Junho de 2013 - Vol.18 - Nº 6 Editor: Walmor J. Piccinini - Fundador: Giovanni Torello |
Junho de 2013 - Vol.18 - Nº 6 Psiquiatria na Prática Médica EFEITOS ORGÂNICOS E PSICOLÓGICOS DA MACONHA Prof. Dra. Márcia Gonçalves Introdução Cannabis é o gênero botânico de algumas plantas, das
quais a mais famosa é a Cannabis
sativa,
da qual se produz o haxixe e a maconha, que contém 489 compostos
naturais, como o Δ⁹ - Tetraidrocanabinol (Maconha), canabidiol (CBN), canabigerol
(CBG) e outros. 1 A intoxicação aguda da maconha é
resultado da inalação do THC. Quando fumado, o THC é rapidamente absorvido
pelos pulmões, chegando ao cérebro em poucos minutos. O pico em forma de leve
elação (euforia) pode acontecer em 10 a 30 minutos e a pode durar por até 4
horas. Período inicial de euforia
seguido de disforia, sonolência e risos espontâneos;
perda da discriminação de tempo e espaço; diminuição da coordenação motora;
prejuízo da memória recente; falha nas funções intelectuais e cognitivas;
retardo na capacidade de percepção sensorial, intensificando as sensações, os
sentidos e exagerando a sensibilidade; taquicardia; olhos vermelhos (hiperemia
das conjuntivas); alterações da pressão sanguínea; aumento do apetite
e secura da boca. O efeito imediato é a sensação de estar
“alto”, com euforia, sensação de prazer, diminuição da ansiedade, relaxamento e
aumento da sociabilidade. Pode ocorrer, efeito contrário
com desprazer com ataques
de pânicos, profunda sensação de tristeza, crises de ansiedade e isolamento do
grupo. Outros sinais psicológicos que
podem ocorrer durante a intoxicação são: Pensamentos míticos; Distorções do
tempo; Perda da memória recente; Diminuição da atenção e concentração; delírios
persecutórios; Grandiosidade; Despersonalização Além dos efeitos psicológicos, o
consumo de maconha também desencadeia uma série de efeitos físicos que incluem:
Taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos); hipertensão
, entretanto em doses altas pode causar hipotensão; taquipnéia;
hiperemia conjuntival (olhos vermelhos); Boca seca; hiperfagia;
letargia e redução dos reflexos. As alterações da concentração,
dos reflexos e diminuição da atividade motora podem durar até 24h, e podem estar
presentes nos usuários que vão dirigir ou trabalhar no dia seguinte, apesar dos
mesmos, muitas vezes, não terem consciência disto. Este fato pode ser
especialmente perigoso em profissionais como pilotos, cirurgiões, motoristas e
pessoas que manuseiam maquinaria pesada. A liberação de adrenalina, o
aumento da frequência cardíaca e a vasodilatação aumentam o consumo de oxigênio
pelo coração podendo desencadear eventos isquêmicos em pessoas com doença
cardíaca prévia. Para em pessoas com angina ou doença coronária, o aumento do
nível de carboxiemoglobina e a cardioaceleração
provocada pela maconha pode levar ao infarto fulminante O risco de infarto para
cardiopatas é 5x maior nos primeiros 60 minutos após o seu consumo. O consumo
da maconha também pode desencadear arritmias cardíacas como a fibrilação
atrial. A fumaça da maconha possui 4x
mais alcatrão e 50% mais substâncias carcinogênicas que o cigarro, além de ser
fumado sem filtro e ser muito mais tragado, o que causa uma maior inalação de partículas
irritativas para as vias aéreas e pulmões. O consumo de 3
cigarros de maconha parece equivaler ao de 20 cigarros comuns. Pessoas que
fumam mais de 3 cigarros de maconha por dia costumam
apresentar problemas respiratórios semelhantes aos fumantes comuns, incluindo
tosse, catarro e diminuição da capacidade para exercícios. O uso crônico de
maconha esta relacionado a um maior risco de DPOC (enfisema pulmonar/bronquite). A maconha é lipossolúvel e ligada
às proteínas plasmáticas (97 a 99%), lipoproteínas pKa
= 10,6; coeficiente de partição octanol / água em pH
neutro da ordem de 6000. Após absorção é distribuído para tecidos bem
vascularizados como cérebro, fígado, coração, rins e pulmões. Então é redistribuído
acumulando-se em tecidos menos vascularizados como o adiposo (reservatório) – [ ] 1000x maior que a plasmática. Cruzam a placenta e são
secretados no leite. O THC-COOH é o principal produto de biotransformação
urinário, sendo um biomarcador de exposição à Cannabis Em média, o tempo em que é possível
ser detectado após exposição para fumantes eventuais é de 2 a 4 dias (positivo acima de 15 ng /
mL). Para fumantes frequentes esse tempo se estende para um mês e, em casos
excepcionais, três meses Via de ação: Nós temos receptores
CB₁ e CB₂ que são da família dos GPCR, O CB₁ (SNC) leva à inibição dos canais
de cálcio operados por voltagem, diminuindo a liberação de neurotransmissores e
abertura dos canais de potássio, diminuindo a transmissão de sinais, e o CB₂ (Sistema Imune e Hematopoiético)
que está envolvido com a
imunossupressão. Os efeitos tóxicos à longo prazo : −
No sistema pulmonar ocorre redução do número de bronquíolos, com
obstrução da entrada de ar; O sistema cardiovascular fica sobrecarregado para
compensação.; diminuição da resposta imune; Redução
dos níveis de testosterona; Diminuição da motilidade dos espermatozóides e
infertilidade; Redução da libido; Impotência; Alterações do ciclo menstrual; Ginecomastia (crescimento de mamas em homens) ;Galactorréia
(secreção anormal de leite pelas mamas); Alterações de memória; Aumento da
incidência de periodontites. Pacientes portadores de hepatite
C que fumam maconha apresentam maior risco de evoluírem para cirrose e câncer
de fígado O uso crônico de maconha também
aumenta os riscos de se desenvolver doenças psiquiátricas como esquizofrenia e
depressão Existe hoje uma síndrome chamada
em inglês de “chronic cannabis
syndrome”. Descreve usuários pesados de longa data
que apresentam dificuldades cognitivas e menores conquistas profissionais e acadêmicas.
Normalmente são pessoas com menos ambições profissionais e que acabam em
empregos que exigem menor capacidade de raciocínio e concentração. Apesar de todos esses problemas,
a maconha também pode ser usada com agente medicinal. O THC e derivados podem
ser encontrado em comprimidos, inaladores e adesivos para pele. Seu uso inclui:
Tratamento de vômitos incoercíveis, Tratamento de soluços de difícil controle,
tratamento da caquexia em SIDA (AIDS), Tratamento do Glaucoma , Redução dos
sintomas da esclerose múltipla. O consumo de maconha na gravidez pode levar ao
risco de má-formações, abortos ou partos prematuros.
Devido a falsa crença da inocuidade da maconha, esta é
a droga ilícita mais usada durante a gravidez. Anormalidades comportamentais no
recém-nascido são comuns e respostas alteradas à
estímulos com choro agudo e tremor acentuado são outras consequência do uso de
maconha.. Em gestantes que fumam mais de 6 cigarros de maconha por semana, os filhos apresentam, a
partir dos 2 anos de idade, menor aptidão verbal e menor capacidade de memória
que outras crianças. Estas crianças também apresentam maior risco de
hiperatividade e depressão. Existe também trabalhos
que mostram um maior risco de leucemias em crianças cujas mães fumaram cigarros
comuns e maconha durante a gravidez A tolerância é atribuída a uma des-sensibilização dos receptores; a analgesia tem
tolerância de 3 a 7 dias, ao passo que efeitos na
memória ou neuroendócrinos são extremamente resistentes, necessitando de
semanas a meses para desaparecerem. A Síndrome de Abstinência é caracterizada por desejo veemente pela
maconha, diminuição do apetite, dificuldade para dormir, perda de peso,
agressão, raiva, irritabilidade, inquietação e sonhos estranhos. Referências Moreira
FA, Crippa JA. The
psychiatric side-effects of rimonabant. Rev Bras
Psiquiatr. 2009;31(2):145-53.
Ashton CH. Pharmacology and effects of cannabis: a
brief review. Br J Psychiatry. 2001;178:101-6.
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAemLgAB/drogas-abuso Rev.
Bras. Psiquiatr. vol.25 no.3 São
Paulo Sept. 2003 http://www.mdsaude.com/2008/09/marijuana.html ·
Prof. Dra Márcia Gonçalves –
Coordenadora do IMG (Instituto Marcia Gonçalves – Psiquiatria e Saúde Mental Email: [email protected]
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