Volume 22 - Novembro de 2017 Editor: Giovanni Torello |
Janeiro de 2014 - Vol.19 - Nº 1 Psiquiatria na Prática Médica ALGUMAS ETIOLOGIAS DA AMNÉSIA Prof. Dra. Márcia Gonçalves* Memória
é a capacidade de adquirir, reter e evocar informações. A memória dos
homens e dos animais é o armazenamento e evocação de informação adquirida
através de experiências; a aquisição de memórias são chamadas aprendizado. A aquisição é a
entrada de dados por meio dos receptores (sensores externos), que são
encaminhados aos sistemas neurais onde será armazenado por algum tempo (varia
de segundos a anos), processo esse denominado retenção. Entre esses dois
processos acontece uma seleção se esse evento vai ser retido. A
seleção é determinada pela importância desse evento (situações com grande carga
emocional, como o nascimento de um filho) ou pela freqüência com que ele
acontece (o armazenamento do nosso próprio nome) Quando
esse dado é retido por um grande tempo ou de forma definitiva dizemos que
aconteceu a consolidação. A
evocação é o ultimo processo da memória, ou lembrança, e é através dele que
temos acesso aos dados que nos serão úteis no futuro. Não é possível
medir memórias em forma direta (GREEN, 1964, p. 561-608). Só é possível
avaliá-las medindo o desempenho em testes de evocação. No homem, a evocação
pode também ser medida através do reconhecimento de pessoas,
palavras, lugares ou fatos. 1,2, Classificações
da memória Divide-se
de antemão a memória em dois grandes grupos. ·
Memória filogenética ou de bagagem
genética ·
Ontogenética, é adquirida em vida
(mesmo que intra-uterina), é essencial para a sobrevivência, mas não são
repassadas geneticamente. A
memória ontogenética se divide em critérios como: Tempo
de duração: (ultra-rápida, de curta duração e de longa duração). Natureza:
Explícita, aquela que podemos expressar com palavras (declarativa). Pode
ser dividida em: Episódica, que é a memória de fatos sequenciados, com
referencia temporal (descrição de uma peça de teatro. Semântica, com
dados atemporais (nome de colegas da escola). Implícita onde não existe coerência
evocá-la por palavras. Ex: reconhecimentos de rostos conhecidos. 4,5,6 Memória
operacional. Armazena dados instantâneos
para realização de uma atividade. 4,5 Anatômia
da Memória A
memória não possui um único lócus. Varias estruturas cerebrais estão
envolvidas na aquisição, armazenamento e evocação das diversas informações
adquiridas por aprendizagem. Memória
de curto prazo: Participa o sistema límbico (processos de
retenção e consolidação de informações novas). Consolidação
temporária: Participam o
hipocampo, a amígdala, giro para-hipocampal, córtex entorrinal, e os dados vão
para áreas de associação do neocórtex parietal e temporal. 7,8,9 Existem
também duas vias hipocampais responsáveis por interconexões do próprio sistema
límbico; ·
Circuito de Papez (hipocampo,
fórnix, corpos mamilares, giro do cíngulo, giro para-hipocampal e amígdala), ·
Projeta- se de áreas corticais de
associação, por meio do giro do cíngulo e do córtex entorrinal, para o
hipocampo que projeta-se do núcleo septal e do núcleo
talâmico medial para o córtex pré-frontal, onde ocorre o armazenamento dos dados e informações que
reverberam no circuito ainda por algum tempo. O hipocampo intervém no
reconhecimento de determinado estímulo, configuração de estímulos, ambiente ou
situação, se são novos ou não, e, portanto, se merecem ou não ser memorizados
(GRAY, 1982). É evidente que, para isto, o hipocampo deve ser capaz
dasseguintes funções: a) distinguir
estímulos, combinações de estímulos e ambientes; b) compará-los
ambientes e estímulos com memórias preexistentes, armazenadas no cérebro; c) emitir informação
referente à novidade ou não da situação ou do ambiente a outras estruturas
(seus sítios de projeção).11 De fato, só
reconhecemos que "aprendemos algo" quando se trata de algo novo; não
de algo que já sabíamos. A amígdala participa dos
processos de seleção como conseqüência de sua função moduladora da
consolidação. 10.11,12,13,14, A amígdala modula a consolidação da
memória quando em estado de stress ( ex: alerta, com
carga emocional ou afetiva). A
modulação da consolidação também se faz por funções hormonais diversas. São
eles: adrenalina,
adrenocorticotrofina e vasopressina, liberados em resposta ao ao stress. Além de adicionar informação, a -endorfina também exerçe um efeito modulador sobre a
memória.
Compreende
um sistema de controle de atenção (executivo central) que seleciona estratégias
e planos no lobo frontal, que supervisiona as informações Memória
de Longo Prazo: Mecanismo
básico da seleção de informações: O que deve ser armazenado? Quando uma
informação importante é eleita, ocorre a liberação de doses moderadas de ACTH,
(noradrenalina, dopamina) e acetilcolina que agem facilitando a consolidação da
memória. Contudo, doses altas dessa substância têm efeito contrário,
provavelmente, pelo bloqueamento dos canais iônicos. Doses ou
concentrações sangüíneas elevadas de adrenalina, adrenocorticotrofina ou
vasopressina no período posterior à aquisição, como vimos, podem também inibir
a evocação. Seu efeito é também revertido por uma nova
administração das mesmas substâncias antes da evocação (IZQUIERDO, 1984, p.
65-77; IZQUIERDO e McGAUGH, 1987, p. 778-81), Antagonistas
dos receptores colinérgicos, glutaminérigos do tipo NMDA e adrenérgicos levam a
um déficit de memória a nível intracelular. A
serotonina (outro neurotransmissor) exerce importante papel na consolidação da
memória de longo prazo, que parece estar ligada a síntese protéica. O
GABA (ácido gama-aminobutírico), neurotransmissor inibitório do SNC está
intimamente ligado com o processo de memorização. Antagonistas GABAérgicos
facilitam a memorização e agonistas (substâncias que mimetizam a ação do GABA)
a prejudicam. Ex: As benzodiazepinas, os tranquilizantes mais prescritos e
vendidos no mundo, facilitam a ação do GABA e, portanto, podem afetar a memória.
(amnésia anterógrada) Os
neuropeptídeos também influenciam a memorização. A substância P pode ter
efeitos reforçando a memória ou prejudicando, dependendo do local na qual ela
está. A
amígdala tem uma função e percepção da emoção, na modulação da memória; Ela
recebe informações das modalidades sensitivas e as repassa para diferentes
áreas do cérebro ligadas a funções cognitivas. Participa da modulação dos
primeiros momentos da formação de memória de longo prazo que sejam consideradas
de alerta ou de alta ansiedade. Se for hiperativada, especialmente pelo
stress, ela pode produzir as lacunas mnêmicas (brancos). Amnésia
O
esquecimento é um processo natural, e não uma falha, é
um mecanismo de limpeza, para evitar uma sobrecarga de retenção de dados. Outro aspecto da memória é o esquecimento:
Os mecanismos moduladores decidem sobre a intensidade que terão os processos de
armazenagem e esquecimento. Denomina-se
amnésia a perda de memórias preexistentes (amnésia retrógrada), ou
a incapacidade de formar memórias novas (amnésia anterógrada). A perda total de
memórias é denominada amnésia global, geralmente, transitória e
reversível, e se observa após grandes traumatismos cranianos ou acidentes
vasculares cerebrais com edema cerebral (SQUIRE, 1987). A depressão acompanha, e complica, muitas doenças crônicas, incluindo as demências, e
que é bastante comum na idade senil. Pode ocorrer a pseudodemência, com
profunda amnésia retrógrada e anterógrada e outros
transtornos cognitivo. Tipos de amnésia:
·
Amnésia orgânica: mal
funcionamento das células nervosas o que acarreta diminuição no registro e
retenção de informações. ·
Amnésia psicogênica é consequência
de fatos psicológicos que inibem a recordação de certos episódios vividos. ·
Mista: Participam fatores psicogênicos e
orgânicos. Causas
da Amnésia As causas são traumatismo craniano, tumor
cerebral, infecção intracraniana, intoxicação, doenças cerebrais e deficiência
de vitamina B., Doença de Alzheimer, Síndrome de Korsakoff (perda de memória
que acompanha certos casos de alcoolismo crônico). Mal de Parkinson (degeneração
progressiva da células que produz o neurotransmissor
dopamina que tem como sintomas o tremor, rigidez muscular e diminuição da
atividade motora e intelectual e pode gerar em estágios avançados uma lenta
evocação de fatos e acontecimentos.
AVC (acidente
vascular cerebral) alteram o pensamento, aprendizado, cognição, atenção,
julgamento e memória. Como demais fatores ligados a perda de memória temos: Ansiedade; Estresse; Depressão; Doenças da tireóide
(hipotireoidismo);Vida sedentária. Demências secundárias a infartos cerebrais múltiplos por embolia
ou hemorragia (10 a 30% das demências). Lesões vasculares
podem ser secundárias à arterosclerose (metade ou mais dos casos), ou a
traumatismos cranianos repetidos (por ex., nos boxeadores), ao alcoolismo
crônico (10% das demencias) ou outras intoxicações (solventes orgânicos,
alumínio, monóxido de carbono, etc.). Algumas substâncias que em falta ou em excesso
causam perdas na memória. São elas: O álcool – Causa a morte de neurônios e prejudica
a formação de novas células cerebrais. Até mesmo beber pequenas quantidades
interfere na memória Carência de vitamina B1 (tiamina) – Altas
taxas representam riscos para o Alzheimer e Parkinson. Adoçantes artificiais – adoçantes
artificiais que contenham a substância, usados em excesso, pode trazer uma
série de efeitos colaterais como: alergias, hipotireoidismo, enfraquecimento do
sistema imunológico, afetar na concentração e na memória. O aspartame é um
exemplo. Gorduras – As saturadas (origem animal) e
as trans (maléficas para o coração) podem causar alterações na memória. Medicamentos –
Tranquilizantes, relaxantes musculares, drogas ansiolíticas, propanolol, podem
afetar a memória Tabaco: quebra a quantidade de oxigênio
que vai para o cérebro dificultando uma pessoa que quer lembrar nomes e faces
de pessoas. Cafeína – Café e chá são ótimos para
retirar o sono e manter a atenção, mas essas bebidas provocam excitações que
podem interferir na função da memória. O açúcar – Eleva a produção de insulina,
desencadeando as reações que agridem as células cerebrais. Conclusão: Como podemos notar,
a memória ainda permanece com um imenso campo desconhecido e merece mais
pesquisas tendo em vista a complexidade e a importante função que ela exerce
nos seres vivos. Bibliografia com o autor. ·
Coordenadora da disciplina de psiquiatria da
UNITAU
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