Volume 13 - 2008 Editores: Giovanni Torello e Walmor J. Piccinini |
Fevereiro de 2008 - Vol.13 - Nº 1 Coluna da Lista Brasileira de Psiquiatria Esta coluna resume os principais fatos e novidades veiculadas na Lista Brasileira de Psiquiatria. |
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A composição da Comissão Intersetorial de Saúde Mental causou muita controvérsia na
comunidade psiquiátrica. Vejamos o teor do decreto: Imprensa Nacional Diário Oficial da União Seção 1 ISSN 1677-7042 Nº 21, quarta-feira, 30 de janeiro de 2008 Páginas 111 e 112 RESOLUÇÃO CNS Nº -
377, DE 14 DE JUNHO DE 2007
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, considerando
a importância epidemiológica dos transtornos mentais; considerando
a necessidade de acompanhar a implementação da Lei 10.216/2001, que dispõe
sobre a proteção e o direito das pessoas portadoras de transtornos mentais e
redireciona o modelo assistencial em saúde mental e da Lei 10.708/2003, que
institui o auxílio reabilitação psicossocial para
pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de internações; considerando
as deliberações apontadas pela III Conferência Nacional de Saúde Mental,
realizada em 2001; considerando
que a Resolução CNS nº 298/99, de 02 de dezembro de
1999, instituiu a Comissão Intersetorial de Saúde
Mental - CISM para acompanhar a política de saúde mental em nível nacional; considerando
a necessidade de adequar a referida Comissão, face a nova composição e
funcionamento do Conselho Nacional de Saúde; considerando
a necessidade de fornecer subsídios efetivos ao Conselho Nacional de Saúde na
temática de saúde mental; considerando
a necessidade de garantir a continuidade da reorientação do Modelo de Atenção considerando
a necessidade de sustentabilidade da reforma
psiquiátrica, Resolve: Art. 1º Aprovar a
estruturação da Comissão Intersetorial de Saúde
Mental - CISM, com a seguinte composição: I - Coordenador: Liga
Brasileira de Lésbicas - LBL; II - Coordenador
Adjunto: Conselho Federal de Psicologia - CFP. III - Titulares: a) um representante do
Movimento Nacional da Luta Antimanicomial - MNLAM; b) um representante dos
Usuários dos Serviços de Saúde Mental do MNLAM;
c) um representante dos
Familiares dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental do MNLAM; d) um representante da
Federação Nacional dos Psicólogos - FENAPSI; e) um representante da
Federação Brasileira de Hospitais - FBH; f) um representante do
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde –
CONASEMS; g) um representante da
Área Técnica de Saúde Mental do Ministério da Saúde; h) um representante da
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira - COIAB; i) um representante da
Central Única dos Trabalhadores - CUT; j) um representante da
Associação Brasileira de Autismo - ABRA. IV - Suplentes: a) um representante do
Movimento Nacional de Luta Contra a Aids; b) um representante da
Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial; c) um representante da
Associação Pró-Renais Crônicos - APREC-BRASIL; d) um representante do
Conselho Federal de Serviço Social - CFESS; e) um representante do
Conselho Federal de Farmácia - CFF; f) um representante do
Conselho Nacional de Secretários de Saúde - CONASS; g) um representante da
Associação Brasileira de Odontologia - ABO; h) um representante
da Associação Brasileira de Psiquiatria - ABP; i) um representante da
Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais – ABRATO; j) um representante do
Movimento dos Portadores de Esclerose Múltipla - MOPEM. Art. 3º Esta Resolução
entra em vigor na data de sua publicação. FRANCISCO BATISTA JÚNIOR Presidente do Conselho Nacional de Saúde Homologo a Resolução
CNS nº 377, de 14 de junho de 2007, nos termos do
Decreto de Delegação de Competência de 12 de novembro de 1991. JOSÉ GOMES TEMPORÃO Ministro de Estado da Saúde Algumas opiniões de membros da
LBP Não sou adepto do caos, mas essa resolução é um documento fundamental
para mostrar para a opinião pública o que se está fazendo em nome da saúde
mental. Parece explícito que psiquiatra deve cuidar da doença mental e os
outros a saúde . Tanto faz ou faria se a ABP fosse titular ou suplente, é uma
comissão montada para que os votos sejam sempre do interesse das outras
entidades. Devemos propor a ABP que se retire desse conselho e venha a público
explicar seus motivos. Chega de hipocrisia e panos quentes, essa resolução é
uma declaração de guerra. Vamos decidir passos futuros Prezados colegas,
Vivemos um tempo de eufemismos, metáforas e dissonâncias cognitivas O que é pode não ser
ou ja foi.... Estou solidário
contigo nessa indignação Contudo lembrando a
história da civilização, creio que está no tempo de começarmos a pensar em
calcanhares de Aquiles, Cavalos de Tróia e até na pedrinha lançada por Davi no
gigante Golias. Quando o sistema fica
blindado para que profissionais que atuam com a mais desafiadora das áreas da
vida humana, qual seja a ÁREA MENTAL, só nos resta pensarmos juntos como
poderemos oferecer uma resistência inteligente de maneira tal que possam sentir
a resposta ao estimulo que nos foi dado. Afinal de contas o que
está por trás de tudo isso são conceitos ideológicos e não médicos. Como
sugestão que tal se iniciássemos nesse fórum de troca
de idéias um planejamento estratégico anti-aberrações como essas? Inicialmente
poderíamos aglutinar o maior numero possível de colegas para falar do que pensa
sobre tudo o que está acontecendo e dar sugestões para uma ação conjunta que
possa resistir a isso aí Temos tomado
conhecimento e lamentado; precisamos nos mobilizar no sentido de respeitando as
fragilidades de cada um tomarmos uma posição de esclarecimento ao público, não
sei se funcionaria com um povo tão servil. Ou a cada paciente e familiares que entrássemos em contato
conversar um pouco sobre "o que fariam se um membro da família deles tivesse
um infarto?" Levariam para um mecânico ou professor de educação física? A Psiquiatria trata a
doença mental, essa farsa de diluir o termo como saúde mental dá margem para
que muitos frustrados que não conseguiram ser médicos
se engajarem; como se pudessem ajudar num surto de agitação psicomotora
por exemplo ou num delírio persecutório em que o paciente ouve comandos de mate
sua mãe... Foi um desabafo sim
estou com 30 anos de pratica psiquiátrica e nunca vi tanta bobagem e estupidez
em nome de SAÚDE MENTAL... Gabriel Oliveira Gabriel, Concordo com
você que é uma questão de nos organizarmos sim. A questão é ideológica não é
técnica. Começa que o grupo antimanicomial está
organizando há muitos anos e inserido dentro do Conselho Nacional de Saúde.
Estas resoluções emanam de lá. A situação é grave. Estive na semana
passada no Instituto Dr. Eiras em Paracambi (RJ)no que foi um grande manicômio. A instituição chegou a ter
3.500 pacientes. Hoje tem algo como 350. Ouvimos da Diretora que ela tinha uma
“meta de desinstitucionalizar 10 pacientes por mês”.
Claro que ela não consegue, no papel a desinstitucionalização
é possível, mas, a meta não está no papel . Ninguém
em sã consciência assinaria algo assim mas, de boca ela é cobrada. Esqueceram
de baixar uma portaria, “curando” a doença mental. É só o que falta. Quem sabe
vem uma portaria assim. Fatima Vasconcellos Parece-me que esse excesso se reflete especificamente na política
de saúde mental, mas não na prática ou na produção de conhecimento. Não conheço
ninguém que tome decisões práticas em saúde mental sem respaldo psiquiátrico,
nem sei de nenhuma produção científica relevante no campo psiquiátrico sem a
participação de psiquiatras. À primeira vista, a resolução é de cair o queixo,
mas não há nada nela a não ser o reles interesse político e econômico
(especialmente a restrição de verbas) aliado à omissão ou conivência dos órgãos
de classe (CRM, ABP, etc.). Fazer a tal
comissão ser composta pelo representante da Associação dos Faxineiros, da Liga
contra a Unha Encravada e do cacique Raoni é uma
forma simples de esvaziar a saúde mental pública e cortar suas verbas, não de
dar poder aos psicólogos ou terapeutas ocupacionais. Aliás, todos os psicólogos
que conheço que leram essa coisa ficaram perplexos. Cláudio Lyra Bastos Todos
sabemos que sempre estão em
jogo várias lógicas. A lógica da assistência, representada por aqueles que
pensam no que é melhor para o paciente. A lógica do gestor, que pensa como
reproduzir uma ideologia ou diminuir um custo ou como coordenar a distribuição
de vagas. A lógica da burla, que encontra outros caminhos mais agradáveis para
as verbas necessárias. E por aí vai... Não é possível não se
indignar, entretanto muito espaço tem sido perdido por um afastamento crônico
dos psiquiatras de instâncias municipais e estaduais. Não tenho certeza
absoluta que o afastamento e a denúncia são suficientes operativos. Para os políticos só
consegue algo quem faz pressão social e ocupa espaços (o outro modo de
conseguir não é indicado para nós!!). Desocupar espaço pode dar visibilidade
passageira, mas uma duradoura incapacidade de denúncia e de afastamento de
instâncias decisórias. Não sei... Manoel Garcia Junior Manoel. São ponderadas as colocações. Não me parece que os psiquiatras
tenham se afastado, eles foram afastados e fecharam-se os espaços. Felizmente,
aqui no RS. as coisas estão mudando. O Luiz Coronel
assumiu o HPSão Pedro e
tenta devolver a ele a função de grande polo de ensinoao mesmo tempo que melhora oatendimento
lá prestado. Em outros estados, os psiquiatras tem sido
escorraçados e humilhados no seu trabalho. Sçao
oportunas as idéias dos colegas, vamos reuni-las num
debate da polbr. Walmor Piccinini Prezado Walmor e colegas, ainda bem que no RS
o bom senso está retornando. Por outro lado, vários coleguinhas obtiveram
todo o espaço que ocupam graças à arte de espezinhar médicos
e menoscabar a profissão. Nunca foram questionados nem enfrentaram
qualquer constrangimento por isso. Não faz sentido que aqueles que sustentem que o trabalho do psiquiatra
pode ser feito por qualquer um permaneçam no meio profissional; deveriam ter a
dignidade de procurar outro métier ou ser instados
a fazê-lo pelos colegas. Em suma, pelo que tenho visto nos últimos vinte ou trinta anos, o
problema é essencialmente nosso e da atitude de nossas instituições e entidades
profissionais. Toda a política de saúde mental sempre se baseou em diretrizes estabelecidas
por psiquiatras, e se nós próprios nos vimos excluídos dela é por nossa
própria ação ou omissão, e não por causa dos psicólogos nem dos indígenas, que
não apitam nada. Cláudio Lyra Bastos O USO DE APS NO TRATAMENTO DE INDIVÍDUOS
COM DI AGRESSIVOS Tyrer te
al. em uum trabalho publicado no Lancet (2008 Jan 5;371(9606):57-63) utilizando risperidona,
haloperidol e placebo, concluiram que "Antipsychotic drugs should no longer be regarded
as an acceptable routine treatment for aggressive challenging behaviour in people with intellectual disability." O colega João Bassanesi
perguntou à LBP se há outras opções. Vejamos as respostas. Muitas vezes o comportamento agressivo é interpretado como "sintoma
psicótico", e a coisa tende a ficar muito confusa. Eu particularmente não
tenho muitos pacientes nessa situação, mas tenho uma tendência a usar carbamazepina em pacientes com retardo mental,
impulsividade e agressividade. Nos casos
mais refratários, que não respondem ao aumento da dose, eu costumo avaliar o
quadro global. Eu tendo a incluir antipsicóticos naqueles pacientes com
solilóquio, mussitação, atitude alucinatória. Ou nos
que apresentam comportamentos bizarros, além da agressividade. Tenho dois pacientes no CAPS que passaram por
diversos tratamentos, e que obtiveram uma resposta satisfatória com Clopixol Depot. Embora uma
paciente minha do CAPS, com RM grave e déficits neurológicos focais em
investigação, tenha ficado mais agitada ainda após o início do Clopixol. Ela responde fracamente à carbamazepina. Que eu me lembre agora, acho que é isso.
Também tenho muitas dúvidas a respeito. São pacientes difíceis de tratar, difíceis de medicar. Vitor Mello Lembro minha experiência num pavilhão do Hospital Psiquiátrico em Lecce-Itália. Amigos, uso e abuso do
Coringa da Medicina -- como se referia ao propranolol
meu saudoso amigo Wilson Barros -- e ele surte efeito lindo em autistas superativos, retardos mentais agitados, tenho um bom amigo.
Poucos efeitos colaterais, muito efetivo a longo prazo.
Uso em muitas especialidades médicas endocrinologia, cardiologia, cirurgia
vascular, além de neurologia e nossa psiquiatria. Amplo espectro de ação nesta
última. Pode ter ação antipsicótica acima de 500 ou
1000 mg, ação antimaníaca
acima de 300, 400 mg e antifóbica
a partir de 40 mg, além de aliviar, acatisia, tremor. Com autistas e deficientes agitados e
auto/heteroagressivos, Eu utilizei razoavelmente [...] o
beta-bloqueador nadolol, algumas vezes associado
também com carbamazepina. Entre os riscos a serem
avaliados são bloqueios AV, bradicardia, broncoespasmo; a longo prazo, parece ter uma ação
metabólica que eleva triglicérides e colesterol; é um bloqueador não seletivo
de receptores beta-adrenérgicos. Mas faz muito tempo
que não o prescrevo. Uma boa opção também é clonidina;
estou atualmente ministrando para uma pré-adolescente sem déficit intelectual,
sem TDAH, mas com comportamento disruptivo e
desafiador não socializado; associado a psicoterapia,
tem dado bons resultados sem neuroléticos. Marcelo
Lourenço NOTÍCIAS Cerceamento da liberdade
acadêmica e da pesquisa científica Uma centena de psicólogos, advogados, antropólogos e educadores enviaram
nota de repúdio contra estudo biológico sobre comportamento violento de 50
jovens infratores no Rio Grande do Sul. O projeto ainda nem foi submetido a um
comitê de ética em pesquisa, mas os signatários da nota já lhe atribuem
"velhas práticas de exclusão e de extermínio" e "retrógradas
práticas eugenistas". O grupo da PUC-RS e da
UFRGS planeja comparar jovens homicidas sob custódia do Estado que cometeram
assassinato antes dos 18 anos. O estudo está formado pelos seguintes elementos
de pesquisa: comparação histórico familiar e educacional,
psicodiagnóstico, imagens do funcionamento do cérebro
e variações genéticas, entre outros. Ao estigmatizar a pesquisa do grupo da UFRS com noções preconcebidas, os
autores da nota advogam proibição incompatível com a busca do conhecimento e
com a liberdade de conhecimento. Atestado médico é documento No "Jornal do Cremesp" deste mês, o
médico Antonio Pereira Filho, conselheiro Os atestados médicos são documentos revestidos de fé pública e exprimem
a verdade. Por isso, o médico só deve emitir atestado que tenha decorrido de um
ato médico (consulta, cirurgia ou outro procedimento médico). Dessa forma, ele
evitará problemas e altos custos com advogados por "ter quebrado o
galho" de alguem. Para evitar riscos desnecessários aos médicos, o conselheiro Antonio
Pereira Filho relaciona os casos mais freqüentes que podem resultar em um
processo civil, criminal ou ético: 1. Atestado para academia ou natação sem examinar a pessoa e ela sofre
um infarto durante o exercício esportivo; 2. Dispensa do trabalho e o empregador acaba provando que o funcionário
não estava doente; 3. Dispensa de educação física na escola e o professor verifica prática
esportiva do aluno fora da escola; 4. Dar atestado de óbito sem verificar se a pessoa está realmente morta
ou sem ter sido médico assistente do falecido: poderá envolver-se em processos
criminais por fraude contra seguradora ou por acobertar um crime; 5. Atestar parto normal em domicílio, quando não o fez, para colaborar
com adoção fraudulenta; 6. Ao atestar que a pessoa está viva e não pode se locomover, sem a
examinar, poderá ser processado como cúmplice de criminoso que recebe aposentadoria
de pessoa morta. Links
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afirmações anteriores sobre determinadas coisas, mas em ser coerente com a
verdade". Gandhi Homenagem "...Jesus Christ might simply have returned to his carpentry following the use of modern [psychiatric] treatments." - William Sargant
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