Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Fevereiro de 2008 - Vol.13 - Nº 2 História da Psiquiatria Gustavo Kohler Riedel (1887-1934) MD. Walmor J. Piccinini O interesse pela pessoa de
Gustavo Riedel está na minha mente desde que ouvi uma história trágica e
misteriosa sobre sua morte. Em nenhuma publicação encontramos detalhes sobre
esse acontecimento. Segundo uma idosa senhora que dizia ser sua prima, ele
teria sido devorado por índios ou feras. Conta ela que Gustavo costumava
excursionar pela selva amazônica fazendo pesquisas. Não sabe ela que tipo de
pesquisa. Numa dessas excursões ele desapareceu e daí surgiu uma história de
que teria encontrado uma tribo de canibais e sido devorado. Essa lenda familiar
parece não ter base na realidade, pois em 1925, Gustavo Riedel solicitou
licença da presidência da Liga Brasileira de Higiene Mental, por motivo de
doença, e não mais retornou. Em 1930 há registro do seu comparecimento em
Washington no Primeiro Congresso Internacional de Hygiene Mental. Isaias Paim,
numa pequena biografia, coloca 1933, como data da sua morte. Ernani Lopes
escreve que o ano foi 1934, sendo ele mais ligado ao nosso biografado, ficamos
com essa data. Não encontramos referências a sua família, a não ser num
episódio em que acompanhou a Doutora Curie e sua filha numa visita a Belo
Horizonte e na foto estaria acompanhado pela esposa. Principais realizações de Gustavo Riedel. Conclui o Curso de Medicina no Rio de Janeiro em 1909. Alienista-adjunto interino do Hospital Nacional de
Alienados. Docente da Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro. Membro da Academia Nacional de Medicina em 1916. Com a morte de Braule Pinto em 1918, é nomeado diretor
da Colônia do Engenho de Dentro. Em 1919, cria o Ambulatório Rivadávia Correa com o
objetivo de ações preventivas em Psiquiatria e de outras especialidades
médicas. Criou os serviços abertos. Em 1921 criou
a Escola
de Enfermagem Alfredo Pinto, formadora de enfermeiros
e enfermeiras para todo Serviço Público do Distrito Federal. (Atualmente a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto
pertence à UNIRIO - Universidade do Rio de Janeiro (Universidade Federal
vinculada ao Ministério da Educação). Criou o Serviço de Assistência Familiar. Foram construídas 11 casas
cujos moradores, enfermeiro (a)s cuidariam, em ambiente doméstico, pacientes em
condições de convivência social. Em 1923, seguindo orientação da Fundação Clifford Beers, desenvolve a
criação da Liga Brasileira de Higiene menta. Renunciou a presidência por
motivos de doença. Em 1925 criou o Laboratório de Pesquisas Psicológicas e convidou o Dr.
Waclaw Radeki para dirigi-lo. Em março de 1925 é publicado o número I dos Archivos Brasileiros de
Hygiene Mental, Órgão Oficial da Liga Brasileira de Hygiene Mental, presidida
por Gustavo Riedel. Gustavo Riedel era gaúcho,
natural de Porto Alegre. Seu pai, Dr. Henrique Riedel, era dentista e professor
da Faculdade de Odontologia de Porto Alegre. Sua mãe se chamava Hermínia
Kohler. O pai dela, Sr. Hermínio Kohler, era pessoa de posses e muito facilitou
a vida do neto que não teve que enfrentar as agruras de ser estudante pobre.
Desde pequeno se mostrava um estudante esforçado e inteligente. Entrou para a
Faculdade de Medicina de Porto Alegre e lá fez os quatro primeiros anos. Com o
patrocínio do avô, em fevereiro de 1907, resolveu ir para o Rio de Janeiro, onde
concluiu seus estudos de Medicina. São poucas as referências
sobre a vida pessoal de Gustavo Riedel. O professor Isaías Paim em seu livro
“Psiquiatras Brasileiros” (Editora Oeste, Campo grande, MS.) é um dos poucos
historiadores da psiquiatria que faz referências afetuosas sobre o ilustre
psiquiatra. As referências elogiosas à
capacidade intelectual de Gustavo Riedel vieram a se comprovar através das suas
realizações pela vida afora. Logo que chegou ao Rio,
começou a cursar o 5º ano de medicina e ingressou no Hospital Nacional de
alienados como interno extranumerário. Tornou-se interno efetivo mediante
concurso onde foi o primeiro colocado. Passou a trabalhar na Seção Pinel, cujo
chefe era o Professor Antônio Austregésilo. Em 1909 defendeu a tese “Novas
Contribuições à Patogenia da Epilepsia”. Riedel era inteligente,
estudioso o que lhe permitia vencer os diferentes concursos de seleção que
participava. Tornou-se alienista-interino-adjunto do Hospital Nacional de
Alienados e logo em seguida, Docente da Clínica Psiquiátrica da Faculdade de
Medicina. Seu trabalho “A demência
precoce – sua evolução, história e patogenia”, lhe assegurou maior autoridade
na especialidade, estando citado no famoso Tratado de Psiquiatria do prof. Emil
Kraepelin. (Paim,I.). Sua carreira foi rápida e
fulgurante, aos 29 anos candidata-se a Academia Nacional de Medicina e torna-se
acadêmico. Além das suas atividades com psiquiatra, tinha um Laboratório de
análises clínicas e foi professor da de Chimica Biológica na Escola Superior de
Agricultura. Defendeu a tese: “Novo Método de pesquisa dos fermentos
proteolyticos de Abdernhavem”. Gustavo Riedel era muito
considerado pelos seus pares por ser muito estudioso e gozava das atenções de
Juliano Moreira. No Primeiro Congresso Internacional de Higiene Mental
realizado em Washington, no período de Ernani Lopes, nos Archivos
Brasileiros de Psiquiatria assim descreveu Gustavo Riedel (1887-1934). “Não foi
sem hesitação que nos decidimos a comprimir nesse terço de página, a biografia
do “grande realizador” da psychiatria brasileira, a quem esta revista, ainda a
pouco dedicava todo um número, no propósito de celebras os seus dotes
excepcionais de cientista e de idealista prático, mas é força reconhecer que o
amigo prezadíssimo, o chefe bondoso e justo, o excelso benfeitor dos alienados,
não vive agora senão na vida subjetiva dos vultos da ciência psiquiátrica.
Basta, portanto, relembremos, nesse momento. Algumas das suas criações
admiráveis, para que no espírito de todos avulte a sua personalidade de eleito.
Riedel fundou o ambulatório “Rivadávia Correa”, primeiro serviço externo de
consultas de profilaxia mental instituído na América do Sul (19190, remodelou a
Colônia de Psychopatas do Engenho de Dentro, criou a Escola Profissional de
Enfermeiras “Alfredo Pinto” (1920), o serviço de hospitalização livre para
psicopatas, no Pavilhão Presidente Epitácio, (1923), a Assistência
Heterofamiliar e a Liga Brasileira de Hygiene Mental (1923). Gustavo Riedel foi quem trouxe essa novidade para o
Brasil. Segundo suas próprias palavras registradas em Ata (14 de fevereiro de
1925): “Foi em novembro, de 1922, em Havana, como delegado brasileiro ao
Congresso Latino-Americano que, por iniciativa minha se organizou o Comitê
Latino-Americano de Hygiene Mental, o qual a ”Sessão de Governo” daquele
Congresso, determinou se reunisse conjuntamente com os referidos Congressos. De volta da América do Norte, por indicação
entusiástica de Clifford Beers, o apóstolo do movimento em prol da Hygiene
Mental no mundo, como o cognominou Toulouse, descrevendo no “Le Quotidien” a
memorável sessão da Sorbonne do anno transacto, fui incumbido de fundar na
América do Sul a primeira Associação de Medicina Social, o que se levou a
effeito nos últimos dias de 1922 com a denominação de Liga Brasileira de
Hygiene Mental, à qual o Governo em 1923 houve por bem, pelo Decreto 4.778 de
Dezembro, reconhecer de Utilidade Pública e conceder-lhe para o exercício de
1924, uma subvenção de trinta contos de réis, convindo registrar o interesse
com que se empenhou neste favor o consócio benemérito Deputado Oscar Soares“. National Comitee
for Mental Hygiene. Os objetivos desse Comitê Nacional eram: 1. Trabalhar para a proteção da saúde mental do público. 2. Buscar melhorar o padrão de atendimento ao doente
mental e para aqueles em perigo de se tornarem mentalmente desorientados. 3. Promover o estudo de todos os tipos de doença mental e
disseminar informação referente às suas causas, tratamento e prevenção. 4. Obter de todas as fontes, informações para lidar com
as doenças mentais. 5. Envolver o auxílio do Governo Federal na extensão
desejável 6. Coordenar as agências existentes, ajudar na
organização Haverá vida de psiquiatra que
haja sido tão profícua quanto a sua, dentro do mesmo limitado período em que
atuou o insigne compatrício?”(Ernani Lopes). É interessante como a
história dá voltas e, às vezes, se acaba no mesmo lugar. Se formos examinar as
idéias de Gustavo Riedel, criação de serviços abertos, unidades psiquiátricas
integradas com outras especialidades, programas de prevenção para alcoolismo e
drogas, formação de técnicos em saúde mental, residências protegidas para
pacientes sob orientação de cuidadores, pesquisa psicológica e apoio a novos
profissionais. A própria Liga, tão castigada por análises superficiais, tinha
como objetivo, proteger a criança, evitar o alcoolismo e melhorar as condições
educacionais do povo. O Brasil era um mar de analfabetos. Publicações
de Gustavo riedel no IBBP. 1. Riedel,
Gustavo. Do iodo na glândula thyroide. Archivos Bras. De Psychiatria,
Neurologia e Medicina Legal. 1912; 8. 2. Riedel,
Gustavo. Estudo clínico de um caso de pseudo paralisia bulbar. Arq. Bras. De
Psiquiatria,Neurologia e Medicina Legal. 1911; 7(1-2). 3. Riedel,
Gustavo. Impressões do Primeiro Congresso Internacional de Higiene Mental. Arq.
Bras. de Higiene Mental. 1930; 3(6): 195-198. 4. Riedel,
Gustavo. Na fase da higiene mental. Arq. Bras. De Medicina. 1931. 5. Riedel,
Gustavo. Novas contribuições à patogenia da epilepsia. Doutoramento, Tese. Fac.
Med. Do Rio de Janeiro. 1909. 6. Riedel,
Gustavo. O dispensário psiquiátrico como elemento de educação eugênica. Anais
da Colônia de Psicopatas do Rio de Janeiro. 1929; 3-6. 7. Riedel, Gustavo. O organismo psiquiátrico
moderno. A biologia e a psico-fisiologia associadas na moderna concepção da
Assistência a Psicopatas. Anais da Colônia de Psicopatas do Rio de Janeiro.
1928; 15-30. 8. Riedel,
Gustavo. Os fatores dysgenizantes do habitat brasileiro Bibliografia consultada: 1.
Paim, Isaías.
Psiquiatras Brasileiros. 2003. Campo grande, Editora Oeste. 2.
Archivos
Brasileiros de Hygiene Mental. Vol.I (1), 1925. 3.
Archivos
Brasileiros de Hygiene Mental. Vol. VIII. (1,2,3), 1935. 4. Instituto Philippe Pinel: origens
históricas Fernando A. da Cunha Ramos e Luiz
Geremias. http://www.sms.rio.rj.gov.br/pinel/media/pinel_origens.pdf
Visita de Marie Curie (l867-1934) e sua filha lrène (l897-1956), a Belo Horizonte. Instituto Radium.
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