vezes por dia, o país tem quase 5 milhões de câmeras de circuito fechado que vigiam os cidadãos nas ruas, nos meios de transportes e em estabelecimentos público e comerciais.
Além disso, as atividades corriqueiras dos cidadãos têm sido monitoradas não apenas pelo governo, mas também por empresas privadas, que criam um banco de dados.
Enfim, para se ter o diagnóstico de psicopatia é necessária uma história completa da vida do sujeito desde a sua infância, para se identificar os padrões anormais de conduta nas relações interpessoais. Ele não tem apenas um comportamento diferente das pessoas da sua comunidade, ele é uma pessoa diferente pela sua natureza e o psicopata vai sempre reincidir em atividades cruéis porque é da sua natureza agir assim. É como a fabula do sapo e do escorpião, a floresta pegava fogo e todos os animais estavam indo para a beira do rio e o escorpião percebe que se entrar no rio vai morrer e pede ao sapo para subir nas suas costas para atravessar o rio. O sapo diz: mas você é um escorpião, você pica as pessoas e mata, ao que o escorpião responde: mas eu não vou fazer isso porque você vai me ajudar. O sapo fica meio desconfiado, mas permite que o escorpião suba em suas costas, ao chegar próximo a margem o que o escorpião faz? Pica o sapo! E o sapo lhe pergunta, porque você fez isso? E o escorpião responde: sinto muito, é da minha natureza.
Uma questão não esclarecida é o fato de se prender, de forma perpétua, um psicopata pela natureza dele e não pelo crime que cometeu. Ou seja, ele só é preso quando comete um crime, mas fica em cadeia perpétua por ser psicopata e a natureza de reincidir em crimes violentos é muito alta.
O psicopata em cada momento está de um jeito, como todas as pessoas. Ele não passa todo o tempo fazendo maldades. Ele come, dorme, conversa, faz compras. Mas, ele vai praticar atos de violência o que o sujeito normal de caráter não vai fazer. Há quem diga que qualquer pessoa pode matar. Mas, não é verdade. A pessoa pode dizer: “Se fizerem algo com meu filho eu mato a pessoa”. Mas, se isso vier a acontecer, na hora ela não consegue matar, por ser de bom caráter. Eu sempre digo: As pessoas de bom caráter até pensam em maldades, mas não as realizam, e se por acaso vierem a fazê-lo se arrependem depois. É o caso dos soldados nas guerras. Eles matam por ser a obrigação deles fazer isso, mas sentem pelo que fizeram.
O psicopata passa a maior parte e seu tempo pensando em como se divertir com alguém, como fazer algo de ruim para os outros e por isso ele fica muito bom nisso. As pessoas pensam que eles são inteligentes, mas não são. O problema é que só pensam em sacanear alguém e daí ficam bons nisso.
- Traço da personalidade não é a forma do sujeito se comporta. Ex: analisando fulano verifica-se que sempre foi muito briguento. O TRAÇO NÃO É BRIGUENTO E SIM IRRITABILIDADE.
- Irritável é o indício da forma como pode o sujeito vir a se comportar.
O traço da personalidade não corresponde à manifestação do comportamento tal qual ele se expressa, mas ao significado psicológico da manifestação de tal comportamento. Portanto TRANSTORNO DA PERSONALIDADE corresponde aos desvios do padrão de comportamento de como o sujeito se relaciona com os outros.
- A descriptive evaluation of patients and prisoners assessed for dangerous and severe personality disorder
- Authors: Tim Kirkpatrick a; Simon Draycott b; Mark Freestone c; Sylvia Cooper d; Karen Twiselton e; Neil Watson f; Jacquie Evans f; Val Hawes f; Lawrence Jones g; Claire Moore g; Kathryn Andrews g;Tony Maden bd
- Published in: Journal of Forensic Psychiatry & Psychology, Volume 21, Issue 2 April 2010 , pages 264 – 282