Volume 15 - 2010 Editor: Giovanni Torello |
Janeiro de 2010 - Vol.15 - Nº 1 Artigo do mês
COMUNICAÇÃO TERAPÊUTICA: A DINÂMICA COM O PACIENTE DE ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA
Orientadora Profª Dra.Janete Freitas (1) RESUMO O estudo busca enfocar a importância da abordagem empática e da comunicação terapêutica por parte da equipe de enfermagem, a fim da criação de vínculo com o paciente portador de Esquizofrenia Hebefrênica que é um subtipo dessa psicose, tendo como característica a fase de transição da adolescência para a vida adulta, sendo identificados as dificuldades em relação a convivência com os familiares através de histórico dos prontuários médicos durante a internação. A esquizofrenia é uma doença que afeta toda a família. Por isso, o acompanhamento dos familiares no tratamento do paciente é fundamental, pois família mantém a lógica e a coerência com o paciente. Palavras-chave: esquizofrenia hebefrenica, cuidados de enfermagem, sintomas comportamentais ABSTRACT The study aims to focus on the importance of the empathic and communication therapy by the nursing staff in order to create a bond with the patient with hebephrenic schizophrenia is a subtype of psychosis, characterized by the transition from adolescence to adulthood, identified the difficulties in relation to living with the family history through medical records during hospitalization. Schizophrenia is a disease that affects the whole family. Therefore, monitoring the family in patient care is essential, because the family keeps the logic and coherence with the patient. Keywords: schizophrenia hebefrenica, nursing care, behavioral symptoms
1 – Enfermeira Doutora Docente da Universidade Anhembi Morumbi e Orientadora do Trabalho. 2 – Alunos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Anhembi Morumbi.
Introdução O termo "esquizofrenia" foi criado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugem Bleuler significando mente dividida, mas a doença já era conhecida e tinha descrições na literatura há séculos. Esse termo enfatiza a grande divisão percebida pelo paciente em si mesmo e entre si e o mundo. Trata-se de uma doença do grupo das psicoses que são classicamente definidas como patologias que levam a perda do contato com a realidade. Significa dizer que a avaliação, o julgamento da realidade, feito pelo paciente está prejudicado, errôneo, baseado em idéias falsas. A realidade passa a ser reinventada pelo paciente [1]. Pessoas com esquizofrenia podem escutar vozes e acreditar que outros estão lendo e controlando seus pensamentos ou conspirando para prejudicá-las. Essas experiências são aterrorizantes e podem causar medo, recolhimento ou agitação extrema podem ter falas que não fazem sentido, ficarem sentadas por horas sem se mover ou falando muito pouco, ou podem parecer perfeitamente bem até falarem o que realmente estão pensando; podem ter dificuldade de manter um emprego ou cuidar de sim mesmas, a carga em sua família pode ser significativa [8]. Hecker (1871) Cria o termo Hebefrenica definindo-a também como uma doença autônoma da juventude, que passava por várias fases e culminava com demência. Seriam sintomas típicos a estranheza, a frivolidade e a mistificação [13]. EPIDEMIOLOGIA A Epidemiologia da doença baseada em estudos estatísticos mostram uma existência de cerca de 1% da população mundial como sendo portadora de esquizofrenia, equivale dizer que em nosso país existem aproximadamente 1,8 milhão de doentes, a grande maioria deles não recebe nenhum tipo de tratamento. O risco de morbidade é distribuído igualmente através dos países e culturas, através dos sexos e ao longo de várias décadas. Diferenças na prevalência nos fatores ecológicos e sociais são provavelmente conseqüências da doença. Incidência variável é provavelmente resultante de diferentes critérios de seleção de amostra [4]. O risco de incidência em um ano é de 1/2000, e o risco ao longo da vida é de 1/100 [3]. No CID-10, o código da doença é F.20.1 [4]. É um dos principais transtornos mentais que acomete 1% da população em idade jovem, entre 15 a 35 anos, com maior índice no sexo masculino. No Brasil estima-se que haja em torno de dois milhões de pessoas portadoras de esquizofrenia. Pacientes com histórico familiar tem seu índice aumentado: Pais – 10 a 15%, irmãos – 20%, irmãos gêmeos – 50 a 60%, parentes de 2º grau – 4 a 5%, tios – 2 a 3% (OMS). Os sintomas de primeira ordem foram criados por Kurt Schenider para diferenciar a esquizofrenia de outras psicoses, como mostra o Quadro1
Quadro1
Trata-se de grave desestruturação psíquica, em que a pessoa perde a capacidade de integrar suas emoções e sentimentos com seus pensamentos, podendo apresentar crenças irreais (delírios), percepções falsas do ambiente (alucinações) e comportamentos que revelam a perda do juízo crítico. A doença produz também dificuldades sociais, como as relacionadas ao trabalho e relacionamento, com a interrupção das atividades produtivas da pessoa [5]. Esta pesquisa referente a esquizofrenia, foi desenvolvida com a finalidade de levantar maior números de características dos sinais e sintomas da Esquizofrenia que é uma das patologias mentais que envolvem uma faixa extensa de disfunções cognitivas e emocionais com misto de sinais e sintomas presentes por período mínimo de um mês. FATORES DE RISCO A pré-adolescência também conhecida como puberdade é um período entre a infância e a adolescência, é variado e influenciado pela hereditariedade. A adolescência é o período de desenvolvimento durante o qual o indivíduo realiza a transição da infância para o estágio adulto, entre 13 e 20 anos. O termo adolescente se refere ao amadurecimento psicológico do indivíduo, ao passo que a puberdade se refere ao ponto que a reprodução se torna possível [11]. Os fatores sociais como desencadeantes da esquizofrenia sempre são levantados, mas pela impossibilidade de estudá-las pelos métodos hoje disponíveis, nada se pode afirmar a seu respeito. Toda pesquisa científica precisa isolar a variável em estudo [15]. Devido a heterogeneidade das apresentações sintomáticas e prognósticas da esquizofrenia, nenhum fator etiológico isolado é considerado como causador. Com a vulnerabilidade biológica o indivíduo que enfrenta um evento estressante pode desencadear o surgimento da esquizofrenia. O estresse não causa a doença, no entanto agrava os sintomas [5]. ASSOCIAÇÃO DO USO DE DROGAS COM O SURGIMENTO DA DOENÇA Há uma associação consistente entre o uso de cannabis e primeiro surto psicótico em indivíduos mais jovens. O uso de cannabis aumenta o risco de incidência de esquizofrenia em indivíduos com e sem outros fatores predisponentes e leva a um pior prognóstico para aqueles indivíduos com clara vulnerabilidade para um transtorno psicótico. Cannabis é o componente principal da maconha e do haxixe [12]. CAUSAS DA ESQUIZOFRENIA A causa da doença é complexa e multifatorial, mas devido ao sucessos das medicações, a desrregulação bioquímica é uma causa bem aceita na medicina, pois as pessoas com esquizofrenia sofrem de um desequilíbrio neuroquímico, que são falhas na comunicação celular do grupo de neurônios envolvidos no comportamento, pensamento e senso-percepção. Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de virem a desenvolver esquizofrenia; com algum parente distante essa chance aumenta para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um irmão esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente 20%, quando o irmão possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico) as chances de o outro irmão vir a ter esquizofrenia são de 50 a 60%, essa é a teoria mais antiga que impõe a genética como desencadeante inicial da doença [14]. TRATAMENTO Os antipsicóticos são a base do tratamento medicamentoso da esquizofrenia, sendo utilizados na fase aguda, na terapia de manutenção e na prevenção de recidiva. Os antispsicóticos disponíveis são os de primeira geração, ou convencionais e os de segunda geração ou atípicos [9]. O tratamento psicoterápico por longo período e Terapia Ocupacional são coadjuvantes no tratamento medicamentoso, pois essa linha de tratamento estabelece reinclusão social ao paciente que havia perdido a interação social.
Medicações Prescritas aos pacientes no presente estudo, e os Cuidados que lhe prestamos durante o estágio, como mostra o Quadro2, [2]: Quadro2
Cuidados de Enfermagem fundamentados com os instrumentos citados nas literaturas da Enfermagem Psiquiátrica. A de orientação da realidade é utilizada para manter o paciente a par do tempo, lugar e pessoa. Os propósitos da orientação da realidade incluem a restauração do senso de realidade, melhora do nível de consciência, promover socialização, elevar o funcionamento independente e minimizar a confusão mental e desorientação; fazendo uso de recursos auxiliares do ambiente como relógios, calendários, objetos pessoais, estabilidade do ambiente e rotina da equipe [10]. Na abordagem empática realiza-se a remiscência que é a recordação do passado, na tentativa de ajuste emocional, muito prejudicado com o embotamento do afeto que ocorre neste subtipo de esquizofrenia. Recordando com os pacientes as resoluções positivas e resgatando a sua identidade pessoal. Ouvir atentamente transmite ao paciente a atitude de respeito e preocupação por parte do enfermeiro [8]. Técnicas de Comunicação Terapêutica são respostas específicas que encorajam a expressão de sentimentos e idéias e transmitem aceitação e o respeito do enfermeiro. Auxiliando o estudante a desenvolver consciência de variedade de respostas de enfermagem disponíveis para a utilização em diferentes situações.
Escuta Ativa é a técnica onde o enfermeiro comunica sua aceitação e respeito pelo paciente, com habilidades identificadas pelo Acrônimo Soler, como mostra o Quadro3: Quadro3
[7]
Objetivos Caracterizar as mudanças comportamentais dos pacientes portadores de Esquizofrenia Hebefrênica e suas diferentes personalidades diante da Comunicação Terapêutica iniciando ligação Enfermeiro-Paciente seguindo Acrônimo Soler. Estabelecer vínculo afetivo durante estágio, realizando técnicas da abordagem empática no intuito de auxiliar o paciente na sua volta com a realidade usando como instrumento a técnica de Remiscência.
Metodologia O presente estudo trata-se de estudo de caso, com modelo descritivo com três pacientes portadores de esquizofrenia hebefrênica, internados no IPQHC, na cidade de São Paulo, no período de 25 dias, mês de setembro do ano de 2009, durante período de estágio curricular. Esses pacientes foram observados, avaliados, realizando acompanhamento da evolução de sua patologia e das mudanças de comportamento. Foram utilizados como coleta de dados os prontuários dos pacientes com conteúdo histórico familiar e comportamental, internações e tratamentos anteriores. Utilizamos com os pacientes no estudo os instrumentos: Comunicação Terapêutica e Acrônimo Soler.
Resultados 29 anos, sexo masculino(o início da doença foi aos 15 anos de idade, após iniciar uso de maconha), como mostra o Quadro4 Quadro4.1
31 anos, sexo masculino(o início da doença foi aos 17 anos, os sintomas apareceram com agressões verbais, físicas e idéias persecutórias), como mostra 0 Quadro4.2
Quadro4.2
34 anos, sexo feminino(o início da doença foi aos 18 anos com comportamentos bizarros), como mostra o Quadro 4.3 Quadro4.3
DISCUSSÃO Quanto ao uso das medicações sabe-se que são a única alternativa para tratar a esquizofrenia, pois irá ajustar o que está desajustado, regulando as atividades cerebrais em desequilíbrio. Tipo Hebefrência onde incluem-se os pacientes com dificuldades de concentração, problemas na aprendizagem, pouca coerência de pensamento, pobreza do raciocínio e discurso infantil. O doente vive quase sempre num mundo de fantasia só seu. Têm geralmente dificuldades na adaptação ao trabalho e progridem muito fácil e rapidamente para uma grave regressão da vida psíquica, na qual, a incoerência verbal (discurso e pensamento desorganizado) e a deterioração da afetividade (afeto embotado ou inapropriado) constituem as principais características. Estes indivíduos manifestam profunda disrupção no cuidado e higiene pessoal e intensas perturbações nas áreas instintivas e afetivas. A esquizofrenia hebefrênica apesar de possuir especificidades comportamentais unânimes, sofre alterações de um paciente para outro diante de suas diferentes personalidades, onde estão enraizadas suas crenças e culturas. A importância aos pais de adolescentes na precoce visão de atitudes que não condizem com o normal e esperado para cada família, deve ser levada em conta, outra fonte de alerta é a iniciação do uso de drogas sendo lícitas ou ilícitas, onde as sensações alucinógenas podem demorar mais tempo do que o habitual para terem diminuídos seus efeitos no Sistema Nervoso Central e o álcool como fatores desencadeantes da doença, se o usuário for portador de gene presdisponente a esquizofrenia.
Conclusão Ao término do estágio e finalização dos estudos de casos, avaliamos os sinais de boa recuperação dos pacientes (não apresentavam sentimentos de grandiosidade, expressavam emoções, não mantinha isolamento social contínuo, idéias de desconfiança diminuíram), como sinais positivos de que nossa abordagem foi implicada corretamente. Nas evoluções diárias do prontuário dos pacientes, evoluímos suas mudanças comportamentais, o que nos impulsionou a real importância do tratamento afetivo com o paciente psiquiátrico, raciocinando de forma empática. Os pacientes ao terem seus medos, anseios, e angústias valorizados, mas ao mesmo tempo com apoio por parte dos estagiários em traçar metas de desafio pessoal visando sua melhora unida ao tratamento medicamentoso, o enfrentamento dos pacientes tornou-se menos penoso, expressados dessa maneira pelos mesmos e firmaram contrato verbal conosco, após reuniões onde utilizávamos a técnica da remiscência, auxiliando assim o foco em recordações familiares e eventos que foram marcantes em épocas de suas vidas, sendo mais importante para os três pacientes o retorno a infância. Referências Bibliográficas [1] Dorland’s Pocket Medical dicitionary, 28ªedição, Ed.Elseiver, 2009 [2] Dicionário de especialidades farmacêuticas, www.epuc.com.br/DEF [3] HTTP://decs.bvs.br/esquizofrenia, F03.700.750 [4] WWW.datasus.gov.br/cid10/v2008 [5] Schenider, Kurt, Psicopatologia clínica, 1ªedição, Madrid, 1997 [6] Puentes W.Incorporating simple reminiscence techniques into acute care nursing practice, J Gerontol Nurs, 1998. [7] Townsend M: Psychitriac mental health nursing; Concepts of care, ed 4, Philadelphia, 2003, FA Davis. [8] Potter, P, A, Fundamentos de Enfermagem, Rio de Janeiro (RJ), Elseiver, 2006. [9] WWW.saude.sp.gov.br/2007, resolução SS nº295 [10] Eliopoulos, Charlotte, Enfermagem Gerontológica, 5ªedição, Ed.Artmed, 2005 [11] Berk, L.E. (1999).Desarrolo Del nino y del adolescente. Madrid, Prentice hall [12] Uso da Maconha e esquizofrenia - Rodrigo Bressan -Unifesp [13]Bleuler, Eugen, Demencia Precoz el grupo de lãs esquizofrenias. Tradução: Daniel Wagner. Buenos Aires. Ediciones Hormé 1960 [14] Child and adolescent psychiatry 1991, Melvin Lewis [15] J Bergiannaki, Relapse Prevention in Schizophrenia, Eur, Psychiatry, 2001
|