Volume 11 - 2006
Editor: Giovanni Torello

 

Novembro de 2006 - Vol.11 - Nº 11

France - Brasil- Psy

Docteur Eliezer DE HOLLANDA CORDEIRO

SOMMAIRE (SUMÁRIO):

 

  • 1. GEORGES DAUMEZON, PSIQUIATRA FRANCÊS
  • 2. A DOR DO RECÉM-NASCIDO SUBESTIMADA
  • 3. O MÊS DE FRANCE-BRASIL-PSY
    a) QUEM DIZ EU EM NÓS ?
    b) ESTATUTO DO PSICOTERAPEUTA
    c) GASTON FERDIERE, PSIQUIATRA DE ANTONIN ARTAUD
  • 4. LIVROS RECENTES
  • 5. REVISTAS
  • 6. ASSOCIAÇÕES
  •  

    Quem somos (qui sommes-nous?)                                  

    France-Brasil-PSY é o novo espaço virtual de “psychiatry on  line”oferto aos  profissionais do setor da saúde mental de expressão  lusófona e portuguesa.Assim, os leitores poderão doravante nela encontrar traduções e artigos em francês e em português abrangendo a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise. Sem esquecer as rubricas habituais : reuniões e colóquios, livros recentes, lista de revistas e de associações, seleção de sites.

    Qui sommes- nous ?

    France-Brasil-PSY est le nouvel espace virtuel de “psychiatry on line”offert aux professionnels du secteur de la santé mentale d’expression lusophone et française. Ainsi, les lecteurs pourront désormais y trouver des traductions et des articles en français et en portugais  concernant la psychiatrie, la psychologie et la psychanalyse. Sans oublier les rubriques habituelles : réunions et colloques, livres récentes, liste de revues et d’associations, sélection  de sites


    Doutor Georges DAUMEZON

    1.GEORGES DAUMEZON, PSIQUIATRA FRANCÊS

    Eliezer de Hollanda Cordeiro

    Médico, psiquiatra, psicanalista, inscrito na Ordem Nacional dos Médicos da França (Conselho Departamental do Loiret).


    Dr. GEORGES DAUMEZON

    Dedico este trabalho ao colega e amigo, Dr. Affonso Barros de Almeida, cuja ajuda preciosa facilitou-me  a adaptação em Paris e o meu estágio no Hospital Henri Rousselle.

    I) Dados biográficos

    Georges Daumézon (1912- 1979) nasceu  na cidade de Narbonne, começou os estudos em Montpellier e terminou-os em Paris. Licenciado em Direito em 1932, obteve o doutorado  de medicina em 1935, após a defesa de uma tese sobre o estatuto dos enfermeiros dos asilos públicos, uma questão que não  havia sido abordada desde 1848 ! Interno dos hospitais psiquiátricos do Sena (Paris), entre  1933 e 1937, jovem e brilhante médico,  tinha apenas  26 anos ao ser nomeado diretor do hospital de Fleury- les- Aubrais, em 1938, cargo que exerceu até 1951.

     De Fleury-les Aubrais à Maison-Blanche, Saint Anne e Henri Rousselle

    Partidário do humanismo filosófico, o jovem diretor já tinha idéias precisas sobre a melhor maneira de encarar as relações com os doentes, ao assumir o cargo de  diretor de um importante e grande hospital na região de Orléans, a cem kilômetros de Paris. Seus primeiros passos como diretor foram dificeis, suas posições acarretando-lhe problemas com os superiores hierárquicos. Mas quando a França foi liberada pelos aliados em 1945, Georges Daumezon poude mostrar seu valor  e aplicar suas idéias.

    G. Courant, em  artigo sobre a história da psiquiatria(1), notou que “o jovem diretor começara,  desde  1936,  a denunciar o caráter alienador do hospital psiquiátrico”, adquirindo pouco a pouco uma  grande reputação.Assim foi  nomeado,  em 1951, diretor do hospital   da Maison-Blanche,  na região parisiense,  onde teve  como colaboradores dois internos: Philippe Paumelle e Philippe Koechlin. Este encontro  revelou-se muito profícuo: em 1952, Daumézon introduziu o conceito de "Psychothérapie Institutionnelle"(2), que, segundo Elisabeth Roudinesco, havia sido pressentido dez anos antes por François Tosquelles (3).

    G. Courant escreveu ainda que, de 1957 a 1958, “várias reuniões foram realizadas por iniciativa de Georges Daumézon no chamado  Groupo de Sèvres, onde eram discutidas as teorias da psiquiatria de setor e questões relativas à participação dos enfermeiros no trabalho psicoterápico.O Grupo de Sèvres só funcionou durante dois anos,  seu desaparecimento tendo sido causado,  em grande parte, pelos  desacordos surgidos sobre o papel dos enfermeiros  na psicoterapia institucional”. Pouco tempo depois, Daumézon incorporou-se à equipe do hospital Sainte-Anne, em Paris, e,  em Outubro de 1966, foi nomeado  médico-diretor do hospital Henri-Rousselle.

    Ele  marcou a história deste famoso estabelecimento psiquiátrico, imprimindo-lhe uma atividade científica extraordinária,  inventando, como sempre, novas maneiras de acolher os pacientes psiquiátricos.Quase na mesma época, tornou-se Secretário Geral do Sindicato dos Médicos dos Hospitais Psiquiátricos, desempenhando  um papel  de primeira grandeza na luta para transformar as condições de vida dos doentes mentais.

    A partir dos anos de 1960, a psiquiatria francesa dividiu-se em tres grupos : um ligado aos progressos da farmacologia psiquiátrica( concomitante às descobertas francesas da clorpromazina e à invenção do coquetel lítico) ; outro que exprimia as experiências da psicoterapia institucional, e enfim o grupo representado pelas novas gerações de psiquiatras que fizeram análise pessoal e ligaram-se às instituições psicanalíticas, esta formação levando-os a  empregar  a psicanálise e as PIP em suas atividades hospitalares. Sob a direção de Henri Ey, lembra-nos Roudinesco(3),  Daumézon, Bonnafé, Ayme, Misès, Leclaire e Green começaram a elaborar “uma redefinição geral do campo da psiquiatria(…) a partir de tres temas : a formação dos psiquiatras, a reforma da lei de 1838 e da perícia,  e enfim a separação da neurologia e da psiquiatria ». Desses trabalhos resultariam os tres volumes do célebre Livro branco da psiquiatria francesa. O papel de Daumézon foi dos mais importantes, uma grande parte dos encontros realizando-se no hospital que ele dirigia.

    Georges Daumézon era um clínico de grande valor, e, embora não fosse psicanalista, tinha uma capacidade de escuta e relacionamento que impressionava os que com ele trabalhavam. Seus  vastos  conhecimentos sobre a  semiologia psiquiátrica facilitavam-lhe a transmissão de um saber que aprendíamos com avidez, em proa a sentimentos de admiração e reconhecimento.Sua formação em direito favoreceu também a sua autoridade nos meios psiquiátricos e, em particular, no serviço que dirigia : ele era  aquele a quem todos pediam conselhos  quando a hospitalização de um paciente se acompanhava de problemas jurídicos.Suas opiniões sobre a organização da psiquiatria  eram também solicitadas pelas próprias  autoridades do Ministério da saúde e seu renome levou-o a conceder entrevistas à mídia, onde explicava algum acontecimento dramático envolvendo doentes mentais, ou respondia a questões relacionadas com o funcionamento das instituições psiquiátricas.

     

    II) Um Psiquiatria humanista, precursor,inovador...

     

    O nome de Georges Daumézon restará ligado à sua vontade de mudar as condições de vida dos doentes, o que implicou transformar o hospital numa instituição terapêutica. Daí veio o seu profundo engajamento na vida institucional da psiquiatria, que fez dele um inovador e um precusor, sem dúvida um dos atores do dinamismo da psiquiatria francesa após a guerra. Inovador: foi  autor  de muitos projetos e criações destinados a conservar ou a reconstruir  a personalidade dos pacientes, suas idéias inovadoras traduzindo-se numa « nova estratégia terapêutica”. Assim, desde 1936, introduziu  a terapia ocupacional  no Hospital de Fleury-les-Aubrais, isto é  atividades lúdicas, culturais e esportivas, com a participação não somente dos pacientes mas também do pessoal administrativo e técnico; pouco tempo depois  determinou a criação de reuniões em cada serviço do hospital, um momento destinado a abordar  os conflitos e problemas ligados à vida coletiva.Em 1947,  fundou o primeiro jornal de hospital psiquiátrico existente  na França, que propagou suas idéias sobre a  Formação. Assim,  em 1949, Daumézon organisou  os primeiros estágios de formação para enfermeiros no  CEMEA (Centros de Treinamento aos Métodos de Educação Ativa), em Paris(1).

    Outra inovação que a psiquiatria deve  a Georges Daumézon foi a criação, em 1967,  no Hospital Henri Rousselle, do primeiro C.P.O.A. (Centro Psiquiátrico de Orientação e Acolhimento), um serviço destinado a  receber pacientes em situação de  urgência psiquiátrica,  de prodigar-lhes os primeiros tratamentos e orientá-los em função da melhor adequação possivel  entre as suas necessidades e as estruturas de tratamento existentes. O C.P.O.A. tinha  por vocação  estabelecer um trabalho de coordenação  com os setores de psiquiatria e também com os outros serviços públicos, semi-públicos e particulares, sempre com a preocupação de preservar a continuidade dos tratamentos. Ele continua sendo um importante instrumento no dispositivo psiquiátrico de Paris e de sua região, aberto 24 horas por dia e funcionando todos os dias da semana, recebendo  pacientes de mais de 15 anos de idade, enviados por um médico, hospital geral, instituição sanitária, trazidos pelos serviços sociais,  pelos bombeiros, por agentes da força pública (4).

    No site intitulado « Histoire générale de l’hôpital Sainte-Anne”,  podemos notar  como o hospital Henri Rousselle e o Hospital Sainte-Anne, a partiir de 1970,   integraram-se pouco a pouco  na política de setor, desenvolvendo  suas atividades extra-hospitalares e reduzindo  o número de leitos. Hoje, a antiga e relativa autonomia de Henri Rousselle desapareceu, dando lugar  “à psiquiatria de Sainte-Anne(…) instalada na cidade, e às recentes implantações nas urgências dos hospitais gerais ».

    Georges Daumézon era um homem que não deixava ninguém indiferente, dotado de um carisma que transparecia mesmo por trás de uma atitude desprovida de arrogância. Falava pouco, mas seus propósitos eram  profundos, pedagógicos, elegantes e cheios de bom senso; escutava muito, e isto era perceptivel em seu trabalho clínico, em sua relação aos pacientes, no tato que demonstrava com todos.Fala mansa, gestos comedidos, humor bem dosado eram também  qualidades de uma personalidade que permitiam-lhe  esquivar conflitos e mostrar-se ao mesmo tempo firme, sem abusar de sua autoridade e de seu renomado prestígio.

     

    ... e fenomenólogo

    Como Husserl, ele era “pela suspensão do julgamento sobre a existência das coisas”, princípio que aplicava em sua prática psiquiátrica, como podemos notar  na passagem em que escreveu, com G. Benoit: “A partir de Freud, de Janet e de Bleuler,sobretudo da fenomenologia, o observador adota uma outra atitude: a de um médico que vai descrever seu encontro com um paciente, cujo resultado constituirá a matéria essencial de sua observação”(6

    Espirito tolerante, abriu o hospital Henri Rousselle às correntes mais diversas da psiquiatria, da psicanálise e da psicologia: havia psiquiatras fenomenológicos (Eugène Minkowski, Lanteri-Laura), organicistas, (Marchand,), eletroencefalógrafos(Lairy e colaboradores), psiquiatras psicanalistas freudianos(Pierre Mâle, Pierre Bourdier, Ilse Barande, F.Pasche, René Diatkine, P. Valentin, Daymas...);  lacanianos(Charles Melman, Marcel Czermarck...); lacanianos dissidentes( Piera Aulagnier); psiquiatras de crianças( Julien de Ajurriaguerra,Jean Bergès...),  kleinianos( Salomon Resnik)... Entre os psicólogos, citemos o piagetista René Zazzo e o freudiano Brabant. Sua filosofia de vida e sua prática psiquiátrica forma marcadas pela fenomenologia, por Husserl que defendia a suspensão do julgamento sobre a existência das coisas.

     

    Na grande animação intelectual e científica que reinava no hospital Henri Rousselle,  Henri Ey e Jacques Lacan destacaram-se de maneira indiscutivel. Henri Ey,

    e Georges Daumézon tinham em comum o fato de não serem pofessores universitários, mas representavam, na época, um complemento e mesmo uma alternativa ao ensino da psiquiatria pelos universitários do hospital Saint Anne, onde se destacavam os professores  Jean Delay, Pierre  Deniker e Pierre Pichot. H. Ey fazia  suas apresentações de casos diante de um auditório variado, composto de psiquiatras conhecidos,  internos, residentes e de estagiários  franceses  e estrangeiros. Após apresentar o caso,  iniciava um debate com os participantes,  não deixando  de demonstrar a extraordinária erudição que possuia.  Após a apresentação do caso e a discussão com  os participantes, continuava o seu ensino, desta vez na Biblioteca que ele havia organizado e que hoje se chama Biblioteca Henri EY. Foi assim que acompanhei  a exposição de sua elaboração teórico-clínica sobre a Esquizofrenia,  depois publicada em dois volumes.

    Havia também, como dissemos,  Jacques Lacan, a quem Geoges  Daumézon ofereceu a hospitalidade e a possibilidade de continuar o seu ensino e apresentações de casos em Henri Rousselle, após a interrupção dos seminários do grande analista  na Escola Normal Superior. O acontecimento ocorria uma vez por semana, diante de um público cada vez mais numeroso e fascinado. Quanto aos  seminários de Lacan, eles  eram feitos na Capela, diante de centenas de pessoas, entre as quais filósofos, escritores, jornalistas e intelectuais de outras disciplinas, alguns de grande  renome.

    Por ocasião do Cinquentenário do Hospital Henri Rousselle, em 1972, Jacques Lacan agradeceu a hospitalidade de Georges Daumézon, no seu estilo fora do comum : « Ao contribuir para os cincoenta anos do hospital Henri Rousselle, pelo favor que os meus e eu mesmo recebemos dele, num trabalho em que mostrei o que sabia fazer, ou seja  a apresentação, quero homenagear o Doutor Daumézon, que me permitiu realizá-lo »(5).

    Henri Rousselle, graças a Georges Daumézon, estabeleceu também acordos com diversas universidades francesas, associando-se ao ensino destinado aos estudantes de medicina, psiquiatria e psicologia. E muitos eram os alunos que faziam estágios nos diferentes serviços do hospital.

     

    Entre os brasileiros que estagiaram , foram residentes ou trabalharam em Henri Rousselle, citemos o Professor José  Cavalcanti Lucena da Motta Silveira,

    que alí redigiu uma parte de sua tese para catedrático de psiquiatria na FMUFPE; Zaldo Rocha, um dos pioneiros da psiquiatria da criança no Brasil , que estagiou alguns meses com Jean Bergès ;Affonso Barros de Almeida, cuja experiência estendeu-se de 1965 a 1970, dândo-lhe um notável conhecimento da psiquiatria e da psicanálise francesas; Euvaldo Mattos, psiquiatra baiano, hoje exercendo em Salvador. Minha experiência desenrolou-se entre 1967 e 1976,  o que me pemitiu  trabalhar no C.P.O.A.,no serviço de psiquiatria da criança, de fazer uma supervisão de psicoterapia  e participar na eleboração do “Rapport de Psychiatrie” dirigido e apresentado por G.Daumézon e G. Benoit  no “Congresso de Psychiatrie e Neurologie de langue romaine”( Milão,1970) (6).

    III) A importância da semiologia psiquiátrica

    Uma obra indissociável da historia da psiquiatria e de seus conceitos

    Georges Daumézon dizia que ensinar a psiquiatria era ensinar a história da psiquiatria, dos conceitos semiológicos, notando suas variações e suas vicissitudes em função do campo teórico e prático onde ela se exercia” (7). Ele escreveu vários artigos sobre a semiologia psiquiátrica e, com Guy Benoit, publicou o livro « Apport de la psychanalyse  à la sémiologie psychiatrique », do qual já falamos. Neste « rapport », a questão da semiologia foi abordada  minuciosamente e os conceitos psiquiátricos revisitados de maneira exaustiva. O relatório foi uma resposta à dupla questão que G.Daumézon e G.Benoit colocaram : Os psiquiatras  sabem utilisar o que a psicanálise ensina ? E os analistas possuem realmente o saber utilisado pelos psiquiatras ?

    Muitíssimo lúcido e visionário, G. Daumézon notou, na década de 1970, as ameaças que pesavam sobre a psiquiatria, deplorando o discrédito da semiologia e proclamando a necessidade de seu aprendizado. E, mesmo se a semiologia não representasse a base de todo o conhecimento psiquiátrico, sua existência era necessária à garantia da realidade deste saber”. (8). G. Benoit e G. Daumézon escreveram também : “A partir de Freud, de Janet e de Bleuler, sobretudo da fenomenologia, o observador adota uma outra atitude: a de um médico que vai descrever seu encontro com um paciente, cujo resultado constituirá a matéria essencial de sua observação” (6).

     

    A carreira e a vida de Georges Daumézon foram interrompidas de maneira brutal, em 6 de maio de 1979,  aos 67 anos, quando faleceu num desastre de automóvel.  Sua memória resta contudo presente em seus alunos, colegas, amigos, ex-pacientes e suas famílias.

     

    Em  1998, o Hospital de Fleury-les-Aubrais, onde ele começou a sua carreira,  foi batizado Centro Hospitalar Departamental Georges Daumezon, uma merecida homenagem a um dos psiquiatras mais importantes de sua geração, cuja ação conduziu à prática de uma  « psiquiatria aberta, inserida no tecido social, fundada nos projetos de tratamentos ativos, dentro de estruturas diversas, distribuidas na totalidade do departamento do  Loiret » (9).

     

    IV) Bibliografia

    1) G. Courant : Site La Psychothérapie Institutionnelle : « De Saint-Alban au Groupe de Sèvres », Junho 2003

    2) Georges Daumézon : « La psychothérapie institutionnelle française contemporaine », in Anais portugueses de Psiquiatira, 4, Dezembro 1952,

    3) Elisabeth Roudinesco : « Histoire de la Psychanalyse en France. 2 », Seuil, Paris, 1986.

    4) Site do Hospital Henri Rousselle

    5) Jacques Lacan : « L’étourdit »Cinquantenaire de l’Hôpital Henri Rousselle, 1922-1972, Imprimerie Maison Mame, Tours, 1973.

    6) G. Benoît e G. Daumézon : « Apport de la psychanalyse à la sémiologie psychiatrique », Masson, Paris, 1970.

    7) G. Daumézon: « Ambiguïtés autour de la sémiologie dans la psychiatrie contemporaine », em « Annales Médico-Psychologiques », T. 2, N.5, Paris, 1964.

     8) Guy Benoit et Georges  Daumézon : “Réflexions sur la Sémiologie psychiatrique”, em L'Evolution Psychiatrique, Paris, 1957.

    9) Centro Hospitalar Departamental Georges Daumezon de Fleury-les-Aubrais, artigo do jornal « La République du Centre », Orléans, Outubro 2006.

    Georges Daumézon publicou mais de 300 artigos,  sempre com o intuito  de informar o público e defender os doentes mentais.

     

     

    2. A DOR DO RECÉM-NASCIDO SUBESTIMADA

    Paul Benkimoun

     

    Artigo publicado pelo jornal Le Monde, edição de 18.10.2006 

    http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3238,36-824439@51-824535,0.html

     

    Tradução: Maria do Carmo Camarotti

     

    Até os anos 1970, o corpo médico pensava que os bebês não sentiam dor.

     

    O tratamento e a prevenção da dor por ocasião dos procedimentos médicos no recém-nascido claramente melhoraram na França, mas falta progresso a conquistar. Conduzida pelo Centro Nacional de Recursos e Luta Contra a Dor (CNRD) em parceria  com a Fundação da França e a Fundação CNP de Seguros, o estudo Epippain indica que os procedimentos dolorosos ou inconfortáveis são muito freqüentes em meio hospitalar, mas que 60% dentre eles levam  a medidas preventivas contra a dor.

     

    Tornado público segunda-feira 16 de outubro, este estudo  epidemiológico sem equivalência no mundo vem preencher um vazio, pois se ignorava até agora a freqüência de procedimentos dolorosos e a utilização dos meios analgésicos disponíveis.

     

    Dirigida pelo Dr. Ricardo Carbajal (do Hospital Armand-Trousseau, em Paris), o trabalho foi realizado entre setembro 2005 e janeiro 2006. Treze centros de UTI Neonatal e cinco serviços móveis de urgências pediátricas de Ile-de France participaram desse trabalho, com respectivamente 431 e 478 crianças, acompanhadas por um total de 652 auxiliares. Nos serviços de UTI Neonatal, foi questão sobretudo de crianças nascidas prematuramente : 50% dos pequenos tinham menos de sete meses de gestação e um quarto menos de seis meses e meio.

     

    No decorrer do período de observação, 30161 procedimentos de natureza dolorosa foram praticados nos 431 recém-nascidos em UTI Neonatal (únicos resultados comunicados até hoje). Entre os mais freqüentes encontramos: aspirações na traquéia (33%), punções  de sangue no calcanhar (28%), descolagens cutâneas dos diferentes adesivos (18%), punções vasculares periféricas e colocações de sonda gástrica.

     

    Os procedimentos inconfortáveis  como aspirações nasais, cuidados de enfermagem com mobilização da criança e aspirações bucais foram numerosos também (30 814 contabilizadas). Em média cada criança sofreu 70 intervenções dolorosas das quais 60% foram praticadas, seja com uma analgesia ad hoc, seja sob  sedação com uma analgesia administrada em continuidade. Um pouco mais de 5% dos procedimentos foram praticados em presença dos pais.

     

    O estudo coloca em evidência « uma freqüência extremamente elevada de  intervenções dolorosas praticadas nas unidades de terapia intensiva neonatais », mas também «  uma utilização importante, porém ainda insuficiente, de meios analgésicos durante a realização destas medidas », resume o doutor Carbajal.

     

    Para o doutor Daniel Annequin, presidente do comitê científico do CNRD, a dificuldade de certas equipes em admitir a realidade da dor na criança é em parte devido às interrogações relativas às práticas, pouco compatíveis com a representação idealizada do profissional de saúde". Todavia, os progressos conseguidos nestes últimos anos mostram que é possível avançar nesse domínio.

     

    Na criança, a dor é freqüentemente aumentada. "Quanto mais jovem ela é, mais as suas reações à dor aumentam: a repetição de atos dolorosos reforça a intensidade da mesma", lembra o manual: "A dor em questão". Este último, realizado pela Sociedade de estudo e tratamento da dor, está disponível no site Internet do Ministério da Saúde.

     

    Portanto, já se foi o tempo em que os médicos concordavam em estimar que os recém-nascidos não sentiam dor por causa da imaturidade de seu sistema nervoso. Isso não remonta a Diafoirus e aos médicos de Molière, mas existia ainda no início dos anos 1970. De tal maneira que intervenções cirúrgicas podiam ainda ser praticadas sem anestesia, em bebês. Atualmente está cientificamente demonstrado que a percepção da dor é possível desde a 24a semana de vida intra-uterina.

     

    Na França, a situação evoluiu, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 1980. Dois programas nacionais anti-dor foram lançados por Bernard Kouchner, na época em que ele era ministro encarregado da saúde.  O programa nacional 2002-2005 viu notadamente a criação do CNRD. Os programas foram continuados  em abril 2006 por Xavier Bertrand, ministro da saúde e das solidariedades, com o Plano visando a « melhorar o tratamento da dor » no período 2006-2010. Segundo o programa, a prioridade, antes de tudo, é de « melhor levar em conta as dores das populações mais vulneráveis, notadamente crianças e adolescentes, pessoas com deficiências múltiplas, pessoas idosas e no fim da vida ».

     

    No caso das crianças e adolescentes, o Plano estimula o prosseguimento dos esforços para a "avaliação e o traçado sistemático da intensidade da dor, de sua prevenção, especialmente durante os procedimentos dolorosos, (tratamentos, atos invasivos, diagnósticos, ou terapêuticos e radiológicos)" e pede para que seja melhorada a formação dos profissionais médicos e pára-médicos ».

     

    O estudo  Epippain : em breve em www.cnrd.fr.

    Para consultar "A dor em questão " : www.sante.gouv.fr.

    Plano para melhorar o tratamento da dor  2006-2010 : consulte-o  em www.sante.gouv.fr/htm/dossiers/prog_douleur/doc_pdf/plan_douleur06_2010.pdf

     

     

    3. O MÊS DE FRANCE-BRASIL-PSY

     

    A) QUEM DIZ EU EM NÓS ? (QUI DIT JE EN NOUS ?), livro escrito por Claude ARNAUD

    Crítica de Jacques-David BEIGBEDER, publicada em « La Lettre de  Psychiatrie Française », N° 158, outubro 2006,

    Tradução : Eliezer de Hollanda Cordeiro

     

    Mas quem é este Claude ARNAUD que nos fala da identidade com tanta pertinência e com tanta paixão, ao ponto de fazer-nos pensar, ver e entendê-lo como se  ele fosse  um psicopatologista interessado pelo narcisismo ?

    O livro começa abordando a questão da identidade no seu aspecto  mais fundamental, atual : somos homens ou mulheres? Mas muitas outras surpresas  esperam-nos  nesse universo da « realização de si » : narrações extraordinárias de pessoas conhecidas ou desconhecidas, históricas ou contemporâneas, que tentaram a garnde aventura da mudança de personalidade. Algumas, como Martin Guerre, ja haviam atraido a atenção de Montaigne ou de Spinoza.Outras, como Benjamin Wilkmirski, suscitaram admiração, tão grande  era grande era o seu talento para desempenhar o papel de vítima. Encontrâmo-nos aqui na sociedade do parecer, do fazer de conta.

    O que ocorreu? Onde está o Édipo ? Claude Arnaud (?) coloca a questão. Num capítulo intitulado : « Os mistérios da personalidade múltipla », ele nos revela muitas coisas. A « Personalidade múltipla » é uma síndrome produzida pela instituição psiquiátrica americana. Ele explora a significação da síndrome. Sua maneira de proceder nos tranquiliza : ele não é psiquiatra. Todavia,  ao mesmo tempo em que ele procura explicá-la, ele a critica. Deve ser filósofo.Contudoele nos diz que seu irmão é « esquizofrênico », sem criticar o conceito. Porquê ?  

    Na realidade, podemos entender que ele se interroga  sobre a natureza dos distúrbios de seu irmão. E, sem disfarce, explora e apreende a importância das metamorfoses dos distúrbios da identidade na psicose, do lugar em que se encontra (o qual ?).

    E o que dizer desses  psicoterapeutas que defendem esta interrogação narcísica, alimentando-a com seus próprios fantasmas e projeções ? Ele fala dessa maneira.

    Em suma, trata-se de um livro que deve ser lido, se somos  psiquiatras  que consideram  que a psiquiatria suscita mais questões do que nos  dá  respostas.

    B) ESTATUTO DO PSICOTERAPEUTA

      Jornal Libération : « Psychothérapeute, un titre casse-tête »

    « Psicoterapeuta, um título quebra-cabeça »
     Tradução: E.H.C.

    O jornal Libération informou que « una nova redação do decreto que define o título de psicoterapeuta acaba de ser redigdo pelos serviços do ministério da Saúde.  Ele deve ser apresentado muito em beve ao Conseil d’Etat ».
    O jornal observa que  « os psicólogos, médicos e psicanalistas poderão utilisar legalmente o título de psicoterapeuta ».
    Libération publicou também uma entrevista com o senador  Jean-Pierre Sueur, ex-prefeito de Orléans, que discorda da medida proposta pelo governo.
    Jean-Pierre Sueur disse notadamente que «o projeto de lei  apresenta contradições : o médico, mesmo se ele ignora totalmente a psicoterapia, pode usar o título de psicoterapeuta, o que é contrário ao artigo  52 da lei de saúde pública de 2004.

    C) GASTON FERDIERE, PSIQUIATRA DE ANTONIN ARTAUD.

    Emmanuel Vernet

    Editions Verdier

    Tradução : E.H.C.

    No « BULLETIN DE L’ORDRE DES MEDECINS »  da França (N°8, Octobre 2006), podemos ler  a apresentação do livro de Emmanuel Venet : « Ferdière, psiquiatra  de Antonin Artaud.  Maurice Hodara apresenta-nos o livro, dizendo que “Não é necessário interessar-se à psiquiatria ou à obra de Antonin Artaud para apreciar  o livro escrito por Emmanuel Venet,  escritor de renome, um psiquiatra que faz trocadilhos  para o seu prazer e para o nosso. Ele defende no livro a ação de seu  colega  Ferdière, psiquiatra e poeta, para tentar salvar Antonin Artaud : o combate de um « pequeno »mas  valoroso contra os grandes da literatura francesa e da edição posterior à segunda guerra.

     

    4. LIVROS RECENTES

     

    A revista Psychiatrie Française, em sua edição  de outubro, propõe a leitura dos seguintes livros

    *O fetichismo

    Paul-Laurent Assoun

    PUF, 8 euros

    *Cadernos de Préaut. Autismos : estado dos lugares de tratameto

    H. BENTATA, C.BURZSTEIN, A. COHEN  e auxiliares

    L’Harmattan, 13 euros

    *Introdução à psicologia experimental

    Alfred BINET

    L’Harmattan, 15 euros

    *A antropologia cognitiva submetida à prova do terreno : o exemplo da teoria do espírito

    Maurice BLOCH

    Fayard : Collège de France,10 euros

    *Introdução à psicopatologia

    Alain BRACONNIER

    Masson, 29 euros

    *Nos limites do sujeito

    Direção : Patrick CHEMLA

    Erès, 16 euros

    *As condutas arriscadas

    Sob a direção de François DUPARC, Christian VASSEUR

    In Press, 23 euros

    *Pequena história da psiquiatria alemã

    Jean-Claude GRULIER

    L’Harmattan, 18 euros

    *Estudos para uma metapsicologia ampliada : aplicação clínica das idéias de Wilfred R. BION

    Donald MELTZER

    Ed. do Hublot, 27 euros

    *Os fenômenos autoscópicos : alucinações de si mesmo

    Paul SOLLIER

    L’Harmattan, 16 euros

    *Éticas e pesuisa bio-médica : relatório 2003

    Comité consultativo nacional para as ciências da vida e da saúde

    Documentação francesa, 19 euros

    *Evolução psiquiátrica. Adolescência : seja jovem e cale-se

    Elvesier, 42 euros

    *JPJ Jornal francês de psiquiatria. Autismo : controvérsias, perspectivas terapêuticas

    Erès, 16 euros

    *Representações sociais da esquizofenia

    Congresso de psiquiatria e de neurologia de língua francesa(2006°

    Masson, 24 euros

    PUF, 8 euros

    5. REVISTAS

    *Abstrac psychiatrie : www.impact-medecin.fr

    *La revue française de psychiatrie et de psychologie medicale : www.mfgroupe.com

    *L’encephale:www.encephale.org

    *Les actualités en psychiatrie: www.vivactis-media.com

    *Neuropsy : www.neuropsy.fr

    *Nervure : rédaction: Hôpital Sainte-Anne, 1 rue cabanis, 75014 paris. Téléphone: 01 45 65 83 09 fax. 01 45 65 87 40

    *Neuronale (revista de neurologia do comportamento) [email protected]

    *PSN :(psychiatrie, sciences humaines, neurosciences) : rue de la convention, 75015 paris. Fax : 0156566566

    *Psychiatrie française : [email protected]

    *Psydoc-broca.inserm.fr/cybersessions/cyber.html

    *Synapse : [email protected]

    *Evolution psychiatrique

    6. ASSOCIAÇÕES

    *Association française pour l’approche integrative et eclectique en psychotherapie (afiep)

    *Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp)

    *Association française de musicotherapie (afm)

    *Association art et therapie

    *Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc)

    *Association francophone de formation et de recherche en therapie comportementale et Cognitive (afforthecc)

    *Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest)

    *Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump)

    *Association nationale des hospitaliers pharmaciens et psychiatres (anhpp)

    *Association scientifique des psychiatres de secteur (asps)

    *Association commission des hospitalisations psychiatriques france (cdhp france)

    *Association promotion defense de la psychiatrie a l’hopital general (psyge)

    *Association karl popper

    *Association pour la fondation Henri Ey

    *Association internationale d’ethno-psychanalyse (aiep)

    *Collectif de recherche analytique (cora)

    *Ecole parisienne de gestalt

    *Ecole française de sexologie

    *Ecole de la cause freudienne www.causefreudienne.org

    *Groupement d’études et de prevention du suicide (geps)

    *Groupe de recherches sur l’autisme et le polyhandicap (grap)

    *Groupe de recherches pour l’application des concepts psychanalytiques a la psychose (grapp)

    *Regroupement national en psychiatrie publique (renepp)

    *Société française de gérontologie

    *Société française de thérapie familiale (sftf)

    Société francophone de medecine psychosoma

    *Société française de psychopathologie de l’expression et d’art-therapie(sfpe)

    *Société française de recherche sur le sommeil (sfrs)

    *Société française de relaxation psychotherapique (sfrp)

    *Société française de sexologie clinique (sfsc)

    *Société française de psycho-oncologie/association psychologie et cancers

    *Société d’addictologie francophone

    *Société ericksonienne

    *Société de psychologie medicale et de psychiatrie de liaison de langue française

    *Société médicale Balint

    *Union nationale des associations de formation médicale continue (unaformec)

    *Union nationale des amis et familles de malades mentaux (unafam)

    *Association Psychanalytique de France (apf)

    *Société Psychanalytique de Paris (spp)

    *Ecole Freudienne de Paris

    *Mediagora:http://perso.wanadoo.fr/christine.couderc/

    *Agoraphobie.com:http://www.agoraphobie.com/

    *Sitesfrancophones:http://www.churouen.fr/ssf/pathol/etatanxiete.html

    *Distúrbios do humor (afetivos) :    www.depression.ch

    *Estados limites em psiquiatria: tratamento (d. Marcelli): suicidio escuta - 24/24 http://suicide.ecoute.free.fr

    *Informações sobre o suicidio e as situações de crise:       http://www.suicideinfo.org/french

    *Centro de prevenção do suicidio: http://www.preventionsuicide.be

    *Associação  alta ao  suicidio:     http://www.stopsuicide.ch

    *Suicídio : http://www.chu-rouen.fr/ssf/anthrop/suicide.html

    *Drogas :    http://www.drogues.gouv.fr/fr/index.html

    *S.o.s. Réseaux :   http://www.sosreseaux.com/

    *Ireb – Instituto de pesquisas cientificas sobre às bebidas: http://www.ireb.com/  

    *Addica : addictions precarité Champagne Ardenne : http://www.addica.org/

    *Internet addiction : conceito de dependência à internete:    http://www.psyweb.net/addiction.htm

    *Estupefiantes e conduta automobilistica; as proposições  da sfta: http://www.sfta.org/commissions/
    *stupefiantsetconduite.htm

     Coordination (coordenador): Eliezer de HOLLANDA CORDEIRO

    [email protected]

     

     


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